Taehyung P.O.V
- Me lembre de fazer uma festa de boas-vindas sempre que o seu cio estiver próximo - Jungkook disse de súbito.
Talvez ele estivesse aprendendo comigo a falar coisas aleatórias tão de repente assim. E foi impossível não sorrir com esse pensamento, porque chegou em um ponto que, realmente, pegamos algumas manias um do outro.
- Boas-vindas para quem, louco? - questionei em tom de brincadeira.
- Para o Tae manhoso, oras! - ele exclamou como se fosse óbvio, mas explicou logo em seguida quando me viu franzir o cenho, confuso: - Você fica super manhoso na cama, principalmente nesses dias.
É, ele tinha razão. Só de lembrar do quanto gosto de ser dominado por Jungkook na cama, meu corpo inteiro formigava, desejando mais daquilo. Minha vontade foi de me entregar para ele mais uma vez, ali mesmo, nos arredores do castelo.
- Eu realmente não esperava que você se transformava tanto assim no seu cio - comentou e eu o olhei logo em seguida, desconfiado.
- ''Não esperava''? - repeti aquelas palavras, pensativo. Minha mente trabalhava para entender o sentido por trás da frase dele, mas não precisei pensar muito quando o mais novo somente arqueou uma sobrancelha e deu um sorrisinho de lado. - Não acredito, Jungkook! - briguei, desacreditado.
- O que foi? - ele riu, achando graça da minha reação.
- O jantar, o pedido para que eu ficasse por mais tempo... - pontuei, me sentindo um idiota. - Você fez tudo de novo! - bati o pé, revoltado, escutando mais uma risada dele cortar o ambiente. - Você já sabia que eu ia entrar no cio e só por interesse planejou tudo isso para passar comigo!
O chamego dos buquês de flores e os cafés da manhã na cama na época do nosso casamento apenas para que eu passasse o cio do alfa com ele me deixaram perspicaz. Ou quase perspicaz, porque de novo caí nos truquezinhos baratos de Jeon Jungkook.
- Pelo menos dessa vez deu certo - ele pronunciou vitorioso, dando de ombros. - Não é como se você não tivesse implorado também, né, Tae? - ele me olhou de relance, malicioso, e eu perdi toda a razão de ficar indignado, porque ele estava certo. Ainda assim, fiz bico por estar emburrado. - Todo manhoso... eu gosto disso. E você também, não adianta negar - seu sorrisinho triunfante me irritou profundamente.
Mas mesmo assim eu soltei um resmungo baixinho, bufando logo depois.
- E se reclamar, também faço uma festa de despedida! - acrescentou rapidamente, quando me viu revirar os olhos.
- Não! Se você reclamar, não vai ver nenhum Tae por aqui! - cruzei os braços em teimosia.
- Você está blefando - ele riu, não levando minha ameaça a sério.
Nem mesmo eu levava essa ameaça a sério. Claro que o Tae de hoje em dia não conseguiria ficar longe de um Jungkook e vice-versa. No entanto, meu orgulho me dizia para fazer questão de que o alfa não soubesse disso, então eu mantive minha postura.
- Vai negar? - ele questionou diante de minha atitude.
- Sim.
- Mesmo se eu fizer isso? - e eu nem tive tempo de perguntar o que era, porque, no mesmo instante, o mais novo me puxou pela cintura, deixando nossos peitorais bem juntos.
Eu franzi o lábio, prendendo qualquer tipo de reação quando sua mão descia em direção às minhas nádegas e quis gemer quando ele apertou a região.
Por sorte, o local em que nos encontrávamos não estava sendo tão vigiado e estávamos longe do ponto de visão dos guardas-reais.
Mas o que me surpreendeu foi que sua mão continuou descendo até encontrar a curvatura do meu joelho. Eu sequer segurei um gemido quando ele me ergueu no ar e me jogou com força contra uma superfície qualquer, que eu sequer sabia que existia, mas agradecia por estar lá. E, céus, a maneira como ele me prensava ali com dominância, ao mesmo tempo em que distribuía beijos e lambidas no meu pescoço...
Eu revirava os olhos em deleite. Talvez eu realmente ainda estivesse sensível por conta do cio. Ou, talvez, Jungkook apenas era um alfa que me levava à loucura com atitudes mínimas.
