História Hey, Thief - Capítulo 45

Seokjin acordou assustado. Piscou os olhos várias vezes tentando focar a visão até perceber que estava no quarto de Hobi. Respirou aliviado, mandando o pesadelo para o fundo da mente, decidido a esquecê-lo o mais rápido possível.

O loiro logo constatou que Hoseok não estava do seu lado e nem no banheiro, pois este estava silencioso e com a porta aberta. Levantou-se buscando o celular que tinha jogado em algum lugar da cama na madrugada anterior e sem dificuldades, o encontrou de baixo do travesseiro.

Eram quase oito horas da manhã. Será que o dançarino havia ido trabalhar? Sinceramente esperava que não, pois o dia anterior tinha sido uma bela porcaria e ele merecia um descanso, afinal era o dono do estúdio de dança e isso lhe dava algumas regalias.

Após utilizar o banheiro, caminhou para fora do quarto com o objetivo de chegar à cozinha, porém acabou parando na porta do quarto de Yoongi quando escutou Holly chorando. Com cautela abriu a porta e o cão disparou passando por ele, indo para o andar de baixo. Olhou para dentro do ambiente a visão que teve preencheu seu coração de alegria, enviando um sorriso para seu rosto: Yoongi e Hoseok estavam dormindo, um nos braços do outro e ele se segurou para não tirar uma fotografia com objetivo de depois zoar os amigos. Mas, por enquanto, não faria isso. Fechou a porta vagarosamente para não acordar os homens e partiu em direção a cozinha.

Holly o esperava, impaciente, para abrir a porta. O pobrezinho provavelmente queria fazer alguma necessidade no quintal. Jin aproveitou e preparou um rápido café da manhã e novamente rumou para o quarto do ruivo onde procurou alguma roupa para vestir, já que não perturbaria o casal dorminhoco. Ainda procurando o outfit ideal, ouviu seu celular tocar e constatou que era Namjoon.

– Bom dia, Jonnie.

– Oi. – Jin conseguiu escutar um riso no fundo, seguido por uma reclamação. Seria a policial Liu? – Hoseok chegou bem em casa, né?

– Sim… sim.

– Como ele está?

– Ah, acho que agora ele tomou tendência. Tive uma conversa séria com ele ontem à noite. – A voz feminina estava cada vez mais alta e o cozinheiro teve certeza que não era Amber. – Agora ele está dormindo.

– Que bom! – Novamente conseguiu escutar risinhos e isso o irritou. Se Namjoon estava com alguém por que ligou para ele? Teve vontade de desligar a ligação sem falar mais nada. – Cala a boca.

– O que?

– Jin não foi com você. Espera… – Barulhos abafados chegaram ao ouvido do loiro, que continuou parado no meio do quarto. – Ah, me desculpe. Era a minha irmã. Ela apareceu de surpresa ontem à noite e resolveu dormir aqui e agora está acabando com os meus nervos.

– Ah… – O cozinheiro se sentiu envergonhado pelo ciúme bobo. Namjoon não era aquele tipo de pessoa, tinha que lembrar sempre disso. – Eu não sabia que você tinha uma irmã.

– Ela é mais nova e sabe que não resisto a nada que ela pede… E é por isso que estou ligando…

– Hum… Como assim?

– Ela quer te conhecer. – Um silêncio constrangedor se fez presente e perdurou por alguns longos segundos. – Eu entendo se você não quiser… Na verdade, falei que era loucura, mas ela é teimosa igual a minha mãe e-

– Tudo bem, eu aceito.

– Sério?

– Claro! Que tal a levar no restaurante?

– Pode ser hoje na hora do almoço? Ainda estou de folga, mas a noite já tenho que voltar para o plantão.

– Okay, está marcado.

Os dois ainda trocaram mais algumas palavras antes de encerrar o telefonema. Seokjin sorria, mas estava um pouco nervoso. E se a irmã de Namjoon não gostasse dele? Tudo precisava ser perfeito!

