História Hands to Myself - Eu sei que está mentindo;

 União e reencontro entre os membros da família e, talvez, amigos. Visitas e jantares na casa de um parente próximo, ou nem tão próximo assim. Troca de presentes. Viagens. Férias e descanso, mas também muita festa e comemoração. Isto tudo resumia o final de todos os anos, com o natal e a chegada de mais um novo ano.

 Allison, juntamente com a família, foi passar as férias na casa da parte da família Argent que vivia em New York. Reencontrou avôs, tios e os seus poucos primos que sentia muita falta. Além dos muitos momentos familiares e os jantares diários, a menina também saiu para muitos lugares de New York com os seus primos que possuíam a mesma faixa etária que ela. Allison era apaixonada por New York, pois havia uma infinidade de lugares para ir à qualquer hora do dia, dando jus ao título de cidade que nunca dorme. New York só não ficava no topo do coração da Argent, pelo fato de existir Los Angeles. As praias mais belas, o clima, a energia, a beleza do lugar, diversos pontos turísticos e, principalmente, Hollywood. Tudo isto tornava Los Angeles a cidade perfeita para Allison. Pensar que daqui a alguns poucos meses ela provavelmente estará morando na cidade dos sonhos, estudando cinema como ela desejava desde criança, deixava-a imensamente feliz e realizada.

 Scott, diferente de Allison, não passou as férias de inverno e festas de fim de ano completamente feliz e satisfeito, porém isto já não era novidade, afinal nos últimos anos ele passava o natal e ano novo da mesma maneira: em uma viagem com Maya, com o senhor e senhora Werneck, com o próprio pai e com a namorada atual do senhor McCall que a cada ano era uma diferente. Os assuntos nas conversas eram sempre os mesmos e a única coisa que variava era o local de destino, desta vez o lugar escolhido foi a cidade de Sydney na Austrália.

 Eram incontáveis as vezes que Scott parava para pensar na menina de cabelos escuros como a noite, sorriso perfeito e contagiante, covinhas impossíveis de não se apaixonar, corpo alto e magro que hipnotizava-o, aqueles olhos castanhos que sempre transbordavam um milhão de sentimentos e transpassavam a ele outro milhão de sensações.

 A menina desinibida que possuía e esbanja a coragem que ele nunca teve, que não tem medo de ser feliz e não reprime suas vontades e desejos, que fala o que vem na cabeça e pode assustar quem tem medo de ouvir a verdade. A menina que veste seus saltos altos e vestidos curto, mas que também ama os seus tênis, shorts e moletons maiores que ela. A menina que canta alto, que dança indo até o chão, rebola incrivelmente os quadris, remexe lindamente cada parte do seu corpo no ritmo da música e só para quando o cansaço aparece, que às vezes bebe mais do que deveria, que ama beijar como ninguém, que festeja como uma adolescente descobrindo a vida, mas que também não deixa a responsabilidade de lado. Trabalha duro pensando no futuro e se dedica ao máximo aos estudos. A aluna que nunca deixou de entregar um trabalho ou atividade e que mesmo com as suas dificuldades se empenhava em melhorar. A amiga que estava sempre disposta a ajudar alguém que precisa, alegrar alguém triste e fazer companhia a alguém sozinho, não era à toa que ela possuía um grande número de amigos que a amavam verdadeiramente, afinal quem não gostaria de estar perto da menina que só transmite luz?

 Como Allison ousaria deixa-lo completamente viciado nela e agora pensar na hipótese de abandoná-lo? Scott precisava dela, tê-la se tornou uma necessidade. Teve a total certeza disto nesta viagem, pela imensa falta que sentiu dela, mesmo com ela morando em seus pensamentos e caminhando todas as noites em seus sonhos. Não imaginou que ficaria tão mal por ela não estar ao seu lado, foi torturante não tê-la todos estes dias. Foi ainda mais torturante lembrar que ela permanecia brava com ele por uma inverdade a qual ele nem mesmo teve a chance de se explicar. Sua mente traiçoeira ainda teimava a fazê-lo pensar que ela poderia estar beijando outras bocas e, o pior, sendo tocada intimamente por homens nova iorquinos. Era assustador pensar em outro homem dando prazer à menina dele.

