Mia olha de um lado para o outro em sua tranquila rua. A vizinhança que o pai escolheu é calma, tão ensolarada e repleta de árvores que parece ter saído diretamente de algum filme adolescente da Disney. Ela arruma a alça da bolsa sobre o ombro, se virando para o carvalho a frente de sua casa a tempo de ver o SUV de Tom Holland virando a esquina, deslizando sobre o asfalto até parar do seu lado.
A janela do passageiro se abre, permitindo que Mia veja o rapaz de cabelos castanhos claros sorrir para ela.
— O que uma garota tão bonita faz sozinha numa rua vazia dessas? – questiona ele, arqueando a sobrancelha por trás de seus óculos escuros.
— Estou esperando meu namorado. – Mia resmunga, abrindo a porta do passageiro e jogando sua bolsa no chão do carro. — Mas como sempre, ele está atrasado.
Tom se volta para frente, abrindo um sorriso torto enquanto a namorada se ajeita no banco do passageiro. Quando o carro volta a se mover, Mia se inclina sobre ele para beijar-lhe a bochecha.
Thomas Stanley Holland havia sido um achado. Ela o conhecera na aula de culinária, em sua segunda semana na Merryweather High, quando quase explodiu a sala de aula ao não ligar o forno corretamente. Enquanto o cheiro de gás se alastrava pelo lugar e a Sra. Fraser corria por entre seus alunos tentando não ser processada por matar adolescentes carbonizados em sua aula, Mia permanecia abaixada em frente ao seu forno, tentando entender o porquê de seu suflê de chocolate não crescer quando havia seguido a receita com tanto afinco.
— Eu também me entedio fácil com essa aula, mas mandar a sala toda pelos ares me parece um tanto radical. – dissera ele, fazendo com que Mia se assustasse e caísse sentada no chão.
Seus olhos se ergueram, analisando o garoto que desligava seu fogão. Era seu vizinho de bancada, mas nunca haviam trocado uma palavra sequer. Ele não deveria ser tão mais alto que ela, mas as mangas de sua camiseta estavam apertadas ao redor dos bíceps muito bem definidos. Seus cachos caíram para frente quando o mesmo se inclinou e estendeu a mão para a garota, ainda caída e atordoada demais para se lembrar de levantar.
— Eu... Não sabia que não estava aceso. – Mia murmurou, de repente sentindo o peso da estupidez de não ter verificado o forno. Esfregou as mãos pelo rosto, encarando então o rapaz por entre os dedos. — Vou avisar a Sra. Fraser.
Ele riu, fechando os olhos e pendendo levemente a cabeça para trás.
Naquele instante, Mia reparou no quanto ele era bonito.
Por um momento, perdeu-se ao se imaginar agarrando-o e sujando aquela pele pálida com a massa do suflê. Poderia até mesmo lambê-lo depois.
— Relaxa. Todos nós cometemos erros. – ele voltou a falar, tirando-a de seus próprios devaneios. Pareceu não notar que as bochechas da garota atingiam uma coloração avermelhada vibrante, já que parecia entretido demais em ligar o forno de Mia corretamente. Quando as pequenas chamas azuis surgiram, o rapaz se afastou com um sorriso e estendeu-lhe a mão. — Sou Tom.
Por cima do ombro dele, Mia conseguia ver um suflê perfeito repousando logo ao lado de uma jaqueta do time de futebol dobrada minuciosamente.
— Mia Baxter. – respondeu ela, sentindo sua nuca se arrepiar quando seus dedos se apertaram.
— Bom, Mia Baxter... – ele sorriu, revelando duas fileiras de dentes tão perfeitos que poderiam ter acabado de sair de um comercial de pasta de dentes. — Boa sorte com o seu suflê.
Conforme Tom se afastava para a sua bancada, Mia se pegou desejando que seu suflê explodisse, criasse braços ou então simplesmente não crescesse, apenas para lhe dar mais uma desculpa para pedir ajuda ao garoto do outro lado da bancada.