O loiro perdeu mais alguns minutos procurando alguma roupa que fosse chique, porém sem ser extravagante, logo depois escreveu um bilhete para o amigo, este ele deixou em cima do criado mudo e depois seguiu para o restaurante, mas não antes de se assegurar que Holly voltasse para dentro da casa e esperasse ali até o dono acordar. Teria um dia agitado, mas se sentia feliz.

 

***

 

Yoongi abriu os olhos, sentindo a luz do Sol batendo no seu rosto. Sua visão não estava embaçada, mas notou que ainda estava cansado. Constatou que algo pesava no seu peito e ao olhar para baixo, viu que Hoseok estava com a cabeça apoiada no seu tórax. Em algum momento, durante o sono, eles haviam se mexido e mudado de posições.

O moreno sabia que provavelmente ambos já deveria ter se levantado, mas como poderia acordar Hobi depois do dia turbulento que teve? E ele também se sentia exausto. “Quer saber? Que se foda.” Com um sorriso nos lábios, resolveu que o melhor a fazer era fechar os olhos e voltar a dormir. Mais umas horinhas não fariam diferença, não é?

-

Na segunda vez que abriu os olhos naquele dia, Yoongi percebeu que Hoseok ainda dormia em seu tórax. Os fios ruivos estavam espalhados pela sua camisa branca e uma das mãos do dançarino estava se esfregando no peitoral do mais baixo. Hobi estava tendo uns daqueles ataques que tinha durante o sono. Deveria acordá-lo? Não sabia ao certo.

O moreno estava pronto para deixar Hobi dormir mais um pouco, quando percebeu a perna do outro invadindo o seu espaço enquanto se roçava nele. A divindade estava pregando uma peça nele, só podia. Aquele ser desgraçado não tinha nada para fazer mesmo da vida; um ridículo. Yoongi achou que a situação não poderia ficar mais constrangedora, mas estava enganado. Alguns segundos depois, o dançarino começou a gemer em um tom consideravelmente alto.

 Estático, sem saber como reagir a situação, percebeu que Hoseok agora lhe soltara e respirou aliviado por isso, mas logo em seguida o ruivo voltou a se remexer, mas agora, se alisando pelo peitoral e pelos braços. A situação era tão absurda que quis rir e chorar ao mesmo tempo. Por que fora se apaixonar por alguém assim?

O ruivo continuou a se apalpar enquanto gemia. O moreno estava se divertindo com a cena, quando percebeu os gemidos ficarem mais intensos, mas não aparentava estar nem perto de acordar. Os olhos de Yoongi acompanharam as mãos do outro indo em direção ao cós da calça do pijama que estava vestindo. Um bolo se formou na garganta do moreno, ele não conseguia acreditar no que estava prestes a acontecer. Instintivamente seu tronco se ergueu no colchão e sentado ele ouviu uma voz gritar no meio do quarto, só notando que aquela era a sua voz, quando o ruivo assustado também se sentou na cama.

– O que? O que aconteceu? – Completamente assustado e perdido, Hoseok olhou para todos os cantos do quarto procurando qualquer sinal de perigo.

– O que aconteceu?! Você é um pervertido, foi isso o que aconteceu!

– Como é que é?! Eu sou o que?!

– Você…. Ai, minha divindade...

Yoongi nem conseguiu terminar de falar ao constatar a ereção matinal do outro. Se levantou rapidamente a cama, escondendo o rosto entre as mãos. Enquanto isso, Hoseok ainda estava um tanto perdido, mas ao seguir para onde os olhos do moreno estavam fixos anteriormente, entendeu o porquê estava sendo ofendido.

– Ai, cacete! – gritou, segurando o travesseiro para esconder a elevação entre suas pernas.

– Literalmente, né?!

– Cala a boca, Yoongi!

O moreno depois do susto, simplesmente entrou em uma crise de risos enquanto o dançarino corria para se esconder dentro do banheiro. O homem ria tanto que precisou se apoiar na cama para não cair, enquanto ouvia o outro reclamar de dentro do banheiro.

