heart on fire
capítulo oito - compreensão
Ino estava tão bêbada que nem percebeu o que tinha acontecido, e no dia seguinte eu a fiz assistir todos os filmes da saga Crepúsculo com a desculpa de que a festa de ontem tinha me deixado triste. Não era exatamente a verdade, eu mal lembrava de ter passado parte da noite com o Kiba. Na verdade tudo o que me vinha na cabeça era Naruto Uzumaki, a forma como eu me sentia tranquila ao lado dele e não com uma tonelada de borboletas assassinas querendo matar o meu estômago. Também senti que não queria falar sobre aquilo, não ainda.
Mas uma coisa era verdade e eu jamais poderia escondê-la por muito tempo. A noite passada tinha acendido um fogo no meu coração que eu duvidava muito que se apagasse por tão cedo.
Não sabia se aquilo era certo ou errado, mas ao menos tinha feito com que eu me sentisse bem. E agora aquilo não me escapava da minha mente. Queria ignorar a forma como o ritmo de nossas línguas era perfeito, como se nós dessemos certo juntos, como se tudo aquilo fosse perfeitamente normal e ele não fosse Naruto Uzumaki e Hinata Hyuuga. Alguns minutos daquela noite me faziam querer acreditar que água e óleo funcionavam bem juntos.
Eu nunca quis ceder tanto a uma sensação que ainda me era tão desconhecida.
Eu deveria estar chorando as pitangas por Kiba Inuzuka, mas tudo o que tinha acontecido me impedia de sentir dor. Eu só… Eu só…
Queria reviver aquele momento.
Queria sentir como se toda aquela cidade fosse daqueles dois adolescentes idiotas caminhando sozinhos no escuro, rindo e tendo as estrelas e a lua nos observando ali do alto.
E mesmo que eu fechasse os meus olhos, mesmo que eu tentasse ignorar.
A lua, as estrelas e Naruto Uzumaki estavam lá.
Como sempre estiveram, mas de uma forma totalmente diferente e nova.
Era uma manhã de segunda feira, já tinha batido no meu despertador pela terceira vez para que o alarme tocasse mais tarde. Dessa vez eu tinha me rendido ao sono, e me perdido no mundo dos sonhos, sem forças alguma para me levantar e ir para a escola.
Só que para a minha (in)felicidade, lá estava eu, sonhando que estava no quarto que Kiba tinha me levado - outra vez. Só que dessa vez eu estava no colo de alguém completamente diferente. Esse alguém não era moreno e tinha um sorriso de orelha a orelha. Na verdade esse alguém era loiro e tinha os olhos azuis, e conforme eu abraçava o seu corpo na necessidade de sentir mais dele, também sentia seu perfume amadeirado e o cheiro da erva.
― HINATA HYUUGA.
Acordei sobressaltada, quase caindo da cama. Pisquei olhando para a minha mãe furiosa na porta do quarto.
― Você está atrasada para a escola.
Assenti, me levantando indo em direção para o chuveiro. Na esperança de que um banho gelado fosse tirar aquela sensação quente do meu corpo.
Minha mãe não me dava mais carona para a escola já faziam anos, a princípio porque ela julgava que eu já era grandinha o suficiente para me virar e porque ela sempre saía de casa direto para o trabalho. E era exatamente isso o que estava estranho naquele dia.
Ela estava me levando para a escola sem reclamar que eu tinha acordado atrasado, na verdade ela estava me enchendo de perguntas sobre como eu estava, se eu tinha dormido bem e aquilo me deixava ansiosa.
― Hinata… ― ela pareceu hesitar ao falar ― eu sei que você não foi fazer um trabalho na casa da sua amiga.
Ah sim, então esse era o momento em que eu poderia ouvir um “game over” de longe, ou como diria o GTA que Ino adorava jogar, “se fodeu”.
Olhei para a minha mãe lentamente, sabendo que não iria adiantar mentir.
― Como? ― minha voz saiu fraca.
Ela sorriu, me olhando como se eu fosse uma criança muito inocente.
― Seu cabelo estava com cheiro de maconha.
Eu vou morrer, pensei.
― Não conte pro papai.
― Eu não vou contar. ― ela suspirou, olhando para frente enquanto tamborilava suas unhas perfeitas no volante ― Hinata, eu quero que você saiba que eu já imaginava que algo assim aconteceria cedo ou tarde. Seu terapeuta conversou comigo, e eu admiti para ele que tinha receio de como você iria reagir as coisas. Eu já fui da sua idade, sei muito que crianças muito certinhas fazem coisas erradas sem que ninguém suspeite, porque elas são certinhas.
“Eu conheço o seu pai, Hinata, e sei que contar isso a ele não lhe fará bem nenhum, não irei permitir que ele bata em você por mais errada que fossem as suas atitudes. Mas eu também te peço que se cuide, por favor. Não é sempre que eu poderei encobrir os seus atos. Você é conhecida por ser uma boa garota, então seja uma.”
