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História He Likes Boys - As malditas borboletas no estômago


Escrita por: midoriya

Notas do Autor


estou com um bloqueio horrível. eu prometi a mim mesma que escreveria qualquer coisa que eu conseguisse, então eu tentei passar por cima do bloqueio hsuahsus mas sinceramente, esse capítulo não fluiu tão bem quanto o outro. no entanto, espero que gostem, me esforcei bastante para trazer algo legal para vocês. <3

então, boa leitura!

Capítulo 2 - As malditas borboletas no estômago


— 1, 2, 3, 4 — gritou, batendo as baquetas acima de sua própria cabeça, antes de, em um ímpeto, começar a tocar juntamente de Kirishima, entrando assim no seu conhecido estado profundo de estupor. Pois, a partir do momento em que Shouto se sentava diante de sua bateria e segurava suas baquetas, ele adentrava em um mundo onde somente a música existia para si. E aquele era, definitivamente, um daqueles momentos. Já não tinha consciência de quem era, sequer de seu próprio nome, porque, enquanto estivesse tocando, ele se tornava um com qualquer canção, em conjunto com outros integrantes de sua banda. Devido a isso, existia uma regra entre eles e esta era: o resto do mundo não importa, seus problemas fora daquele porão não importam, enquanto estivessem tocando, existiam apenas eles e a música. E essa era uma regra que todos eles faziam questão de cumprir, afinal, poder esquecer toda a manhã que se passou e focar apenas no instrumento diante de si… era libertador.

Logo a voz de Kyouka se fez presente quando ela começou a cantar, traduzindo em palavras todo o sentimento, toda a sensação que eles tentavam transmitir para quem quer que estivesse assistindo sua performance. Aquela banda era tudo o que eles tinham, era a possibilidade da realização de um sonho que talvez não fosse possível se não estivessem juntos desde o início. Em alguns momentos, deitado em sua cama, ou quando seus pensamentos divagavam, Shouto se perguntava o que teria sido dele se não tivesse amigos para o apoiar quando mais precisou. Para quem ele correria? E como poderia manter-se forte para sua mãe sem alguém que o ouvisse e o dissesse que era forte e que poderia enfrentar tudo aquilo?

Todoroki era grato por tê-los ao seu lado e por poder apoiá-los no que quer que fosse, pois isso significava que tinham, realmente, uma amizade verdadeira. Incapaz de ser destruída pelo tempo ou por outras pessoas, pois àquela altura, confiavam tanto uns nos outros que brigas já não eram relevantes, sempre eram resolvidas facilmente com diálogo. Shouto tinha orgulho de dizer que aqueles caras — e Kyouka — eram seus melhores amigos.

Que que vocês acham de um novo integrante na banda, galera? — Eijirou perguntou, jogando-se no sofá azul — que claramente já estava caindo aos pedaços, devido ao tempo e ao clima úmido — logo que a música terminou, colocando a guitarra ao seu lado e bocejando, antes de cruzar os braços atrás da nuca.

— Espera, hein? — Jirou começou, dirigindo-se à mini geladeira que haviam economizado para comprar e retirando do eletrodoméstico quatro garrafas de água mineral. — O que você disse? — E jogou uma garrafa para cada um. Shouto pegou a sua, abrindo-a e entornando em sua boca, tomando praticamente metade do líquido. Para o seu total desgosto, já podia sentir uma fina camada de suor impregnada em seu corpo e, mesmo que estivesse usando uma regata, o tecido ainda grudava em sua pele, fazendo com que o bicolor fizesse uma careta, visivelmente insatisfeito.

— Um novo integrante! — ele exclamou, olhando para Iida, que apenas havia se sentado na poltrona — que se encontrava no mesmo estado lamentável que seu sofá — e bebia sua água, igualmente alheio à atual conversa dos dois. — Você não acha uma boa ideia, Tenya?

— Achei que nossa banda já estava completa — ele se limitou a comentar, e Kirishima sorriu, como se tivesse vencido devido à frase dita por ele.

— É aí que você se engana, meu caro! Veja bem: não seria bom ter mais um vocalista? E outro guitarrista também não seria nada mal — ele disse, colocando a mão no queixo, contemplando sua ideia.

— AÍ ESTÁ! — Jirou acusou. — Ele quer mais integrantes só pra ficar de moleza!

