“Quem colocou o vídeo no telão?”
A pergunta que ecoava na minha cabeça, e no grupo dos meus amigos que debatiam sem obter resposta.
Erza, por ser sobrinha da dona do hotel, podia entrar e me informar sobre a Lucy de vez em quando. Eu preferia que fosse todos os dias, mas não poderia cobrar muito dela. A razão de eu não poder vê-la é que eu estava em completo cárcere dentro de casa.
Minha mãe deixou claro que não toleraria mais fugas. Minha janela foi muito bem trancada, assim como a casa toda está de vigia em cima de mim. Todos menos a pequena Michelle.
-Por que você não vai atrás dela e trás ela de volta? -Pediu a loirinha olhando para mim com os olhos vermelhos.
-É o que eu mais gostaria de fazer. -Comecei me ajoelhando para ficar da sua altura. -Mas eu não posso. Eu sinto muito, baixinha.
Ela apertou os olhos e olhou para baixo. Inusitadamente, compreendi que aquilo para ela era semelhante a recente perda da mãe. Ela devia estar se sentindo só, como Lucy nos meses passados.
-Prometo que vou resolver tudo para nós três. Por enquanto você precisa se comportar, tudo bem?
-Humrum. -Ela assentiu murmurando.
Depois a menininha saiu do quarto. Vinha me visitar diversas vezes perguntando da irmã ou apenas para falar comigo.
Peguei o celular para checar as últimas mensagens.
“Mas quem ficou cuidando do telão?” -Gajeel perguntou.
A resposta veio com tudo em minha mente.
Lisanna.
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Certeza que vou levar a maior bronca de novo.
Pela segunda ou talvez terceira vez eu fugi. Dessa vez pela janela da cozinha mesmo já que minha mãe estava na varanda.
Andei até o outro lado da cidade percebendo o quanto tinha ficado acostumado com o carro da Lucy, já perdendo o ritmo que tinha normalmente.
Quando cheguei na casa da albina foi ela mesma quem me atendeu.
-Natsu! -Disse alegre e com um sorriso falso.
-Nem gaste seu tempo. -Falei ríspido passando por ela e entrando na casa. Lisanna logo fechou a porta e fez uma careta. -Você pegou as filmagens e colocou elas no telão Lisanna? Por que fez isso???? Eu pensei que eu e Lucy fossemos seus amigos!
-É, eu pesava o mesmo! -Ela gritou de volta. -Ela sabia que eu gostava de você! Eu contei depois, mas ela sabia que eu desconfiava de você ter uma namorada. E eu toda idiota pensando que a Lucy seria a última opção... -Falou com deboche. -Os dois garotos que eu fiquei e gostei são apaixonados por ela! E aquela vadia já tem tudo!!! Quando eu mexi nas suas coisas e achei aquela câmera, senti tanta raiva que não pensei duas vezes em colocar pra todo mundo ver.
-Eu não acredito que eu já gostei de você...-Sussurrei incrédulo. Lisanna arregalou os olhos e me olhou.
-Você já gostou de mim???
-Gostei por muito tempo e ainda bem que Lucy me despertou. Você é falsa, Lisanna. Não pode ficar descontando sua insegurança nos outros, e principalmente, se eu e Gray gostamos da Lucy mais do que você é porque realmente temos motivos.
Fui seco e sincero. Já tinha dado um soco no Jude, eu não tinha mais com o que descontar minha raiva e não iria perder tempo em uma discussão eterna.
Eu me virei e assim sai da casa. Tinha vindo ali apenas para acusa-la e coloca-la no lugar que merecia.
-N-natsu! -Ela gritou chorosa. -Volte aqui! -Pediu comigo me afastando.
Lisanna continuou me gritando da porta, mas não veio atrás de mim.
Aproveitei para visitar Lucy no hotel a quem eu não via já fazia quase uma semana.
Quando cheguei eu subi direto para seu quarto. Só que quando bati e chamei por seu nome, ninguém respondeu.
-Lucy! -Gritei assustado.
