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História Here no more - Liar


Escrita por: sheslostcontrol

Notas do Autor


Sextou com capítulo novo, e também muito aguardado pelas minhas comentaristas favoritas.
Espero que gostem, e ótima leitura ;))
Link música Sex Pistols https://open.spotify.com/track/2jTo5i9KsI89lwqTy7SX9x?si=IJPvh-m-Sa6bTEpQHqqXcA

Capítulo 24 - Liar


Fanfic / Fanfiction Here no more - Liar

Michelle Young pov

Sequer havia uma gota de coragem para me encarar no amplo espelho embaçado do banheiro, que como um juiz, me condenava cada vez que ousava direcionar meus olhos para seu reflexo. A imagem da mulher que havia perdido completamente o controle sob si mesma.

Tentava não pensar muito sobre o que estava acontecendo ao meu redor, capenga, seguindo passos retos escritos em linhas tortas. Era mais fácil fechar os olhos, e me permitir sentir o calor e prazer que o corpo de Vince e Duff me proporcionavam, o suficiente para que não morresse congelada em minha própria desgraça.

Desde quando a ficha caiu, e o arrependimento despencou sob minhas costas, havia pensando na possibilidade de estar amaldiçoada. “Sua beleza ainda acabará com você!” praguejou meu pai, após descobrir meu envolvimento com seu colega de negócios. Eu tinha treze anos.

Talvez ele estivesse certo, eu estava amaldiçoada, completamente zoada e possuída pelo desejo de me afundar numa espécie de areia movediça imaginária, que me dominava cada vez que dormia com Duff, mas sobretudo com Vince.

Pensar demais em minha condição, me deixava ainda mais deprimida e desapontada por validar a praga que meu pai, outro maldito homem, havia jogado em mim, ainda muito nova. Eu queria chorar. Chorar até que faltassem ar em meus pulmões, e algo nessa vida infeliz me surpreendesse positivamente.

Amarga.

Tirei a lingerie que estava vestindo, e liguei o chuveiro na temperatura mais fria possível, eu merecia aquilo. Lavei os cabelos e massageei meu corpo pesado, segurando ao máximo para não derrubar uma lágrima sequer, não era digna nem de chorar.

Senti falta de Zöe.

Ela provavelmente saberia o que fazer diante daquilo, ainda que seja difícil que a própria consiga visualizar, existe um coração bondoso e caloroso naquele peito moribundo.

Ouvi batidas na porta, seguidas pela voz arrastada de Vince, que acabara de secar a garrafa de vinho, sozinho, enquanto conversávamos sobre sua irresponsabilidade em contratar um personal trainer particular, e o dispensar cinco minutos depois que este toca a campainha.

—Chell, está demorando muito. —sua voz era fraca, por isso achei melhor continuar muda. —Preciso de você. —insistia manhoso, provavelmente três vezes mais alcoolizado do que antes.

Estava farta daquela situação. De que adianta terapia e antidepressivos quando já está morto por dentro? Esse era o caso de Vince, e bem... o meu também, por isso era tão fácil acreditar que éramos almas gêmeas, quando na verdade ambos precisavam de tratamento de choque e nunca mais manter contato.

Ele não estava limpo, e eu estava imunda. Imunda de mentira.

Depois de dez insistentes minutos, desliguei o chuveiro e enrolei meu corpo na toalha mais próxima, deixando a água dos meus cabelos pingarem por todo chão. Abri a porta sem suavizar minhas expressões, ou mesmo sorrir, assim como nós, mulheres, somos ensinadas desde pequenas, para agradar aqueles que nos machucam. Eu não aguentava mais sorrir.

—O que foi, Vince? —Disparei irritada, encarando suas pupilas dilatadas, recebendo seu hálito de vinho certeiro em meu rosto.

—Eu preciso de você, porra! —ele gritava, fazendo manha como um bebê que não tem os pedidos correspondidos.

—Eu estou aqui. —proferi, sem ao menos mover um músculo para ajudá-lo a se equilibrar sob seus pés.

—Você está uma delícia, molhadinha desse jeito. —seus olhos assustadores percorreram meu corpo, maliciosos. Dado a seu estado, ele havia usado alguma coisa durante minha ausência, eu poderia jurar.

Não respondi.

—Eu vou foder você. —ele rosnou, me fazendo segurar a gargalhada, enquanto tentava levantar-se do assoalho. Permaneci imóvel, observando o quão desgraçado Vince estava, mentindo sobretudo para si mesmo sobre sua reabilitação.

Ele se levantou, grudando seu corpo impregnado pelo cheiro de álcool no meu, que ainda estava envolto a toalha felpuda. Suas mãos tentavam arranca-la a qualquer custo, enquanto sua boca pressionava a pele de meu pescoço, me causando repulsa. O afastei, mas ele apenas sorriu, e voltou a me pressionar. Aquilo era um jogo para ele, o jogo em que em sua cabeça fodida, ele era o campeão, e eu, sua amante deprimida, ou melhor, a perdedora.

Ao sentir suas mãos trêmulas em contato com meus seios, o empurrei com todas as forças, vendo seu corpo deslizar pelo chão, desmaiado, como um pedaço velho de papel. Me certifiquei de que estava respirando, e com certa dificuldade, o deitei na cama, vestindo minhas roupas em seguida, e o abandonando novamente, certa de que não voltaria mais.

