Era um dia importante, toda a equipe estava impaciente, aguardando a chefe.Estavam todos sentados em volta da grande mesa retangular, na sala de reuniões. O burburinho era grande, todos queriam saber o motivo daquela reunião inesperada em plena sexta-feira e quase no final do expediente.
Rachel e Olivia, sentadas uma ao lado da outra, trocavam olhares que apenas elas entendiam. Estavam ansiosas pra largar, pois essa seria a “noite de filme”. As garotas combinaram de passar todo o final de semana juntas, na casa de Olívia. E essa será a primeira programação.
Fazia exatamente 20 dias, que Rachel estava ocupando aquela vaga temporária na agência. Ela já havia se adaptado muito bem ao serviço e seus trabalhos eram elogiados por muitos. Seu carisma e doçura, fez com que conquistasse rápido a simpatia dos seus colegas de equipe e de sua chefe principalmente.
— Desculpem a demora. – diz Jéssica ao abrir a porta. — Eu convoquei vocês pois temos um job importante e preciso do envolvimento de todos e de suas ideias. – a chefe senta-se na cabeceira da mesa, de frente para todos. — É o seguinte: um cliente novo precisa expandir suas vendas. Eles precisam de uma campanha nova, que abranja os jovens principalmente. A empresa é nova no Brasil, eles não tem popularidade ainda. Alguém tem sugestões de como podemos ajudá-los?
— Qual o produto deles? – questiona Olívia.
— Livros! É uma livraria chamada Cultura Inglesa. Eles estão abrindo uma franquia, a princípio, apenas aqui em nossa cidade. Se derem certo, pretendem abrir mais lojas em outras cidades do país. E caso tenham dúvidas, sim, eles são de Londres, Inglaterra. – explicou.
— Uau! – a morena de cabelos curtos admirou-se empolgada.
— Por isso essa campanha é muito importante para nós! Já pensaram se essa empresa cresce? Todos vão querer saber quem cuidou da publicidade deles. Preciso de muita dedicação de vocês! – explicava entusiasmada.
— Eles já assinaram com a gente? – pergunta Rachel.
— Ainda não. Estão visitando mais algumas agências. Eles querem ver quem produz a melhor campanha. Estamos em uma espécie de competição! Por isso não preciso nem dizer o quanto é importante nós sairmos na frente e bolarmos a campanha de nossas vidas! – enquanto a mulher falava todos concordavam balançando as cabeças. Sentindo o peso da responsabilidade.
— Criaremos anúncios de divulgação nos principais meios de comunicação e redes sociais. – Felipe coçou a barba pensativo, dando início às sugestões.
— Hum… Isso já é óbvio! Mas precisamos de algo maior. – responde Jéssica não muito empolgada com a ideia do rapaz.
— O que acha de um jingle? – Sérgio, o rapaz gordinho da edição, tentou ajudar.
— É uma possibilidade. Porém, teríamos que contratar alguém para cantar, seria um gasto a mais… – falou pensativa. — E não sei se uma musiquinha faz o estilo deles...
A reunião se estende por longos minutos. Nenhuma sugestão que a equipe dava, parecia boa o suficiente para Jéssica. A barriga de Rachel ronca, já estava faminta e pensou que pedir comida pelo aplicativo quando chegassem em casa, seria uma boa ideia.
— É isso! – bateu as mãos espalmadas em cima da mesa, e encarou todos com um sorriso vitorioso nos lábios.
— Desculpe Rachel, não entendi. Gostaria de deixar claro pra todos? – a chefe questionou confusa.
— É simples… – respirou fundo preparando-se para falar. — Nós sabemos que algumas pessoas têm o dia corrido com trabalho, outras com estudos e algumas não querem ou até mesmo não podem sair de casa… – todos a olhavam sem entender. Então ela prosseguiu — Digamos que algum de vocês se encaixa nesse perfil... E suponhamos que alguém acaba de te recomendar um livro, ou que você leu a uma resenha muito boa, se encantou e quer conferir a história imediatamente. Mas não há possibilidade de sair ir em uma livraria no mesmo momento. O que você faz?
— Pedido pela internet! – respondeu Felipe, tentando entender a essência da ideia de Rachel.
— Rachel, não é querendo cortar seu barato, mas pedidos pela internet já existem… – emendou Sérgio.