Felizmente, nenhum ato desesperado foi necessário. No almoço, Mia descobrira que Tom na verdade era Tom Holland, o grande capitão do time de futebol da Merryweather. As sensações, devaneios e expectativas que ela criara em quinze minutos de conversa com ele afligiam 99,9% do público feminino do colégio, além de uma grande porcentagem do masculino também. Porém, só uma única garota havia conseguido cruzar a linha de chegada e ganhar o título de "namorada".
Agnes Holbrook.
Capitã das líderes de torcida, rainha do baile por três anos consecutivos, dona do Instagram mais seguido da escola inteira. A única coisa que Mia sabia ter em comum com Agnes Holbrook era um total de nada.
Garotas como ela não se envolviam com garotos como Tom Holland.
Garotos como Tom Holland gostavam de garotas como Agnes Holbrook.
Foi a única vez na vida em que Mia adorou ter se enganado.
Se garotos como Tom não gostavam de garotas como ela, por que ele parecera extremamente fofo ao corar para chamá-la para sair? Por que em sua primeira ida ao cinema, ele passara o braço sobre o encosto de Mia sem sequer vacilar, e ainda a trouxera para perto e a aconchegou contra seu corpo? Por que quando Mia lhe contou que, apesar de ter acabado de se mudar para LA, ela nunca vira o mar, ele a levou até Santa Mônica e a beijou pela primeira vez no pôr do sol? Por que ele passava horas sentado na lanchonete em que Mia trabalhava por meio período, apenas para lhe fazer companhia?
Era ela.
A pequena e desengonçada Mia Baxter era definitivamente o tipo de Tom Holland.
Quem poderia imaginar?
— Harrison vai dar uma festa hoje. – Tom se pronuncia, fazendo Mia piscar para retornar a realidade.
Olhando em volta, nota que o carro acabou de estacionar a frente da Merryweather High, em sua vaga rotineira. Ela e o namorado saem do veículo ao mesmo tempo, e após ajeitar a bolsa sobre o ombro, seus dedos se entrelaçam aos de Tom.
— Os pais dele nunca notam a destruição na casa quando voltam de viagem? – questiona, fazendo com que ambos riam baixo.
— Acredite: Provavelmente custa mais barato reconstruir a casa do que levar Harrison na viagem. – diz ele, lançando-lhe uma piscadela.
Mia ri mais um pouco, apaixonada demais pelo rapaz ao seu lado para notar qualquer coisa a sua volta.
Apaixonada demais para reparar no par de olhos que lhe segue até entrar no colégio.
Agnes ainda não saiu de seu carro, e encara o casal por trás de seus óculos escuros até que cruzem as portas principais.
Há um ano, ela e Tom faziam esse mesmo caminho.
Segurar mãos não era bem do feitio de ambos, mas o braço dele estava sempre sobre seus ombros, roçando o tecido grosso de sua jaqueta contra a pele de Agnes, exposta pelo vestido de líder de torcida. Quando se encontravam pelos corredores da escola ou nas mesas do refeitório para o almoço, ele sempre parava ao seu lado e a abraçava, encaixando Agnes contra seu corpo numa clara demonstração de posse.
Ela não se importava. Gostava de ser a garota dele.
Gemma Bright, das líderes de torcida, havia lhe dado o apelido de "Garota Tom Holland". Agnes o adorava.
Adorava qualquer coisa que fizesse menção ao seu lugar de direito: ao lado dele.
Faltando cinco minutos para o sinal tocar, Agnes finalmente esticou os dedos até o rádio e interrompeu Harry Styles no meio de Sweet Creature. Um mês antes da chegada de Mia Baxter a Merryweather High, Tom e Agnes completaram dois anos de namoro, e seu presente havia sido ir a um concerto do cantor. As pessoas insistiam em comentar o quanto ela e Tom pareciam estar prestes a terminar, mas Agnes sabia que estavam errados.
Era apenas uma crise, e todo casal passava por esse tipo de situação. Era o que lhes tornava mais forte.
