1. Spirit Fanfics >
  2. Half Bad (HIATO) >
  3. Meio odiado.

História Half Bad (HIATO) - Meio odiado.


Escrita por: Infinie

Notas do Autor


Olá novamente!
Como prometido, mais um capítulo.
P.s: Estou com um amor muito grande por ele. Espero que gostem!

Capítulo 8 - Meio odiado.


POV Harley

Chuto tantas pedras nas pernas de Rick que sei que estas podem ficar roxas com tamanha agressão. Não quero machuca-lo, apenas descontar toda a minha raiva nele. Ele há muito tempo desistiu de tentar me parar. E agora, quando finalmente pensa que parei, dá um passo até mim. Grande erro. Como não havia mais pedras perto de mim, começo a chutar um monte de terra e poeira em cima dele. Uma nuvem de partículas sobe entre nós e ele começa a tossir.

-Ótimo, Harley. – Ele diz entre uma crise de tosse e outra. – Já terminou de me agredir? Podemos conversar agora?

-Não.- Digo e lhe dou as costas.

Ele corta a nuvem de poeira com o braço e agarra meu pulso, girando-me e me fazendo encará-lo.

-Você está sendo muito invasivo, Senhor Estranho.

-Falou a pessoa que já chegou aqui deixando todo mundo doido e ainda me pedindo para ser seu marido.

Fecho a cara e cruzo os braços, apenas para não ceder à vontade de sorrir.

-Harley, você não pode ficar com raiva de mim porque o Daryl escolheu ir com o Merle. – Ele diz e aquilo me magoa profundamente. Percebendo o que fez, ele passa a mão nos cabelos, exasperado.- Eu não quis dizer desse jeito. Desculpa. Olha, o que eu estou querendo dizer é que se você está brava com o Daryl, você tem que descontar no Daryl, não em mim.

Suas palavras me atingem como um tapa. Como eu sou ridícula!

-Rick, eu... Desculpa. Desculpa, de verdade. Eu sou uma troglodita mesmo. É só que...- Engulo um soluço, mas não dá certo. Logo ele escapa pela minha garganta junto de mais um monte e eu começo a chorar, compulsivamente.

Ponho a mão no rosto, tentando me esconder, mas logo sinto os braços do Senhor Estranho me rodearem. Seu abraço me faz chorar mais ainda e eu escondo meu rosto em seu peito.

 

 

Acordei no dia anterior com uma puta dor no pescoço. Demorei a me localizar e assim que me percebi deitada no meu montinho de colchões dei um pulo e fiquei de pé. Carol vinha vindo em minha direção e assim que chegou próxima a mim, colocou a mão em meus ombros e me pôs sentada na minha cama de novo.

-Onde está o Daryl?- Perguntei e a vi ficar triste , balançando a cabeça.

O que eu mais temia aconteceu, então. Ele me deixou de novo, disse-me coisas horríveis, de novo, e ainda teve a audácia de me apunhalar pelas costas. Não sei mais o que fazer com ele, mas isso agora não importa mais, já que eu não o verei de novo.

Notando o meu estado catatônico, Carol me abraçou e afagou a minha cabeça. Logo fui tomada por soluços, mesmo que nenhuma lágrima caísse de meus olhos. Ficamos assim por um tempo, até que Carl subiu as escadas e veio ficar comigo. Ele se sentou no meu colchão e eu me deitei, colocando minha cabeça em suas perninhas.

-Sabe, você não precisa ficar assim. Todo mundo aqui gosta muito de você e te considera da família. Você não vai ficar sozinha. A Judith te adora.- Sua voz saiu baixinha e eu me forcei a sair daquele estado quase depressivo.

-Judith? – Perguntei me virando para ficar com a barriga pra cima, encarando-o.

- É o nome que dei à Bravinha. – Ele disse com as bochechas vermelhas, fazendo com que eu as aperte.

-Muito bonito.

-Carl tem mesmo bom gosto.

Eu me assustei com a voz que veio da escada. Quando notei que era Rick, coloquei-me de pé no mesmo instante e fui marchando até ele.

- Você! Seu traidor!- Gritei para ele e enfiei o dedo no meio do seu peito.- Como você pôde deixar que ele fizesse isso comigo de novo?!

-Harley...