— Bem, nós sabemos que existem pedidos pela internet, e que são feitos diretamente no site das lojas. – respondeu como se fosse óbvio. — Acontece, que nem todas pessoas gostam deste método. Algumas porque há uma certa demora na entrega, outras, porque o frete acaba ficando caro… – todos balançaram a cabeça em concordância. Seus olhares pensativos. — E se, na empresa do nosso cliente for diferente? Se as pessoas pudessem fazer os seus pedidos por um aplicativo exclusivo da loja e o livro chegasse bem rápido para eles? Igual a fastfood! – terminou de explicar já eufórica.
— Tipo no mesmo dia? – Olívia pergunta já sorrindo e adorando a ideia.
— Exatamente! Com toda a segurança e conforto. Oferecendo formas fáceis de pagamento e não cobrando fretes abusivos.
— Rachel, você é um gênio! – sua chefe elogiou empolgada. — Você acha que consegue montar um esboço desse aplicativo para apresentar em uma reunião na próxima semana?
— Consigo… – respondeu, tentando passar confiança. — Qual dia exatamente?
— Terça-feira já temos uma reunião marcada com eles. Acha que consegue?
— Com certeza! – falou segura.
Rachel tentava transmitir uma imagem de tranquilidade e segurança. Mas internamente o medo de decepcionar e de não conseguir suprir as expectativas era gritante. Ela queria muito poder demonstrar sua capacidade e se empenharia o máximo para conseguir.
— Alguém tem um nome pra esse aplicativo? – pergunta a chefe.
— Bem… eu pensei em um. Não sei se vão gostar. – respondeu tímida.
— Pode falar, Rachel. – Jéssica pediu ansiosa.
— O que vocês acham de Cultura Fast?
— Me parece ótimo! Dá a ideia de estar levando cultura para as pessoas de forma rápida, fazendo analogia ao nome da marca! – a mulher sorria. — O que acham do tema da nossa campanha ser – estendeu as mãos e fez uma espécie de L com os dedos, como se formassem uma moldura. — Cultura Inglesa: A maneira fast de levar cultura até você! – fitava o vazio com um sorriso largo e empolgado. Provavelmente imaginando um letreiro a sua frente.
— Achei ótimo! – Rachel opina.
— Eu também gostei muito! – diz Olívia e logo em seguida os demais concordam.
— Ai Rachel, se eles gostarem da sua ideia e assinarem com a gente, eu nem sei o que faço com você! Acho que vou querer você pra mim… – Jéssica falou a encarando, um sorriso torto nos lábios.
Rachel apenas devolveu um sorriso tímido e quebrou o contato visual, olhando para o chão.
Olívia encarava séria sua chefe. Seu maxilar travado, denunciava o quanto não havia gostado daquela última frase da mulher.
— Bom, Jéssica… Já que minha namorada parece ter salvado a pátria, nossa reunião está encerrada? É que hoje é sexta-feira… – apressou-se em dizer.
— Ah sim, claro! Estão liberados. – disse a loira ainda com um sorriso no rosto e sem tirar os olhos de Rachel.
***
— “Acho que vou querer você pra mim…” – parodiou a frase que sua chefe acabara de dizer para a namorada, assim que entraram no carro.
— Você não está com ciúmes, está? – pergunta com um tom divertido na voz.
— Eu deveria? – devolve a pergunta. Porém, seu tom é sério.
— Não! Claro que não! – respondeu na defensiva.
— Então não estou! – a morena responde secamente.
— Para com isso, meu amor. Ela só estava feliz porque gostou da minha ideia. E você deveria ficar também. Quem sabe se tudo der certo, ela me contrata de vez!
— Eu estou feliz. Aliás, parabéns! – Olívia foi sincera. Estava realmente feliz por sua namorada está se dando bem. — Estou orgulhosa de você, namorada!
— Obrigada, namorada! – encostou perto da morena e deu um beijo em sua bochecha. — Vou precisar muito da sua ajuda, pois estou com muito medo. Uma sensação de que a ideia só é boa na teoria…
— Rachel, amor… – Olívia interrompe prontamente. — Eu vou te ajudar no que precisar. E outra, sua ideia é maravilhosa! Nós vamos trabalhar duro pra conseguir o melhor. Não se preocupe, tudo dará certo. Esse pessoal vai adorar e vão nos contratar, você vai ver! – deu um sorriso confortante para a namorada.
O caminho até o apartamento foi descontraído. As duas cantarolaram juntas algumas canções e Olívia até arriscou algumas coreografias. O que fez Rachel ficar com a barriga doendo de tanto rir! Era impressionante como a morena conseguia acalma-la. Qualquer preocupação sumia quando estavam juntas.