Sai da mansão de Vince, escondendo meu rosto sob os óculos escuros, e o escudo protetor que havia adquirido depois de tanto apanhar da vida. Ele era meu único companheiro no final das contas, o único que jamais me abandonaria por outra mulher ou mesmo por qualquer pico. Caminhei pelas ruas de Los Angeles, que já estavam escuras, pensando qual seria o próximo passo a se tomar. Pensei em assumir meus erros a Duff, e deixá-lo partir da minha vida, assim como Zoë, que de certa forma já estava milhas de distância de mim.

Não aguentava a pressão de estar sozinha novamente, ainda que fosse egoísta, sabia que não aguentaria por muito tempo. Caminhei até o bar mais próximo, me sentando á mesa, fazendo sinal para que o velhinho me servisse uma dose de algo forte e potente.

Uma. Duas. Três e Quatro doses.

Olhava ao redor do bar, frustrada com minhas escolhas, quase que me arrependendo em ter abandonado Neil naquele estado, mas logo o sentimento foi embora, sendo ocupado por lágrimas silenciosas.

—Esta tudo bem?—ouvi a voz masculina ao meu lado questionar, longe o suficiente para que imaginasse ser um delírio de minha imaginação.

—Você acha que a beleza de alguém, é uma maldição? —questionei, sem saber ao certo qual era o que estava fazendo.

—Hum, difícil dizer. Principalmente, se entendemos que a beleza é algo socialmente construído. —a voz respondeu, sendo possível notar seu sotaque inglês forte, me fazendo rir de imediato. Homens metidos a acadêmicos num bar, que decepção.

—Apenas responda, sim ou não. Não preciso saber de sua teoria sobre seja lá o que queira provar. —estava sem paciência para aquilo, só queria beber em paz e depois lidar com minha vida de merda.

—Depende. Acho que ninguém é amaldiçoado por ser bonito, apenas estão mais expostos a conhecer pessoas idiotas. Como agora por exemplo, você é uma bela moça num bar, e os homens não pararam de te olhar desde que entrou. — acabei por encarar as pessoas ali, confirmando sua observação. Rimos da situação, e logo o encarei, num movimento involuntário.

O homem era bonito, mas não do tipo bonito para a época, ele era absolutamente diferente dos homens que já havia me relacionado até ali. Seus cabelos eram escuros e meticulosamente penteados para trás, combinando com seus olhos grandes e redondos. Usava calça jeans e camisa social branca, com alguns botões abertos. Tinha um Rolex no pulso, e o meio sorriso tímido e inibido de um estudante de biologia.

Conversamos durante algumas horas sobre os assuntos mais irrelevantes que surgiam em minha cabeça, capazes de arrancar certas informações do moço, que não havia me paquerado em momento nenhum até ali. Seu nome era Alex, e ele era inglês. Se mudou para Los Angeles para estudar cinema, e depois que se formou, não foi mais embora. Atualmente está trabalhando em documentários sobre coisas que ninguém queria saber, mas ele queria e achava importante, por isso, não abandonava sua visão criativa.

Depois de mais algumas doses de whisky, decidi ser a hora de encarar minha realidade e voltar para casa. Alex me ofereceu uma carona, coisa que não estava em condições de aceitar, e logo estava na garupa de sua moto, sentindo o vento de Los Angeles arrepiar meus ossos.

Assim que vi a fachada do prédio que residia, senti meu estômago apertar, covarde, tentando recobrar minha postura ao recordar que havia mentido sobre passar a noite com Zoë. Formulei qualquer desculpa em minha mente, e logo me despedi de Alex, que apenas sorriu e acenou com as mãos.

Apertei os botões do elevador com os dedos trêmulos, ensaiando as palavras que iria dizer a Duff, assim que chegasse. Talvez ele estivesse tão chapado quanto eu, pensei, rezando para que estivesse. Quando as portas de aço de abriram, forcei minhas pernas a concretizarem um passo de cada vez, até que a porta de madeira e o tapetinho de Boas Vindas, estivessem a minha frente.

Mesmo do lado de fora, conseguia ouvir o toca discos berrar contra a porta, indicando que Duff estava em casa. Respirei fundo e forcei a chave contra a maçaneta, sentido meus dedos tremerem, e meu coração acelerar.

Assim que girei a maçaneta, a voz estridente de John Lydon ecoou, me acertando por completo na cabeça, tão alta, que era capaz de tirar minha consciência.

You're in suspension

You're a liar

Ele gritava, me dando o recado do que estaria por vir. Tirei os sapatos, os jogando em qualquer canto, e logo seguindo até a sala. Cada passo que me aproximava do cômodo, meu coração ameaçava falhar, parte pela voz intimidadora de Lydon, que me crucificava em sua música.

Cheguei a sala, paralisando ao ver um buquê de rosas completamente destruído jogado ao chão, como um papel velho. E bem em frente, a figura de Duff, com uma garrafa de vodka sob os pés, fumando seu cigarro com os olhos fechados.

Limpei a garganta, chamando sua atenção para mim, e logo seus olhos verdes, se transformaram em escuridão, caos, e o fim de tudo.



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