Depois de dias, Helô precisa passar em seu apartamento para pegar algumas roupas para Miguel que estava em tempo integral na casa da irmã. A delegada sente o coração disparar ao girar a chave e abrir a porta, ao entrar, a garganta trava, o peito aperta. Estava esgotada física e emocionalmente depois de todos aqueles dias sem comer direito, sem dormir. Desde que tudo havia começado, era na casa da filha que haviam se instalado. Voltar ao apartamento agora era estranho, doloroso. Arrastando-se até o sofá, descansa a cabeça no encosto do móvel e suspira. De repente, gira o rosto e encara o porta retrato que estava no móvel ao lado. Na foto, o marido sorria para ela, o registro havia sido do recasamento em 17 de maio de 2013. Eles estavam recomeçando uma vida nova naquela época, ainda cheios de inseguranças, mas a vontade de fazer dar certo era maior, a chefe de polícia relembra. Segurando o porta-retrato nas mãos, ela olha fixo para a imagem do marido e engole seco.
– Onde você está, Stênio? Só preciso de uma pista, um sinal para descobrir onde estão te escondendo. Eu sei que você é esperto e dará um jeito de me avisar... – ela diz e os lábios tremem. – Aquele corpo não era você, então, tenho certeza que ainda está vivo. Você não me deixaria sozinha para criar nossos filhos e nossa neta, né? Não consigo sozinha, não consigo... A vida já me tirou tanta gente importante, meu pai, minha mãe... Você não pode me deixar sozinha, Stênio. Você não pode me deixar sozinha. – ela repete, sentindo as lágrimas molharem seu rosto.
A chefe de polícia deita no sofá, o mesmo lugar onde haviam feito amor tantas vezes. Encolhida ali, ela abraça a foto e deixa o choro que estava preso vir a tona. Soluça, chorando e colocando toda a sua dor para fora. Muito tempo se passa, as lágrimas são acompanhadas de lembranças doces, amorasas e momentos únicos vividos ao lado do amado. O corpo fica fraco e em algum momento ela adormece, mergulhando em pesadelos tristes e torturantes.
Entre um dos pesadelos, a chefe de polícia sente uma mão macia acariciar seu rosto e segurar suas lágrimas. A delegada se remexe, presa entre acordar e continuar sonhando coisas tão ruins.
– Donelô, sou eu.
– Uhm! – a delegada choramingar.
– Acorde Donelô, sou eu. Acorde!
Em um sobressalto, a delegada abre os olhos e encontra os da fiel escudeira que estava ali ao seu lado no sofá.
– Creusa?
– Cheguei Donelô.
– Creusa! – Helô se joga nos braços da fiel escudeira, encontrando ali um pouco de conforto.
–Como isso foi acontecer, Donelô?
– Eu me descuidei, liberei o pessoal que estava fazendo minha escolta.
– Minha nossa senhora.
– Ainda não descobrimos sobre o paradeiro do Stênio, Creusa. Eu sinto tanto medo, tanto medo.
– Como existe gente ruim no mundo, esse homem não podia ter pego DotoStênio.
– Mas eu encontrarei o Stênio, prometo. Vim em casa pegar umas coisas que o Miguel está precisando e... Creusa... Você não pode ficar aqui, a escolta está cuidando da casa da Drica. Como veio do aeroporto? Por que não me avisou a hora do seu vôo? Estou com a cabeça tão...– só então Helô percebe a presença de Haroldo e Érica.
– Nós pegamos a Creusa no aeroporto. – o advogado informa em tom carinhoso.
– Obrigada Haroldo.
– Como você está, minha amiga? – a tenente quer saber.
– Érica, eu deveria te perguntar isso também. Desculpa ter acontecido aquilo.
Levantando do sofá, Helô vai até a amiga e as duas se abraçam forte.
– Estou bem, Helô.
– O motorista? Érica... vocês ficaram naquela estrada, ele teve um infarto.
– Ele já voltou para casa. Ontem fomos visitá-lo, está muito bem.
– Eu preciso visitá-lo também, me desculpar e...
– Não se preocupe, eu e o Haroldo prestamos toda a assistência possível.
– Obrigada! Não sei como agradecer. – ela diz, voltando-se novamente para a fiel escudeira.
Olhando a delegada dos pés a cabeça, Creusa comenta:
– A senhora não tá se cuidando. Como quer ter forças para encontrar DotoStênio?
– Eu estou bem, Creusa.
– Oxê, bem desse jeito?
– Que bom ter você de volta, o Miguel e a Drica... eles precisam de você. – Helô afirma, emocionada.
– Pode deixar que vou arrumar minhas coisinhas direitinho e fico lá com eles.
– Ah Creusa.
As duas se abraçam forte mais uma vez e Haroldo se afasta um pouco para atender uma ligação. Quando volta para junto delas, ele avisa:
– Helô, o Ricardo precisa falar com você.
– O que aconteceu, Haroldo?
– A Dra. Vanessa conseguiu o Habeas Corpus.
– Como é que é? – a delegada não acredita. – É um revide depois que fui na casa dela, é um revide, mas já sei como derrubar esse Habeas Corpus. Preciso voltar para a PF agora. Haroldo, avisa para o Ricardo segurar até eu chegar, por favor. Creusa... é muito bom ter você aqui. – fala antes de sumir porta a fora.
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