-Eu não acredito que você deixou aquele cuzão troglodita miserável me dar uma pancada na cabeça! – Ele abriu a boca pra falar mas eu levantei a minha mão o impedindo de continuar. Ainda não tinha terminado. - Você não vê que ele está sendo um delinquente estúpido? Você devia ter dado umas porradas nele e no Merle e os deixado sem andar por pelo menos um mês! – Naquele momento minha voz já tinha subido uma oitava e logo todos da prisão estavão lá assistindo a cena.

-Ele é o seu primo, Harley. Seu sangue, sua família. O que queria que eu fizesse? Eles são os únicos que podem decidir por você. - Ele perguntou ainda tentando manter a calma.

-Você disse que eu também era da sua família. E eles não podem decidir porra nenhuma. A vida é minha.

Ele me encarou por um momento e pareceu pensar no que me dizer.

-Quer saber? Esqueça. Vocês homens são todos uns encostos insensíveis mesmo. Menos você , Carl, você é um amor. E se um dia fizer alguma sacanagem como essa eu juro que te dou uns puxões de orelha.

Essas foram minhas últimas palavras antes de descer as escadas correndo , passar no meio de todo mundo e me enfiar em um dos corredores da prisão. Fiquei lá resmungando e chorando o dia inteiro e o começo da manhã de hoje. A dor é imensa e o sentimento de abandono está quase me matando.

 

 

Eu não entendo como Daryl pôde mudar tanto. Ele foi ficando frio e distante uns meses antes de me chutar de casa e de falar coisas horríveis pra mim. Eu nunca soube o que fazer. Quando o encontrei depois de toda a merda acontecer com a chegada do apocalipse, eu achei que ele tinha melhorado, mudado, principalmente por agora pertencer a uma família. Mas parece que eu me enganei. Ou me enganei, ou o problema dele é comigo.

O problema dele é comigo, tenho que admitir. Ele mesmo me disse isso antes de me desacordar. Eu sempre fui um encosto para ele, um peso morto e uma garotinha chata, irritante e desajustada que ele tinha que aguentar. Então por que ele me defendia do seu pai? Por que ele me ensinou como caçar, como fazer uma fogueira, como fazer tantas outras coisas? Não era muito mais fácil me deixar largada e à deriva do mundo? Não era muito mais fácil deixar que aquele bêbado desgraçado acabasse comigo de tanto me bater? São tantas perguntas inúteis! Tantas perguntas que eu já até sei a respostas: ele fez tudo aquilo apenas para depois me descartar como um lixo, algo sem valor e, pelo visto, sem nenhuma utilidade.

Eu me arrependo. Arrependo-me de ter o defendido naquele dia. Defendido ele apenas para receber uma cicatriz que, apesar de estar escondida pela tatuagem, será sempre uma marca em mim.  

Merle? Merle nunca valeu nada na maior parte das vezes, mas ainda assim me fez gostar dele. Gostar dele de uma maneira bem errada, porque eu o adorava quando ele me levava para aprontar alguma na casa dos vizinhos, e o odiava quando ele começava a me mandar ficar fazendo um monte de coisa pra ele. Coisas como ficar indo e voltando na cozinha para fazer algo para ele comer, engraxar seus sapatos, arrumar sua cama. Um inferno. Mas o dia que eu realmente o odiei de verdade foi o dia que ele deixou Daryl e a mim para sofrermos, sozinhos, nas mãos daquele crápula.

Voltando ao meu momento rompimento de barragens com Rick, assoo meu nariz na manga da sua blusa e o ouço fazer uma reclamação.

-Desculpa. – Digo e me afasto. Passo a mão no lugar onde deixei aquela obra de arte e só vejo aquilo ficar pior.- Eu tentei arrumar. – Minha voz ainda sai embargada e meu nariz continua entupido.

Ele ri. Ri alto. E eu franzo a sobrancelha.

-Depois diz que eu estou sendo invasivo. Onde já se viu assoar o nariz na camisa dos outros? –Ele diz ainda rindo e sou contagiada por aquilo.

Começo com um pequeno rosnado, mas logo depois estou rindo junto dele, dando-lhe um tapa no ombro.

-Isso. Assim que eu gosto de ver você. – Ele diz e passa a mão na minha bochecha. - Mas você sabe que vai lavar a minha camisa né?