Ou talvez fosse os dois. Mas não importava porque, no momento, eu só tinha certeza de que ele tinha que continuar, ali mesmo.
Por isso, quando seu rosto estava a centímetros do meu e ele se afastou mesmo assim, eu não disfarcei meu desagrado. Bufei alto quando ele me pôs no chão de volta e ele, por outro lado, apenas riu.
- Jungkook! Como ousa começar com isso e não terminar? - indaguei, furioso.
- Só para te mostrar como você fica quando te domino - ele disse num tom suave e foi tão sensual que sequer me rebelei contra; então, quando ele ergueu meu queixo para que me encarasse melhor, eu apenas me deixei levar e mordi os lábios quando ele sorriu, parecendo gostar da atitude. - Obediente - foi tudo o que ele disse, parecendo satisfeito.
E, não. Eu não fiquei furioso.
Porque, sim. Eu gostava de ser um ômega obediente às vezes.
Principalmente quando se tratava de um Jeon Jungkook dominante.
Por isso, eu permaneci em silêncio quando nos afastamos. Meu conforto era saber que seria recompensado mais tarde. Então, aproveitei para desamassar minhas vestes nobres e arrumar meus cabelos, assim como a coroa. No entanto, Jungkook não pareceu satisfeito, e ele mesmo veio arrumá-la, alegando que eu nunca sabia como fazer.
Sim, eu era péssimo em manter aquele objeto em minha cabeça de forma simétrica. Mas, no fundo, eu não desgostava disso. Simplesmente porque eu gostava do Jungkook se esforçando em ajeitá-la. Virou algo nosso: eu tento, ele reclama e logo em seguida arruma dizendo o quanto sou péssimo nisso.
E talvez eu não quisesse acabar com essa pequena "tradição".
Foi impossível não sorrir ao pensar nisso, enquanto retirava de minhas vestes algumas farpas de madeira. Isso porque eu havia descoberto que Jungkook tinha me jogado contra uma árvore e, provavelmente, alguns fios de minhas roupas haviam desfiado. Mas, sinceramente, eu não me importava. Tudo vale a pena em troca de alguns amassos com o rei.
- Jungkook, você pode... hm, Jungkook? - eu o chamei novamente, quando percebi que seu olhar parecia meio perdido.
Eu decidi me virar para o lugar do qual ele olhava e, só então, eu percebi onde estávamos.
- Oh... nosso jardim - pronunciei, surpreso.
Porém não foi uma boa escolha de palavras, aparentemente, porque Jungkook enrijeceu de imediato, franzindo o cenho.
Eu sabia que ele ficava assim quando estava na defensiva, principalmente quando se era a respeito do seu passado. Por isso soube que, a partir daí, eu deveria agir com cautela.
- Não sei se chamaria de "nosso", Tae - foi o que ele disse, num tom meio mórbido.
- O que quer dizer?
Mas ele não respondeu. Ao invés disso, sentou-se no banco ali perto, como se de repente não tivesse mais forças para permanecer de pé. Inconscientemente, repeti o ato, olhando-o preocupado.
- Jungkook... você quer me contar o que aconteceu aqui? - questionei, a fim de ser direto, porém cauteloso; ele olhou para mim surpreso e só então eu apressei em explicar: - Bem, você... trancou o jardim, fugiu de mim quando eu perguntei sobre ele e, claramente, evita esse local até hoje - pontuei.
Mas, ainda assim, ele não respondeu. Então, eu soube que aquele era um momento de dar um passo para trás e aceitar que ele ainda não estava preparado.
- Me desculpe, Jungkook, eu-
- Eu confio em você, Tae.
- Oh... - eu ergui a sobrancelha, confuso; ele realmente ia se abrir comigo? - Bem, você pode falar agora.
Eu arrumei minha postura, preparado para ouvir. Ofereci minha mão para Jungkook e ele pareceu bem confortável ao segurá-la firmemente.
- Você se lembra de quando saíamos juntos para cá?
- Sim, claro - eu respondi no mesmo instante.
Nós brincávamos no córrego, nos jogávamos na grama e colhíamos tulipas por lá. Jungkook sempre fazia questão de fazer um enorme buquê destas flores para mim e, claro, eu sempre as aceitava em troca de abraços. Era uma troca bastante idiota, afinal, eu sempre estava abraçado ao alfa, independente de ser cortejado ou não. Mas, ainda assim, eu gostava de ter mais uma desculpa para trocar carícias com ele.