— Eu não disse isso! — o ruivo bufou, dirigindo seus olhos a Todoroki, que imediatamente desviou o olhar, querendo evitar de se intrometer nas discussões deles. — A maioria das bandas de rock têm um vocalista masculino, não tem, Shouto? — o bicolor ficou imóvel.

— Não… necessariamente — disse, cauteloso, encarando a borda da garrafa em sua mão.

— Vê só?! — Pôde ouvir uma exclamação convencida da única garota presente e um bufar, que só podia vir de Kirishima.

— Tenho certeza que, quando formos gravar nosso CD, vocês vão perceber que falta um integrante na nossa banda. Devíamos procurar outro vocalista enquanto ainda temos tempo de sobra para fazer isso.

— Beleza, Eijirou, então digamos que você está certo — Kyouka supôs, cruzando os braços e olhando-o. — Pode dizer pelo menos uma pessoa que canta bem e que iria querer entrar para a banda, sem receber para isto? Não duas, não três, apenas uma, e finalizamos essa reuniãozinha.

— Bem — ele começou, engolindo em seco e olhando de Iida para Shouto, como se pedisse socorro. Deu de ombros. Realmente, se pensassem bem, não existia ninguém por perto — como o colégio ou o bairro — que aceitaria fazer parte do grupo. — Podíamos imprimir folhetos, fazer posts no Instagram e criar um blog!

— Eijirou — o bicolor começou, finalmente se levantando e seguindo até o ruivo. — Não vamos nos precipitar, okay? Se sentirmos que precisamos de mais um vocalista, conversaremos sobre a possibilidade e, se todos concordarem, iremos mover céus e terra para convencer alguém de que somos uma banda foda — então bagunçou os cabelos do garoto, que respirou fundo e assentiu. — Mas, por enquanto, só quero um pedaço de pizza. Estou morrendo de fome.

Claro que aquele assunto não morreu ali, como já podia imaginar, afinal, estávamos falando de Kirishima Eijirou, e ele tinha uma capacidade incrível de, não somente irritar, como também lutar pelo que queria. E se o ruivo queria um novo integrante, ele conseguiria um novo integrante, mais cedo ou mais tarde. O bicolor preferia — e muito — que fosse mais tarde, pois ainda não tinha coragem o suficiente para divulgar a existência de sua banda para o resto do mundo. Por mais que quisesse sim gravar um CD com eles, Shouto ainda não se sentia pronto para desnudar sua alma, nesse caso, suas composições. Havia muito de si nas letras que compunha e apenas deixava que seus amigos escutassem porque já conheciam praticamente todos os seus segredos. E porque, naquelas linhas, em cada palavra, havia um pouco do seu passado e muito de seus sentimentos, muito de Midoriya Izuku. Ademais, não queria que ele as ouvisse, mesmo que imaginasse que não saberia que eram sobre e para ele.

Ainda sim, existiam algumas composições que nem mesmo Jirou tivera acesso. Pois aquelas eram tão profundas que não seria capaz de mostrá-las a quem quer que fosse, elas retratavam mais que seu coração, cada uma delas capturava uma parte de sua alma. E Shouto tinha medo. Aterrorizava-lhe a possibilidade de que alguém pudesse ver uma parte tão frágil de si, uma parte que queria guardar apenas para ele mesmo. Mas, naquela noite, o bicolor não foi capaz de pensar em nenhuma letra melancólica, pois seus pensamentos e sonhos foram preenchidos, completa e totalmente, pelo esverdeado que encontraria depois das aulas. Era surreal pensar que teria algum tempo à sós com aquele que roubou seu coração há tantos anos atrás e que somente lhe dirigira o olhar uma única vez.

Shouto sonhou com o verde daqueles olhos.

Na manhã seguinte, algo incomum ocorreu: Todoroki Shouto, o nerd, o garoto exemplar, acordou, definitivamente, muito atrasado. O que o lembrou — enquanto vestia apressadamente o uniforme do seu colégio — daqueles clichês dos romances adolescentes, em que o protagonista sempre sai atrasado para o seu primeiro dia de aula e leva uma maçã para comer no caminho. Porém Shouto imaginava que, se existisse alguém para ser o protagonista de uma história que o envolvesse, aquela pessoa seria Kyouka. Foi o que pensou quando a viu diante de sua casa segurando duas bicicletas e sustentando um olhar repreensivo, mas levemente divertido.

— Já olhou a previsão do tempo hoje? — foi a primeira coisa que ela perguntou assim que começaram a pedalar rapidamente em direção ao colégio. Shouto franziu a testa.