-O que? Você não tem coração? Ainda estou frágil. Olha, eu posso voltar a chorar a qualquer momento.

-Nem pensar. Você já chorou um oceano.

-Tem sempre mais uma gotinha para chorar.

-Não, Harley. Você vai parar de chorar. Já que o meu braço direito se foi, o Daryl, você terá que ser ele a partir de agora.

-Nossa, Deus me livre. Vai saber o que você faz com esse braço e mão direita. Não posso ser o esquerdo não?

Solto uma gargalhada quando o vejo se curvar, rindo da minha bobagem.

-Finalmente o som de uma risada, pura e límpida. Não aguentava mais aquela choradeira. – Ouço a voz de Hershel perto de nós e mando-lhe um tchauzinho com a mão. Ele me devolve o cumprimento com um aceno, sorrindo.- Do que riem tanto?

-O Rick quer que eu seja a mão direita dele. Eu só disse que isso não pegou muito bem. – digo para o velhinho e me aproximo com Rick ao meu lado.

O senhor das muletas apenas balança a cabeça e ri um pouco. Subitamente , no entanto, sua expressão se torna preocupada e eu paro com as minhas gracinhas.

- Querida, eu sei que você está passando pelos seus próprios problemas agora, mas será que você poderia me dar uma ajuda com Glenn e Maggie? A passagem deles por Woodbury foi meio traumática e temo que isso possa afetar o relacionamento.

Mais uma vez eu me sinto uma imbecil. Eu aqui chorando como uma garotinhas por dois idiotas, enquanto meus amigos sofrem por terem passado por coisa muito pior recentemente. Resolvo enfiar por goela abaixo todo o meu tormento com a minha família de sangue problemática e ir ajudar os meus novos irmãos.

Coloco a mão no ombro de Hershel e lhe dou um beijo na bochecha.

- É claro que eu posso ajudar. O que eu não faço pela família, não é? – digo e ele larga um pouco a muleta para beijar a minha mão.

Saio em direção ao bloco de celas, mas sou interrompida pelo chamado de Rick.

-Ou, e a minha camisa, senhora lavadeira?

Bufo e vou até ele. Ele retira a peça de roupa e me entrega.

- Devia ter me poupado de ver essa coisa branca.- Aponto para seu peito e ele ri novamente.

- Você não tem jeito, sua bipolar.

Mando-lhe um beijinho e sigo meu caminho.

 

 

-Estou cansada de lavar roupa de homem. Nem para aqui ter um daqueles gostosões com um tanquinho maravilhoso pra eu lavar minhas calcinhas. Absurdo! - Entro esbravejando no refeitório.

Sou surpreendida pela risada de Carol e Axel e fico impressionada em como as pessoas daqui brotam do chão por todo canto.

-Eu posso resolver o seu problema, senhorita. - Axel diz com aquela sua voz que demonstra falsa inocência , mas que na verdade esconde malícia. Faz-me rir.

-Sem propagandas enganosas, querido Axel.

Carol ri e Axel fecha a cara, mas logo depois abre um sorriso divertido. Vou até uma espécie de pia-tanque que tinha ali e começo a esfregar a blusa de Rick.

-Dai-me a santa paciência, Lady Gaga, porque o glamour nem adianta me dar com essa vida pós apocalíptica. – Continuo resmungando enquanto lavo aquela peça de roupa dos infernos e sou constantemente bombardeada pela risada de Carol.

Pronto. Além de maluca agora tenho cara de palhaça.

Torço a blusa e vou até o pátio para estendê-la. Rick continuava no mesmo lugar, conversando com Hershel. Assovio para ele, e quando sua atenção se volta para mim, coloco uma perna em um pedaço de gaveta que tinha ali, ponho um dedo entre os lábios e rodo a blusa ao lado do meu corpo em uma tentativa escrota de sensualizar. Faço aquilo do jeito mais broxante possível e ele ri, mandando-me um ok com os dedos.

 

Quando estava passando pelo portão que dava acesso às celas, colido com um corpo e só não vou ao chão pois o mesmo me segura.

-Harley, desculpa. Tá tudo bem? – O coreano, dono do corpo, pergunta-me e eu o encaro por um momento.

Estava desalinhado, todo sujo de sangue, com os cabelos lisos grudados no rosto.

-Oi, Glenn. Estou... bem, eu acho. E você?