Então, enquanto Harry cantava os versos daquela mesma música diante de seus olhos, Agnes se virou e abraçou o namorado, escondendo o rosto na curva de seu pescoço e inalando seu cheiro de colônia e sabonete.
— Nós somos para sempre, não somos? – questionou manhosa, mas Tom não respondeu.
Ela tornou a repetir a pergunta, enquanto transavam violentamente no banco de trás do SUV do rapaz.
Tom não respondeu.
Agnes cantou os versos de Sweet Creature mentalmente.
Suas botas Chanel da coleção passada produzem ecos agudos contra o cascalho do estacionamento, e mesmo após cruzar as portas da entrada, os sons continuam a segui-la para dentro do prédio. Seu armário é o 205, localizado estrategicamente no final do corredor, fazendo com que ela precise desfilar até lá em meio ao mar de espectadores curiosos lhe encarando.
Agnes não se importa, até gosta da atenção, mas sabe que os olhares agora se devem ao fato de que a rainha da escola está caminhando sem um rei.
Andando devagar sobre seus saltos, ela consegue visualizar perfeitamente o momento em que seu rei solta uma gargalhada alta na altura do armário 156, então agarrando pela cintura a garota de suéter e all stars desbotados. Ela segura seu rosto entre as mãos e deixa que ele a beije, tomando seus lábios com fervor.
— Vocês dois precisam de um quarto?
Mia e Tom afastam os rostos, encarando a garota ao lado deles com dois sorrisos de lábios vermelhos e brilhantes. Madeleine Harper revira seus grandes olhos verdes, colocando no armário seus livros pesados ao mesmo tempo em que o sinal ecoa pela escola.
— Tenho álgebra agora. – Tom resmunga com uma careta.
Mia faz um beicinho.
— Sociologia. Nos vemos no almoço?
Ele sorri e assente, tirando uma mecha de cabelo do rosto da namorada antes de selar seus lábios rapidamente e sair pelo corredor.
— Se demorasse mais um pouco, ele teria sugado sua alma. – Madeleine murmura, batendo a porta de seu armário.
Mia ri alto, passando os braços pelos ombros da amiga enquanto caminham rumo a sala de aula.
— Não seja tão ciumenta, Mads. – brinca, ajeitando os curtos cabelos da outra. — Você sabe que é o meu primeiro amor.
— Sabia que pesquisas apontam que, em 90% dos casos, o primeiro amor não dura para sempre?
— Onde você leu isso?
— Eu faço as minhas próprias pesquisas, Baxter. – Madeleine pisca, cutucando a outra na altura das costelas.
A sala de sociologia está cheia, e Mia caminha para uma mesa próxima a professora enquanto Madeleine segue para o outro extremo, nas janelas. A Sra. Campbell cruza a porta com um sonoro "bom dia" e Mia retira seu livro da bolsa, sorrindo para a amiga sobre o ombro antes de se voltar para o quadro negro.
Madeleine Harper havia sido sua primeira amiga na Merryweather. Havia lhe passado um bilhetinho no primeiro dia, avisando que seu suéter estava do avesso, exibindo para todo mundo sua etiqueta da Target. Também havia sido ela a lhe dar a má notícia de que a equipe do jornal da escola, o MW News, estava cheia, somente lhe restando a opção de se inscrever para as aulas extracurriculares de culinária.
O modo com que ela parecia ter pena do patinho perdido que Mia era ao chegar à escola a fez se sentir segura, e dois dias depois, Mia lhe oferecera sua primeira produção da aula de culinária: uma fornada de cupcakes queimados por fora, crus por dentro e cobertos com rostinhos derretendo feitos de glacê.
Madeleine não os comeu, mas convidou Mia para um milk-shake depois da aula, na lanchonete dos pais. E assim, Mia e Mads haviam se tornado melhores amigas.
— Srta. Baxter?
Mia pisca rapidamente, retornando atordoada para a sala de aula. A Sra. Campbell e todos os alunos estão voltados em sua direção, fazendo suas bochechas queimarem com a atenção repentina.