— Claro que não. Mas porque tá’ interessada na previsão do tempo? — então ela sorriu.

— Porque sinto que hoje terá uma tempestade de granizo, já que Todoroki Shouto se atrasou para a aula.

— Sua… — interrompeu-se, mordendo a língua, porque sabia que se continuassem a trocar farpas, acabariam começando uma pequena guerra de empurrões — coisa que já havia acontecido muitas vezes antes — e não chegariam ao colégio inteiros caso acontecesse. Então se limitou a suspirar.

— Eu ia te chamar para ir dar uma conferida na nova loja de discos que inauguraram perto da casa do Iida — ela começou alguns minutos depois, enquanto virava uma esquina, sem pedalar. — Mas aí lembrei que hoje você vai estudar com o verdinho, mais conhecido como babaca número 3.

— Já disse que ele não é um babaca, Kyouka — retrucou, sentindo seu coração acelerar pela simples menção a Midoriya e ao fato de que eles estariam juntos dali a algumas horas.

— Tsc, tanto faz, já que só você acha isso — ela bufou, e Shouto tremeu ao avistar a entrada do colégio, com alguns poucos alunos entrando, apressados. Se tinha uma coisa que odiava era se atrasar, para o que quer que fosse. Não queria ser rotulado como “irresponsável”, ou melhor, não queria ser rotulado de forma alguma. — Qual sua primeira aula mesmo?

— Biologia — respondeu e logo já estavam guardando suas bicicletas, para em seguida se apressarem para dentro do colégio.

— Eu tenho física, nos vemos no segundo tempo! — a garota exclamou, piscando e seguindo para uma direção diferente da sua. Todoroki então engoliu em seco, ajeitando seus óculos e caminhando a passos largos até a porta da sua sala — logo após pegar seus materiais no armário —, sentindo seu coração acelerar devido ao que estava prestes a enfrentar. Outro motivo pelo qual odiava se atrasar era: tornaria-se o centro das atenções assim que adentrasse aquela sala. Respirou fundo e abriu a porta, sentindo os olhares sobre si no mesmo segundo, mas resolveu tentar ignorá-los e se inclinou na direção do professor.

— Desculpe o atraso! — exclamou, sério, e mesmo que estivesse falando baixo — já que não suportava chamar atenção —, continuou sendo observado pelos colegas por mais alguns segundos, longos demais para o seu gosto.

— Sente-se, Todoroki — tão logo foi dispensado, ele já seguiu em direção à sua mesa junto a Kirishima, que tinha uma expressão consternada e ansiosa, como se fosse explodir se não dissesse logo o que estava pensando. Ainda sim, não resistiu a provocá-lo.

— Está com dor de barriga? — perguntou calmamente, sentando-se, abrindo o livro e procurando pela página solicitada no quadro branco, procurando atualizar-se a respeito dos minutos que perdeu devido ao seu atraso.

— O que aconteceu? Você foi abduzido por alienígenas? Como chegou atrasado? — ele sussurrou, apressado.

— Eu dormi demais, é um crime agora, por acaso? — dirigiu seu olhar até o ruivo, que parecia completamente abismado com sua resposta.

— Hã?!

— Fale baixo, idiota — retrucou, já retornando sua atenção ao professor e ignorando o desesperado ao seu lado. Mas é claro que ele não deixaria aquele assunto morrer, e logo um celular foi posto diante do seu rosto, então Shouto suspirou, passando os olhos sobre o texto digitado no bloco de notas. “Aposto que estava sonhando com o verdinho”, leu e olhou de canto para Kirishima, que sorria, ladino. Então corou, e olhou em volta, sentindo seu coração disparar ao encontrar o garoto de cabelos esverdeados sentado algumas carteiras à frente, ao lado de Kaminari.

Assim, logo depois Todoroki se perguntou brevemente — já distraindo-se e se esquecendo da aula — se Midoriya havia o visto chegar ou o ignorou como sempre fazia antes do dia anterior. Apertou os lábios, decepcionado consigo mesmo por ter se sentido tão envergonhado ao ponto de se esquecer de procurar pelo olhar do garoto que gostava. E logo que voltou a se dirigir a Kirishima, pôde ver que ele vestia uma expressão compreensiva que realmente não combinava com o seu rosto, então Todoroki fez uma careta, batucando os dedos contra sua coxa ao se lembrar da mesma música que tocou por último na noite anterior. Suspirou. Estaria mentindo se dissesse que não estava ansioso para o fim das aulas, entretanto, ainda se sentia inseguro, afinal, pela primeira vez em anos, ele conversaria com Izuku. E tinha medo que os sentimentos que nutria pelo esverdeado ficassem evidentes para ele, fazendo-o se afastar tão rápido quanto se aproximou.