-Moço, esse quarto está vazio. -Um homem que me viu no corredor falou.
-O que?
-A menina que estava hospedada aí saiu hoje de manhã.
-Com o pai dela?
-Imagino que sim. Era um homem alto e loiro.
-Ah, meu Deus... -Murmurei desacreditado.
Passei correndo pelo moço e desci o prédio. Onde Lucy estaria agora???
Eu corri para casa em desespero. Devia ter algo nas coisas do Jude.
Só tinha me esquecido da minha mãe, que me aguardava na sala. Assim que passei pela porta ela olhou para a mim cansada e com as mãos na cabeça.
-Mãe...
-Oh, Natsu... -Ela começou suspirando. -O que eu faço com você??? Por que está sendo tão desobediente? Você sabe o quão difícil foi e ainda é pra mim te criar sozinha! Por que não pode colaborar?
-Mãe, eu sinto muito. -Falei indo até ela. -Eu te amo mas eu também amo a Lucy. Jude a tirou do hotel, eu não sei onde ela está agora e preciso achar. Prometi que ia cuidar dela.
-Querido, eu fico feliz que goste dela e da Michelle, só que não desse jeito...
-Não pode controlar isso.
-Mas... -Ela tentou argumentar e acabou desistindo. -Eu sei que foi você que socou o Jude. Ele não quis me dizer porque ficou com vergonha, mas vi aquele roxo no olho dele. Natsu, não o irrite mais...
-Você não viu como ele trata a filha?
-Eu sei que é difícil pra ela, ela perdeu a mãe cedo, ainda não é desculpa pra você ficar se machucando por ela.
-Argh, tá mãe, continua pensando assim então. -Respondi irritado. Deixei-a lá e subi para o andar de cima.
Quando fiz dezoito em janeiro, eu tinha recebido uma carta que poderia me ajudar muito agora. Mas acho melhor guardar para depois.
Fui para o escritório do Jude que estava vazio. Eu revirei cada gaveta que tinha ali, olhei em todos os papeis e não vi nada.
Estressado, me joguei na cadeira de couro dele. Olhei pela mesa e parei no quadro da Lucy que tinha visto ali outro dia.
Eu o peguei para admira-la de perto. Só que quando olhei bem, não reconheci alguns traços, além do rosto um pouco mais maduro e o cabelo mais curto.
Não era Lucy ali. Era Layla.
Por que Jude guardaria um quadro de Layla no escritório???
De qualquer jeito, aquele quadro me causou uma lucidez imensa.
Lucy disse que o pai dela queria tira-la de casa e deixa-la do outro lado da cidade.
Qual o antigo endereço da Lucy?
Lucy
-Agora ouça bem garota. -Grunhiu ele expressando o nojo de estar falando comigo. -Eu vou ficar com aquela sua irmã pra ver se ao menos ela eu concerto, mas saiba que se não cooperar eu a coloco na rua com você. -Ameaçou. -As contas dessa casa já estão pagas até dezembro. Não poderia te deixar desamparada, vai que alguém descobre que você é minha filha e você ia estar vagabundando ai pela rua. -Explicou com uma risada de deboche.
-Eu preferia! Muito mais do que ser sua filha!
-CALE A BOCA! – Gritou me assustando. Eu sempre fui mais impulsiva, mas quando se tratava de Jude... -O que precisar de resto é melhor você se virar para conseguir. E que fique claro que eu nunca mais quero ouvir falar de você ou ter qualquer contato. -Seu rosto se aproximou e ficou quase colado ao meu. – Assim como você e Natsu nunca mais se verão.
-Se nunca mais vai falar comigo, assim como fez por metade da minha vida, como vai impedir que eu esteja com ele?
-Lucy, eu tenho olhos em todo lugar. -Ela respondeu cínico. -Além de que ele sabe que se ele se aproximar quem paga é você, e caso você vá até ele, eu desconto na Michelle.
Dei um suspiro ouvindo isso. Novamente eu teria de carregar um fardo para proteger ela.
-Covarde filha da puta... -Murmurei.