Eu não pude evitar sorrir porque é óbvio que esse hábito permanecia até os dias atuais.
Afinal, Jungkook me cortejar com um grande buquê de tulipas ainda era algo... nosso.
- Mas o que isso tem a ver com o que você ia contar? - questionei confuso, de volta ao tempo real.
O moreno suspirou pesadamente, pronto para voltar à história.
- Bem... um dia, as coisas não estavam boas no castelo. Meus pais brigaram entre si e, no fim, eu acabei me metendo entre eles. Eu estava defendendo minha mãe, então não me arrependo de ter acabado com um olho roxo.
Eu ofeguei, surpreso com a última parte. Céus, eu sabia que o pai dele era horrível, mas não que era capaz disto! E isso explica muito sobre o comportamento de Yerin em nossa última conversa!
- O que acontece é que, depois daquilo, eu precisava fugir de tudo, por mais covarde que parecesse ser. Então, eu enganei os guardas e corri em direção ao jardim, esperando que lá fosse o meu refúgio. Mas, quando eu cheguei aqui, eu percebi que... não era bem o jardim que me mantinha assim, Tae. Era... bom, era você - ele sorriu minimamente para mim, comovido.
E é óbvio que eu corei com suas palavras, mas me mantive firme em ouvir o resto da história.
- Quando cheguei até aqui eu... chutei algumas flores, pisei em algumas formigas, até joguei minha pequena coroa no córrego como se, de alguma forma, isso fosse aliviar a angústia que eu sentia. Mas não funcionou, Tae. Nada parecia tirar aquilo de dentro de mim então eu só aceitei e me sentei na beira do córrego, ficando lá até de noite - ele continuou relatando.
E, quando sua feição mudou mais uma vez, eu soube que a história tomaria outro rumo.
- Bem, o meu pai nunca foi um... bom rei, você sabe. Por isso eu não culpava a população por não gostar dele, mas... - sua voz sumiu de repente e eu soube o quanto era difícil para ele externar aquilo.
Então, eu firmei o aperto em nossa mão, a fim de lhe passar confiança.
- Algumas pessoas vieram. Eram quatro homens, claramente bêbados, porém ainda conscientes. Eles apareceram de repente, me reconheceram e... simplesmente começaram uma longa declaração sobre os motivos para odiarem o meu pai. Mas, chegou um momento em que... isso passou dos limites. Porque... eles...
O aperto se intensificou. Agora, ele segurava em minhas mãos como se isso fosse, de alguma forma, a única maneira de impedi-lo de voltar às lembranças do passado e mantê-lo no presente.
- Um deles era, aparentemente, um serralheiro, e tinha um bastão de ferro em brasa. E, bom, nem me pergunte o que ele fazia com aquilo, mas, de alguma forma, o bastão tinha o formato específico do reino de Chinhwa. Era como se... eles já estivessem esperando por mim e planejaram tudo isso - Jungkook admitiu, suspirando pesadamente como se isso o atormentasse até hoje.
Eu não o julgo por estar assim, obviamente. Por esse motivo, eu apenas assenti, insinuando que continuasse.
- Hm... em seguida, eles tiraram as próprias roupas, e... eu fiquei confuso. Eu ainda era pequeno demais para entender o que tava acontecendo, mas só quando eles começaram a tirar a minha roupa, eu percebi que tinha algo errado. Eu me debati muito, mas eles me prenderam, alegando que nada do que eu estava passando poderia se comparar ao que meu pai fazia a população passar - seu nariz começou a avermelhar e eu arregalei os olhos, ainda muito surpreso com seu relato; e, mesmo parecendo ser difícil para si, Jungkook continuou: - Por sorte, Yoongi e alguns guardas chegaram bem na hora, antes que um estrago maior pudesse ser feito. Mas, ainda assim, os homens conseguiram me marcar com aquele pedaço de ferro.
Eu ofeguei em surpresa. A imagem do brasão do reino marcado bem no baixo ventre do rei me veio em mente. Eu repassei as dezenas de vezes que me perguntei de onde vinha aquela marca, mas em nenhuma delas eu imaginei que seria por algo assim!
