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História Heroína - Como se dança o último tango de Paris


Escrita por: erohime

Notas do Autor


Aproveitando para atualizar esse nenê também! Espero que estejam gostando, esse é um dos meus preferidos ♥

Capítulo 9 - Como se dança o último tango de Paris


Juntos nós podemos levar isso ao fim da linha

Seu amor é como uma sombra sobre mim o tempo todo

Eu não sei o que fazer e estou sempre no escuro

Estamos vivendo em um barril de pólvora e soltando faíscas

Eu realmente preciso de você hoje à noite

O para sempre vai começar essa noite

Era uma vez eu estava me apaixonando, mas agora eu estou desmoronando

— Total Eclipse of a Heart, Bonnie Tyler

 

—Capítulo IX–

Como se dança o último tango de Paris

 

2014

 

— Acorda, onee!

Hinata estava pouco ciente do peso mínimo pulando sobre si, fazendo toda a cama chacoalhar. Soltou alguns grunhidos, apertando os olhos e tentando se alongar preguiçosamente da maneira que podia – era difícil se mover com dois corpos atrelados aos seus.

— Me deixa dormir, Hana. – gemeu, levando o braço até o rosto, cobrindo os olhos da claridade que entrava pelas cortinas da varanda. Conforme despertava, ficava mais fácil identificar quais eram seus membros, embora ainda fosse complicado se mexer. A garota mirrada em cima dela continuou a pular em sua barriga, rindo sem pudor. Hinata não aguentou, rindo também.

— O papai já acordou, e ele vai ficar furioso se descobrir que o Naruto não dormiu no quarto de hóspedes. – Hinata abriu os olhos, finalmente, encarando o que parecia ser seu reflexo no espelho, só que mais jovem e mais atrevido. Ainda assim, o cabelo de Hanabi alongava a cada dia, tornando-a mais parecida consigo do que nunca.

A garota virou o rosto minimamente, e, mesmo com os primeiros raios solares incidindo diretamente sobre seus olhos, ela conseguiu sorrir com a visão. Deitado ao seu lado, Naruto ainda dormia – o sono pesado parecia ser apenas uma das suas qualidades –. O cabelo loiro contrastava contra a fronha branca do travesseiro, espalhado por todos os lados, grande demais. Hinata gostava da maneira que os fios cresciam para todos os lados, e era mais fácil acariciá-los quando seus dedos afundavam e embrenhavam-se neles. O rosto de traços rudes marcavam uma beleza harmoniosa, e a puberdade o deixava mais velho. Todavia, enquanto dormia, seu rosto relaxava quase como uma criança, a boca entreaberta e a testa sem vincos. Contra a luz, sua pele brilhava, amorenada, ligeiramente mais clara que o resto do corpo, ainda coberto pelo edredom. Não podia ver daquele ângulo, mas sabia que seu peito estava desnudo, e sua mente conseguia reproduzir perfeitamente todas as linhas de músculos em ascendência. Lembrou-se de ter ficado agarrado àquele peitoral durante toda a madrugada, e seu rosto começou a queimar vergonhosamente.

— Onee, por que você está ficando vermelha? – Hanabi perguntou, parecendo autenticamente curiosa, mas Hinata nunca se deixaria enganar pela malandragem daqueles olhos.

— Já acordei, Hana, agora sai! – rindo, a mais velha usou o braço livre para tirar a irmã de cima de si – Logo eu levanto. Distrai o papai, o Naruto sai pelo banheiro. – não estava realmente preocupada, mas não gostaria de ouvir um sermão indecente pela manhã.

— Vai ficar me devendo essa. – a mais nova cantarolou, escapando de uma almofada enquanto fazia careta. Hinata riu baixo, enquanto ouvia a porta bater.

O ambiente voltou a ser silencioso. Hinata estava com uma das pernas adormecida, mas não queria tirá-la de baixo da panturrilha de Naruto, e acordá-lo abruptamente. Em vez disso, virou o próprio tronco, apoiando contra o braço dele que lhe servia de travesseiro, e ficou admirando-o dormir. No fundo, sabia que os pais tinham conhecimento das escapadas do quarto de hóspedes, e faziam vista grossa – afinal, com quase um ano de namoro, parecia impossível mantê-los separados por muito tempo. No começo, as proibições eram realmente severas, mas não podiam fazer nada contra uma varanda estrategicamente construída e uma determinação teimosa – Hinata sabia ser verdadeiramente convincente quando queria –. Com o tempo, apenas aceitaram a presença do Uzumaki, e o quarto de hóspedes passou a ter mudas de roupas suas e uma escova de dente utilizada apenas pelo garoto. Por mais que imaginassem que eles dormiam juntos todas as noites, nem sempre era no sentido literal – mas Hinata jamais admitira que gostava quando era –. Na maior parte das noites, eles ficavam na sacada, perto da mesa de estudos e do telescópio, conversando, olhando o céu ou simplesmente aproveitando a presença um do outro.

