História Hearts On Fire - Dia 69 e 82.

Dia 69 (continuação)

O café da manhã seguiu normalmente, as conversas de sempre. A morena conhecia o amigo e sabia que ele não gostava muito de falar, preferia ouvir, portanto, Kabakchi estava em silêncio enquanto comia. Em primeiro momento não o havia ligado ao nome Athos, porque sempre o chamara pelo sobrenome quando estava na Bulgária. Ele já havia lhe dito que trabalhava com animais mágicos, mas não imaginou que fosse ser justamente um domador de dragões e muito menos que laboraria ali, naquele santuário.

Hermione observou com curiosidade o momento em que os olhos verdes claros de Athos se cruzaram com os negros de Jonathan e o mesmo, após estremecer, desviou o olhar rapidamente. Franziu as sobrancelhas com a cena. Jô parecia ter receio do homem e ela julgara que provavelmente fosse pelo jeito dele, mas agora... Parecia que eles se conheciam.

Carlinhos tocou seu joelho por baixo da mesa e a fez olhar para ele.

- Você parece distraída. – Comentou com um leve toque de irritação. A morena sorriu, cobrindo a mão dele com a sua.

- Só achei interessante... – O ruivo arqueou a sobrancelha.

- O que? – Hermione indicou com um gesto quase nulo, que apenas ele pôde ver, os dois homens.

- Eles se conhecem? – O namorado olhou para Athos, que ainda olhava o mais novo, este último parecendo muito consciente de olhar sobre si, derrubou o garfo.

- Acho que Athos foi o responsável por ele assim que chegou aqui. Era ainda mais jovem e imaturo do que é hoje e ele foi seu professor de domação por um ano, logo depois Jonathan entrou para minha equipe e Athos se afundou ainda mais em trabalhos.... A maioria em locais distantes. – Disse pensativo. A grifinória concordou com um aceno.

- Mas não parece estranho? – Carlinhos deu de ombros.

- Bem, é. Mas a única pessoa que me interessa é você. – A medibruxa sorriu para ele e deu-lhe um selinho.

- Que bom que é recíproco então, Carlinhos. – Os olhos azuis a olhavam transbordando de amor quando beijou sua testa.

- Sim, é muito bom.

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Estava deitada com o ruivo de conchinha. Já tinha explicado sua relação com Athos e o namorado havia entendido rapidamente. É claro que tinha ciúmes de quem se aproximasse de Hermione demais, mais ainda (e ele morreria antes de admitir isso) alguém tão bonito quanto o irmão de Vitor Krum, mas sabia que a grifinória jamais o trocaria e por isso relaxou.

Uma carta se materializou na sua frente com um pacote. A morena abriu os olhos na mesma hora e sorriu diabolicamente ao ver o que chegara. Se sentou na cama e pegou a carta, Carlinhos ao seu lado, o queixo apoiado em seu ombro.

- A resposta de George chegou, finalmente.

- Se você envolveu até ele nisso, não vai prestar nenhum pouco. – Hermione riu.

- É claro que vai. – A medibruxa rasgou o papel e passou os olhos pelas palavras.

“Hermione, minha linda cunhadinha,

Estou bastante curioso em saber quem despertou seu espírito vingativo tão profundamente e adianto meus pêsames à essa pessoa de antemão, pelas coisas que você pediu, ela vai precisar. Você não faz ideia do que eu daria para estar ai nesse momento para assistir de camarote.

Estou enviando tudo da sua lista, por conta da casa, é claro. Não revire os olhos para mim, mocinha. Está decidido e ponto final.

Espero que você e Carlinhos estejam vivendo uma lua-de-mel infinita. Se ele fizer você chorar, me avise e eu o matarei.

Cuide dele, ok?

Do seu melhor cunhado,

George Weasley.”

Carlinhos abriu o pacote e seus olhos se arregalaram à medida que percebia o que estava contido ali.

- Você...? – Mas uma risada foi o suficiente para calá-lo. O ruivo passou a mão nos cabelos.

- Fique calmo. Não vou longe demais. – A garota olhou o conteúdo com cuidado, o sorriso malicioso ainda estampado na face. - George é tão perfeccionista. Poderia beijá-lo por isso. – O namorado a olhou feio. Hermione revirou os olhos, beijando seu rosto. – Modo de falar, amor.

- Então não devo me preocupar com uma troca de irmãos? – A morena riu ao vê-lo cruzar os braços.

- Bem, você sabe que eu tenho uma queda por ruivos. – Brincou, devolvendo o material para o pacote e o guardando ao lado da cama. – Ciúmes, domador? – O ruivo a puxou para o seu colo com fluidez e sorriu de canto.

- Não, você é louca por mim, afinal. – E a beijou, jogando-a de costas na cama.

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Dia 82.

Hermione andava calmamente sob o céu aberto, tivera menos pacientes que o de costume, portanto, saíra mais cedo. Estavam treinando sincronia com Athos, por melhor que ele fosse, necessitavam fazer tudo como um conjunto, então precisavam aprender o tempo um do outro.