Ele expira uma quantidade absurda de ar e depois tira o cabelo do olho.

-Eu... não sei. –Ele diz e vejo um mar de tristeza em seus olhos, juntamente com... ódio?

Ele morde os lábios e sei que vai começar a chorar, então eu o puxo pela mão e o sento em um dos bancos do refeitório. Carol e Axel tinham sumido milagrosamente de lá. Ninjas.

- O que te aflige? – pergunto ainda segurando sua mão. – Vou pegar algo para você comer, ok?

Ele assente e eu vou até uma bancada que tinha ali, pegando uma lata de sopa já quente e sentando ao seu lado. Entrego a lata a ele, que fica a encarando por um tempo.

- Tudo que aconteceu em Woodbury... Tudo que aconteceu com a Maggie... Não sai da minha cabeça. Não consigo esquecer a imagem dela chegando sem blusa acompanhada daquele cara. Isso... tá me matando. – Ele diz com as lágrimas já escorrendo e apertando a lata com força.

-Me dá isso aqui, depois você come.- Pego a lata de volta e coloco na mesa. Sendo apertada daquele jeito, transbordaria num segundo.

- Ela me disse que não aconteceu nada, mas isso não entra na minha cabeça. – eu espero que ele continue. Como ele não o faz, decido que é a hora de falar.

- Glenn, se a sua mulher já disse que não aconteceu nada, por que ainda não acredita no que ela diz?

-Eu não sei, eu não sei. – Seus soluços angustiados doem em mim.- Eu acredito em Maggie. Nunca duvidei de nada do que ela disse, mas eu sou homem e estou com tanto ódio daquele governador que parece que também estou com um bloqueio no cérebro.

-Glenn, fique calmo, tá bom? Calmo. Não adianta desesperar ag...

-Não adianta? Harley, eles irão atacar este lugar.

-O que?

- Enquanto você estava lá nos corredores, fizemos uma reunião. Desculpa não ter ido de chamar, mas era urgente e eu não podia te preocupar com mais isso, ok?- Ele pergunta e eu afirmo um pouco atordoada.- Rick não está em condições de tomar decisões agora , então eu achei que seria melhor tomar uma atitude. Todo mundo ficou contra mim, no entanto. Então resolvemos ficar aqui e defender este lugar.

-Espera, por que Rick não está em condições? - pergunto estranhando aquilo.

- Quando chegamos, tinha um pessoal aqui dentro que tinha entrado por uma brecha em um dos blocos. Nos reunimos para decidir o que fazer e do nada Rick começou a gritar umas coisas sem sentido. O pessoal ficou tão assustado que foi embora por boa vontade. Desde então, Rick começou a agir estranho. Sumir, ir até lá fora sozinho... Ele está pirando, de novo.

-Mas como isso é possível? Ele, até pouco tempo atrás, estava normal comigo.

- Ele tem uns lapsos, ficando normal de vez em quando. Mas enfim, temos que dar um jeito de achar essas brechas, arrumá-las e proteger este lugar. E agora sem o Daryl e sem o Rick, você é a única que pode me ajudar, já que Maggie está brava comigo.

São tantas informações e problemas que minha cabeça roda. Será que Rick já sabia que estava pirando ao me dizer aquilo de ser seu braço direito? Balanço a cabeça tentando organizar os pensamentos e olho para Glenn.

-Certo. Vamos fazer isso. Mas Glenn, importante também é a sua situação com a Maggie. Não vá perde-la por uma coisa que não faz sentido. –Digo e aperto sua mão.

Ele passa a mão no rosto e depois me abraça. Sinto que o problema daquele casal não se resolverá tão cedo e somente eles podem dar um jeito nisso.

**

O resto do dia fico na cela da Maggie, conversando com ela enquanto cuidava de Judith. Aquela bebezinha realmente me adora, pois é eu chegar para pegá-la que ela abre seus olhinhos e começa a brincar com os meus cabelos, ou ficar me encarando. Seu sono é fácil no meu colo, o que faz com que Beth me peça diversas vezes para coloca-la para dormir.

-Eu disse que ela te adora. – Ouço a voz de Carl na entrada da cela e o chamo com a mão, para que ele se aproximasse.

-O que é isso aqui? – Pergunto com o dedo em um ponto da sua blusa.