 É. Saudade realmente nos faz perceber o quão importante a presença do outro é.

 Scott contou cada milésimo de segundos para a viagem dele chegar ao fim e depois contou mais milésimos esperando ansiosamente a viagem dela acabar também.

 Na última semana das férias de inverno até as aulas voltarem oficialmente, Scott passava no apartamento do melhor amigo. Sim, ele havia conseguido a desejada semana nas férias para passar com Stiles e matar a saudade dos velhos tempos. Precisou ‘apenas’ de muita – realmente muita – conversa com Maya, além de fazer diversos acordos ridículos para conseguir a autorização dela, porém tudo valeu a pena ao pensar que passaria alguns dias com o melhor amigo irmão.

 Nestes últimos dias, Scott se divertiu muito mais que o triplo do que se ‘divertiu’ na Austrália. Juntos, eles saíram para alguns lugares: visitaram a loira Brooke Maddox, assistiram um jogo de beisebol, jogaram bastante videogame assim como faziam na adolescência e foram a algumas festas onde Scott pode se divertir na medida do possível, mesmo não conseguindo sentir atração por nenhuma das mulheres de lá para beijar e se distrair – podemos resumir o motivo desta falta de capacidade de sequer pensar em ficar com alguém em um único nome: Allison.

 E hoje, sexta-feira, Scott recebeu uma notícia que o deixou imensamente feliz. O homem, que ainda se hospedava no apartamento do amigo, recebeu uma mensagem da Maddox avisando que Allison já havia voltado e estava neste exato momento na casa de campo do Derek. Com o incentivo do melhor amigo, Scott não pensou duas vezes e percorreu um caminho até lá utilizando o carro do Stiles.

 Assim que chega, Scott anda pela casa procurando exasperadamente pela menina, acabando esbarrando em algumas pessoas e, consequentemente, recebendo xingamentos e resmungos em troca, entretanto ele realmente não se importou com nenhum deles, a sua única preocupação agora era unicamente de encontrá-la. Precisava explicar toda a situação que o cercava. Não aguentava ser tratado por ela com indiferença e com certo desprezo todas as vezes que ele tentava uma aproximação.

 Era a chance de ele esclarecer as coisas, que já deveriam ter sido esclarecidas anteriormente, mas que, de modo burro, ele adiou, deixando chegar ao ponto de ela acreditar que ele era um homem detestável. Seu único medo agora era que, mesmo depois que conversassem, ela ainda não quisesse-o mais.

 Depois de muito procurar, o homem moreno encontra-a enfim. Allison estava em pé no meio da piscina. Seus cabelos molhados caiam lindamente sobre os ombros, o biquíni preto que cobria os seios era o mesmo que ela usava no dia que eles se viram pela primeira vez e, ironicamente, na mesma piscina.

 Não estava sozinha, conversava com um rapaz que acompanhava-a. Entretanto, Scott focou-se apenas nela, esquecendo todo o resto, nem ao menos se abalou com a presença do homem ali, ele não deixaria que este pequeno detalhe atrapalhasse os seus planos.

 — Allison! — chama quando já estava na beirada da piscina, após alguns passos ágeis e apressados o levarem até lá.

 A menina morena escuta a voz masculina que chamava-a e reconhece no mesmo instante, sabia exatamente quem era o dono daquela voz, sem mesmo os seus olhos precisarem se mover para procura-lo. No entanto, não se virou para trás, ignorando-o completamente e continuando a conversa que tinha com Dean, normalmente.

 — Um cara está te chamando — avisa o homem dono de um lindo par de olhos verdes ao ouvir o nome de Allison ser chamado pela segunda vez.

