Drácula observava a vista da Transilvânia com certa melancolia, era curioso como se não importasse quantas voltas sua vida imortal desse, ele sempre acabaria ali, preso a aquela maldição que era o local aonde sua humanidade havia acabado e seu pesadelo começaram, ouviu a porta do quarto abrir e alguns passos ansiosos adentrarem nos aposentos que ele compartilhava com sua serva.
- Eu fui claro em pedir o Dr. William – o vampiro falou sem olhar pra trás, observando o som rápido de alguém deixando algo cair no chão, provavelmente a maleta que aquele homem carregava.
- Caralho... Eu não te vi ai – o homem com sotaque terrivelmente italiano soou as suas costas, obrigando o vampiro a virar-se, deixando a bela paisagem de seu país natal para trás.
Em pé em frente a porta estava um homem de estatura mediana com aparentemente trinta e poucos anos, com cabelos curtos castanhos claros, tinha sobrancelhas grossas e arqueadas, e um olhar profundo, os olhos azuis brilhavam como safira, e seu rosto fino com os óculos redondos realmente lhe davam certo respeito, embora seu porte assustado naquele momento não ajudasse a diminuir a vontade de Drácula de arrancar a cabeça dele.
- Você não é o Dr. William Tyley Frankenstein – O vampiro comentou com certo desdém enquanto o homem recolhia a maleta branca do chão, em seguida batendo a mão sobre o próprio jaleco branco, como se desejasse estar mais apresentável, mas ele logo se endireitou e abriu as pupilas fascinado.
- Meu Deus... – Ele sussurrou inclinando o corpo pro lado - É você... O próprio Drácula.
Drácula se teletransportou a sua frente, encarando-o por cima ameaçadoramente enquanto percebia o homem levar tamanho susto que quase de desequilibrou pra trás.
- Eu fui bem claro que queria o Dr. William Tyler Frankenstein – Drácula falou entortando o lábio superior com desdém.
- Eu também queria, Conde – O homem falou enquanto disfarçava a vergonha do susto colocando a mão sobre a própria nuca e abaixando a cabeça – Ele é meu pai, faleceu há cerca de oito anos.
- Ahm... – Alucard revirou os olhos enquanto virava de costas pro convidado, ás vezes ele se esquecia completamente que ficou trinta anos adormecido, é claro, o Dr. William trabalhava com Integra, a relação entre a família Hellsing e a Frankenstein é bem antiga, eram aliados de longa data, com os Hellsing’s afrente da caça aos monstros e os Frankenstein nas pesquisas e descobertas sobre eles, trocavam informações constantes há séculos, inclusive sobre si mesmo, sem dúvidas.
- Te garanto, senhor... Que sou tão bom quanto meu pai era – a voz ponderada do médico rompeu o ambiente enquanto ele colocava a mão no próprio peito com certo orgulho – Sou Dr. Maximillian Frankenstein, imagino que deva ter notado o sotaque italiano, nasci em Londres mas tivemos que fugir de lá durante a invasão nazista, eu era uma criança na época.
- Espero que para seu próprio bem você esteja certo, humano – Drácula falou com desprezo enquanto dava um passo pro lado, expondo Seras Victoria adormecida na cama de casal.
- Ela é minha paciente? – Maximillian deu um passo à frente enquanto apontava pra ela, Drácula apenas assentiu com a cabeça enquanto ele se sentou a cama a observando adormecida – Uma vampira está... Doente? – Ele fez a pergunta lentamente enquanto assumia uma expressão de confusão e o encarava de volta.
Antes que ele pudesse se condenar pelas palavras ditas, Drácula já pressionava a tranqueia dele contra a parede do quarto, fazendo soltar um grito alto abafado e agarrar o braço dele com ambas mãos, tentando afasta-lo de forma completamente patética.
- Você definitivamente não é seu pai – o Vampiro falou com as presas amostra – e começo a duvidar se sairá daqui vivo.
- Calma! Calma! – o médico gritou erguendo as mãos pra cima ainda segurando a maleta – eu apenas estou confuso, eu nunca sequer soube de uma Vampira doente.
Drácula segurou seu pescoço o largando rapidamente na beirada da cama, fazendo seu corpo se ajoelhar enquanto sua cara batia na borda do colchão.