— A Srta. ainda está conosco? – questiona a professora, fazendo Mia acenar rapidamente com a cabeça e se encolher na cadeira. Olhando de soslaio para o outro lado, consegue ver Madeleine rindo baixo. — Ótimo. Como estava dizendo, o trabalho sobre desigualdade social irá compor 40% da nota do semestre, e espero que coloquem o máximo de empenho possível nele. – os olhos da Sra. Campbell se estreitam, percorrendo toda a sala antes de prosseguir. — Quero que formem duplas e usem o resto da aula de hoje para discutir suas estratégias...
Antes que ela termine, guinchos de cadeiras sendo arrastadas e passos apressados de alunos se movimentando ecoam pela sala. Mia observa os colegas de classe dispararem por entre as mesas, trocando sorrisos animados com as duplas antes de se jogarem ao lado delas.
Pelo falatório que se instala, ela tem certeza de que estão falando sobre tudo, menos sobre o trabalho.
Mia faz menção de levantar, pronta para seguir até Madeleine e iniciar a discussão sobre o projeto. Sabe que os pais da outra participam de uma ação voluntária aos fins de semana, onde levam comida as áreas carentes da cidade, o que poderia ajudar e muito nas pesquisas que as duas fariam.
Antes que ela possa se colocar de pé, um guincho é ouvido logo ao seu lado, e olhando na direção de Madeleine, Mia pode ver sua boca ir ao chão.
Seus olhos se desviam.
Agnes Holbrook a encara com um sorriso vermelho sangue, as unhas pontudas batucando sobre o encosto da cadeira.
— Posso me sentar aqui? – pergunta, encarando Mia através dos olhos cor de mel.
Ela não espera a resposta, apenas se senta e joga a bolsa Balenciaga aos pés da carteira da outra.
— Que piada, não? – Agnes prossegue, apoiando o cotovelo sobre o tampo e a cabeça nas mãos. — É tão óbvio que ela claramente não queria dar aula hoje, então inventou esse trabalho idiota.
Mia encara Madeleine de lado. Enquanto faz dupla com Jenson Marsh, do clube de xadrez, seus olhos verdes se voltam para a amiga.
"Que porra é essa?" questiona silenciosamente, mas Mia ergue os ombros e nega com a cabeça, ainda assustada demais com a situação.
— Você é Mia Baxter, não? – sua atenção se volta para a ruiva, que ainda não deixou de sorrir em sua direção. — Relaxa, não sou nenhuma stalker. Faço parte da equipe do anuário.
Mia permanece em silêncio.
O que diabos Agnes Holbrook está fazendo ao seu lado?
— O que foi? O gato comeu sua língua?
— Eu... Eu... – ela sustenta o olhar da garota, tão desnorteada que mal consegue se lembrar de como colocar mais de duas palavras na mesma frase. — Sou Mia Baxter.
Agnes ri, batucando as longas unhas no queixo.
— Eu sei, bobinha. Acabei de dizer isso.
— Por que me escolheu para ser sua dupla?
— Bom... – Agnes se afasta, fazendo uma careta. — Você é a garota mais inteligente da classe.
Mia relaxa, estreitando os olhos para ela.
— Nem vem.
— Ah, qual é! Seu trabalho sobre feminismo no semestre passado foi impecável. – Agnes revira os olhos. — Saiu até no jornal da escola.
— Você já apareceu várias vezes no jornal da escola.
— Como rainha do baile ou por vencer um campeonato de líderes de torcida. Nada realmente importante.
— Conquistas são conquistas. Não existem mais ou menos importantes. – Mia arqueia a sobrancelha e Agnes sente vontade de vomitar. — E, se te faz sentir melhor, eu sempre quis ter a coordenação motora de uma líder de torcida.
Não, não me faz sentir melhor.
Agnes sabia que a sororidade que Mia tanto pregava era falsa. Ela não podia apoiar tanto assim as mulheres, não quando havia roubado o namorado de uma.