– Está rindo do que?! Vai me dizer que isso nunca aconteceu com você? Estrelinha dourada!

– A ereção? Óbvio, mas ficar me alisando enquanto durmo? Acho meio difícil! – Yoongi ainda estava se recuperando da crise de risos, os olhos úmidos de lágrimas, quando se aproximou da porta trancada do banheiro e bateu levemente. – Vem cá… o sonho era bom?

– Yoongi, some daqui!

– Ah, qual foi, Hobi! Me conta, com quem era o sonho?

– É isso! Chega, sai já da minha casa!

– Mas você implorou para que eu ficasse ontem!

– Eu mudei de ideia!

– Hobi! Me conta do sonho, vai. Deve ter sido bom para te deixar desse jeito.

– Se eu me suicidar aqui dentro, a culpa vai ser toda sua!

– Eu saio se você me contar com quem era.

Yoongi estava se divertindo com a situação, nunca vira Hoseok tão constrangido em todos os meses que convivera com ele. Sabia estar passando dos limites, mas não conseguia se controlar. Contudo, a vida é uma eterna caixinha de surpresas e em poucos segundos, a caça pode se tornar o caçador. Em um movimento rápido que o outro não previra, Hoseok abriu a porta do banheiro, puxando-o para dentro, antes de imprensar o corpo do menor contra a parede, o encarando no fundo dos olhos.

– E se eu disser que o sonho foi com você? O que vai dizer? Que meu sonho envolvia o seu corpo? Que minhas mãos deslizaram por todo ele, enquanto ouvia você gemer meu nome devagar? – A voz de Hoseok era baixa e grave e sexy de um jeito que o outro nunca havia experimentado antes. Ele sentia a respiração do ruivo misturando-se a sua e vagarosamente se sentiu amolecer com o toque dele. Havia, decididamente, brincado com a pessoa errada. Sabia disso agora. – Se quiser, eu posso não só contar como te demonstrar o sonho, aproveitando que ainda está vívido em minha mente.

Yoongi sentiu um calafrio percorrer toda sua espinha e se alojar no fundo de seu estômago. Aquilo era exatamente o que ele queria, não era? Mas não podia; não podia! Recuperando a sanidade, ele abanou a cabeça e afastou o corpo do outro com as duas mãos espalmadas contra o peitoral dele. Hoseok lhe sorria com o canto dos lábios, tão sexy quanto o próprio pecado deveria ser.

– Sua peste! Pervertido!

– Ué… você estava tão interessado em saber. O que é isso agora?

– Para com isso! Já entendi, não brinco mais com você!

– Quem disse que eu estou brincando, Yoongi?

– Hoseok!

– Tá bom! Céus, você realmente leva as coisas a sério. – comentou, revirando os olhos. – Agora você vai me dar licença ou vai querer ficar e me ajudar?

– Você é muito pervertido!

– Você não sabe o quanto…

O moreno praticamente correu para fora do quarto, indo em direção a cozinha. Hobi ficou para trás, com a respiração pesada. O que dera nele para brincar daquele jeito? Na noite anterior tinha ficado em choque enquanto o outro tentava lhe tirar a camisa e hoje estava assim? Ele mesmo não se entendia, o que o deixava um pouco irritado.

Suspirando, percebeu que ainda estava no quarto de Yoongi, que um dia fora seu. Será que o moreno sabia disso? Uma nostalgia lhe bateu e ele se lembrou da sua mãe. Resolveu que o melhor a fazer era voltar para o seu cômodo. A primeira coisa que observou ao entrar neste foi a fato das cortinas estarem deixando o Sol entrarem, o que mostrava que Jin já havia acordado.

No seu closet, encontrou alguma coisa para vestir e estava pronto para ir para o banheiro quando notou um papel em cima do criado mudo.

 

Tem comida no forno.