-O que? – Ele pergunta e abaixa o pescoço, caindo direitinho na minha pegadinha. Subo meu dedo pelo seu rosto e dou risada da sua cara desgostosa. - Não acredito que caí nisso.

-Parece que o homenzinho ainda cai nessas pegadinhas infames, não é Maggie? - Pergunto olhando para a morena ao meu lado. Ela concorda.

Sinto alguma coisa próxima à minha bochecha e viro o rosto, dando de cara com o dedo de Carl. Não acredito que caí em uma pegadinha logo depois de pregar uma.

-Aaaaaaah, que droga! – Reclamo e Carl se escora no portão da cela para rir.

Olho para o lado e Maggie também dava risada.

-Meu Deus, só você para me fazer rir numa hora dessa, Harley. – Ela diz e eu faço bico.

-Isso é um complô. Todos contra mim. Só a Bravinha que não ri da minha cara, não é minha linda?

-Claro que não ri. Ela está dormindo. Se estivesse acordada, estaria rindo. – Carl está muito engraçadinho.

-Ah, Carl, seu engraçadinho. Depois quando sentir alguém puxando seu pé a noite não reclama. – Digo o ameaçando. Ele apenas continua a rir e eu reviro os olhos. - Ei, você viu o seu pai?

Minha pergunta o faz ficar sério. Ele parece incomodado com algo.

-Não. Ele some toda hora. Não estou entendo o que há com ele. Você tinha que ver o berreiro que ele arrumou com aquelas pessoas.

Coitado do garoto. Ver o pai surtar duas vezes em tão pouco tempo deve ser barra pesadíssima.

-Não se preocupe. Vou dar uns puxões de orelha nele. – Digo quando estou ao seu lado na porta. – Será que você pode colocar a Bravinha no berço? – Pergunto e ele assente. Entrego a bebê para ele – Vou ver o que Glenn está arrumando. E Maggie... Sai dessa cela. Tá precisando de um sol. Sua branqueleza arde meus olhos.

-Como se sua pele não fosse mais clara que a minha, Leite azedo.

-Pff... Se toque, querida. Um dia terei a cor magnífica da Michonne e todos vocês irão me respeitar.

Maggie ri da minha bobagem e eu saio da sua cela rebolando.

Ótimo. Qual problema irei resolver primeiro?

**

Uma semana sem Daryl. Uma semana sem o seu mau humor, sem sua falta de educação, sem seus xingamentos. Uma semana sem seu cheiro, sem sua voz, sem seu lamber de dedos e sem sua proteção. Sinto sua falta, como sempre senti. O problema é que agora também sinto falta do seu calor. Como se você já tivesse feito outra coisa com ele a não ser abraça-lo! Não importa. Sinto vontade de fazer isso com ele a cada segundo do dia. Tudo bem que o que fazemos não é verdadeiramente um abraço, já que apenas eu faço alguma, rodeando meus braços em torno de seu corpo enquanto ele só resmunga e rosna.

Fico imaginando como seria a nossa vida se ele gostasse de mim. Tenho certeza que nossas brigas não parariam nem por um dia sequer. Eu gosto delas. Sempre acabamos ‘bem’ no final. Pensando nisso agora, depois de nossos últimos momentos cara a cara naquela floresta, fica bem claro que só eu ficava bem com as coisas legais que aconteciam com a gente.

Um suspiro inconsciente sai dos meus lábios quando eu acordo para a realidade. Estou deitada no meu colchão, olhando para o teto, há mais de cinco horas. Tem uma semana que não durmo direito, pois os malditos pesadelos me atormentam e agora não tenho meu priminho para me ajudar com eles. Até nisso satã resolveu me ferrar: sem Daryl os pesadelos parecem piores a cada dia.

Resolvo me levantar de uma vez quando ouço barulhos vindo do andar de baixo. Ótimo, já tem alguém acordado. Pego minha mochila e sigo como um zumbi até o banheiro. Quando entro, Beth lavava as mãos.

-Bom dia! – Ela diz com aquela sua animação natural.

-Que é que tem de bom no dia? – Meu mau humor matinal dá as caras junto de um bocejo.

-Parece que não dormiu muito bem.

- Tem uma semana que não durmo, Beth. Acho que hoje de noite vou tentar socar a minha cabeça na parede, para desmaiar e ver se pelo menos assim eu descanso um pouco.