Como queria que Tom pudesse ver aquela pequena farsante da mesma maneira que ela.
— Eu posso te ensinar. – propôs, tentando soar o mais casual possível.
— Não acho que seja algo que eu consiga aprender. – Mia encolhe os ombros sob o olhar inquisidor da outra. — A coisa mais coordenada que consigo fazer é nadar.
— E isso já é ótimo, não? – Agnes arqueia a sobrancelha. — Afinal, conquistas são conquistas.
Mia finalmente ergue a cabeça e a encara, pela primeira vez sustentando seu olhar por mais de dois minutos.
Sempre entendeu o porquê de Agnes Holbrook ser dona do padrão de perfeição da Merryweather High.
Alta, popular e aparentemente capaz de fazer tudo.
Tem longos cabelos alaranjados que escorrem em ondas leves até o fim das costas, olhos castanhos tão grandes quanto seus lábios inchados e um nariz arrebitado revestido por uma camada de pele de porcelana, tão rosada nas bochechas que fazem com que Agnes não precise de blush.
Estreitando os olhos, Mia consegue ver os resquícios de suas sardas cobrindo seu nariz e se estendendo abaixo dos olhos, falhamente escondidas sob a maquiagem cara.
Descendo o olhar por sua calça de couro — apertada contra as longas e grossas pernas de líder de torcida — e sua camiseta de decote quadrado com um enorme logotipo da Balmain — aqueles peitos eram de verdade? Não era possível que uma garota de 17 anos tivesse peitos tão inchados e brilhantes como aqueles —, Mia sabia que não tinha absolutamente nada em comum com Agnes Holbrook.
Os mesmos pensamentos ainda atormentam sua mente enquanto suga o canudo de seu suco de laranja, os olhos perdidos sobre os rapazes do time de futebol enquanto Tom e Madeleine estavam na fila da cantina. Observando-os de longe, Mia se pôs a devanear novamente ao repousar os olhos sobre o namorado, que ria baixo de algo que Mads dissera.
Ele a amava, certo? Ele poderia ter amado alguém como Agnes e de repente ter criado o mesmo sentimento em relação a Mia, não?
A pequena Mia Baxter, de suéteres de lojas de departamento e com cheiro de fritura de seu trabalho na lanchonete.
— Um dólar pelos seus pensamentos?
Ela pisca, só então se dando conta de que o namorado e Madeleine já estão na mesa, jogando suas bandejas sobre o tampo. Tom toma a cadeira ao seu lado, batendo o ombro de leve contra o da namorada.
— Você está bem? – questiona, remexendo o almoço.
— Ela está com medo. – Madeleine responde, rindo do outro lado. — Agnes Holbrook a chamou para ser sua dupla em sociologia.
Toda a mesa fica em silêncio. As brincadeiras do time imediatamente cessam e seus olhares se voltam para Tom, que agora já não parece mais tão entretido em seu purê de batatas.
— Agnes Holbrook, huh? – Harrison Osterfield se pronuncia, lançando um olhar curioso para o melhor amigo.
— Sim. – Mia dá de ombros. — E ela na verdade é bem legal.
— Fala sério! – Madeleine arqueia a sobrancelha. — Vai me dizer que agora quer fazer amizade com Agnes Holbrook?
— E qual o problema?
Madeleine fecha a cara, indicando Tom com a cabeça. Mia encara o namorado, mas ele mantém os olhos baixos na bandeja.
— Não seja tão infantil, Mads. – ela revira os olhos, jogando os braços ao redor do pescoço do namorado. — Tudo bem?
Ele ergue o olhar, abrindo um sorriso fraco e selando seus lábios antes de comer uma garfada do purê.
— Só tome cuidado, sim? – murmura, fazendo-a arquear a sobrancelha.
— Por quê?
Silêncio.
Mia estica a mão e rouba um tomate cereja de sua salada, jogando-o inteiro na boca. O tomate explode quando seus dentes o pressionam, e ela o mastiga vagarosamente na esperança de Tom respondê-la.