- Vai para a área de treinamento? – A voz de Agatha a fez virar. Sorriu para a amiga que estava um pouco atrás dela.

- Tive um período raro de folga, resolvi ver como eles estão indo. – A loira andou até ela.

- Estou um pouco entediada com o trabalho interno. – A outra suspirou, a morena teve que rir.

- Imaginei que fosse ficar assim, mas não tão cedo. – A amiga deu de ombros, frustrada. – Você realmente ama seu trabalho, não é?

- No início tive curiosidade por causa de Anthony, ele amava isso desde criança. – Suas famílias eram vizinhas na França e eram amigos de infância, Hermione sabia dessa parte da história. – Depois, quando fui para Beauxbatons e ele para Hogwarts, percebi que queria seguir nessa direção com meus próprios passos. Por mim, sabe? – A grifinória sorriu, vendo o olhar nostálgico da loira.

- Entendo. – E sim, realmente entendia.

- Mas deixando o passado de lado, vamos ver como estão indo. – E caminharam juntas até a área.

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Agatha e Hermione se sentaram nos bancos próximos ao campo de treinamento. Não queriam atrapalhar, apenas observar os amigos.

Carlinhos, como sempre, executava todas as magias e movimentos com maestria, Athos, embora menos fluído, não ficava muito atrás. John e Jonathan eram muito bons, mas não se comparavam aos dois primeiros, que eram considerados gênios. Este último, no entanto, parecia menos concentrado que o habitual. Todos possuíam uma interação incrível, mas podia-se notar se olhasse atentamente que Jonathan permanecia hesitante quanto ao novo integrante. Passados os feitiços e técnicas, entraram em embate direto com um dragão.

Os olhos verdes de Athos seguiam o moreno mais novo inconscientemente, avaliando suas ações.  As visões se encontraram e Jonathan perdeu a concentração, recebendo uma patada do Dragão, e iria bater de costas contra a cerca, mas Athos fez um feitiço não verbal para protegê-lo ajudando os outros dois a conterem o animal em seguida. O mais jovem estava aéreo demais com aquela situação, então Carlinhos encerrou o treino.

Jô caminhou até um banco próximo e sentou-se frustrado, enfiando a mão nos cabelos, fechando os olhos e soltando um longo suspiro. “O que diabos estou fazendo?” Perguntou-se. Se era para ficar daquele jeito, então por que simplesmente não disse não quando perguntaram se o homem poderia ser o novo membro da equipe? Por que o “sim” escapou da sua boca antes que percebesse? E por que inferno seu antigo professor ainda tinha aquele efeito sobre si?

- Você continua deixando brechas do seu lado esquerdo, Jonathan. – Abriu as pálpebras rapidamente ao ouvir a voz à sua frente, prendendo a respiração por alguns segundos. O rosto pálido indiferente, encarando-o. Seu estômago afundou na mesma hora, era a pessoa que menos queria ver naquele instante. – E sua educação piorou, antigamente você me cumprimentaria direito. Depois de tanto tempo sem te ver, você sequer dirigiu a palavra a mim.

- Isso é problema meu. – Falou rudemente, o tom muito mais severo do que o que normalmente usava. Athos arqueou a sobrancelha para a agressividade massiva estampada no rosto de Jô.

- Você foi meu aluno, então suas falhas, são minhas falhas. – Sua voz era totalmente desprovida de emoções. Isso irritava muito o mais novo, ele sempre fora assim, enlouquecedouramente inexpressivo. O homem de olhos verdes tirou um maço de cigarros do bolso, acendendo um e o colocando na boca, sem desviar a atenção do outro, que ainda o encarava como se fosse um animal acuado.

- Meus erros são apenas meus e de ninguém mais, Professor. – Falou com ironia. O outro o mirou demoradamente com os olhos semicerrados, o que aumentou o seu desconforto, não pôde resistir a desviar o olhar.

- Você costumava ser mais obediente antes. – Comentou para ninguém em particular, tragando o cigarro e soltando a fumaça, que subiu em arcos no ar.

- Eu não sou mais uma criança, Athos. – Levantou-se num rompante, tirou o cigarro da sua mão e o jogou no chão, pisando encima com a bota. O rosto retorcido numa careta. – Então não me trate como uma. – Enfiou as mãos nos bolsos com raiva e se retirou o mais rápido possível que conseguiu sem correr.

Hermione, que observara tudo à distância com Carlinhos, se aproximou dele. O ruivo preferiu não se meter numa demonstração tão clara de animosidade, além disso, preferia deixar que eles mesmos resolvessem seus problemas pessoais.

- O que foi isso exatamente? – Perguntou para o amigo, que trazia a sombra de um sorriso no rosto, fitando as costas do moreno.

- Nada em especial, Mia. – Falou acendendo um novo cigarro e o depositando entre os lábios.

- O que há entre vocês? – Hermione franziu a testa. – Já notei isso desde que chegou. Jô parece ter raiva de você. – Athos sorriu para ela, atipicamente divertido.

- Não acho que ele tenha raiva de mim exatamente. O que ele tem é medo dele mesmo. – A morena mordeu o lábio inferior indecisa se perguntaria mais.