Senti o meu corpo se afundar no banco do carro, eu não esperava receber um sermão da minha mãe logo pela manhã e a última coisa que eu queria era que ela soubesse que eu tinha passado aquela noite do lado de um maconheiro. De toda forma eu me senti mais aliviada por ela não ter me acusado de nada, e muito menos me incriminado, aquilo era algo novo para mim, ter um discurso saudável e compreensivo.
― Por agora, vá para a aula, você está atrasada. E juízo.
Pela primeira vez em tempos, eu olhei para a minha mãe com um sorriso
A última coisa que eu queria naquele momento era voltar para a escola e olhar Naruto Uzumaki nos olhos. Tudo o que tinha acontecido naquela noite quando ele estava chapado tinha soado meio surreal, a forma como nós dois caminhamos pela cidade a noite, a forma como a gente se entendeu como houve uma conexão. Tudo aquilo era tão novo, tão surreal e ao mesmo tempo tão bonito que me espantava. O loiro era uma pessoa que constantemente estava me tirando da minha zona de conforto, me mostrando que haviam outra formas de pensar, que o mundo não era preto no branco. E eu queria sentir raiva dele. Muita raiva. Porque ele simplesmente estava pegando o que eu conhecia, virando do avesso e jogando no meio do lixo. Todavia, eu não conseguia nutrir nenhum tipo de raiva por Naruto Uzumaki, na verdade o sentimento que estava surgindo me espantava muito.
Conforme o tempo passava, a sensação de admiração e afeição cresciam no meu peito. Agora ele não era apenas o Naruto Uzumaki, um dos garotos mais populares do meu ano. Agora ele era alguém que eu gostava de ter por perto, alguém que conseguia decifrar certas coisas em mim e me mostrar formas diferentes de ver o mundo. E por Deus, eu estava amando aquilo.
Tentei afastar aqueles pensamentos da minha cabeça enquanto eu me movimentava pelos corredores vazios, eu estava cerca de meia hora atrasada, iria levar um esporro do Orochimaru. Para piorar todo aquele dilema, eu ainda recebi uma mensagem do grêmio avisando que hoje aconteceria uma reunião de representantes de sala. Ótimo, eu não teria paz naquele dia.
― Com licença. ― abri a porta da sala depois de bater na mesma ― Me perdoe pelo atraso professor.
Orochimaru parecia estar no meio de uma explicação quando seus olhos esverdeados caíram sobre mim, havia um certo desgosto na forma em que ele me olhou. Suas feições não eram agradáveis, muito pelo contrário, ele odiava ser interrompido.
― O que a faz pensar que pode interromper a minha aula dessa forma Srta. Hyuuga? Posso ver que decoro é algo que você não herdou dos seus pais.
Ouch.
― Estou tendo o máximo de decoro que posso senhor. ― respondi sem rodeio, com meus olhos acinzentados brilhando. A voz de Naruto veio a minha cabeça novamente, podia me lembrar dele dizendo que eu não deveria baixar a minha cabeça para os professores tão facilmente.
Pois bem.
Agora Orochimaru me olhava como se eu tivesse cometido algum tipo de crime seríssimo, e o resto da sala parecia segurar o ar devido a tensão.
― Para. Fora. ― ele apontou com o seu dedo esquelético para a porta ― Só volte para a minha aula quando você tiver uma folha de detenção para as próximas duas semanas.
Eu deveria ficar calada e fazer o que ele tinha me mandado, todavia Orochimaru tinha me provocado na hora era e no dia errado.
― Como quiser professor. ― um pequeno sorriso surgiu nos meus lábios quando eu fechei a porta antes que ele pudesse me dar uma resposta ou aumentar o tempo da minha detenção.
Evitei um pouco pensar na série de consequências que aquilo deveria ter, o meu eu de alguns dias atrás estaria surtando com toda aquela ansiedade, provavelmente teria um ataque de nervos. Todavia eu me sentia estranhamente relaxada Eu não sabia agora, mas a conversa que eu tinha tido com Naruto sobre Neji e a preocupação que ele tinha comigo de enlouquecer no terceiro ano do ensino médio tinha me mudado bastante, eu só não sabia disso agora.
Comecei a andar pelos corredores da escola em direção a diretoria, afinal era ali que eu iria retirar o documento que atestava a minha futura detenção. Diferente da minha primeira vez, o meu nervosismo era menor. Minha mãe estava sendo compreensiva comigo, e talvez ela relevasse a minha detenção caso a mesma chegasse nos ouvidos dela. Com o pensamento positivo eu bati na porta da sala do diretor.
― Pode entrar.
O diretor era nada mais nada menos do que o Hiruzen Sarutobi. Se eu fosse ter que dar uma opinião sobre ele, uma bem sincera, eu diria que ele era ótimo em ignorar os problemas da instituição.
― Oh, Srta. Hyuuga. O que a trás aqui?
A sala do diretor era bem luxuosa, o Sarutobi estava sentado em uma poltrona de couro e a sua mesa era de uma madeira chique e que tinha um cheiro maravilhoso. Isso sem contar a estante cheia de livros atrás dele.