- Hoje em dia... essa marca serve para me lembrar de algo que faz parte de mim, que meu pai me deixou. Como se, o tempo inteiro, eu precisasse ser lembrado disso. Que meu pai foi um péssimo rei e que estou destinado ao fracasso, assim como ele.
Jungkook se calou de repente, mostrando que seu desabafo havia chegado ao fim. No entanto, permaneceu sem olhar para mim, como se temesse minha reação. Logo, eu me permiti suspirar longamente para, só então, perceber que minha respiração estava presa há bastante tempo.
Meu coração acelerou; só de pensar por tudo que Jungkook havia passado, meu peito se contraía dolorosamente. Uma parte disso, talvez, fosse culpa: porque, enquanto ele passava por tudo isso, eu estava seguro em meu reino, livre de grandes responsabilidades, e culpando-o pelo fim de nossa amizade.
- Você não é seu pai, Jungkook - eu falei de repente, captando mais uma vez a atenção do alfa. - Eu sinto muito pelo o que você passou, muito mesmo. Eu não consigo sequer imaginar como deve ter sido terrível para você. Mas se tem algo que sei, com toda certeza, é que você está longe de ser seu pai. Você é atencioso, empático, determinado, amoroso... - elogiei em meio a um sorriso e sequer disfarcei em me mostrar apaixonado, vendo que isso contagiou minimamente o rei. - Isso para mim... soa como o oposto do seu pai - Jungkook riu sem graça com a última parte.
Em seguida, eu me surpreendi quando ele simplesmente deitou-se no banco, retirando a coroa dourada e acolhendo-se em meu colo, pousando sua cabeça ali.
- E, se quer saber... eu acho que você vai ser um ótimo pai também - eu disse, talvez tentando disfarçar o rubor em minhas bochechas.
- Isso foi um convite, Kim Taehyung? - o alfa riu, tocando a ponta do meu nariz com delicadeza.
Eu ri também e sequer o respondi, porque o seu sorriso singelo nesse momento simplesmente me distraiu de qualquer outra coisa. Então, não hesitei em passar os dedos por entre os fios acastanhados e fiquei satisfeito quando Jungkook finalmente fechou os olhos, apreciando a carícia.
Logo, eu me peguei observando o seu rosto bonito com admiração. Eu simplesmente não conseguia não achar chocante vê-lo agora, sabendo que, apesar de tudo o que ele passou, Jungkook ainda era o alfa incrível que eu conhecia.
Então, eu apenas o deixei descansar em meu colo, pensando que gostaria que existisse uma maneira dele compartilhar aquela dor comigo.
- Sabe, podemos abrir o jardim juntos - sugeri, dando de ombros.
- Agora? - o rei se levantou do meu colo de súbito, pondo-se sentado ao meu lado, os olhos transbordavam medo.
E meu coração apertou-se por vê-lo tão assustado somente com uma possibilidade de retornar àquele lugar. Apanhei suas duas mãos novamente, buscando transmitir segurança para ele.
- Não precisa ser agora - expliquei docilmente. - Pode ser quando você se sentir seguro para isso, está bem?
Vi sua expressão tensa amenizar um pouco, como se ele estivesse aliviado por não ter que encarar esse assunto ainda. Ele assentiu levemente, os olhos atentos ao meu rosto.
- Nós podemos criar novas histórias dentro dele e, quem sabe, essas más lembranças serão apenas um pequeno detalhe em meio a tantos outros acontecimentos bons que criaremos de novo - pontuei e vi seus olhos amendoados brilharem com minhas palavras. - Podemos recuperar o nosso jardim - e sorri, me curvando em sua direção para deixar um beijo singelo em sua bochecha. Ele abriu um sorriso tímido com esse ato.
- Não é uma má ideia - ele concordou baixinho, sem me olhar diretamente.
- É só me dizer quando estiver pronto - sussurrei, sorrindo satisfeito por saber que ele gostou da sugestão. - Passaremos por tudo isso, juntos.
Então ele assentiu, olhando para dentro dos meus olhos antes de deixar um selar molhado nos meus lábios, que expressava o seu ''obrigado'' discretamente.
* * *
- Será que ele ainda está lá? - perguntei receoso para o alfa que estava sentado ao meu lado na carruagem, segurando minha mão.