Nos últimos onze meses, Hinata experimentou uma felicidade que poucas pessoas sequer sonhariam existir. Não era como se ela fosse uma garota que dependia exclusivamente daquele tipo de sentimento para se sentir bem consigo mesma e completa, mas estar com Naruto era transbordar. Quando ele olhava em seus olhos, não existiam palavras suficientes para descrever aquela sensação. Ela gostaria de se afogar para sempre no azul das íris que liam sua alma. Encabulava-se com seus próprios pensamentos tão clichês, porém era impossível impedir que seu coração começasse a bater desenfreadamente a cada maldita vez que ele segurava sua mão, sorrindo como se nada mais importasse.

Hinata estava feliz quando contou a Sakura que conseguiu mudar de sala no primeiro ano do ensino médio. Ainda que tivesse amigos de longa data na segunda turma, não se sentia mais à vontade, e todas as matérias avançadas disponibilizavam suas vagas para a sala um. Dessa forma, no começo do ano letivo, obteve a aprovação da diretoria para se transferir. A Haruno comemorou mais que a própria garota, empolgada que finalmente estudassem juntas. Para celebrar, a rosada propôs que Hinata saísse com ela e seus outros amigos da próxima vez, e a Hyuuga sabia que a amiga não aceitava respostas negativas. Foi naquela noite, em um dos pubs que movimentavam a economia da cidade nos fins de semana, que Hinata conheceu Naruto Uzumaki. Alto, louro e monumental, Sakura os apresentou imediatamente, mandando Naruto fazer companhia para a morena. Começaram a conversar instantaneamente, e, como em um final perfeito, ele a beijou quando ninguém estava olhando. Tinham saído para os fundos do estabelecimento, e Hinata estava distraída quando sentiu o abraço em sua cintura. Não seria ela a resistir, e, por Deus, foi naquele momento que ela soube que poderia passar a vida toda o beijando.

Parecia inevitável que começassem a namorar semanas depois do primeiro encontro. Hinata estava convencida de que não encontraria ninguém como Naruto, nem se o criasse. Eram diferentes, de maneiras gritantes, mas ela nunca ficara três horas no telefone com alguém antes. Os garotos a entediavam rapidamente – motivo este que fez suas duas tentativas de relacionamento falharem miseravelmente –, mas Naruto sempre aparecia com algo novo para impressioná-la. Sua lista de talentos não eram maior que a lista de qualidades que ele exibia, e, durante o dia, ele explicava sobre história e artes, mostrando em um livro grosso e sofisticado as mais variadas pinturas e obras famosas. Durante a noite, Hinata mostrava a ele estrelas, constelações, planetas, explicava sobre o universo e seus segredos. Tal qual yin e yang, se apaixonar foi apenas uma das consequências.

Como se não bastasse Naruto, Hinata também era apaixonada por toda sua família. Ele mudara-se recentemente para o novo condomínio da cidade, mas passavam horas na casa de seus avós, conversando sobre os mais variados assuntos com uma professora universitária aposentada e um empresário de sucesso perigosamente viciado em baralho – como não amar os Uzumaki? Conhecera Kushina e Minato também, embora os visse pouco, e, todas as vezes, Naruto perdia a namorada para a própria mãe. Hinata admirava a mulher como nunca idolatrara ninguém antes, e, em tão pouco tempo, se tornara alguém em quem gostaria de se inspirar.

No auge de seus quinze anos, Hinata se assustava com a intensidade de envolvimentos que circulavam sua vida, no entanto, se tivesse de escolher, não faria nada, absolutamente nada, diferente.

Estava perdida em um pensamento sobre não querer que coisa alguma mudasse quando se concentrou em dois topázios efervescentes a encarando. Sorriu, aproximando-se, e sentiu o braço se fechar contra seus ombros, mantendo-a perto. Com o calor de seus corpos unidos, não demorou para que o ambiente se tornasse abafado embaixo do cobertor. Naruto abriu o mais brilhante dos sorrisos, e Hinata não se incomodou com o sol cada vez mais forte – ela tinha sua própria fonte de luz.