Balançou a cabeça. Chega, Shouto, pensou, não era hora de pensar sobre isso. Mas mesmo afirmando aquilo a si mesmo, durante as duas aulas seguintes, não conseguiu tirar o garoto das madeixas esverdeadas de seus pensamentos. E, assim que pousou a bandeja sobre a mesa do refeitório e se jogou na cadeira, também bateu — intencionalmente — a testa sobre a superfície, fazendo Jirou pular em seu assento e Kirishima dar um passo assustado para trás.

— Que diabos está fazendo, seu louco? — a garota perguntou, dando um tapa em sua nuca, como para fazê-lo acordar.

— Eu não quero mais dar aulas pro Midoriya — resmungou.

— Pare de falar besteiras e coma — ela disse, com descaso, então Shouto levantou a cabeça, esfregando a testa com as pontas dos dedos, com uma expressão emburrada em seu rosto. Kirishima ria baixinho enquanto tomava seu habitual suco de morango, fazendo Todoroki sentir uma vontade absurda de fazê-lo engolir a embalagem que segurava. Mas ignorou.

— É sério, gente. Eu não quero mais — afirmou, pegando o sanduíche vegetariano em sua bandeja e dando uma mordida.

— Você estava todo “felizinho” ontem, o que deu em você? — o ruivo perguntou e Shouto tratou de engolir seu sanduíche antes de responder um “não sei, tô’ nervoso”.

— Relaxa — Kyouka sorriu, tentando tranquilizá-lo. — O pior que pode acontecer é você ficar todo babão perto dele — mas é claro que ela tinha que estragar tudo.

— Você não está ajudando — Eijirou disse, balançando a cabeça.

— Ele só está sendo fresco! É só um garoto!

— O garoto pelo qual ele, olha que maravilha, é apaixonado!

— Parem com isso — Shouto interviu na discussão que estava prestes a acontecer, sussurrando enquanto olhava em direção ao centro do refeitório, onde Midoriya e seus amigos estavam sentados, cercados de várias outras pessoas — mas aquilo não era novidade.

— Então para de ser medroso, caralho — a garota disse, revirando os olhos logo que Todoroki se voltou para os dois amigos e tornou a comer em silêncio, parecendo desanimado. Ela suspirou. — Eu sei que você gosta dele — disse e tocou sua mão sobre a mesa, sorrindo. — Nós vamos parar de chamá-lo de babaca, então pare de fazer essa cara horrorosa de choro.

— Não estou chorando — murmurou, baixando o olhar. — E se ele não gostar de mim?

— Impossível — Kirishima disse. — Você tem esse cabelo estiloso, vai brilhar pro seu solzinho, já tô’ vendo — então Todoroki sorriu, novamente agradecendo pelos amigos que tinha e pelo apoio sem igual deles. Era tudo o que precisava para conseguir respirar fundo e encarar os dois últimos horários de aula.

Todavia, mesmo com o claro apoio deles, assim que o último sinal soou, Shouto travou totalmente na cadeira, vendo os outros alunos saindo apressadamente da sala, juntamente do professor. Mas o bicolor, ao contrário deles, não conseguiu mover-se nem um centímetro, sentindo seu coração entrando em curto e sua respiração começando a acelerar, enquanto entrava em completo pânico. E agora?, pensou, engolindo em seco e secando as mãos já suadas em sua calça jeans. Aquilo era péssimo, definitivamente, muito péssimo mesmo.

Será que dava tempo de desistir e correr para casa?

E no mesmo momento em que aquele pensamento lhe ocorreu, sentiu seu celular vibrar no bolso de seu moletom, então, com as mãos trêmulas, retirou o aparelho e o desbloqueou. “Nem pense em desistir, Shouto” leu a mensagem de Kyouka, seguida de um áudio em que ela e Kirishima gritavam um “Fighting!”. E o bicolor quis morrer, pela segunda vez em apenas dois dias.