 — Shhh, finge que não está escutando — pede Allison e ele assente. A conversa interrompida parecia ter continuidade até Allison sentir algo leve atingir a sua cabeça. O objeto era uma tampinha de garrafa jogada por Scott com o único objetivo de chamar a atenção dela. — Que merda, Scott! O que você quer? — impaciente, Allison berra e se vira para trás para finalmente olha-lo.

 — Eu preciso falar com você, o que já deveria ter falado antes. Eu sei que eu estava me tornando mais que uma distração para você, até a Maya foder com tudo e...

 — Quem fodeu com tudo foi você — interrompe.

 — Allison, eu não vou sair daqui até você escutar tudo o que eu tenho para dizer. Depois se você não me quiser mais, eu prometo te deixar em paz, mesmo contra a minha vontade, porque tudo o que eu mais quero é ficar contigo.

 A Argent fraqueja por um momento após ouvir aquelas últimas palavras. Fecha os olhos por segundos buscando concentração, passa a língua nos lábios para umedece-los e respira fundo.

 — Desculpa, eu não posso ouvir agora, se não percebeu eu estou ocupada.

 Passa o braço em torno dos ombros do Dean, abraçando-o. Dean apenas observava a discussão do casal, quieto, sem a pretensão de atrapalhar ou se intrometer.

 Scott suspira e, em seguida, espreme um lábio contra o outro. Abaixa-se e desfaz os laços que amarravam os cadarços dos tênis e livra os seus pés do calçado. Levanta-se e abre o zíper da blusa moletom que usava e retira-a, jogando-a no chão sobre os tênis. A próxima e última peça de roupa a deixar o corpo dele foi a camiseta, revelando parcialmente o seu belo corpo.

 Allison tentou desviar a atenção para outro lugar, contudo seus olhos a traíram. Não conseguiu desviar da visão do paraíso que era o homem moreno se despindo. Ela julgava-se estar doida, porém poderia jurar que de repente o mundo todo ficou em câmera lenta. Ainda mais quando viu Scott mergulhar na piscina, emergindo logo depois, todo molhado e ajeitando – ou bagunçando – o cabelo negro.

 Só quando viu Scott se aproximando deles, Allison abaixou a visão. Olhando para os próprios pés sob a água.

 — Por favor, me deixa conversar com ela, eu sou apaixonado por esta menina, ela é importante para caralho para mim — pede olhando diretamente para o homem que a acompanhava.

 — Não, Dean — murmura Allison, fraca. Novamente as palavras de Scott a atingiram. Porém, ela lutou consigo mesma para esconder isto. Palavras bonitas todo mundo diz a todo momento para quaisquer pessoas, não se iluda, pensava Allison.

 — Conversa com ele, Allie — pede Dean e sorri para ela.

 Allison entreabre a boca, e seus olhos castanhos encontram Scott olhando para eles enquanto aguardava. Sem que ela percebesse Dean já começara a se afastar para dar espaço a eles. A Argent olha para Dean, puxa-o para ela e beija-o antes de se despedir dele.

 Scott espreme os lábios e abaixa a cabeça, não querendo assistir este maldito beijo.

 — Depois que eu terminar aqui, eu te encontro — sussurra. Dean assente e assim que ele se afasta, a menina volta a sua atenção para o homem moreno novamente. — Scott, por que você quer perder o seu tempo conversando comigo ainda? Eu perdi o interesse em ti, desculpa.

— Perdeu mesmo? — pergunta com uma voz provocante e arqueia uma das sobrancelhas ao encara-la, ao mesmo tempo que andava para se aproximar mais dela.

 Allison entreabre a boca, porém logo fecha. Fecha os olhos por segundos e quando abre-os procura um ponto fixo para olhar sobre os ombros do moreno. E, só então, responde a pergunta dele ao balançar a cabeça para cima e para baixo.

 À medida que ele se aproximava, ela dava passos para trás na tentativa de manter a distância que separava-os. Só foi impedida quando sentiu suas costas encostarem na parede da piscina, alertando que ela chegara na beirada e não havia mais espaço para ir para trás.