Eu realmente desejava que Eunho tivesse encontrado uma família, da qual pudesse lhe dar amor, muita tinta e lápis de cor para que ele continuasse fazendo os seus desenhos tão peculiares. Mas uma outra parte de mim - e essa falava mais alto - desejava veemente que ele ainda estivesse lá no orfanato, para que eu pudesse revê-lo. Eu estava sendo muito egoísta?
- Olha, Tae, eu fui fazer a visita mensal na semana passada e ele ainda estava lá, até me perguntou por você, pela milésima vez - riu soprado. - Eu prometi para ele que te levaria para vê-lo assim que você viesse e fizemos vários planos sobre como te sequestrar - contou e eu ri com aquilo.
- Vocês dois não tem jeito! - comentei, acenando negativamente com a cabeça, numa falsa reprovação.
O mais novo só riu e me roubou um beijo antes que a carruagem finalmente parasse na pequena cidade do reino. Os guardas que nos acompanhavam desceram primeiro e em seguida foi Jungkook, que ofereceu sua mão para que eu pudesse descer do veículo.
Como na primeira vez em que visitamos a pequena civilização assim que cheguei em Chinhwa para o casamento, todos os olhares foram postos sobre nós, a única diferença era que agora eu e o rei não atuávamos mais, já que naquela época nossa relação era na base do ódio.
Dessa vez estávamos realmente apaixonados um pelo o outro e isso ficou evidente em nossas feições tolas, nos sorrisos fáceis e nas trocas de olhares cheias de paixão.
Como de costume, ele me ofereceu seu braço e eu aceitei de bom grado, suspirando satisfeito por vê-lo tão cavalheiro. Acenamos para o povo que parou para nos observar e muitos pareciam admirados com nossa presença, principalmente com a minha presença ali. De alguma forma, me senti acolhido por todos, como se fosse bem-vindo em Chinhwa. E saber disso aqueceu meu peito.
Porque eu queria ser bem-vindo naquele reino, poder voltar para cá quando eu quisesse e ser recepcionado de maneira amável, assim como agora.
Seguimos em direção ao orfanato e antes que pudéssemos entrar, uma ômega nos alcançou.
- Com licença, Vossas Majestades - reverenciou respeitosamente. Ela era muito humilde, com vestimentas simples, e carregava um cesto com frutas, provavelmente era uma vendedora.
Paramos de caminhar e nos voltamos para ela, cumprimentando-a com um aceno de cabeça. Eu sorria porque a mulher era uma figura adorável.
- Vossa Majestade retornou para o reino? - a ômega se direcionou a mim, simpática e um pouco constrangida, como se estivesse receosa por dirigir palavras para um rei.
- Estou somente de passagem, querida - respondi casualmente.
- Ah, é uma grande pena, pois Chinhwa sente sua falta, Majestade! - ela comentou, tímida. - Ansiamos pelo dia em que o senhor possa ficar aqui permanentemente.
Não pude evitar me surpreender com aquela fala. Jungkook já havia me falado que seus súditos sentiam minha falta, mas eu pensei que era só uma invenção dele para que eu me sentisse à vontade para voltar ao reino. Porém, aquela ômega parecia tão simples e sincera que eu senti verdade em suas palavras.
Olhei para o moreno ao meu lado e ele me tocou levemente com seu cotovelo, como se dissesse: ''eu te falei!''.
- Agradeço esse carinho, senhora. Prometo não ficar longe por muito tempo - agradeci, realmente lisonjeado por ser querido naquele lugar. Ela se curvou antes de se retirar e pudemos voltar a ir até o orfanato.
Me vi em êxtase até o momento em que adentramos o hall de recepção do local, porque foi só então que me lembrei da senhorita Kang e de sua afronta contra minha pessoa. Será que ela estava ali? Me pergunto se ela me trataria diferente agora que Jungkook estava do meu lado pois, claro, era somente assim que me respeitavam.
Porém, franzi o cenho quando percebi que quem cuidava da recepção atualmente era um jovem beta, que inclusive era muito simpático e pareceu extremamente feliz e surpreso por me ver ali, até mesmo hiperventilou ao tentar falar comigo. Eu ri soprado com aquela reação única, não imaginava que minha presença era tão marcante assim.
Me perguntei o que foi feito daquela recepcionista e olhei de relance para Jungkook, imaginando que provavelmente ele acabou sabendo da história e quis fazer algo em relação a isso. Será que ele a despediu?
