História Her - Camren - Indecisão

Camila POV

Era sexta de tarde. Lauren estava conversando com os meus pais na sala enquanto eles a elogiavam pelo trabalho no meu quarto. É claro que também elogiei seu trabalho. Nunca pensei que meu quarto pudesse ter tanto de mim.

Estava tudo tão diferente e ao mesmo tempo era como se fosse apenas um pedaço meu. O tom das paredes. Os tapetes e cortinas. A minha cama de uma forma diferente. As estantes e prateleiras cheias de livros novos e antigos. Eu amava livros e ela tinha me dado algumas coleções inteiras. Eu não pude recusar.

Minha nova parte favorita, era apenas o teto. Lembro de antes estar deitada na cama e encara-lo para pensar um pouco ou em nada. Ele era branco, sem vida. Agora estou aqui, deitada e olhando para tudo. O começo da vida e um universo a minha frente.

Ainda era fim de tarde, é claro que não havia escurecido, mas eu tinha fechado as cortinas e apagado as luzes para poder ver melhor as estrelas na minha frente, ainda nem haviam estrelas no céu de verdade.

Era bom olhar aquilo e ao mesmo tempo não tão bom por eu lembrar quem o fez. Lauren estava distante desde o dia em que lhe perguntei se gostava de mim. Ela não respondeu na hora e não acho que responderá nunca. Talvez ela nunca tivesse sentido nada além de atração. O que eu poderia lhe dar em troca? Logo eu, que não tinha quase nada a oferecer, querendo que ela gostasse logo de mim. Fui estúpida mais uma vez.

Duas batidas suaves na porta. A luz do corredor entrou lentamente pelo quarto, mudando as cores do meu universo enquanto a porta era aberta para revelar um planeta de olhos verdes curiosos.

- Posso entrar? – Ela perguntou com a voz suave.

- Claro. – Voltei a encarar meu novo universo.

- Você gostou? Faz tempo que está aqui e não desceu ainda. – Fechou a porta e falou no escuro. Eu mal a podia enxergar se não fosse pelo brilho das estrelas e cores fluorescentes no teto.

- Eu amei. Obrigada. – Ela abaixou a cabeça e abraçou o próprio corpo. Respirei fundo.

- Posso te perguntar algo? – Fechei os olhos ao ser atingida por sua voz agora mais grave e firme. Ela me invadiu no meio da escuridão.

- Depende.

- Depende do que?

- Do que quer perguntar. – Abri os olhos e ela inclinou a cabeça para o lado lentamente. Talvez estivesse com uma expressão de confusa. Eu não pude ver.

- Isso significa que eu posso perguntar, mas depende se você vai responder ou não?

- Exatamente. – Eu sorri.

- Você ainda quer ir comigo assistir a Ópera? – Deu dois passos na minha direção. Sentei na cama. Meu coração havia acelerado e eu não sabia o motivo. – Eu vou entender se disser não. Está tudo bem. Só quis perguntar porque não conversamos mais sobre isso e...

- Nós não conversamos mais sobre nada, Lauren. – Ela parou no meio do caminho. – Ainda quer que eu vá?

- Sim. – Respondeu imediatamente. – Quer dizer... Se você ainda quiser também.

Ela queria que eu fosse. Deitei novamente e respirei fundo. Fechei os olhos por 5 segundos e os abri. Ela continuou parada onde estava.

- Bem, eu vou deixar você pensar se ainda quer ir ou não. Não precisa me responder agora. Você tem meu número e pode enviar alguma resposta mais tarde se você for. Se você não enviar nada, eu vou entender. E talvez se você se arrepender de não enviar nada e mesmo assim em cima da hora quiser ir, você vai me encontrar no teatro. – Falou calma. A voz um tanto trêmula. Eu não conseguia ler o seu rosto por estar escuro. Queria poder olhar em seus olhos e poder ver algo real. – Boa noite, Camila. Espero que tenha realmente gostado do seu quarto.

- Lauren! – A chamei antes que ela abrisse a porta. Havia me sentado novamente. Ela parou de costas em frente a porta. – Obrigada pelo quarto. Eu realmente gostei. Boa noite.

Abaixou a cabeça e abriu a porta. Mais uma vez a luz do corredor invadiu o quarto. Ela passou pela porta e desapareceu a fechando novamente. Eu fiquei na escuridão com meu universo pintado no teto. Eu havia me despedido.

                               ...

Sábado de manhã. Sofia estava assistindo desenho na TV enquanto eu respondia algumas mensagem da Dinah. Ela estava mandando foto dos seus irmãos.

Mama estava trabalhando no escritório e papa havia saído para resolver algumas coisas da empresa. Sofia gritou alto do meu lado e me assustei deixando o celular cair no chão. Ela me olhou e gargalhou.

- Sofia, não fique gritando assim. Você vai deixar todo mundo surdo. – Baguncei o cabelo dela e peguei meu celular do chão.

