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História Hélio e Caleb - Nossa Luta é Justa - Caleb - Eu quero viver


Escrita por: FanficHunger

Notas do Autor


Olá pessoal! Segue novo capítulo!

Espero que gostem!

Capítulo 3 - Caleb - Eu quero viver


Estava encolhido no canto do quarto sentindo as lágrimas secarem nas bochechas. TUM TUM TUM. A única luz que quebrava o breu do recinto vinha do velho notebook sob a escrivaninha e o único som vinha do pai martelando as cruzes na porta. TUM TUM TUM. Mais marteladas. TUM TUM TUM. Levei a mão ao rosto sentindo o vergão inchado onde a cinta me atingira. TUM TUM TUM. Cada martelada fazia o ferimento latejar. TUM TUM TUM. Preciso acabar com isso hoje. TUM TUM TUM. Tenho medo de meu pai. TUM TUM TUM. Medo de ele me matar.

- Sete cruzes. - Contei.

Foi quando acordei! Nada de marteladas, nada de quarto escuro. Apenas a cabine do ônibus. Inconscientemente toquei o inchaço na bochecha. Estava ficando melhor. Puxei a pequena cortina da janela e olhei para a imensidão verde que preenchia grande parte das estradas do Rio Grande do Sul. Ao longe, avistei a cidade de Passo Fundo. Estou chegando! Tirei o velho notebook da mochila e usei a internet do ônibus para checar o direct do instagram.

Caleb Paganini: Nega? Estou chegando!

Natasha Mioranza: Estou indo pra rodoviária.

Caleb Paganini: Certo!

Não poderia estar mais agradecido por ter conhecido Natasha. Literalmente foi o gatilho para a mudança na minha vida. Foi a primeira e única pessoa em que não senti necessidade de esconder alguma coisa sobre mim. Ela sabe de tudo e mais um pouco. Inclusive sobre os últimos eventos e também sobre o motivo de eu estar indo morar em Passo Fundo. Fora a faculdade, é claro.

O ônibus encostou no estacionamento da rodoviária, esperei a primeira leva de passageiros descer, então com o coração acelerado, tomei rumo à porta. Enquanto descia os degraus, enxerguei com a visão periférica os braços morenos e frenéticos de Natasha se balançando em meio à multidão.

- Amigo! – Ela gritava.

Natasha era simplesmente linda. Já havia visto fotos no instagram dela, mas conhecer ela ao vivo e a cores me dava outra perspectiva. A pela era de um negro reluzente, o cabelo trançado fazia um coque no topo da cabeça antes de cair quase até a parte de trás das coxas. O corpo era escultural, decorrente de seis semestres na faculdade de educação física. Vestia um top verde de academia e um short jeans rasgado, me fazendo pensar que estava ocupada malhando quando mandei a mensagem, então se vestiu às pressas. Ela abriu o sorriso mais lindo e branco que eu já vira, e com os braços estendidos veio em minha direção.

- Amigo! Eu não tô acreditando que você tá aqui! – Ela disse me envolvendo em um abraço. Joguei meus braços ao redor dos ombros dela, foi então que o peso de tudo o que estava acontecendo me atingiu. Não consegui conter as lágrimas e soltei alguns soluços.

- Me desculpa, amiga. – Disse me afastando e secando as lágrimas.

- Olha pra mim. – Ela erguei minha cabeça com os dedos no queixo para eu olhar em seus olhos castanhos. – Você não tem que se desculpar por nada. Nada disso é culpa sua. – Ela levantou a mão e tocou o vergão inchado na minha bochecha. – Ele fez isso com você? – Apenas assenti com a cabeça. – Sinto muito amigo. De verdade! Mas agora sua vida vai ser outra, eu prometo pra você. Tenho um presente!

- Que? – Pedi atônito. – Nega, você já vai me hospedar na sua casa, já me conseguiu emprego, e ainda gastou dinheiro comigo?

- Ssshhh! – Ela me interrompeu tirando da bolsa uma caixa retangular envolvida em um pacote de presentes. – Eu fiz questão disso. E também porque vai me deixar muito mais tranquila. Não quero ficar preocupada quando você chegar tarde em casa, então... – Ela esticou a caixa para mim.

- Você não existe menina! – Peguei a caixa e fui logo rasgando o papel de presente. – Um celular!? – E não era qualquer celular! Era um iphone 8, novo em folha. Segurei o presente contra o peito fitando Natasha. Não consegui conter as lágrimas novamente. – Eu não sei como te agradecer Naty! De verdade! – Corri e a abracei tão calorosamente. Um abraço que jamais ganhei dos meus pais.

- Migo, você nunca teve um celular antes, né?

- Nunca! – Disse abrindo a caixa e contemplando o lindo aparelho. – Quando consegui juntar dinheiro o bastante, e também quando recebi a carta da faculdade com minha aprovação, achei que um notebook seria de mais serventia. Sabe como é, nunca tive condições de ter os dois, e meus pais jamais gastariam dinheiro com coisas mundanas. – Fui obrigado a deixar um sorriso escapar. Nunca tinha me sentido assim, tão feliz.