— Você nunca me contou o porquê de vocês terem terminado. – ela instiga um pouco mais, mas Tom permanece impassível.
— Agnes e eu descobrimos algumas diferenças.
— Tipo...?
Ele finalmente a encara, o semblante sério contra seu olhar curioso.
— Por que isso é importante agora?
— Porque sou sua namorada e quero entender o que deu errado.
Tom dá uma olhada em volta e se aproxima um pouco mais de Mia, de modo que ela consiga sentir sua respiração contra o rosto.
— Ela era obcecada. Absurdamente louca. – sussurra, derrotado. — Então, por favor, tome cuidado. Agnes nunca faz amizades sem querer algo em troca.
— Você já deu algum motivo para ela ser "louca"? – ela faz aspas com os dedos e Tom se afasta, ofendido.
— O que?
Mia arqueia a sobrancelha e crispa os lábios, encarando-o fixamente. Tom bufa, irritado.
— Eu sabia. – ela diz, vendo-o passar as mãos entre os cabelos.
— Amor...
Mas a garota já está de pé, recolhendo suas coisas e lhe encarando com desdém.
— Tenho treino de natação. – murmura, beijando-lhe tão rapidamente a bochecha que ele mal tem tempo de segurá-la. — Nos vemos depois.
Então Tom havia traído Agnes. Por que raios aquilo doía tanto em Mia?
Próxima a saída do refeitório, ela olha sobre o ombro, encontrando Agnes na mesa das líderes de torcida. As duas se encaram e a morena sente seu coração apertar. Será que Agnes sabia com quem Tom havia lhe traído? Será que ela pensava que havia sido com Mia?
Não, não podia ser. Mia havia chego a Merryweather um mês depois do término, pelo o que Madeleine lhe contara.
Sem pensar direito, sua mão se ergue e ela acena devagar para Agnes, com um sorriso contido. A ruiva retribuí e a musculatura de Mia relaxa um pouco.
Está vendo, cérebro? Ela gosta de mim, então pare de criar paranoias.
A piscina fica do outro lado do colégio, e está vazia quando Mia a alcança. Ela segue até os vestiários e troca seu suéter e jeans pelo maiô do time de natação, sentindo o elastano vermelho e azul comprimir o seu corpo.
Seus pés descalços tocam o chão frio ao redor da piscina e Mia termina de ajeitar seus longos e escorridos cabelos castanhos dentro da touca, colocando então seu óculos de natação. Ela para diante da raia do meio, observando a água azul a sua frente.
E então pula.
Há um curto momento de êxtase, que começa nos segundos em que seu corpo está no ar e então se choca contra a água fria, afundando-a em meio a imensidão. Ela é puxada para baixo e então emerge para a superfície, cruzando a piscina num nado Crawl perfeito. Assim que atinge um lado, ela dá um novo impulso e nada mais uma vez.
Que ótimo seria se a treinadora Stout aparecesse naquele momento, e não quando Mia já estivesse cansada e apresentando pequenas falhas em seu desempenho.
Numa de suas braçadas, ela olha para a entrada da piscina e se perde na respiração, inalando um tanto de água por conta do susto.
Há uma figura parada diante da lateral, de braços cruzados e o olhar fixo nela.
Mia se debate, o corpo em colapso pelo pouco de água que entrou em seus pulmões. As narinas queimam enquanto ela tenta respirar, e seus braços se batem contra a água enquanto tenta recobrar o controle. Por fim, Mia permite que seu corpo afunde, e junta toda sua força para emergir novamente.
Uma lufada de ar se infiltra pelas suas vias aéreas e ela a abraça com fervor, deixando que preencha seus pulmões. Então, com longas braçadas, Mia se encaminha até a beirada, agarrando o piso de cerâmica da piscina e inalando enormes rajadas de ar, cessando o colapso em seu sistema.
Ela arranca os óculos e encara a entrada.
Não há ninguém lá.
Mas Mia reconhecera os cabelos cor de fogo.
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