Chegando em casa me deparo com Letícia preocupada e tentando me ligar.
- Aonde você estava? E porque não atende as minhas ligações Ana? Eu estava preocupada com você.
- Estava na The Queen's Walk - durante alguns segundos pensei até em dizer a ela tudo o que havia acontecido, era isso o que eu faria normalmente. Ela é a Letícia, é a única que sabe tudo sobre mim e nunca me julgou ou negou ajuda quando precisei. Mas esta não era uma situação normal, nem um pouco! Letícia amava os garotos da banda acima de tudo, eu não tenho direito de destruir a imagem que ela tem de Harry Babaca Styles, de modo algum! Isso a deixaria mal. - Apenas esqueci o celular. Nada aconteceu querida, fique tranquila.
Mentir pra ela doía, mas não achei outra saída para não magoa-la.
- Você não deveria ir até lá Ana, isso pode te deixar mais tris...
Fechei a porta do quarto antes que ela completasse a frase.Eu me sentia mal. Não só por mentir para ela, mas por tratá-la tão mal. Minha consciência me acusava de tal maneira que só piorava as coisas. O problema é que encarar Letícia seria sinônimo de contar a verdade. E eu não estava preparada psicologicamente para isso. A única vontade que tinha naquele momento era que Sam estivesse aqui comigo e isso era impossivel de acontecer. Quando se perde uma pessoa que amamos tanto sentimos que todo o mundo está contra nós. É como se aquilo só pudesse acontecer com a gente, o que era totalmente mentira. Foi uma fatalidade o que aconteceu com meu menino. E agora a única coisa que me restava era as nossas lembranças. Coloco minha bolsa sobre a cama e me dirijo para o banheiro. Dispo-me e decido encher a banheira. Precisava relaxar porque amanhã seria um longo dia.
Espero até que esteja totalmente cheia e entro.Pela primeira vez nos últimos 2 dias eu consegui diminuir a tensão que pairava sobre mim.
Por mais que minimamente, estava menos sobrecarregada depois que saí do banho e me arrumei para deitar.
Deitada, pensamentos começam a invadir minha mente. Estendo meu braço para a direita e encontro meu celular, me lembro que não o pego desde que este pesadelo começou. Então decido olhar pelo menos as chamadas.
23 chamadas da Letícia. Sinto uma pontada no peito ao ver isso. Ela estava realmente preocupada. 3 chamadas de Luce, uma colega da faculdade e 5 chamadas da mamãe, o que me fez lembrar que não falo com ela a 3 dias, o que significa que ela não sabe da morte de Sam. E nem pode descobrir, Sam era como um filho para ela. Suspiro com esse pensamento. Eu me sentia em globo de mentiras. Mentia para Letícia;minha irmã de alma; mentia para mim mesma;fingindo que estava tudo bem. E agora queria mentir para minha própria mãe. Dizem que mentir era o melhor caminho, mas na maioria das vezes ela é seu pior aliado. O problema da mentira é que ela te seduz. É fácil e indolor. Porém é viciosa. E como todo o vicio, há uma hora que você não consegue parar.
Chega de mentiras Srta. Enock! O enterro é amanhã e mamãe tem o direito de saber disso. Mesmo estando um pouco tarde, ligo para ela.
Disco os números e espero para completar a ligação. No primeiro toque meu coração acelera, no segundo sinto meus olhos marejarem e no terceiro...
- Oi meu amor! -Ouço a voz dela. Doce e suave, mas empolgada. Meu coração pulsa parecendo que iria explodir. - Porque não atendeu minhas ligações? Como vão as coisas? E a Letícia? E Sam? Ele não me ligou esses dias. - Ela disse a ultima parte um pouco pensativa e até mesmo triste. E aquilo acabou comigo. - Oh meu Deus, nem estou te deixando falar né querida?! - Apertei meus olhos tentando afastar as lágrimas, mas infelizmente era tarde demais. Quem eu estava querendo enganar? Eu não estava nada bem e não sei quando ou se ficaria. - Filha você está aí?- Eu não conseguia responder. Tudo estava entalado e eu me encontrava em estado desesperador. Eu abri a boca várias vezes tentando falar. Mas tudo que saiu foi um alto soluço fazendo minha mãe se assustar. - Hey meu amor, o houve? O que está acontecendo?
- Mãe... -Sussurro em um tom alto suficiente para só ela ouvir.
- O que foi Ana? Você tá me assustando!
- Eu não sei como te contar... Por favor, mãe! Eu não sei o que fazer. Eu estou desesperada!
- Ana querida, eu não vou poder te ajudar se você não me contar o que aconteceu. -Ela dizia calma, mas conseguia sentir a preocupação em sua voz. Tomei fôlego e falei:
- O Sam mamãe. Ele sofreu um acidente!- Eu solucei alto e forte dessa vez.Tinha certeza que Letícia tinha ouvido. Não a deixei falar e continuei - Ele tava atravessando a rua ao meu encontro e veio um caminhão e o atropelou. - A cada palavra que eu falava era uma pontada em meu coração. Cenas do acidente vinham em minha mente. Era uma sensação horrível e inexplicável.- Sam morreu em meus braços e eu não pude fazer nada mamãe. Foi tudo culpa minha! Se ele não tivesse vindo ao meu encontro ele ainda estaria aqui. - Eu chorava alto e desesperada. Meu coração estava em pedaços.
-Oh meu Deus!- Sinto minha mãe sussurrar e começar a chorar. Ouvi-la chorando só piorou as coisas ainda mais.
-ME DESCULPA MAMÃE! ME DESCULPA. EU TENTEI O SALVAR. GRITEI COM ELE, MAS NÃO ME ESCUTOU! EU JURO MAMÃE.- Só me dei conta de que estava gritando quando Letícia entrou no quarto correndo.
-Ana o que foi? - Disse minha amiga parada a minha frente.
- Desculpa mamãe. Me desculpa.- Mamãe controlou seu choro e disse:
- Escuta Ana: não foi sua culpa okay? Não foi a sua culpa. - Eu a ignorava ainda pedindo desculpas e chorando compulsivamente. Olho para Letícia e digo:
- Você me desculpa babe? Me desculpa, por favor. - Ela rompeu com o espaço que existia entre a gente e tomou o celular das minhas mãos. Trocou algumas palavras com mamãe, desligou o celular e me abraçou.
- Shiu, meu amor! Vai ficar tudo bem. Não se preocupe.
E pela primeira vez em dois dias eu me deixei chorar no colo da minha melhor amiga. Estava cansada demais para lutar contra os meus sentimentos.
Ela me guiou até a cama e se sentou colocando a minha cabeça sobre as suas pernas.
- Você não precisa ser forte o tempo todo meu amor. Não se preocupe, tudo vai ficar bem.
- Eu o amo Letícia. Tanto que dói.
-Eu sei querida. Eu sei.
Ela deu um beijo em minha testa e continuou com os cafunés. Vencida pelo cansaço eu adormeci.
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