-Eu não tenho medo de te bater. Vai ousar repetir? -Fez outra ameaça me olhando cínico. -Você começa mês que vem na escola que fiz sua matrícula aqui perto. Se eu disse que não quero ter noticias suas significa que eu também não quero que saia com suas coleguinhas, eu conheço os pais delas.
Ele tacou um celular que parecia ser bem baratinho no sofá.
-Pra você ter o mínimo de necessidade. O seu outro já foi destruído.
Jude se virou e foi até a porta da sala.
-Essa é a última vez que nos vemos.
Eu nem conseguia mensurar a raiva que eu estava sentindo dele com tudo aquilo. Ele me fez passar por tanta coisa, e no fim eu que estava pagando por tudo???
-Vai ser um prazer. -Respondi cínica. -Eu odeio você. E sempre agradeci a Deus por você ter me abandonado com a minha mãe, se tivesse ficado eu teria me matado. Assim como ela. -Confessei irritada.
Jude parou de andar. Se virou para mim, e vi um sorriso convencido em seus lábios.
-Ah, menina estúpida, acha mesmo que sua mãe me odiava???
Eu me assustei com aquilo mesmo sem entender.
-Depois que ela teve Michelle ela continuou vindo até mim. -Contou sorrindo diabolicamente. -Toda semana. Várias noites, até menos depois de adoecer. Então se eu sou idiota a sua mãe é o dobro.
Depois da sua acusação ele se virou e decididamente largou a chave da casa na mesa. Atravessou a porta e saiu daqui, e da minha vida.
Minha mãe... Ainda se encontrava com o Jude???
Porque??? Eu pensava que ela o odiasse!!! Ela nunca falava dele mas a ouvia chorar de vez em quando. Como pode no final ela... Ainda sentir algo por aquele...
-ARGH, QUE ÓDIO! -Gritei alto chutando o sofá que nem saiu do lugar.
Minha vida tinha virado uma bagunça em menos de alguns dias.
Peguei o meu novo celular e logo fiz as configurações básicas. Rapidamente, pensei no que deveria fazer a seguir.
Eu realmente preciso arranjar um emprego.
Preciso esquecer Jude e minha mãe. Vou fingir que nada disso existiu.
Preciso de um jeito para ver Michelle.
Tenho que pegar os números dos meus amigos para dar uma explicação decente, mas aposto que Natsu o fará.
Falando nele, eu preciso do Natsu agora.
Imaginei se seria muito difícil me encontrar com ele agora. Jude o vigiaria lá em casa. Com certeza nos veríamos menos do que antes, isso se Natsu conseguir vir até mim. Eu nunca poderia cogitar aparecer na frente da escola de repente sabendo que Jude descobriria.
Mas Natsu era inteligente. Ele descobriria que eu tinha voltado para a minha antiga casa.
Mesmo com tantas preocupações, sinceramente, eu me senti livre.
Eu tinha voltado para minha amada casa que ainda tinha os mesmos móveis, as mesmas cores. Jude tinha tomado posse depois da morte da mamãe e não a demoliu ou vendeu. O motivo eu não sabia.
Não tinha mais aquele chato me controlando e nunca mais o teria. Livre.
Dei um passeio pela casa para admirar meu quarto, o da minha irmã, todos sem muitas coisas mais ainda me trazendo uma alegria imensa.
A alegria dobrou quando ouvia alguém bater na porta. Eu reconheci a voz grossa do Natsu.
Corri em pulinhos para porta. Assim que a abri e o vi lá, eu pulei para abraça-lo.
-Como você consegue sempre me achar tão rápido? -Perguntei rindo de tão feliz.
-Seu pai é meio idiota pra esconder as coisas. -Respondeu simplesmente e retribuiu o abraço. -Não acredito que ele te enfiou aqui.
-Pois é. -Falei descendo do seu colo e o deixando entrar. -Ele disse que nunca mais deveria ouvir noticias de mim. Espero que tudo tenha acabado de vez agora...
-E nós dois? Como fica? -Perguntou sem enrolação e se jogando no sofá.