- Eu realmente preciso te lembrar que sou apenas um humano, e que, portanto, sou um pouco frágil, ok? – Ele disse enquanto endireitava os óculos retangulares na face com o dedo indicador e se apoiava na cama, ficando de pé – Agora me diga os sintomas dela.
Drácula bufou enquanto dava meia volta começando a rodear a cama de casal medieval que compartilhara tantos momentos de prazer com sua serva, observando seu rosto sereno adormecido desde o massacre no pátio que acontecerá há cerca de oito horas atrás.
- Seras tem perdido o controle sobre si mesma, atacado sem fazer distinção... – Ele observou com o canto dos olhos enquanto Maximillian pegava um bloco de notas no jaleco e começava a fazer anotações – Ela não apenas mata seus adversários.
- Bebe o sangue deles também? – o Dr perguntou enquanto o óculos escorregava pelo seu nariz reto.
- E devora suas carnes também – Drácula completou observando-o engolir em seco com a informação.
- Canibalismo... – Ele sussurrou com as sobrancelhas erguidas enquanto anotava a palavra em seu bloco de papel - Há... Há quanto tempo isso está acontecendo? – ele perguntou enquanto levava a caneta aos lábios, pensativo.
- Semanas, talvez alguns meses na verdade – ele parou sentando-se do lado dela na cama e a encarando com um olhar cuidadoso, a garota parecia em paz dentro de seus sonhos, com um rosto tão sublime que qualquer um desconfiaria do que fora capaz de fazer há poucos horas atrás, fora nesse momento que a pequena se moveu por debaixo dos lençóis abrindo os olhos e virando o rosto em direção a ele, sonolenta.
- Mestre... – Ela disse esboçando um sorriso doce – Você está com bigode e cavanhaque – Ela comentou enquanto desenhava a bigode sobre os lábios dele com o dedo indicador.
- Hum – O vampiro sussurrou tocando-lhe a barriga acima do lençol.
- Eu gosto... – Ela comentou piscando lentamente.
- Ah, eu sei policial – respondeu enquanto se inclinava sobre ela.
Ouviu uma tosse falsa ao lado esquerdo e respirou fundo, de fato, ter aquele Dr. Frankenstein ali seria um teste de paciência para o vampiro, a vontade de mata-lo aconteceu nos primeiros segundos em que o vira e não passaria tão cedo, disso ele estava certo.
Repentinamente Seras tocou sua camisa, segurando com firmeza enquanto ficava sentada na cama de supetão, puxou a peça delicada com força, obrigando-a a encara-la de perto.
- Mestre! – Ela gritou enquanto seus olhos vermelhos pareciam perdidos e assustados – Por que eu estou aqui? O... Que eu fiz?
- Acalme-se, vampira – Drácula mandou enquanto segurava as mãos dela sobre as suas – Você apenas desmaiou durante o treinamento, nada mais. – Por um minuto o olhar azul de Maximillian reluziu em direção a ele, estava claro naquele momento que era uma mentira necessária, para ambos, não que Drácula estivesse sentindo prazer em todo aquele péssimo costume que parecia ter iniciado com Seras Victoria desde que Elizabeth Bathory entrara em suas vidas.
Como se seguisse o olhar reflexivo para o Doutor, Seras virou o rosto encarando pela primeira vez o homem alto com jaleco branco ao seu lado da cama, ela abriu os lábios, mas o Doutor foi mais rápido.
- Prazer Seras Victoria – Ele fez uma reverência com a cabeça – Me chamo Maximillian, serei seu médico daqui pra frente.
- Médico? – Ela perguntou virando o rosto novamente pra Drácula como se buscasse respostas.
- Seus apagões Draculina, ele só está aqui para tentar descobrir o motivo deles e resolver seu problema, nada mais – Assegurou firmemente.
Percebeu que a pequena ficou quieta por um momento, uma aura triste emanou dela e por um momento, ele temeu a possibilidade dela lembrar-se de tudo o que fez há menos de dez horas atrás, mas ela voltou a encara-lo, agora largando sua camisa branca medieval e afundando a mão em seu tórax peludo.