Era incrível como algumas coisas realmente podem nos assustar. Talvez fosse um sinal, o destino ou sei lá o que, mas incrivelmente, a página de mensagens para a Lauren abriu durante a queda e lá estava eu relendo as últimas mensagens.

- Kaki, olha! – Sofia me chamou e olhei para ela. – É a blusa que a Lauren me deu.

- Ela te deu muitas blusas, Sofi. – Sorri.

- Quando vamos sair de novo? Ela ainda tem que me levar pra tomar mais sorvete. – Falou animada e começou a pular no sofá. O desenho havia perdido sua atenção. Eu a puxei para baixo a sentando novamente.

- Não pule no sofá. Sabe que a mama não gosta e que é perigoso. Você pode cair e se...

- Machucar. Eu sei. Quando vamos sair com a Lauren? – Mais uma vez animada. Ela nem ao menos se importou em eu ter a repreendido.

- Eu não sei.

- Liga pra ela e pergunta. – Encarou a TV e se perdeu novamente assistindo o desenho. Ela gargalhou sobre algo segundos depois.

Ligar, mandar mensagem. Eu poderia responder se queria ou não sair com ela. Era difícil dizer. Nós não conversávamos mais e então iríamos sair juntas por que? Não fazia sentido. Não mandei nenhuma mensagem.

O tempo passou voando. Era início da noite. Estava quase escuro lá fora e mama comentava algo sobre uma peça de teatro da escola da Sofia. Por isso ela tinha que chegar cedo durante a semana toda.

Teatro. “venho te pegar as 19.” “por que não pega agora?” sorri ao lembrar daquele dia.

A TV da sala continuava ligada. Sofia comia algo enquanto pulava os canais com o controle remoto. A TV anunciou a ópera da noite e eu joguei a cabeça pra trás no sofá. Poderiam ter mais sinais que esses? Seria o mundo querendo que eu fosse?

- Mama, vou sair. – Levantei do sofá e avisei minha mãe.

- Pra onde? – Perguntou tentando limpar alguns pedaços de biscoito que Sofia havia derrubado no sofá.

- Vou assistir a Ópera. – Respirei fundo depois de falar.

- Já está tudo esgotado faz duas semanas, hija. – Levantou do sofá e levou o copo da Sofia pra pia da cozinha. A acompanhei.

- A Lauren me chamou pra ir com ela. Ela tem os ingressos. – Falei e ela deu de ombros. – Posso ir?

- Isso não termina tarde?

- Mama, amanhã é domingo e eu não estudo mais. – Falei sorrindo. Ela me olhou.

- Só perguntei porque não quero que chegue tarde. Se for dormir fora avise antes. Não quero que a Sofia crie desculpas pra ficar acordada até tarde te esperando. – Ela disse sorrindo.

- Eu não vou dormir fora. Vou volta assim que terminar. Prometo! – A abracei e lhe dei um beijo no rosto.

- Ela vem te buscar? Seu pai ainda vai demorar. – Perguntou antes que eu saísse da cozinha.

- Ela vem me pegar as 19. – Eu quase gargalhei por repetir parte de suas palavras.

Tomei um banho rápido. Sequei o cabelo e voltei para o quarto. Me vesti. Escolhi o vestido que ela tinha me dado. Pelo menos essa é uma oportunidade de usá-lo.

Eu estava pronta e me encarando de frente pro espelho do banheiro. Minha animação de antes havia desaparecido completamente. Eu nem ao menos havia dito pra ela que eu iria e agora que papa não voltaria cedo, não era como se eu pudesse a encontrar no teatro.

Encarei a tela do celular várias vezes até ouvir a voz da Vero. Nossas janelas estavam abertas e ela sempre falava um pouco alto demais.

- Por que o seu carro ta parado faz 10 minutos em frente a casa da Camila? – Ela perguntou e eu quase saí correndo do banheiro pra ver se encontrava Lauren no quarto da Veronica. – Sério, Lauren? Acha mesmo que não conheço o teu carro? Até a placa é a mesma.

Veronica gargalhou. Eu deixei o banheiro e tentei não aparecer na janela. Ela continuou falando sozinha. Estava no celular então.

Peguei minha bolsa pequena na mesa de estudos e saí do quarto rapidamente. Veronica não poderia ter me visto. 

Eu desci a escada e parei perto da porta. Olhei pela janela da sala e o carro dela estava parado em frente a minha casa realmente. Ela estava lá. Sorri e ao mesmo tempo fiquei confusa. Por que ela estaria ali? Era 18:58.

- Já vai, hija? – Mama perguntou voltando da cozinha. – Você comeu algo?

- Não, mama. Estou sem fome. Eu como algo pelo caminho quando estiver voltando. Não se preocupe. Tchau! – Falei lhe dando um beijo novamente no rosto. Ela beijou minha testa e eu respirei fundo antes de abrir a porta e sair.