-Não faça isso. - Ela ri.-  Vou olhar com meu pai. Às vezes ele tem algum remédio que faz dormir.

-Eu agradeço. – Digo e mais um bocejo escapa. - Quem fez vigia hoje?

-Rick. – Ela responde com certa tristeza. Solto um resmungo. – Já tem uma semana que ele está fazendo as vigias todas as noites. Nem sei se está dormindo direito. Estou preocupada.

-Eu também estou, Beth. Ele é teimoso. Já falei pra ele deixar isso com outra pessoa. Mas hoje ele não me escapa. Tiro ele daquela torre nem que seja o jogando da escada. – Jogo minha mochila na pia e me viro para ela. - Glenn e Maggie?

Ela apenas nega com a cabeça. Vou arrancar as tripas daquele coreano.

Tomo um banho rápido para espantar o sono. Com aquela água, banhos demorados só em sonhos. Um gato teria inveja da minha rapidez para entrar e sair dali. Faço minha sempre elegante maria-chiquinha, visto um short curto, azul com lantejoulas, coloco um par de meias pretas até o joelho, coloco minha bota branca e visto minha blusa da mesma cor. Coloco meu colar, ele é bem grossinho, minhas pulseiras, também grossas, e meus anéis. Carl outro dia me perguntou por que fico usando isso. Ele disse que parecia meio desconfortável. Respondi o motivo: proteção. Se algum zumbi quisesse me morder no pescoço, encontraria uma barreira que me daria tempo de me afastar. O mesmo com as pulseiras. Os anéis? Sei lá, é bom ter anéis para quando for socar a cara de alguém. Isso soa meio idiota. Que se dane. Esses acessórios são puro estilo.

Saio do banheiro e deixo minhas coisas no meu canto. Depois desço e vou tomar “café”. Tomar café hoje em dia é comer a mesma coisa que comeu no jantar e almoço do dia anterior. E no dia anterior a este, e no outro, e no outro... Uma porcaria. Mas dá pra viver.

Depois de comer vou checar os nossos suprimentos. Escassos, como sempre, mas dessa vez estamos em uma situação crítica. Suspiro. Alguém terá de sair para nos reabastecer. Vejo Glenn vir em minha direção e o abraço. Meu mau humor se foi para o ralo junto da água no banheiro.

-Bom dia.

-Bom dia.

-Glenn, estamos sem suprimentos. Estava pensando em sair em busca de mais e aproveitar e levar o Rick, para termos uma conversa. Ele está precisando sair, ver se a loucura dele é só aqui mesmo.

-Não acho uma boa ideia sair da prisão com o perigo iminente de sermos atacados. Porém, sei que estamos sem recursos. – Ele diz e parece pensar um pouco. – Certo, você vai com ele e tenta voltar no máximo até antes do sol se pôr. Acha que dá?

-Vou fazer o possível. – Digo e sorrio. – Será que dá pra descolar uma dessas armas legais pra mim?

Ele ri e assente. Entra no bloco de celas e depois volta com uma Ak-47.

-Noooooossa. Essa é a minha preferida.

-É muito boa mesmo. Tome cuidado.

-Você também. – Aperto sua bochecha e lhe dou as costas.- E cuida da Maggie também.

Espero que a indireta surta efeito.

Caminho para fora e observo o dia. Uma manhã bem quente. Olho para a torre e lá estava Rick com seu inseparável binóculo.

 

Decidimos por ir procurar alguma coisa perto da cidade onde eu o encontrei. Encontramos um grupo de casas não muito longe e resolvemos vasculha-las. Achamos uma quantidade razoável de comida e decidimos que era o suficiente, por enquanto.

-Rick. – Chamo e ele olha pra mim com os olhos enevoados. - Está tudo bem?

-É.- Ele responde daquela sua maneira arrastada e eu reviro os olhos.

- “É” não é uma resposta muito satisfatória. Todo mundo sabe que tem algo acontecendo com você. - Digo quando entramos no carro para retornar à prisão.

Ligo o carro e dou a partida. Ele fica longos segundos sem dizer nada, apenas olhando pelo retrovisor.

-Eu estou vendo a Lori. –Diz finalmente e eu arqueio uma sobrancelha. - Sei que não é real, mas...

