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História Hammond - Dia 1 - O Apartamento


Escrita por: Vinibrazuka98

Notas do Autor


Fala, pessoal. Trago aqui minha mais nova fanfic original. Trata-se de uma história simples, porém densa e profunda. Aqui acompanharemos a vida de um sujeito que poderia ser qualquer um de nós: um homem que sofre de uma intensa depressão, causada pelas diversas adversidades da vida humana.
Será uma história curta; planejo terminar com cerca de cinco capítulos.
Espero muito que gostem. Aceito quaisquer sugestões ou críticas com o maior prazer. Peço que aqueles que me acompanharem não percam a oportunidade de comentar, já que assim eu posso saber o que estão achando da história. Asseguro que responderei a todos os comentários.
Boa leitura!

Capítulo 1 - Dia 1 - O Apartamento


Eu ouço carros... e sirenes, o vento batendo contra minha janela entreaberta. Os sons da cidade se elevam ao meu redor, como uma sinfonia sombria e fúnebre. O odor de gasolina e mijo estava impregnado por toda aquela atmosfera decadente.

Admito, essa foi uma introdução um tanto poética demais para um simples compilado de lamúrias de quinta categoria.

Por que estou escrevendo isso? Essa é uma pergunta que me faço de trinta em trinta segundos, meu caro. Posso dizer apenas que senti as teclas duras e enferrujadas da máquina de escrever me convidando; como se aquele objeto rústico e metálico me convidasse a sentar à mesa e contar todas as coisas que me assombram a cabeça. Assim, da minha velha cadeira de couro carcomida fiz meu divã, e da minha caduca máquina de escrever fiz meu próprio Freud particular.

As noites em claro estão cada vez mais frequentes. Aparentemente, meu corpo já chegou a um estágio de percepção da inutilidade do sono. Nada que nos afaste da realidade, mesmo que por inconsciência, pode ser bom.

Nesse meu apartamento escuro – não pago a conta de luz há pelo menos três meses –, localizado na zona mais pobre da cidade, deixo minhas ideias fluírem tal qual o uísque descendo em direção ao copo do ébrio.

Sinto que todos aqueles sons lá fora me envolvem num embalo de nostalgia e tristeza ao mesmo tempo. As paredes do meu lar falham em me proteger do frio, mas sucedem em me enclausurar, longe de toda aquela vida – imunda, diga-se de passagem.

Para onde foi toda a beleza desse mundo? Para onde foi toda aquela graça de viver? Para onde foi aquele final feliz do filme que assisti na televisão do vizinho semana passada?

Acredito que a única coisa que me move hoje é a crença de que algum dia vou encontrar essa tal beleza; uma esperança cega de que a felicidade esteja escondida em algum canto da vida, talvez num beco escuro, nas páginas de um livro de autoajuda, numa cama de bordel, ou no conforto frio e impessoal do chiado do rádio.

Penso que ás vezes, nessa incessante busca por felicidade, me sinto como um pirata atrás de um baú de tesouro. A grande diferença é que o tesouro é apenas uma falsa e momentânea euforia, e o baú é um maço de cigarros ou uma garrafa de vinho barato que comprei na esquina.

Talvez eu seja mesmo como minha máquina de escrever: uma relíquia, uma peça rara que faria maior bem se estivesse num museu. Não pertenço a este mundo. Sou um monarca decadente, prestes a assinar a própria renúncia, pois os tempos da República já haviam chegado. E os republicanos não são do tipo que bate à porta e pede educadamente que saia.

O reinado certamente já viu dias melhores; dias de glória e riqueza que jamais retornariam. Tardes em jardins repletas de comida, e noites de fartura e erotismo regadas a vinho. Nisso, após assinar o documento, o monarca se vira para seu conselheiro e questiona “e agora? O que faremos?” No que o nobre se limita a erguer os ombros, sem saber o que responder.

Num tiquetaquear do relógio, a marcha das tochas e lanças fazem as estruturas sacudirem, até os líderes revolucionários derrubarem a porta e expulsarem os inquilinos. É como dizem, “o rei está morto, vida longa ao novo Rei”.

E foi assim que eu surgi: como uma máquina de escrever. Outrora tão útil, tão bem-visto e estimado. Hoje apenas uma peça para contemplação dos jovens curiosos, e um motivo de saudade para os velhos nostálgicos.

A vida é como uma grande piada; tudo o que importa é o timing. E isso era algo que eu nunca tive. Sempre cheguei adiantado a tudo. Minha juventude se foi cedo, quando perdi meus pais e tive de aprender o complexo mecanismo da vida do jeito difícil. Cheguei rápido demais à adolescência e, depois, à vida adulta. Tudo o que parecia novo e empolgante passara a ser chato e irrelevante. Hoje, minha idade não importa mais. Sei que cheguei atrasado para a felicidade. E quando se chega a esse ponto, é certo que não há mais volta.

É irônico o fato de eu ter escrito essa frase no exato momento em que meu relógio para de funcionar? Talvez seja só a vida tentando me fazer ficar em casa e poupar as pessoas na rua de encontrar com uma criatura tão empoeirada.

Pensando melhor no que escrevi agora há pouco, acho que concordo comigo mesmo: tudo na vida é sobre o tempo. E tempo é o que eu estou desperdiçando agora mesmo escrevendo essas baboseiras.

A você, meu leitor, meu terapeuta, um abraço de um ninguém, vindo do nada.

Atenciosamente,

Ass.: O Autor



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