- E foi aí que nos conhecemos! – Ela disse batendo palminhas.

- Foi! Obrigado mesmo Naty. De coração! – Coloquei o celular novo na mochila.

- Magina migo! Jamais deixaria você passar sozinho pelo o que aconteceu. Mas e aí? Vamos?

- Vamos! – Respondi em êxtase.

Seguimos pela rodoviária lotada de pessoas. Naty pediu se eu gostaria de tomar um café da manhã, mas eu ainda estava com o estômago embrulhado. Chegamos no carro dela e pegamos a estrada rumo ao apartamento.

- Migo! É a primeira vez que você vai ver uma cidade grande, né? Quando chegarmos no meu apê vou te explicar tudo, prometo!

- Tenho medo de me perder aqui! – Disse assim que o horizonte se abriu revelando o quanto a cidade era grande. Prédios altos encheram meus olhos. Pelas ruas pessoas desconhecidas caminhavam, andavam de bicicleta e passeavam com os cachorros. Lojas dos dois lados da avenida principal. Shoppings e boates. Eu queria prestigiar tudo. Estava maravilhado.

- Confia em mim amigo! – Ela disse segurando minha mão, a outra no volante. – Nós dois vamos nos perder aqui.

- Que? – Levantei uma sobrancelha.

- Hoje é sábado! Dia de festa!

- Ah não amiga! Eu nunca fui em uma festa antes.

- E é por isso que eu vou te levar em uma no primeiro dia.

- Quer saber de uma coisa? Vamos em uma festa hoje sim!

- Assim que se fala amigo! – Ela disse com uma felicidade fora do normal.

- E vou tomar minha primeira bebida de álcool também!

- Isso! Vamos encher o cu de cachaça! – Ela disse. Olhei pra ela pensativo. – É modo de dizer amigo. – Ela deixou escapar uma gargalhada. Rimos juntos. – Antes de irmos para o apartamento, quero te mostrar um lugar.

Depois de mais ou menos vinte minutos de carro, chegamos a um loteamento praticamente vazio. Natasha estacionou o carro em frente a uma construção em andamento.

- Aqui amigo. – Ela apontou para a construção. – Aqui vai ser uma balada gay. Vai inaugurar daqui a dois meses. Com certeza vamos estar aqui pra isso. – Olhei pra ela sorrindo. Como eu estava feliz! Nunca tinha me sentido assim antes. Mas os pensamentos foram quebrados por uma confusão no bar em frente à construção.

Um garoto loiro musculoso tinha se levantado em pé, quase derrubando a mesa na sua frente. Estava acompanhado por uma menina linda de cabelos negros e lisos, pele branca e olhos verdes. Mas o que chamou minha atenção na verdade foi o outro rapaz. Alto, levemente musculoso, com o cabelo castanho arrepiado na frente em um topete. Olhos de um azul profundo. Uma barba baixa, porém bem preenchida. O garoto era simplesmente lindo. Tinha bons reflexos, pois conseguiu segurar todas as garrafas de cerveja de cima da mesa.

O garoto loiro que tinha se levantado, se direcionava a um homem notavelmente gay usando capacete de proteção. Logo deduzi que esse homem tinha algo a ver com a construção. Eles discutiam, mas pude apenas ouvir um “vai virar estatística”. Eles conversaram mais um pouco, a garota e o rapaz bonito estavam de pé também. Então o homem de capacete caminhou até o meio da rua, voltando-se novamente para o bar, disse:

- Só um aviso! Dessa vez passa, mas me ameace de novo e vai descobrir que veadinhos também sabem se defender. – E voltou para dentro da construção.

Ficamos em silêncio no carro por alguns segundo antes de Natasha dizer:

- Amigo. Tenho que te falar uma coisa. – Ela se arrumou no banco do motorista para me olhar nos olhos. – Foi pra isso que te trouxe aqui, na verdade.

- Acho que sei o que você vai me falar. – Apontei com o queixo para o trio no bar. A menina que estava com eles levantou furiosa, disse algo para o rapaz bonito e saiu caminhando a passos pesados. – Parece que em cidade grande essas coisas também acontecem, certo?

- Exato! Mas também trouxe aqui pra te pedir para ser forte! – Agora ela está segurando minhas mãos nas dela. – Mais forte do que você já está sendo. Aqui você vai ter uma nova vida, e a partir de agora vai ser minha responsabilidade fazer com que você aproveite isso ao máximo. Aqui ninguém conhece você, ninguém pode te julgar por nada. Então sem mais segredos. Sem mais mentiras. Viva sua vida do jeitinho maravilhoso que você é. – Pensei nas palavras dela por uns segundos. Naty queria que eu vivesse assumidamente gay aqui. A ideia me assustava um pouco, mas...

- Eu concordo amiga! Nada mais de mentiras. Nada mais de se esconder. Eu quero viver!



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