— Eu te beijaria se não tivesse acabado de acordar. – ele resmungou com a voz rouca. Hinata sorriu, de um jeito que apertava seus olhos, e se aproximou devagar, com as duas mãos segurando o rosto carinhosamente. Colou seus lábios em um beijo rápido, se afastando a tempo de ouvi-lo rir.

— Eu não me importo tanto com seu mau hálito. – brincou, com uma tentativa de dar de ombros.

Naruto a fitou, tão profundamente que Hinata ficou envergonhada. Ele a admirava como um colecionador olhando para sua obra preferida – aquela era a analogia que mais combinava com ele –. Depois de algum tempo, a garota acostumara-se a receber aqueles olhares intensos, despudorados. Naruto não tinha problemas em olhar diretamente nos olhos das pessoas, de maneira que podia ver seu âmago, tudo que existia dentro delas. Era puro, e assustador. Mas Hinata gostava.

— Eu mal posso esperar pelo dia em que vou acordar todos os dias assim, te olhando. – ele comentou, franco, e Hinata corou furiosamente, baixando os olhos para suas mãos, que agora se apoiavam contra o trapézio. Mexeu suas pernas, enlaçando-as mais ainda contra as do loiro. Se ela sentia, então Naruto expressava em voz alta.

— Nós já fazemos isso a algum tempo. – brincou, sem saber o que responder, e sentiu ele rir, balançando os ombros.

— Bom, então eu espero pelo dia em que poderei fazer isso sem ter que fugir pela varanda de manhã. – Hinata não segurou a risada, fechando os olhos momentaneamente. Tornou a abri-los, depositando um beijo estalado em seu maxilar. Era injusta a maneira que Naruto parecia monstruosamente mais alto que ela, até mesmo deitado.

— Não é pela varanda, é pelo banheiro. – finalizou o diálogo se desfazendo do abraço, com pesar, e afastando o edredom para se por de pé.

Alongou-se demoradamente, estendendo todos os membros e ouvindo alguns estralarem. Olhou para o chão, procurando pelo robe, que desaparecera em algum momento entre a varanda e a cama de casal recentemente substituída. Abaixou-se, encontrando a pela próxima à cadeira da escrivaninha. Virou-se quando ouviu um assoviar, e sentiu todo o corpo queimar quando encontrou Naruto a encarando libidinosamente. O garoto já estava sentado, recostado confortavelmente contra os travesseiros, parecendo indignamente deslocado entre os lençóis cor de nude – ele era bonito demais para contrastar em uma cena tão simples.

Hinata vestiu o robe rapidamente, escondendo o corpo vestido com um pijama velho e curto demais. Estava começando a ter vergonha das gorduras que se localizavam acima de seu quadril, e odiava a maneira que todos seus decotes ficavam chamativos demais, mas Naruto sempre encontrava uma maneira de deixá-la envergonhada e confortável – geralmente com um comentário malicioso.

— Eu gosto mais sem esse pedaço de pano. – dito e feito. A morena revirou os olhos, penteando o cabelo despreocupadamente com os dedos, comentando mentalmente que ele estava ficando grande demais para que seu braço o alcançasse até o final. Os fios lisos desembaraçaram, e ela os prendeu embaixo com uma fita, enquanto caminhava para o outro lado da cama, debruçando-se sobre o pervertido que a encarava.

— Você é um descarado. – o beijou novamente, sabendo que nunca se cansaria. Se afastou antes que acabassem como todas as outras vezes, e Naruto soltou um muxoxo de reclamação – Levanta logo que eu estou fome. – o empurrou, não conseguindo que se movesse um centímetro. Rindo, se deixou abraçar pela cintura enquanto ele ria em seu pescoço.

— Nos encontramos na cozinha, então.

Se levantou, deixando o edredom cair, e Hinata se sentou, fitando todos os detalhes de suas costas largas e parcialmente definidas – com o início das férias, uma de suas atividades preferidas era gastar algumas horas na academia do condomínio –. A Hyuuga mordeu o lábio inferior, sorrindo sozinha, e acenando uma última vez quando o loiro entrou pela sua porta do banheiro e fechou. Ficou chateada quando seus pais se recusaram a construir uma suíte em seu quarto, substituindo por uma entrada a mais para o banheiro do segundo andar, mas agora considerava uma alternativa muito mais conveniente.