Por que aceitei fazer isso, afinal? — guardou o celular e cobriu o rosto com suas mãos, tentando regular a respiração e rezando para que Midoriya tivesse se esquecido das tais aulas. Talvez ele pudesse ter convencido o diretor a cancelar aquilo, não é? Ele não poderia querer estudar apenas para ir em uma viagem, certo?

— O que ainda está fazendo aqui? — ouviu uma voz, seguida de um “ploc” de uma bola de chiclete explodindo, então, cautelosamente, ergueu seus olhos, vendo Midoriya encostado ao batente da porta, com uma expressão que traduzia perfeitamente a sua impaciência diante daquela situação.

E-Eu... — gaguejou, procurando por algo para dizer e juntando seus materiais, antes de se levantar.

— Vamos logo, já estamos atrasados — o garoto disse e Todoroki assentiu, seguindo até ele e reparando, pela primeira vez em muito tempo, o quão diferentes suas alturas eram. O bicolor chegava a precisar olhar para baixo para encarar seus olhos, o que quase o fez sorrir, mas se conteve, já que a última coisa que precisava naquele momento era um Midoriya irritado consigo. Assim que guardou os seus livros do dia no armário e pegou os das matérias que o esverdeado tinha dificuldade — química e física —, eles já seguiram para a biblioteca, com Shouto andando um passo atrás do garoto, mantendo a cabeça baixa.

Novamente se lembrou dos clichês adolescentes: as malditas borboletas no estômago já o atacavam, como se tivesse engolido milhares delas e estivessem lutando para sair. Ajeitou seus óculos logo que se sentaram um de frente pro outro, obviamente querendo manter aquela relação superficial, como “aluno e professor”.

— Por qual delas quer começar? — perguntou baixinho.

— Física — ele respondeu e Shouto, num ataque súbito de coragem, ergueu o olhar para ver a expressão resignada do garoto diante de si. — Minha nota nessa matéria é pior.

— Se puder me dizer no que você tem mais dificuldade, irá facilitar, assim podemos nos focar nisso — disse, já abrindo o livro na primeira matéria que estudou naquele semestre.

— Não sou bom com interpretação — ele fez uma careta. — Ah! Também costumo evitar todos os gráficos.

— Entendo — respondeu. — Então vou te explicar essa matéria — virou o livro, indicando o título e os problemas que teria que resolver logo após. — E depois vou te deixar fazer as atividades referentes a ela. Se tiver dúvidas, é só dizer — Izuku assentiu. Enquanto esclarecia aquela matéria para o esverdeado de uma forma que ele pudesse entender melhor, Shouto tentava ao máximo esconder o tremor de suas mãos e respirar fundo antes de falar, para tentar não gaguejar na frente dele — novamente. Sendo sincero, aquela era uma tarefa difícil, principalmente considerando o quão perto ele se encontrava e a forma com a qual o ambiente da biblioteca era preenchido apenas por suas vozes baixas. Seu coração batia tão forte que já lhe doía no peito e esfriava sua barriga, causando uma sensação quase incômoda de ansiedade.

Seus sentidos pareciam estar ligados à potência máxima, em um nível quase perigoso demais para suportar; e o bicolor podia jurar que estava ouvindo seu próprio coração batendo acelerado, enquanto segurava o seu celular e respondia uma mensagem de Kyouka que dizia um “E aí? O verdinho já tá’ apaixonado pelo seu cabelo maneiro?”, fazendo Todoroki crer com todas as forças de que aquela mensagem havia sido enviada por Eijirou. “Espero que o Tenya não esteja pegando leve com vocês só porque eu não estou aí”, respondeu e colocou o aparelho sobre a mesa, retornando o olhar para o garoto diante de si. Shouto imaginava que poderia observá-lo o dia todo e certamente nunca se enjoaria de admirar cada uma de suas características, inclusive, sentia-se perigosamente tentado a se aproximar ainda mais, apenas para contar — e, se possível, beijar — cada uma das sardas que compunham a constelação em seu rosto. Mas rapidamente balançou a cabeça, retirando tais pensamentos de sua mente, para evitar possíveis acidentes relacionados ao seu sentimento por Midoriya.

— Eu estava pensando… — Shouto começou a dizer alguns minutos depois, olhando pela janela, distraído. — Como o Bakugou não está na mesma situação que você? — questionou, referindo-se ao fato de precisar recuperar suas notas.