- Eu... Machuquei alguém de novo? – questionou com o olhar baixo.
- Não – Drácula mentiu novamente, segurando o queixo dela, obrigando-a a erguer a cabeça e encara-lo – Você não feriu ninguém.
- Estou tão cansada... – Seras reclamou esfregando as mãos nos olhos.
- Durma, Criança.
Os olhos vermelhos da pequena o encararam por um tempo, mesmo com o ritmo das piscadas tão lentas, Drácula sentiu pela primeira vez que era de alguma forma analisado por ela e isso o fez questionar até qual ponto o sangue dele nas veias dela poderiam trai-lo.
Ela suspirou e voltou a se deitar, afundando a cabeça pequena no travesseira, Drácula vislumbrou o reflexo da luz em suas mechas loiras se recordando como fora difícil dar banho nela depois de tudo aquilo, ele percebeu que ela pareceu se esforçar para sorrir uma última vez antes de fechar os olhos e ser atraída pelo sono profundo que só os vampiros eram capazes de experimentar.
- Eu admito, isso tudo é novo demais pra mim – Maximillian suspirou colocando as mãos nos cabelos lisos escuros com ansiedade – Ela tem se alimentado bem? Digo... Ela não é uma vampira que rejeita a própria natureza né?
Drácula sorriu pela primeira vez naquela noite, sua mente forçava as lembranças dos primeiros meses pós transformação de Seras na organização Hellsing, ela ainda era uma menina tão perdida, tão sozinha e tão... Idiota, recusando-se a beber seu sangue inúmeras vezes, evitando encarar a própria realidade do que ela havia se tornado, mas tinha certo orgulho ao saber que o primeiro sangue que ela bebera na vida acabou sendo de Integra Hellsing, sangue mais virginal e puro que aquele jamais existiria.
- Já passamos dessa fase – Ele disse, erguendo o olhar vermelho para o Doutor.
- Devo crer então que ela é uma vampira completa? – Maximilliam virou-se indo em direção a poltrona próxima a lareira e se sentando, Drácula não havia considerado que aquele homem fez uma viagem de mais de seis horas para estar ali, isso lhe dava um certo crédito que ele não havia considerado até aquele momento.
- Seras Victoria é... Absolutamente completa. – Ele disse com certo orgulho.
- Ela se alimenta bem, é uma vampira “de verdade” – Maximilliam comentou, relendo o bloco que ele mesmo escrevera durante aquela horas com as sobrancelhas franzidas – Mesmo assim tem perdido o controle sobre seu próprio corpo, matando sem distinção, bebendo o sangue das vítimas e pra completar, praticando canibalismo com eles. Algo mais?
Drácula se manteve calado enquanto continuava observando sua serva adormecida, ele realmente parecia se importar com ela ao ponto de estar realmente se esforçando para recordar se havia algo mais, algum detalhe que ele talvez estivesse deixando para trás por algum motivo desconhecido.
- Sabe que eu vou precisar de um laboratório né? – O Doutor interrompeu seus pensamentos, aparentemente desistindo de receber uma resposta dele.
- Faça uma lista do que precisará e eu garantirei que tenha tudo o mais breve possível – Drácula comentou sem olha-lo.
O vampiro percebeu que o médico havia se levantado, pelo gemido que escapou de seus lábios parecia que estava se espreguiçando, quando passou pela frente dele na cama estava massageando o próprio ombro com a mão esquerda.
- Agora preciso me deitar, vocês, vampiros possuem vitalidade para virarem noites e dias sem adormecerem, eu sou um simples humano que necessita de pelo menos cinco horas de sono antes de conseguir trabalhar.
Drácula percebeu com a visão periférica quando Maximillian estendeu a mão em sua direção em um cumprimento que ele não estava disposto a retribuir, não demorou pra ele desistir e colocar a mão no bolso constrangido enquanto se dirigia até a saída do quarto.
- Você não me disse o que quer em troca, Frankenstein – Drácula comentou ainda com os olhos fixados no rosto de Seras Victoria.
O homem parou com a porta entreaberta e olhou pra trás.
- Eu não sei, Conde. Mas... Te garanto que pensarei em algo – Finalizou, antes de sair do cômodo.
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