Cantarolando uma melodia que ouvira no carro, dobrou os cobertores e ajeitou os lençóis, esticando-os antes de colocar as almofadas por cima. Recolheu suas roupas jogadas e abriu a janela da sacada, sentindo o vento matinal bagunçar sua franja. Pegou os cadernos e o estojo, fechando o telescópio, ao passo que analisava as anotações que fizera na madrugada anterior – a maioria delas eram rabiscos e pensamentos sonolentos –. Era difícil se concentrar com Naruto em seu encalço fazendo piadas e distribuindo beijos a torto e a direita, mas Hinata realmente parecia uma idiota apaixonada quando sorria para suas mãos.

Ouviu a porta bater novamente, e afastou seus próprios devaneios, caminhando para o banheiro. A luz estava acesa, e as toalhas, penduradas. Escovou os dentes e lavou o rosto com água gelada, secando-o meticulosamente de frente para o espelho que ocupava toda a extensão da bancada. Estudou seu reflexo com atenção, observando os olhos brilhantes que a encaravam de volta. Se achava muito abaixo de uma estatura aceitável e, de repente, seus peitos começaram a crescer, mas não era como se ela não gostasse da própria aparência. Demorou muitos anos para deixar o cabelo crescer da maneira que queria, e sua pele finalmente não tinha manchas – de qualquer maneira, nada daquilo importava mesmo. Naruto fazia com que ela se sentisse a garota mais linda do mundo, e estava tudo bem.

Saiu do banheiro direito para o corredor, vendo a porta do quarto de Hanabi aberta, ao contrário do quarto de hóspedes. O quarto de seus pais, no fim do corredor, era o maior cômodo da casa, e estava sempre fechado, mas Hinata sabia que ambos estavam acordados – como um bom casal de adultos com alma de idosos, levantavam antes do sol nascer –. Desceu as escadas, ouvindo o barulho vindo da cozinha, e não evitou um sorriso. Antes de entrar já pode ver a silhueta da irmã, sentada na bancada, e da mãe, com uma vasilha nos braços. Entrou no cômodo, abraçando a garota menor pelos ombros, que reclamou de ser puxada para trás.

— Bom dia, família. – cantarolou, cumprimentando o pai por cima do ombro, que lia o jornal na ponta da bancada. Hinata não sabia porque tinham uma sala de jantar elegantemente equipada se todas as refeições eram feitas na cozinha, mas gostava da proximidade que isso permitia.

— Bom dia, meu amor. – sua mãe respondeu, batendo uma massa amarelada.

De maneira geral, Hinata gostava muito da sua vida. Gostava da simplicidade e do bom humor que encontrava todos os dias ao acordar, da cumplicidade, do apoio e da bolha de afabilidade que parecia nunca estourar. Seus pais sustentavam auspiciosos trinta anos de casamento como ainda fossem namorados – embora as comuns cenas de troca de carinho pelos cantos da casa fossem, de fato, vergonhosas –. Seu pai ganhava muito bem como professor universitário aposentado e agora diretor em Komu, e sua mãe era muito boa elaborando croquis para coleções de moda internacionais, contudo, apesar disso, ambos eram muito humildes, e faziam questão de realizar as tarefas mais cotidianas, como cozinhar e limpar o jardim. Eram as pessoas que mais admirava na vida, e, desde que nascera, Hinata conta com seu apoio em todas as decisões que tomava – cultivavam uma relação aberta e franca, e, mesmo quando criança, seu senso de responsabilidade e maturidade se desenvolveram de um modo que se orgulhava muito.

— Está fazendo o quê? – perguntou para a mãe, o estômago roncando. Soltou-se de Hanabi para sentar ao lado do pai, na banqueta, mordiscando um morango que pegou da fruteira.

— Panquecas. – anunciou, satisfeita, e Hinata soltou um gemido realizado. A mulher se virou para rir da reação da primogênita, e a garota não deixou de admirar a beleza madura que refletia em seu cabelo impecavelmente arrumado e nos ornamentos caros e discretos. Suas íris peroladas refletiam experiência, mas também uma personalidade amável que Hinata jamais poderia imitar. O defeito pigmentógeno do glóbulo ocular era uma característica passada geneticamente por muitas gerações nos Hyuuga, e se estendido entre outros clãs, quando o casamento arranjado ainda era uma forma efetiva de estreitar laços e fazer aliados. Dessa forma, não foi surpresa quando seus avós apresentaram os filhos, em busca de fortalecer a ligação sanguínea entre ramificações da mesma família. Poderia parecer estranho, mas no Japão de quarenta anos atrás ainda era uma prática comum. De qualquer jeito, Hinata não conhecia um casal com mais química que seus pais, uma das razões que os mantinha juntos por três décadas.

