História Heartbreak Girl - Capítulo 5 Forth day

Eu andava pelas ruas de Sydney, sem rumo, sem saber para onde ir. Eu só queria fugir. Ir para bem longe da minha casa. Aqueles pensamentos não paravam de rodear a minha cabeça e eu só queria que eles parassem. Olha para mim, uma garota de 15 anos, andando sozinha, à noite, somente de pijama e um casaco. Eu sabia que a minha existência era insignificante e que nunca seria a filha perfeita que meus pais mereciam.

Se eu me jogar de um lugar bem alto eu acabaria com todo aquele sofrimento. Eu não faria falta para ninguém. Meus pais estão sempre ocupados com o trabalho. Aqueles garotos do colégio não gostavam de mim mesmo. Tudo seria muito bom se eu conseguisse pular de uma ponte ou de um prédio. Nunca mais teria que ouvir as palavras que me machucam tanto.

Passei na frente de um bar e ouvi um acorde de guitarra. Eu queria muito entrar naquele lugar, mas não conseguia. Uma força me puxava para longe dali. Consegui me libertar da força invisível quando estava no meio da rua e foi quando uma luz cegou meus olhos e apenas senti uma pancada me arremessar bem longe.

Acordei assustada. Sentei-me rapidamente na cama e olhei ao redor a procura de Chloe, mas ela não estava ali. Senti o suor escorrer por minhas costas e senti um arrepio frio. E apenas quando Luke apareceu assustado na porta do quarto é que eu percebi que devia ter gritado durante o pesadelo. E assim que ele chegou perto de mim e me abraçou foi que percebi que eu estava chorando e tremendo, completamente apavorada.

 - Calma, calma... Foi apenas um pesadelo. Já passou. – dizia enquanto fazia carinho na minha cabeça.  – Eu estou aqui com você agora.

E devagar, fui me acalmando. Eu sentia os braços do loiro me envolvendo e o cheiro refrescante da sua colônia me tranquilizava. A cada respiração, aquele cheiro invadia meu cérebro e eu me sentia segura novamente.

 - Você quer falar sobre isso? Pode ajudar. – ele falou suavemente.

Apenas acenei com a cabeça e me afastei para poder olhar naquela imensidão azul que ele chama de olhos. E foi isso que me deu força para começar a falar:

 - E-Eu estava andando pelas ruas de Sydney, do mesmo jeito que eu andava a primeira vez que eu vi vocês, com os mesmos pensamentos, com a mesma intenção de morrer, mas quando eu passei na frente do bar que vocês tocavam e tentei entrar, uma força invisível me puxava, parecia que tinha amarrado uma corda na minha cintura e me puxava para o meio da rua. Quando consegui me soltar, fui arremessada por um carro para longe... E aí eu acordei. – disse no meio do choro. – Eu tinha que ter entrado naquele bar... V-vocês me salvaram naquela noite. – As lágrimas e soluços aumentaram. Luke voltou a me abraçar, mesmo parecendo surpreso.

 - Calma, Mia... Estarei aqui com você, para sempre. – ele falava tentando me acalmar. – Sempre que precisar eu vou aparecer e te salvar.

Fiquei mais alguns minutos calada, apenas chorando, antes de parar de soluçar e conseguir falar novamente.

 - Obrigada, Luke! Você não precisava... – comecei, mas ele não me deixou terminar.

 - Claro que precisava... E sempre que precisar vou estar aqui para secar essas lágrimas. – ele disse passando os polegares nas minhas bochechas.

Voltei a abraça-lo, só para agradecer absorver mais um pouco daquele cheiro que me fazia tão bem. Ele não me soltou nem por um segundo. Dei um beijo em sua bochecha e me afastei, sem olhar no rosto dele. E estava completamente envergonhada por ter chorado na frente dele.

 - Eu estava esperando a oportunidade para perguntar por que você estava de camisola naquele dia, mas acho que não vou mais perguntar nada. – Ele murmurou.

 - Não tem problema, Luke. Isso é passado agora e só me assombra nesses pesadelos que tenho de vez em quando. – pausei e respirei antes de contar a história completa para ele.

Quando acabei, eu sorria grata por tudo ter acabado diferente daquele pesadelo, entretanto Luke tinha os olhos marejados e levemente surpresos com a história. Ele segurava a minha mão e fazia carinho.

 - Não sei o que dizer, Mia... – ele olhou nos meus olhos. – Fico extremamente feliz que a nossa música tenha tido esse efeito sobre você e que conseguimos te ajudar dessa maneira. Sinto-me completamente honrado e espantado com esse fato. Quero que sempre conte comigo para o que for. Quero ser seu amigo. E obrigado por confiar em mim.

 - Você já é meu amigo. Antes mesmo de te conhecer eu já te contava meus segredos. – admiti. – Além disso, você é o único que sabe dessa história. Você e a Chloe. Nem Jake sabe disso.

 - Pode confiar em mim, ok?

 - Ok.

Mas já quase não prestei atenção no que ele disse. Ao citar o nome de Jake, lembrei que estávamos brigados e aquilo me fez murchar de novo.

 - O que foi, Little Mia? – Luke perguntou ao perceber minha expressão triste.

 - Ontem, quando eu conversei com o Jake pelo Skype, ele disse para darmos um tempo enquanto eu estava passando essa semana aqui. Além disso, disse que eu poderia trair ele com um de vocês. Acredita nisso?! Ele praticamente me chamou de vadia! – desabafei.