― O Professor Orochimaru que mandou aqui para retirar uma detenção.
― Oh, ― ele repetiu a sua fala, e então pegou um papel de uma pilha, colocando sob a mesa ― para quem?
― Para mim, senhor.
A fala o espantou, ele ergueu o olhar para mim surpreso, mas mesmo assim assinou o documento e logo o entregou em minhas mãos duas vias. Uma para mim, outra para Orochimaru.
― O senhor irá contatar os meus pais? ― indaguei antes de sair da sala, minha pergunta tinha sido um misto de medo com curiosidade.
Ele por sua vez apenas sorriu cansado.
― A diretoria tem mais o que fazer do que comunicar pais sobre alunos atrasados.
Quase contive um sorriso, não de felicidade, mas de ironia. Afinal das contas eu estava certa sobre ele. O que me surprendeu foi que todo o drama que eu fiz com a minha primeira detenção não foi necessário, meus pais nunca iriam ficar sabendo da detenção se eu não contasse, e isso era a parte mais bizarra da história. Por um instante eu me lembrei de quando me encontrei com Kiba na sala de aula, ele tinha me dito que boa parte dos alunos sequer compareciam as detenções.
Foi aí que eu comecei compreender o quanto uma escola poderia ser negligente. E admito, não foi muito legal perceber que a escola qual eu estudava há anos não era a instituição perfeita que me pintavam.
― Muito obrigada senhor, tenha um bom dia.
Tentei evitar pensar que se Naruto estivesse do meu lado ele teria uma série de explicações do porque a nossa escola era assim, na verdade eu me arriscava a dizer que a maioria dos alunos sabia que a escola era assim. Era como um acordo silencioso, nós fingimos que estamos sendo disciplinados e eles fingem que nos disciplinam. Ambos enganamos os nossos pais.
Entreguei o documento na mão de Orochimaru e me sentei no meu lugar de sempre, ao lado de Naruto.
Eu não sabia ao certo como agir diante dele depois do beijo naquela noite, na verdade eu tinha as minhas dúvidas se ele sequer se lembrava do beijo. Algumas pessoas tinham falado durante a minha vida que maconha afetava a memória dae quem a consumia. De fato, eu tinha uma certa noção de que toda droga lícita ou ilícita tinha os seus malefícios, será que o da maconha era a perda de memória? Eu não saberia dizer.
― Bom dia para você. ― a voz de Naruto me causou arrepios. Ele tinha esperado a aula de Orochimaru terminar e o ranzinza ter saído da sala para finalmente falar comigo. Provavelmente porque o professor adorava fazer piadas de mau gosto sobre nós dois estarmos flertando no meio da aula dele.
Os olhos azul oceano de Naruto estavam com um brilho diferente naquele dia, como um tipo de eletricidade, uma malícia.
― Bom dia Naruto. ― disse sem graça, rezando para que as minhas bochechas não começassem a corar e entregar os meus sentimentos.
― Chegar atrasada e bater de frente com um professor. Você mudou Hina. ― ele observou, um sorriso de canto brincava em seus lábios.
Pisquei surpresa. Eu tinha mudado?
― Para bem ou para mau?
― Bem, definitivamente bem. ― respondeu.
Fiquei mais alguns momentos apenas olhando para ele, completamente perdida. A verdade era que agora eu não sabia mais como agir ao redor dele. Tudo sobre Naruto me lembrava o cheiro da erva e o gosto da boca dele na minha, e estranhamente aquilo me excitava muito. Aquilo me fazia pensar que se fossemos nós dois naquele quarto, ao invés de eu e Kiba, eu provavelmente teria ido até o final.Percebi que depois daquilo eu estava desejando Naruto.
Meu. Deus.
Será que a erva que Naruto passou para mim estava estragada? Por que eu estava tendo esse tipo de pensamento impuro com ele? E outra, por que Naruto estava protagonizando os meus sonhos mais impuros?
O loiro pareceu se divertir enquanto eu estava paralisada, perdida em meus pensamentos. Ele tombou a cabeça para o lado rindo de leve.
― No que vocês está pensando?
― Ahm. ― olhei para ele constrangida. Eu definitivamente não poderia falar para ele que estava pensando nele da forma mais suja possível. É, não mesmo. ― No desmatamento. ― respondi da forma mais idiota possível.
Naruto deu uma gargalhada, ciente de que eu estava mentindo. O loiro estreitou os olhos e inclinou-se na minha direção, ficando perigosamente próximo de mim.
― A sua boquinha mente muito mal.
Uau, do nada a sala de aula tinha ficado realmente quente.
Que engraçado a forma em que o clima mudava nessa estação.
― Hinata, você não vem almoçar com a gente? ― Ino me chamou, a loira apareceu junto com Shino na frente da nossa mesa.
Naruto ergueu sua sobrancelha como se estivesse esperando uma resposta de mim.
― Claro ― eu disse.
― Só mais alguma. Depois do almoço, eu tenho algo para falar com você. ― Naruto disse antes que eu saísse da sala. E aquela falava ficou reverberando na minha mente o resto do almoço.
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