- O que quer dizer com isso? – Não conseguiu se conter. Se preocupava com os dois e não gostaria que aprofundassem aquela briga.

- O que será, ein? – Pareceu pensativo por uns segundos, antes de retomar a fachada de pedra anterior. – Vamos, chame seu Weasley, estou com fome.

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- Weasley! – Chamou a voz que Hermione não queria ouvir. “Mas bem, talvez quisesse sim” pensou com humor, olhando a recém chegada indesejada à mesa deles.

- O que quer, Sarah? – Carlinhos perguntou ríspido, claramente não querendo a atenção da mulher.  Hermione enfiou as mãos nos bolsos de modo imperceptível e tirou um frasco de dentro.

- Os outros estão convidando vocês para irem ao bar hoje. – “Que desculpa fraca” a morena arqueou a sobrancelha.

- Nós já íamos de qualquer forma dar boas-vindas a Athos. – Resmungou desgostoso. A grifinória colocou uma gota da poção em um copo de água e usou um feitiço para deslocá-lo para mais próximo do ruivo e da domadora.

- Então isso quer dizer que vão? – Sarah lhe deu um sorriso ofuscante, tencionando tocar no braço dele. Um feitiço não verbal de Hermione a fez engasgar, buscando com a mão o copo mais próximo e o tomou num gole só. Athos olhou para Hermione, tendo percebido tudo, ela apenas sorriu de lado e deu de ombros. – Está meio quente, não? – A mulher, já restabelecida da tosse, se abanava e seu olhar voltou-se para Jonathan que comia em silêncio no canto mais afastado possível de Athos. Seu rosto de iluminou ao encontrar com o dele.

- Que porra... ? – O mais jovem se assustou ao vê-la sentar em seu colo e passar a mão em seu pescoço.

- Jô... – Ela disse manhosa. – Estou com calor. Me ajude. – A morena mordia o lábio para não rir e o irmão de Krum revirou os olhos, irritado. Carlinhos parecia perplexo ao se virar para a namorada e vê-la prendendo o riso. “Hermione, é claro” pensou gargalhando internamente. O mais novo sempre parecia um cachorro no cio com mulheres, mas agora tendo uma sentado em seu colo, estava em pânico. As pessoas do salão começavam a se virar para ver a cena.

- Não fode! – Falou elevando uma oitava a voz, se levantando e fazendo-a cair de bunda no chão. A mulher recuperou-se rapidamente, andando de quatro até ele. Nesse ponto, todos do salão os olhavam com interesse.

- Mas Jô... Eu quero tanto... – Ficou de joelhos no chão, tocando as coxas dele, que parecia à beira de um colapso. Ele se afastou, batendo com a parte de trás dos joelhos na cadeira e caindo de costas. A loira se aproveitou e ficou por cima dele. Agatha e Hermione já não continham a risada, assim como muitas pessoas do salão.

- Pelo amor de Merlin! Alguém me ajude! – Se debateu no chão o moreno. Ela havia colocado os joelhos sobre seus braços, os prendendo. Sarah aproximou-se seu rosto do dele, perigosamente próxima, a ponto de beijá-lo, quando foi erguida pela cintura e afastada dele. John manteve-a longe, enquanto Athos estendeu a mão para ajudar Jonathan a levantar.

O garoto pareceu hesitar por meio segundo antes de tocar a mão dele com a sua e ser içado para cima, assim que ficou em pé, soltou-se o mais breve possível do outro. Hermione se focou nos dois, Jô parecia mais calado que de costume para alguém que estava fazendo um escândalo alguns instantes atrás e .... Ele estava corado? Athos a olhou ainda irritado, então Hermione arregalou os olhos e colocou a mão na boca para evitar gritar.

- Oh! – Deixou escapar.

- O que foi, garota? – O ruivo ainda fitando divertido a loira se debatendo para chegar em Jonathan.

- Nada. – Franziu a testa.

- Mulher! Se controle! – Berrou John com dificuldade. A mulher parecia bem determinada até o sorriso sumir dos seus lábios e empalidecer. Um som muito característico saiu dela. O salão ficou em silêncio alguns segundos antes de começarem a rir. Era biológico, mas soltar um pum na frente de todo mundo naquela altura, após toda aquela cena cômica, era ridículo demais para evitar a chacota geral.

- Ai minha barriga! – Ela gemeu antes de sair correndo do local, um pouco curvada. 

- Alguém entendeu? – John perguntou assustado. O companheiro mais jovem parecia incapaz de falar, Agatha e Tony ainda estavam rindo audivelmente.Carlinhos e Athos a olharam.

- Hermione! – Falaram baixo em uníssom. A morena se preparou para o sermão.

- Desculpe? – Disse com um sorriso inocente. Athos se aproximou a passos largos.

- Mia, eu te adoro, mas deixe Jonathan longe das suas vinganças, ok? – O amigo trazia o rosto sério, o que era raro, pois Athos sempre era muito gentil com ela.

- Nós precisamos conversar, não precisamos? – Ele suspirou frustrado e assentiu, desviando o rosto.