 - Que idiota! – se irritou. – Mia, como você permite uma coisa dessas? Como você aguenta um mala desse? Isso não é jeito de tratar a namorada nem garota nenhuma!

Ri da revolta de Luke. Ele meio que tinha razão...

 - Eu sei... Mas ele nunca tinha agido dessa maneira antes. Ele sempre foi tão atencioso e cuidadoso comigo. Poxa, eu sou apaixonada por ele! Tudo bem que só nos conhecemos porque ele foi um bruto que me atropelou... – mas não consegui terminar.

 - Ele o quê? – se assustou. – Como assim você se apaixonou pelo cara que te atropelou? Você deve ter batido a cabeça... Você já fez uma ressonância? Viu se não tem nenhuma lesão?

 - Ele me atropelou de bicicleta, Luke. Só machucou meu ombro, mas ele me levou até em casa... – interrompida novamente.

 - Pra casa? Ele deveria ter te levado direto para o hospital! – ele parecia cada vez mais irritado com Jake, era engraçado.

 - Eu pedi para ir para casa. E mesmo assim ele me perguntava se eu estava bem todos os dias, por mensagem. E quando meu ombro melhorou, ele me levou para sair. – sorri com a lembrança do dia. – Ele foi tão carinhoso e tão atencioso e ele é tão lindo e beija bem...

 - Poupe-me desses detalhes, Mia. Ainda sou um garoto... – fez careta.

 - Enfim... Ontem ele pareceu uma pessoa completamente diferente do cara que eu conheci. Era um lado dele que eu nunca vi. Fiquei assustada. E tenho medo de perder ele. – pausei. – Ele foi a pessoa que me viu, quando ninguém mais olhava para mim. E ele sempre cuidou de mim.

Antes de me responder, notei que a irritação nos olhos do loiro mudou para uma emoção que eu não consegui desvendar. Então ele segurou meu rosto para olhar para ele:

 - Não se preocupe com isso, Mia. Se aquele idiota gostar de você de verdade, ele vai correr atrás de você. Ele tem sorte de ter alguém como você ao lado dele. – sorriu. – E se ele for realmente burro e terminar com você, lembre-se que sempre vão olhar pra você, ok?

 - Obrigada, Loiro! Você é demais! – sorri para ele e dei um beijo em sua bochecha.

Olhei para a janela e vi que estava amanhecendo, resolvi que precisava dormir mais um pouquinho. Deitei na minha cama e Luke me olhou estranho.

 - Não acho que a Chloe vai voltar para o quarto. Vamos dormir mais um pouquinho... Está amanhecendo. – mostrei a janela e apontei a cama para ele.

Ele deitou na cama ao lado e olhou para mim uma última vez:

 - Boa noite, baixinha! – disse já de olhos fechados.

 - Boa noite, girafa! – respondi baixinho.

~*~

Quando acordei mais tarde naquela manhã, estava sozinha no quarto novamente. Fui ao banheiro, lavei o rosto e desci as escadas. Encontrei todas as pessoas daquela casa na piscina.

 - Bom dia, criaturas lindas! – disse tampando os olhos por causa do sol.

 - Mia! – Cal veio na minha direção, mas como estava todo molhado, me desviei dele. – Não quer meu abraço, esposa? – fez um biquinho.

 - Não. Quero tomar café! – voltei para a cozinha e nessa hora meu celular tocou.

Olhei no visor e era Jake. Hesitei para atender, não sabia o que viria em seguida. Luke apareceu na porta e apenas acenou com a cabeça, fazendo sinal positivo para eu atender. Segui seu conselho e deslizei o dedo sobre a tela.

 - Alô?! – perguntei incerta.

 - Mia? – a voz de Jake soou do outro lado. – Amor? Você pode me desculpar? Fui um idiota! Eu não deveria ter falado daquele jeito com você. – sua voz soava arrependida.

 - Jake... Agora não é uma boa hora. Acabei de acordar, fiquei até tarde conversando e ainda não tomei café. – tentei evitar aquele assunto por ora.

 - Não vou desligar até você me desculpar... Eu sei que o que eu falei foi estúpido! Estou arrependido! – implorou.

 - Tudo bem, Jacob. Eu te desculpo, mas isso não quer dizer que ainda não esteja chateada. – concordei.

 - Eu sei. Vou me redimir. Posso te buscar agora mesmo, se quiser! – falou animado. Oi?! Me buscar?!

 - Espera! O que você quer dizer com isso? – perguntei incrédula.

 - Você me desculpou, achei que isso significava voltar para casa. – ele disse simplesmente.

 - Jacob, o que uma coisa tem haver com a outra? – argumentei. – Não estou chateada por estar aqui, mas sim porque você foi um idiota comigo... E continua sendo! – pausei. – Não vou embora daqui hoje. Ainda faltam três dias para a semana acabar.

 - Você é louca mesmo! – gritou. – Você está colocando nosso relacionamento em risco para passar uma semana com essa porcaria que você chama de banda? Fala sério, Mia! Eles nem são tão bons assim!

 - Cala a boca, Jake! Não fala assim dos meninos! E é você que está complicando as coisas! Você que está sendo um grosso e um imbecil! – meus olhos lacrimejaram e segurei para não chorar ali.

 - Quer saber, Mia? – ele falou com aquela calma contida. – Pra mim já deu! Tchau!

E desligou.

Apenas olhei para Luke e ele correu em minha direção e sussurrou ao meu ouvido enquanto me abraçava:

 - Eu estou aqui para te curar.