— Hana, saia da bancada, por favor. Você vai cair. – seu pai aconselhou, com a voz de trovão. Apesar de parecer fisicamente severo, poucos conheciam a verdadeira personalidade tranquila de Hiashi Hyuuga. O cabelo, tão grande quanto o de Hinata, estava sofisticadamente arrumado atrás das costas, sobre o paletó. As rugas da idade valorizavam seus traços retilíneos, feições que Hinata se envaidecia de ter herdado. Apesar de pacífico, Hiashi era justo, e foi rígido na criação das duas únicas filhas.

Hanabi fez uma careta, mas escorregou do balcão, indo para o lado da mãe ajudar com o recheio do preparado. Ao mesmo tempo, Naruto entrou pela cozinha, sorridente. Hinata iluminou-se, indo até ele. Estava devidamente vestido com uma bermuda escura e uma camiseta lisa. O cabelo sofreu tentativas fracassadas de ser penteado, e algumas mechas caíam sobre os olhos azulados.

— Bom dia, senhor Hiashi. Bom dia, dona Hiromi, Hana. – saudou, abraçando Hinata pela cintura quando ela se enroscou em seu tronco.

— Bom dia, filho. – o patriarca retribuiu, fechando o jornal e dobrando à sua frente – Dormiu bem? – não parecia haver implicatividades em suas sobrancelhas franzidas, e Naruto assentiu, tranquilo.

— Muito bem. – sentou-se no banco ao lado da garota mais velha, ainda abraçando-a – Quer ajuda, dona Hiromi?

— Deixe disso, querido. Pode parar com esse negócio de “dona”, já te disse. – Hiromi replicou, bem-humorada. O clima na cozinha estava leve.

Continuaram a conversar trivialidades durante o desjejum, enquanto a mulher terminava de cozinhar. Espremeu algumas laranjas, colocando todos os alimentos pela bancada, um tanto estreita, e todos se sentaram ao seu redor, com pratos. Foram poucas as vezes que usaram o salão de jantar, usualmente para receber amigos importantes da família ou eventos de mídia. Também a usaram na noite em que Hinata apresentou Naruto para os pais – aquele foi um dia engraçado.

As panquecas ficaram prontas e Hiromi as distribuiu pelos pratos, sentando-se também para comer. Hinata pegou a calda antes que a irmã o tomasse, rindo, e despejou sobre sua pequena pilha. Em seguida, salpicou frutas e cortou uma parte generosa, espetando com o garfo e levando para Naruto, que abriu exageradamente a boca, rindo quando um morango escorregou. O casal alegrou-se, alheio ao restante das pessoas no cômodo.

— Vocês são nojentos! – Hanabi reclamou, simulando vomitar, e Hinata lhe deu a língua, enquanto seus pais riam também.

— Deixe disso, Hana. – Hiromi defendeu, sorridente – Vocês me lembram eu e seu pai quando namorávamos, querida. – se esticou para o lado, beijando o rosto de Hiashi, que desfrutava, satisfeito.

— Você acha, mãe? – a garota rebateu, animada por ter seu relacionamento comparado com o dos pais.

— Com certeza. – seu pai quem respondeu – Acho que vou ter que me acostumar com a ideia do casamento, já. – resmungou, arrancando mais risadas dos demais.

Hinata gargalhou gostosamente, mas, quando olhou para o lado, observou atentamente o rosto do namorado. Ninguém perceberia – se não o conhecessem como ela conhecia. Seus olhos estavam vidrados, desconfortáveis, e seu sorriso era mecânico, quase incômodo. Nada comentou no momento, continuando a comer, mas anotou mentalmente aquela observação.

Finalizaram a refeição e cada um seguiu para suas próprias obrigações. Hiromi e Hiashi seguiram, juntos, para Komu, e Hanabi saiu para a casa de uma amiga. Hinata e Naruto permaneceram com a casa para eles, e, depois de limparem a louça, sentaram-se no sofá da sala de estar, com o mesmo livro de pinturas do Uzumaki em seu colo, folheando-o uma nova vez. O garoto abraçava-a pelos ombros, acariciando seu braço despreocupadamente.