Ao chegarem em casa, Rachel pediu comida japonesa enquanto contava para a namorada como teve a ideia. Olívia achou graça que pela primeira vez, sentir fome serviu para alguma coisa boa.
— Eu escolhi um filme, amor. Não sei se você vai gostar. – falou assim que Rachel sentou ao seu lado no sofá, lhe entregando a caixinha de yakissoba que acaba de chegar.
— Espero que o seu gosto para filmes esteja bom. Da última vez que escolheu, nós duas acabamos pegando no sono de tão bom que o filme era… – ironizou.
— Ah, me respeita que eu tenho um gosto melhor que o seu. Aquele dia foi um fato isolado! – retrucou.
— Tá, e qual é o da vez? – pergunta se acomodando mais perto dela.
— Esse! – aperta o botão do OK e a sinopse do filme abre.
— Ah não Olívia, da última vez que você me fez assistir filme de terror, eu passei dois dias sem querer levantar pra fazer xixi no meio da noite! – reclamou ao ler o título e sinopse do filme.
— Não seja medrosa Rach! – a morena riu debochada. — Nem preciso dizer que se você tiver medo é só me abraçar, né! – levou um punhado de macarrão a boca com os hashis.
— Você é muito cínica! Como é possível meu Deus, como é que eu fui arrumar uma namorada assim?. – fingiu estar indignada.
— Assim, maravilhosa? – falou divertida.
— Não! Que se aproveita da minha fragilidade! – fez Olívia rir do seu falso e forçado vitimismo.
— Tá bom, rainha do drama. Fica quieta que eu quero entender o começo. – a morena deu um selinho nela e em seguida apertou o play.
Seguiram assistindo e comendo em um silêncio confortável. A sala estava escura, iluminada apenas pelo brilho da TV. As duas pareciam hipnotizadas pelo filme. A história era velha e clichê, mas elas pareciam estar cada vez mais atraídas.
As garotas olhavam atentas para a cena em que as nuvens deslizavam à frente de uma lua cheia. Formando um nevoeiro, que quando começou a se desfazer no cenário, revelou o terror desconhecido, seguido por folhas secas voando e uma forte respiração. Com um pequeno gemido quando o monstro apareceu, Rachel fechou os olhos, temendo pela vida da heroína do filme.
— Você veria melhor sem a mão na frente dos olhos. – zombou Olívia.
— Me avisa quando a cena acabar.
— Vamos lá… Você precisa ver essa parte. – Tentou tirar as mãos do rosto da namorada, mas sem sucesso. — Essa cena é clichêzona demais, Rach! Nem assusta ninguém! Ela vai sair de dentro de casa como uma idiota – começou a narrar a cena. — Agora eu pergunto, qual a possibilidade de uma pessoa em sã consciência, sair no meio da noite, no escuro, só porque ouviu alguém arranhar a janela? Nenhuma, não é mesmo! – respondeu pra ela mesma sem tirar os olhos da tela da TV. — Uma pessoa inteligente, se enfiava de baixo da cama e esperaria ele ir embora.
Nesse instante, Rachel abriu os olhos. Mas se arrepende em seguida, assim que vê a cara do monstro surgir em close de repente.
— Oh! – assustada, foi para mais perto de Olívia e enterrou o rosto no peito dela. — É horrível, não quero ver. Me avise quando tiver acabado. – sua voz soou abafada e medrosa.
Rachel estava mergulhada no peito da namorada, ouvindo o batimento cardíaco constante, junto ao seu ouvido.
Olívia, sentia a sua presença mais forte e entrelaçou os dedos em seus cabelos, acarinhando e tentando acalma-la. Como se estivesse tranquilizando uma criança chorosa. Olívia se enrijeceu e começou a se afastar, mas manteve as mãos nos cabelos dela.
— Acabou? – pergunta tentando virar a cabeça para a TV.
— O monstro está perseguindo a moça. Mas eu não me importo. Quero te beijar agora! – aproximou os rostos lentamente até seus lábios colidirem.
Olívia começou com um beijo lento. Seus corpos já estavam quentes, não demoraram a reagir ao toque uma da outra. Dava pra sentir o calor que emanava do beijo. Os corpos se aproximavam mais e mais, logo estavam deitadas no sofá. O corpo da morena sobre o de Rachel. Os corações começaram a bater frenéticos. Estavam rendidas!
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