-Se sabe que não é real, por que fica nessa loucura? – Ele apenas dá de ombros. – Sente falta dela, não é? - Ele assente. – Eu também sinto falta de muita gente. Do Daryl, do Merle... Mesmo assim eu não fico nessa. Você tem que se reerguer. Aquele grupo precisa de você. Seus filhos precisam de você. Eu preciso do meu amigo de volta, então cai na real.

Sei que fui grossa, mas Rick merece uns tapas na cara de vez em quando.

-E a partir de hoje você não fará mais patrulha a noite. – Digo e ele se vira pra mim sem entender.

-O que?

- Você disse que agora eu sou a segunda no comando. Então, como você não está em condições, estou mandando você parar de fazer vigia a noite e ir descansar. Não dormiu nada na última semana e isso acabará prejudicando a você e ao grupo.

-Você também não dorme. – Olho para ele, surpresa. – Eu sei disso.

-Mas eu tenho meus motivos. Não consigo dormir.

-Eu também não. Então não adianta querer me mandar ir descansar porque eu não vou conseguir.

Pela primeira vez eu sinto que está bravo comigo. Atropelo dois zumbis em frustração e decido fazer uma bobagem.

-Certo. Já que estamos os dois fodidos, vamos ficar fodidos juntos. Nós dois, a partir de hoje, faremos vigia a noite.

Digo pra ele, que sorri e assente. Tolinho. Vou pegar o remédio com o Hershel e colocar na sua água.

**

Duas semanas sem o Daryl e sem todas aquelas coisas. Dizendo isso parece que já me conformei com sua partida e que a saudade é menor. Queria que isso fosse verdade, porém meu coração é um idiota.

Na última semana fiquei fazendo patrulha. Sozinha. Quando Rick subia para se juntar a mim, oferecia inocentemente uma garrafa de água pra ele. Ele aceitava todo sorridente e bebia o seu conteúdo num instante. O resultado? Em menos de uma hora ele já estava dormindo contra a parede ou com a cabeça no meu ombro. Sou um gênio. Devia usar essa minha genialidade para o meu próprio bem, mas cuidar das outras pessoas é mais interessante.

Era engraçado vê-lo acordar no outro dia. Ele levantava a cabeça num salto e depois me encarava frustrado. Certo dia, ele estava tão acabado que acabou dormindo com a cabeça no meu colo. Quando acordou, passou a mão no rosto e olhou pra baixo. Acompanhei seu olhar e notei uma bola enorme molhada na minha meia. Ele tinha babado na minha perna! A minha vontade era de decapitá-lo naquele mesmo instante, mas então eu me lembrei do episódio da blusa e percebi que minha vingança estava bem ali. Ri diabolicamente pra ele, que estava envergonhado, e tirei a minha meia. Estendi pra ele e este me olhou com os olhos arregalados. Sua mente demorou uns minutos para processar as minhas intenções, mas, quando ela o fez, ele ficou uma boa meia hora tentando me convencer a desistir daquilo. Meu espírito maligno, no entanto, não cedeu aos seus pedidos; e aquela foi a primeira vez que Rick Grimes lavou a roupa de uma mulher.

Hoje o dia está ensolarado, como de costume. Típico dia agradável de verão. Eu, no entanto, não me sinto muito bem. Não sei. As coisas estão quietas demais.

Hershel foi lá fora tentar conversar com Rick. Apesar dos meus esforços, ele ainda continua saindo para fora da prisão para ficar encarando o tal fantasma dele.

Resolvo ficar um pouco lá fora, já que está muito quente. Pego a Ak-47 e saio. Não a largo faz um bom tempo. Não esqueci do meu arco, apenas estou fazendo um curso intensivo de armas com Rick. 

Carol,Axel, Carl e Beth me acompanham. Estávamos conversando tranquilamente. Axel contava uma história, quando de repente um tiro acerta sua cabeça. Eu me surpreendo. Carol rapidamente se joga no chão e eu corro para ficar atrás de uns entulhos.

-Carl , Beth, cuidado! – Grito e um tiro acerta a pilha de gavetas à minha frente.

Desespero. Hershel está sozinho no gramado, Rick está lá fora, Glenn saiu e Michonne está no olho do furacão. Cacete, estamos ferrados.


Notas Finais


Gostaram?
Até o próximo <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...