-Acho que vamos dar um jeito.
-Como vai ser pra você agora?
-Bom, eu preciso trabalhar. -Falei me deitando em seu colo. -Preciso cobrir as despesas e dinheiro pra faculdade.
-Não se preocupe com isso. Eu tenho um plano. -Disse calmamente. -Principalmente para a faculdade.
-O que é?
-Não posso dizer agora, é surpresa.
-Você não vai vender droga né? -Ele deu risada e negou com a cabeça.
-Não vou. Já falei pra não se preocupar, tá tudo certo.
-A Michelle?
-Anda com muita saudade de você. Eu queria levar ela pra sair mas minha mãe não deixa quem dirá o Jude.
-Queria muito ver ela. Algum dia você a trás.
-Claro querida. -Assentiu depositando um beijo na minha cabeça. Eu me virei e dei um beijo na sua boca, sentindo sua atração por mim.
Natsu realmente me amava. O tanto que estava se arriscando para estar comigo, ficando do meu lado o tempo todo. Lembro de que Natsu deveria ser ainda mais sozinho do que eu. Eu tinha perdido a mamãe, mas sabia que ela sempre me amou e eu sempre a amaria. Natsu foi abandonado pelo pai e nem ao menos tinha um irmão como eu tive Michelle. Eu estava feliz por ver que ele tinha encontrado em mim o mesmo conforto e amor que eu tinha visto nele.
-Eu te amo demais. -Declarei me levantando e ficando cara a cara com ele.
-Eu também amo você.
Quando nos beijamos, eu já tinha a intenção de ir além de apenas beijos. Mas Natsu me parou e disse que não tinha camisinha agora.
-Tem que começar a andar com essas coisas agora. -Retruquei irritada.
-Por que eu? E você?
-Eu sou a mulher. Não ficaria bem uma mocinha com camisinhas na bolsa por aí. -Falei com um sorriso cínico.
-Aliás, eu descobri quem pegou minha câmera no armário. Foi a Lisanna.
-A Lisanna? -Exclamei surpresa. Eu sabia que ela não era santa, mas não ao ponto de fazer uma coisa dessas.
-Ela sabia que você e eu estávamos juntos e surtou. Eu já tirei satisfações com ela.
-Natsu Dragneel, o que você fez?
-Nada demais. Eu só briguei. Também não esperava que eu fosse ficar quieto, né?
-De qualquer jeito já passou e eu estou bem.
Jude tinha acabado de sair, o que significava que em pouco tempo estaria em casa e não gostaria da falta de Natsu. Por isso o rosado não pode ficar muito. Uma horinha depois de já ter chegado ele partiu, deixando meu novo número no celular dele.
O tédio começou. Logo eu já tinha mensagens da Levy, Erza, para quem Natsu tinha passado meu número. Mesmo assim sem arriscar sair de casa eu fiquei sozinha por mais três dias até um caminhão de mudança chegar trazendo as minhas coisas lá de casa, e de brinde, vieram as minhas duas meninas.
-Vieram me ver???
-Claro garota. -Erza assentiu como se fosse o óbvio. -E aí, como que estão as coisas?
-Difíceis, claro. Mas eu não me sinto muito mal de estar morando aqui. Isso é errado?
-Com certeza não. -Levy respondeu tirando uma sacola enorme do caminhão. -Aqui tem arroz, macarrão, enfim um monte de coisa pra você fazer.
-Onde pegaram isso?
-Juntamos um dinheirinho e compramos.
-Ah, gente não acredito... -Falei totalmente emocionada por tamanho carinho. Acho que a solidão que eu criei estava apenas dentro de mim. Eu tinha mais gente comigo o tempo todo.
-Não vai chorar em... -Erza acusou dando uma risadinha. -Vamos entrar. Temos que ouvir absolutamente tudo sobre você e o Natsu.
Com isso nós entramos na casa e eu contei para elas toda a nossa história enquanto pegávamos as caixas. Eu estava me sentindo muito bem.
Livre.
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