Mas não precisei perguntar nada, pois a resposta veio até nós naturalmente, com uma prancheta em mãos, os cabelos presos em um coque bonito e bem feito, e calçada com um par de salto alto elegante. Senhorita Kang parecia totalmente diferente do que naquele dia em que a vi e melhor: sorria para mim!
Eu estava literalmente em choque por vê-la tão... poderosa.
- Seja bem-vindo de volta, rei Taehyung - a ômega falou após reverenciar, num tom de voz confiante, a postura ereta.
- Senhorita Kang? - indaguei e os meus olhos estavam arregalados. Nem parecia a mesma pessoa!
- Sim, Vossa Majestade - ela confirmou, arrumando seus óculos no rosto. - Agora sou diretora aqui do orfanato, graças ao seu marido que me propôs um avanço de cargo.
Céus! Eu vivi para ver o dia que Jeon Jungkook, o grandioso rei de Chinhwa, fosse citado em uma conversa através de ''seu marido''! Parecia surreal, até. Eu queria rir, mas estava impressionado demais com tudo aquilo.
Olhei para o alfa, boquiaberto, e ele somente riu soprado com minha reação. Diferente do que pensei, ele não havia a despedido, fez ainda melhor! Mostrou para ela que, sim, ômegas podem ser autoridades também.
- Estou muito feliz em saber disso, de verdade - me virei para ela e falei com sinceridade, fascinado.
- Também estou, Majestade. Obrigada por me mostrar que posso ser mais do que uma simples recepcionista - agradeceu e eu somente sorri orgulhoso. Eu queria chorar de felicidade!
- Onde está o Eunho? - Jungkook questionou.
- Lá em cima, no dormitório - a diretora informou, sorridente. Eu fiquei muito aliviado por saber que ele ainda estava ali e me senti um pouco mal por isso. Entretanto, não importava, eu só queria vê-lo!
- Mas não é o intervalo das crianças agora? - questionei confuso, ouvindo todo o barulho vindo do pátio aberto lá fora.
- É, sim. Mas Eunho gosta de ficar sozinho no quarto às vezes. Ele é uma criança muito diferente das outras - a mulher disse.
- Concordo - sorri com aquilo.
Despedimos da diretora e seguimos em direção às escadas, rumo ao dormitório infantil. Decidimos que veríamos o garotinho antes de visitar o restante das crianças.
Não pude evitar de demonstrar minha euforia e desvencilhei de Jungkook, correndo pelos degraus para chegar logo.
- Ei, assim você pode tropeçar! - eu o ouvi brigar atrás de mim, mas continuei apressado.
- Você só diz isso porque não quer que eu chegue lá primeiro! - provoquei, rindo.
Contudo, me arrependi disso quando cheguei ao andar praticamente vazio e senti os braços do rei envolverem minha cintura por trás, num abraço apertado, me erguendo do chão e impedindo que eu continuasse correndo.
- Isso não é justo! - reclamei, tentando me soltar, mas seu aperto era firme, apesar de não me machucar.
E o maldito só riu quando me colocou no chão de novo, dessa vez correndo pelo corredor cheio de portas. Saí do atordoamento e bufei, tentando alcançá-lo. Eu queria ficar com raiva, mas um sorriso enorme estava presente no meu rosto.
No final dessa corrida nada madura, quem chegou primeiro fui eu, e ainda tive que fingir que não percebi que o alfa me deixou ganhar! Mas isso de fato não importava agora, não quando eu abri a porta do dormitório e encontrei aquela figura pequena sentada no meio do cômodo, com um monte de giz de cera e lápis de cor ao seu redor, focado naquilo que fazia.
Ele demorou a tirar os olhos da possível obra prima que pintava numa folha, mas quando o fez, me pegou olhando para ele com uma admiração imensa, porque era impossível não olhá-lo com tanta ternura, ainda mais depois que ele abriu um sorriso enorme, mostrando que alguns dentinhos faltavam em sua boca. E eu sorri, querendo lacrimejar.
- Taetae! - ele exclamou feliz, se levantando rapidamente, passando por cima dos seus instrumentos de pintura de maneira desastrada, correndo em minha direção.
- Eunho - pronunciei como um suspiro de alívio, me abaixando para receber aquele corpo pequeno e infantil nos meus braços.