— Eu amo essa. – o loiro comentou quando passaram por uma musa. Hinata assentiu, porque também era uma das suas preferidas. Naruto se virou, a fitando por cima, e percebeu sua distração – O que foi, Hina? Você está quieta, amor. – acariciou perto de seu pescoço, a fazendo se encolher e rir.

Hinata se virou, fitando os olhos astutos de Naruto. Em momentos como aquele, não tinha medo de sustentar seu olhar intenso. Prezava a sinceridade, acima de tudo, e o diálogo. Não queria estar em um relacionamento que não tivesse franqueza e panos limpos.

— Naruto, você ficou incomodado com o que meu pai disse mais cedo? Sobre o casamento? – perguntou, sem rodeios, vendo o rosto do garoto converter-se em uma careta surpresa e embaraçada. Ele não respondeu direto, e, por alguns minutos, tudo que se ouvia era o barulho do ar-condicionado.

— Não é isso. – respondeu, por fim, mas não olhava mais nos olhos da Hyuuga. Desviou para o chão, mantendo a mão subindo e descendo levemente. Hinata suspirou.

— Olha aqui, olha para mim. – pediu, e o loiro, a contragosto, voltou-se para seu rosto – Não leve a sério. – falou, honesta – Foi um comentário à toa, ele não quis realmente dizer aquilo. Não precisa ficar preocupado com isso, tudo bem? Nem todo relacionamento precisa terminar em casamento. – ela estava sendo cem por cento espontânea, e, mesmo que seu coração doesse um pouco com aquelas palavras, era uma realidade com a qual podia conviver. Não obrigaria uma pessoa a estar em um relacionamento com ela sem que quisesse.

— Não! – rápido demais, Naruto a segurou com as duas mãos, pelos ombros, e Hinata se assustou com a abruptude. Os traços, outrora incomodados, agora pareciam em agonia – Não, Hina, me escuta. Eu amo você. Tudo bem? Eu amo você. – era claro. Claro como água cristalina, o mar das suas íris – Se eu penso no futuro, é com você que eu quero estar. Eu amo tanto você... – escorreu um de seus dedos pelo rosto de Hinata, que, maravilhada, fechou os olhos, aproveitando o toque suave em sua pele – Eu amo tanto você, que as vezes eu me assusto. Eu me assustei. Foi só isso. – terminou em um sussurro.

Hinata parou por alguns segundos, e, com um novo suspiro, abraçou Naruto, trazendo sua cabeça para junto de seu peito. Beijou seu pescoço, de raspão, acariciando. Ele a apertou com força, e o livro de pinturas caiu no tapete felpudo. Ficaram abraçados pelo que pareceu muito tempo, até que suas pernas começassem a adormecer – mesmo assim, não se separaram.

— Eu entendo o que você quer dizer. – Hinata confessou, em um murmúrio – Eu entendo. Por isso, eu quero que você converse comigo. Se tiver algo errado, pode falar. Ok? – afastou o rosto, mantendo-o próximo ao de Naruto, que assentiu, firme. Fechou os olhos novamente, beijando-o com impetuosidade.

Depois daquele episódio, decidiram sair de casa para dar uma volta. Hinata trocou o pijama por um vestido de voal amarelo, com uma tira na cintura, e calçou um oxford antigo do qual gostava bastante. Penteou o cabelo, deixando-o solto. De volta para Naruto, deixou que ele entrelaçasse seus dedos com o braço atrelado a seu ombro. Konoha não tinha muitos atrativos, e acabaram caminhando até a praça, no centro da cidade, descendo a avenida que dava acesso ao bairro na parte sofisticada da mesma.

Foram alguns minutos de caminhada, onde conversaram banalidades, esquecendo definitivamente o acontecimento anterior. Não eram nem onze horas, mas o sol já estava ardente, brilhando contra seus olhos e tornando o clima de dezembro muito mais quente.

— Eu gosto desse vestido. – Naruto comentou, em determinado momento, e Hinata sorriu, agradecendo – Quer dizer, você fica bem com qualquer roupa, mas eu gosto dos seus vestidos.

— Obrigada. – ficava radiante quando Naruto a elogiava – Sakura disse que ficaria melhor se eu usasse mais calças e cores escuras. Ela acha que combina com meu tom de pele. – grunhiu, mordendo o lado interno da bochecha.

