Chora alvorada, que traz teus rebentos para se consolar no rio das lágrimas, abraça suas águas e acalenta tuas almas, e chora mais sentida ao ver de longe tua partida.
A chuva forte guia mais um corpo a esmo no rio das lágrimas, cinzento é a luz do dia, de luto, e a flor que desperta do sono profundo observa mais uma vez a cena que se repete incessantemente. Tão solitária flor, que passa os dias a presenciar a dor, incontáveis lágrimas caídas no chão, que solitude é ser uma flor, que não pode entender o amor. No cinzento lusco-fusco, veementemente desejou e com o poder etéreo renasceu dos braços de Morfeu a tão singela flor que deu lugar a um rapaz.
Poucos metros dali, um viajante cansado guiava sua carroça, se aproximando do rio das lágrimas para abastecer sua bolsa d'água.
— Não acho que deveria fazer isso.— O jovem que antes era flor, aconselhava o viajante. — Este é o rio das lágrimas, que acolhe o lamento daqueles que vem procurando descanso eterno.—
O viajante recuou um pouco assustado, desenrolou o tecido que lhe protegia dos fortes raios solares, revelando um rosto jovial com olhos determinados. — E você também esta aqui para isso?—
— Mas como poderia eu, que tão recente sou humano, que quando era flor tanto presenciei o desprazer do viver, e ainda nem mesmo entendi o motivo.— Um pouco confuso o viajante se aproximou. — E como se chama o garoto flor?— E o jovem pensou que não tinha um nome, que nunca precisou, que sempre se chamou flor, e então se lembrou que outrora um jovem chamado Marco chorou em suas pétalas, tomou um frasco de veneno e se jogou no rio. — Marco.— Respondeu o jovem, se apropriando do nome que não era mais usado. — Me chamo Jean, prazer em te conhecer.— Ambos se cumprimentaram, e Marco, curioso perguntou aonde ia o jovem viajante, Jean primeiro hesitou, mas vendo a inofensividade do rapaz lhe contou.
— Em um tempo muito distante, existiu um grande imperador, que ganhara de um mercador um antigo espelho que espantava os maus espíritos. O país estava em guerra com o país vizinho e o imperador todo dia rezava no templo pedindo a imortalidade para que pudesse derrotar seus inimigos e trazer a paz ao seu povo, e desejou com tanta paixão que o espelho que sempre levava consigo decidiu conceder seu desejo. No entanto, seu país perdeu a guerra e todos os soldados morreram, enlouquecido, o imperador se isolou em uma montanha, onde, por todas as Eras e mais além, não encontraria descanso algum e para sempre sofreria a dor da solidão, até que a lua parasse de brilhar e o sol não mais nascesse. E o antigo espelho ainda permanece no Palácio dos cristais esperando a volta de seu amo.— Com emoção Jean terminou a história acrescentando — Agora viajo eu, em busca do Palácio dos cristais para encontrar o espelho, pois desejo nunca ter que morrer.—
Marco analisou a história e não conseguia entender o desejo de viver, após presenciar tantas mortes, concluiu que viver era tão doloroso quanto morrer, mas se interessou por tais calorosas palavras que vinha do jovem viajante.
— Pois veja que para mim realmente é difícil entender o medo de morrer, mas já desejei uma coisa, quando não sabia nem o que era o desejo, e gostaria de saber por que tudo dentro de mim é vazio.— Tão apática era sua expressão que Jean, que não poderia imaginar alguém que não gozasse de sentimentos e emoções, se apiedou de Marco e propôs que este lhe acompanhasse em sua viagem para aprender sobre o infortúnio e a alegria da vida.
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