Seu aroma suave de canela me fez amolecer e eu inconscientemente o apertei contra mim com um pouco mais de intensidade. Eu só queria matar toda aquela falta que ele me fez.
- Você voltou! - ele disse quando nos afastamos, mas ainda continuei abaixado para que ficássemos na mesma altura, então seus olhinhos brilhantes passearam por todo meu rosto, demonstrando o quão animado ele estava por me ver. - Você vai ficar dessa vez, não é? - perguntou, fazendo um bico.
Meu coração se comprimiu, mesmo que aquela cena fosse a coisa mais fofa que eu já vi na minha vida.
- Não... - respondi desanimado, vendo a feição dele murchar. - Mas podemos aproveitar enquanto eu estiver aqui, o que acha? - sugeri com um sorrindo acolhedor, tentando deixá-lo feliz novamente.
- Isso não é um problema! - o rosto dele se iluminou de repente. - Eu e o Kookie já fizemos vários planos de como podemos te sequestrar - contou e eu ri com a ingenuidade dele. Olhei para cima rapidamente, encontrando um Jungkook com um sorriso divertido, como se estivesse amando aquele momento entre mim e a criança.
- E como vocês planejaram isso, posso saber?
- Bom, ele me disse que você ama orquídeas! Eu não sei como essa flor é, por isso estou esperando a tia me trazer uma para eu saber, porque vou desenhar para você! E aí você irá se distrair com o desenho enquanto nós te capturamos! - exclamou, num ânimo muito puro. - Mas enquanto ela não traz, eu fiz um desenho do Kookie, porque ele me disse que você também o ama muito.
E eu gargalhei alto, sendo acompanhado pelo alfa de pé ao nosso lado. Meu Deus, ele era mesmo um convencido!
- Ele disse, foi? - questionei entre risadas.
- Sim, mas eu não entendi isso muito bem. Se você o ama, por que foi embora? - ele indagou confuso, colocando seu dedinho indicador no queixo, num gesto de quem está pensativo. Meu sorriso se desfez na mesma hora e agradeci por Eunho não ter reparado nisso. - Mas tudo bem! Talvez o desenho dele te faça ficar, né? - ele voltou seus olhinhos para mim.
- Uhum... - balbuciei meio aéreo. As palavras de Eunho me pegaram de jeito e eu não sabia se deveria explicar para ele como as coisas funcionavam na realidade.
Contudo, só me permiti ser levado pelo garotinho, que pegou em minha mão, me puxando rumo à área onde suas coisas de pintura estavam. Ele se sentou no chão e me convidou para fazer o mesmo. Jungkook logo nos seguiu, sentando do outro lado de Eunho.
- Olha, eu já fiz o desenho! - ele tirou uma folha guardada num caderno e entregou para mim.
Era visível o quanto a criança melhorou em suas habilidades artísticas com o tempo e o desenho não era apenas rabiscos infantis, dessa vez dava para ver como ele representou bem o rei, com traços bastante delineados e até realista. No entanto, ainda assim tinha aquele ar de pureza que só ele conseguia depositar numa arte. Sorri olhando para o desenho.
- Veja só, você conseguiu deixar o Jungkook bonito! - caçoei, recebendo um olhar provocativo do alfa, ao mesmo tempo que sua feição demonstrava que ele se sentiu ofendido. E eu somente ri daquela cara dele.
Mas eu já imaginava que ele sabia o quanto eu o achava bonito.
Passamos muito tempo com o garotinho e eu não sabia descrever o quão gracioso era ver Jeon Jungkook sentado no chão com Eunho no meio de suas pernas enquanto os dois estavam curvados, desenhando juntos numa folha na frente deles, no piso.
O rei envolvia a criança em seus braços com tanto carinho que eu só pude confirmar aquilo que eu disse mais cedo: Jungkook vai ser um ótimo pai.
* * *
- Sabe, como hoje é seu último dia aqui em Chinhwa, acho que devemos aproveitar - o moreno disse, me olhando sugestivamente.
Já estávamos de volta em seu castelo, depois de passarmos a tarde inteira com os órfãos, que agora eram poucos, pois a maioria havia sido adotado, o que era muito bom.
- E como Vossa Majestade deseja aproveitar esse último dia? - eu quis saber, levemente malicioso.
- Quero te levar para um lugar.
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