— Nem pensar. – Naruto balançou a cabeça negativamente, parecendo pessoalmente ofendido – Você tem que usar o que te deixa bem. Não deixe ninguém te mandar fazer isso ou aquilo, nem que você goste muito da pessoa, ou queira agradar. – a morena sentiu o peito aquecer de orgulho, abraçando o namorado com mais força. Ele beijou o alto de sua cabeça.

— Nem mesmo você? – brincou, virando-se para seu rosto. O loiro fez uma careta garbosa.

— Nem mesmo eu. – confirmou – Mas se você fizer questão da minha opinião, eu acho que você fica muito melhor sem roupa nenhuma. – sorriu maliciosamente, e Hinata soltou uma exclamação, empurrando-o com rubor.

— Você é impossível. – Hinata resmungou, vermelha, e Naruto a agarrou pelos ombros, afundando a cabeça em seu pescoço.

— Brincadeiras a parte, vamos dormir no meu apartamento hoje. – parecia sério em sua proposta. Hinata ponderou por um momento, mas assentiu logo em seguida.

— Claro, por que não. Vou avisar meus pais.

Hinata estivera muito, de fato, no novo apartamento do Uzumaki – a ideia de morar sozinha a algumas quadras de distância da casa dos avós não fazia muito sentido para ela, mas gostou da iniciativa mesmo assim –. Os amigos também passavam grande parte do tempo lá, contudo, foram poucas as vezes que conseguia permissão para dormir no local. Mesmo assim, agradecia por ter um relacionamento aberto e desimpedido com os pais, que, em vez de proibir em absoluto, apenas apresentavam seu ponto de vista, que intencionava, em suma, proteger a filha.

O dia passou como outro qualquer. Almoçaram em um dos poucos restaurantes da cidade, pequeno, porém confortável, que servia o prato preferido de Naruto, e depois enrolaram para comprar uma sobremesa que agradasse a ambos. Estavam apenas matando o tempo, e aproveitando os momentos que passavam juntos. Era pouco mais de duas horas quando resolveram ir para a casa de Uzumaki, e resolver fazer algo. Hinata ligou para a mãe, que não estava na cidade, e ela concordou que a garota dormisse no apartamento, desde que voltasse pela manhã.

Não havia nada de novo. Estavam de férias, mas não era como se também não se vissem a todo momento na sala de aula – ao contrário do que achavam, a convivência contínua não fizera com que enjoassem um do outro –. Andaram bastante, mesmo que Naruto tivesse uma licença provisória para dirigir, e gostavam de falar sobre a cidade em que cresceram, como algumas coisas estavam mudando, e como outras pareciam jamais se transformar.

O novo condomínio construído do lado oeste de Konoha era sofisticado. Garagem subterrânea, saguão principal, restaurante nos fundos e dois elevadores funcionais, que também saíam do subsolo. Mesmo com apenas quinze andares, os apartamentos eram demasiados grandes e confortáveis. A ideia de se mudar, curiosamente, não partiu de Naruto, e sim de seus pais – em uma das últimas visitas à cidade, seu pai informou a eles que faria a decoração interna do prédio, e comentou que seria uma experiência interessante se o filho vivenciasse as responsabilidades de morar sozinho. Desde então, Naruto cuida de todos os afazeres que uma residência requer, como pagar as contas, cuidar da limpeza e, claro, comprar a mobília.

O casal subiu pelas escadas, apostando corrida, e chegaram no décimo andar esbaforidos. Naruto, rindo por ter ganho, puxou o molho de chaves e abriu a porta, deixando que Hinata entrasse primeiro. A sala estava iluminada pelas cortinas abertas, e, todas as vezes que ia para lá, se surpreendia com a vista privilegiada que o Uzumaki conseguira – ao horizonte, a ausência de construções permitia que avistassem a rodovia e a campina que se erguia ao longo de sua extensão.

— Eu queria muito ter uma família rica também. – a garota comentou, afetada, se jogando no sofá e três lugares no canto da sala de estar. Naruto fez uma careta, deixando suas coisas em cima do balcão e sentando-se ao lado da garota.

— Falou a garota que mora em Asakusa Valley. – zombou, recebendo uma cara feia.

— Você nem pode comparar! – ela se virou, arrumando a postura – Minha casa não chega aos pés das mansões daquele bairro. Quer dizer, você já foi na casa do Gaara? – o loiro foi obrigado a concordar.

— Tudo bem, a casa do Gaara é outra coisa. Mas mesmo assim. Esse apartamento nem foi tão caro. – revirou os olhos.