— Ah — o esverdeado pigarreou, tentando esconder uma risada, enquanto continuava resolvendo a questão em seu caderno. — Na verdade, ele está, mas ele ameaçou explodir a casa do diretor se ele o impedisse de ir na viagem — e sorriu, irônico. — E o Kacchan não é de descumprir promessas, sabe.

Então Shouto franziu a testa, entreabrindo os lábios, em choque. E o seu silêncio repentino logo fez com que Izuku erguesse o rosto, rindo de sua expressão aterrorizada e completamente surpresa devido à resposta dada pelo garoto.

— É brincadeira — ele zombou, cobrindo a boca com sua mão, antes de soltar uma risadinha. — O diretor disse que vai pedir a um tal de Kirishima para ajudá-lo. Eu só lamento pela alma do pobre coitado que vai precisar ensinar matemática ao Kacchan.

— Espera, o que você disse? — perguntou, descrente. — Quem? Kirishima? Kirishima Eijirou?

— Você o conhece? — ele tombou a cabeça de lado, dando de ombros logo depois e voltando a resolver o problema do livro assim que viu o bicolor assentir. Shouto precisou de alguns — longos — minutos em silêncio para entender que sim, o ruivo seria chamado para ajudar o babaca número um a estudar. Sentia que aquela situação só podia acabar em desastre, porque Bakugou mais Kirishima era claramente sinônimo de rivalidade. O garoto não o suportava, e Todoroki estava certo em afirmar que logo que fosse solicitado, diria um “não” imediatamente. Todavia, ao mesmo tempo, ele também se sentia impelido a imaginar se, caso desenvolvessem uma — quase impossível — amizade, eles não pudessem se dar bem e, então, acabar de vez com a implicância do loiro com os alunos “fracassados” do colégio. Quase riu com a ingenuidade da direção dos seus pensamentos. Bakugou Katsuki, o babaca número 1, sendo um bom garoto? Precisava ver para crer e se sentia fortemente propenso a admitir que isso não aconteceria tão cedo.

— Ei — ergueu o olhar assim que ouviu o voz do esverdeado e pôde vê-lo fechando seu livro e começando a juntar os materiais distribuídos pela mesa. — Eu preciso ir. Está tarde e preciso me encontrar com Kacchan e os outros hoje.

A-Ah — gaguejou, sem jeito, enquanto se levantava e fazia uma careta com o arrastar barulhento da cadeira. — Tudo bem.

— Hum — ele murmurou, pegando o celular e digitando rapidamente, antes de voltar guardá-lo. Um silêncio meio que desconfortável se seguiu durante aquela aparente despedida, então procurou qualquer coisa pra dizer, antes que ele fosse embora, se embolando todo nas palavras.

— N-nós… quero dizer, n-nos vemos amanhã? D-digo, depois das aulas? — perguntou rapidamente, falando baixinho, corando e coçando a nuca, se sentindo envergonhado pela própria pergunta e seu jeito atrapalhado.

— Uhum — ele franziu a testa. — Quero dizer, você vai continuar me ensinando, certo?

— É claro! — exclamou e sentiu as maçãs de seu rosto esquentarem, devido ao tom animado de sua voz. — Vou sim — voltou a dizer, mais baixo e contido dessa vez.

— Então, sim, nos vemos amanhã… é…

— Todoroki Shouto — completou, para o alívio do esverdeado, que sorriu.

— Não me esquecerei da próxima vez! Eu prometo! — virou-se. Mas Shouto pôde sentir sua hesitação mesmo antes que ele tornasse a se virar para si, sorrindo enquanto retirava um chiclete trident do seu bolso e colocava sobre a mesa. — Isso é por hoje. Muito obrigado pela ajuda, Todoroki Shouto.

E partiu, sem olhar para trás nem por um segundo. Então, sem reação, Todoroki ficou alguns segundos encarando a porta por onde Midoriya havia saído, tentando normalizar sua respiração e seu coração, que estavam tão acelerados que chegava quase a assustá-lo. Direcionou o olhar para o chiclete depositado sobre a mesa e o pegou, retirando a embalagem que o cobria antes de jogá-lo na boca. Sorriu, logo antes de pegar seus próprios livros e seguir para fora da biblioteca, o local que mal podia esperar para voltar no dia seguinte.

E encontrar então o dono do céu onde havia a mais bela constelação de sardas.


Notas Finais


capítulo betado por @akaiyoru.

se eu estou apaixonada pelo shouto? completa e irrevogavelmente.

até o próximo capítulo!


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