 — Não encosta em mim, Scott — pede Allison, se abraça e olha para baixo.

 O homem concorda em um movimento com a cabeça, entretanto, mesmo sem tocá-la posiciona seus braços a cada lado dela, apoiando as mãos na beira da piscina. Impedindo que ela ousasse sair dali.

 — Olha nos meus olhos e me diz que não sente mais nada por mim.

 Allison sobe seus olhos até chegar aos dele, encara-o por segundos, morde o lábio inferior e respira fundo.

 — Eu não sinto mais nada por você — fala Allison com uma expressão séria no rosto, que logo se transforma em uma confusa ao ver um sorrisinho se formar nos lábios dele.

 Scott se aproxima um pouco mais, deixando pouquíssimos centímetros separando-os. Inclina sua cabeça para o lado e move-se até a sua boca chegar próximo ao ouvido dela.

 — Lembra no começo quando eu dizia que não queria, porém você sabia que eu estava mentindo? Assim como você tinha certeza naquela época, eu sei muito bem que você está mentindo agora, e... — o moreno se atreve a encostar seus lábios na orelha dela para proferir a próxima frase — eu não vou desistir de ter você, Allison Argent.

 O homem sorri ao notar que ela arfou e a respiração se tornou descompassada. Para causar mais reações em Allison, tornando impossível a opção de ela afirmar que havia perdido o interesse, ele morde o lóbulo da orelha dela.

 — Professor, torça para as suas duas alunas que estão assistindo tudo isto não resolverem espalhar para o colégio inteiro esta cena até chegar no ouvido da sua esposa — sussurra Allison na tentativa de escapar das provocações do moreno. Sua voz firme escondia o quanto ela ficou atordoada com a voz do homem em seu ouvido, seguido do toque dos lábios e a mordida na orelha.

 Scott vira o seu rosto para olhar na mesma direção que Allison olhava e encontra Erica e Cora olhando para ambos incredulamente. Scott resmunga mentalmente, porém não se afasta de Allison, em vez disto, volta sua visão para a Argent e diz:

 — Vou torcer.

 O homem sorri e pisca para ela. Allison encara-o desacreditada. Não esperava aquela reação. Esperava que ele se afastasse e parasse com estas provocações idiotas, enquanto ela ainda estava conseguindo resistir. Ela só não sabia por quanto tempo mais era capaz de resistir a ele.

 Scott estava certo. Ela mentia toda vez que proferia que não sentia mais nada e que havia perdido o interesse. Quem ela estava tentando enganar com estas palavras?

 A verdade é que Allison acreditava que se repetisse isto várias vezes como um mantra, aquilo viria a se tornar realidade. Parecia estar funcionando, porém agora com Scott tão próximo a ela, todo o seu esforço aparentemente estava sendo lentamente desvalidado.

 — Allison Argent — o homem chama a atenção dela com uma rouquidão na voz excessivamente sexy, e mais uma vez a menina estremece. Allison fecha seus olhos na tentativa de ignorar a presença dele. Porém, logo sente as duas mãos masculinas segurando o seu rosto delicadamente, usando o polegar para acariciar as maças do rosto dela. — Olha pra mim — pede.

 A Argent abre os olhos novamente e encontra as írises escuras do homem admirando fixamente os lábios dela. Pode observar também que ele aproximava sua cabeça aos poucos. A morena desce sua visão para os lábios dele que cada vez tornavam-se menos distantes da boca dela.

 No entanto, com rapidez, ela fecha os olhos com força e vira o rosto, antes que a boca dele tivesse contato com a sua, fazendo o beijo que ele pretendia dar nela pegar somente na bochecha.

 — Está bom, Scott. Eu vou te ouvir — murmura. Coloca as mãos contra os ombros dele e empurra-o para trás, afastando-o. — Mas, você deve manter uma distância boa entre nós. Se tentar se aproximar assim, terminamos a conversa na mesma hora.

 Scott assente e esboça um sorriso.