— Meus pais nunca me deixariam morar sozinha, quem dirá comprar um apartamento para mim. – Hinata retrucou, cruzando os braços.

— Não precisa ficar com esse bico, meu amor. O que é meu é seu.

Naruto correu os dedos por suas costelas, fazendo cócegas, e Hinata soltou um guincho, tentando se esquivar. Em poucos segundos, o Uzumaki estava prendendo seu corpo embaixo do dele, apertando sua barriga, enquanto ela gritava e se contorcia, gargalhando. Tentou se desvencilhar, derrubando as almofadas, e só parou quando conseguiu segurar suas mãos.

Permaneceram naquela posição, se encarando. Hinata estava vermelha e sem fôlego, com o cabelo bagunçado em suas costas, e sentiu-se incomodada com o vislumbre de Naruto sobre ela. As safiras a encaravam com serenidade, e ele sorria seu sorriso favorito – torto, suave, que iluminava todo seu rosto. A garota deixou-se admirar seus traços novamente, não se cansando da maneira que eles pareciam tão harmoniosos. Se Naruto fosse uma pintura, ela a compraria, apenas para passar horas e horas venerando.

— Você é bonito. – ela murmurou, livrando uma das mãos para pousar em sua bochecha. Naruto sorriu, fechando os olhos, um tanto corado.

— Pode apostar que não mais que você. – replicou, abaixando-se para beijar a ponta de seu nariz, fazendo cócegas.

Hinata abraçou seu pescoço, unindo seus lábios novamente. Ela nunca cansaria de beijá-lo. Tinha gosto de menta e mel, uma combinação viciante. Mais que isso, a maneira que ele a guiava tirava seu fôlego. Suas línguas entrelaçavam, ora suave, ora feroz, deixando-a com as pernas bambas. Agradeceu por estar deitada, o corpo de Naruto colado ao seu, naquele sofá pequeno demais. Seu vestido embolava para todos os lados, esquentando. Quando se deu conta, seus dedos já estavam emaranhados no cabelo proeminente da nuca, arranhando-a ligeiramente. Naruto resmungou, deixando de apertar sua cintura para puxá-la pelas costas, fazendo roçar suas pernas.

Afastaram-se, ofegantes, e Hinata sentia a franja colando no suor de sua testa. Naruto tinha o rosto convertido em uma máscara febril, com as sobrancelhas arqueadas e a boca entreaberta. A garota mordeu o lábio, gravando aquela cena em sua mente – ela sempre se lembraria de como ele estava sexy.

— Eu nunca vou te esquecer. – Naruto sussurrou contra seu rosto – Mesmo que aconteça alguma coisa, eu nunca vou te esquecer. – Hinata estranhou aquilo, mas, com o coração aquecido, não precisava pensar muito.

— Eu sei, meu amor. Não precisa ficar assim. – Hinata o beijou de novo, suavemente – Eu amo você.

O resto da tarde passou como uma lembrança distante. Naruto e Hinata fizeram muitas coisas, mas, principalmente, ficaram juntos, se tocando, se sentindo. Cozinharam, assistiram televisão, conversaram, sobre múltiplos assuntos, conhecendo um pouco mais um sobre o outro. Da janela do apartamento, ao anoitecer, Hinata pode ver inúmeras estrelas, apontando para cada uma, ainda ciente de Naruto abraçando-a pela cintura.

Também fizeram amor – o toque deleitoso que deixava traços de fogo em sua pele. Naquela noite, não houve um centímetro de seu corpo que não tivesse sido tocado, marcado ou descoberto. Hinata sentiu-se invadir por um amor tão forte que podia ser sufocante. Mas não era. Ela estava imersa naquele sentimento, deixando-se afundar em um oceano calmo e seguro.

Dormiu atrelada à lençóis e ao corpo de Naruto, abraçando seu calor. Em algum momento da madrugada, entretanto, foi desperta por uma movimentação na cama. O garoto acordou com o celular tocando, e atendeu no outro cômodo. Hinata estava semiconsciente, e não percebeu quando Naruto voltou para a cama. Voltou a acordar pela manhã, com a luz do sol em seu rosto. Levantou, sentindo o corpo e a alma leves. Na cama, estava sozinha, e, sobre o criado-mudo, apenas uma chave. O quarto continuava mudo, e Hinata percebeu, apenas depois, os detalhes que haviam desaparecido.

Aquele tinha sido o último dia que passara com Naruto Uzumaki.



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