Ps.: Espero que tenha

aproveitado a noite ;)

 

Amassou o papel, com raiva. Yoongi provavelmente não queria mais falar com ele, isso sim. Queria tanto que as coisas que havia falado para o colega de casa fossem só brincadeiras, mas ele realmente queria aquilo tudo. Como deixara que a situação chegasse naquele ponto? Quando perdera todo o controle dos seus sentimentos?

Frustrado, seguiu para um rápido banho. Tentou se lembrar do que sonhara, mas a sua mente estava em branco. Não deveria ter sido nada demais, como sempre. Toda vez que começava a se esfregar era porque estava estressado com algo. Os episódios durante o sono começaram assim que ele perdeu os pais. Passara uma semana sem dormir direito e quando cochilava, acordava alterado, mas só depois descobriu que ficava se alisando. A explicação para as ocorrências remetia a sua infância. Quando ele era criança, seus pais lhe faziam afagos para ele dormir tranquilamente, na maioria das vezes, quando ele tinha algum pesadelo.

Balançou a cabeça, jogando água para todos os cantos do banheiro. Não queria pensar nos pais, pois sabia se continuasse assim, entraria em uma bagunça emocional e começaria a chorar a qualquer momento. Tentou focar em outra coisa para terminar o banho com rapidez.

Quando finalmente estava pronto, desceu as escadas e seguiu para a cozinha casa. Yoongi não estava lá, então deveria estar com Holly no jardim. Sorriu para o café da manhã que estava ainda em cima da mesa. Provavelmente Seokjin havia preparado tudo antes de sair. Por mais que não ligasse para os dotes culinários de Yoongi, ele não cozinhava tão bem quanto Jin, por motivos óbvios.

– Ah… eu pensei que você estava com Holly no jardim. – proferiu, ao ver o moreno atravessar a porta da cozinha com uma toalha branca em volta do pescoço e com os cabelos castanhos úmidos do banho tomado.

– Resolvi tomar banho primeiro. – Yoongi sorriu. – Vai querer café ou almoço? Jin também deixou uma comida pronta no forno.

– Almoço? – perguntou confuso. Seguiu o olhar até o relógio do corredor, constatando que eram quase treze horas da tarde. – Porra, dormimos demais!

– Eu tive a mesma reação. – falou enquanto pegava dois pratos no armário. – Liguei para Seokjin perguntando porque não nos acordou e ele falou que teve pena. – O rapper revirou os olhos. Agilmente já retirava a panela do forno e colocava para esquentar. – Ele disse que estava me dando o dia de hoje de folga. Acredita? Eu voltei a trabalhar ontem. Jinyoung vai acabar ficando com raiva de mim. – O ruivo, sem perceber, fechou o sorriso que exibia. Enquanto ele estava ali, admirando o moreno, mas sem poder tê-lo, o outro, o tinha. – Ah… ele também falou que ligou para Jungkook pedindo para abrir o estúdio e cancelar o seu ensaio.

– Hum… Aposto que você tem seus métodos de não deixar Jinyoung irritado. – comentou, mas logo percebeu que a fala saiu mais dura do que queria, mas não soube como consertar a falha. – Depois tenho que agradecer ao Kookie…

– Eu não tenho mais nada com o Jinyoung.

– Ah, me desculpe. Eu não sabia que vocês tinham terminado. – O dançarino não queria se sentir feliz com aquilo, mas era impossível não se alegrar com a notícia. Ele era um idiota!

– Era casual… Não sentíamos nada um pelo outro.

O ambiente caiu em silêncio. O único som era proveniente dos talheres enquanto os homens se serviam da massa, Jin havia feito pasta para o almoço.

– Vamos comer o café da manhã de sobremesa? – Hoseok falou a primeira coisa que lhe veio à mente. Não gostava de silêncios constrangedores e não podia voltar aquela fase com o moreno. Já havia muito tempo que tinham passado disso.

– Que?

– Ah, Jin fez waffles…

– Tu-tudo bem, eu acho… –  A súbita mudança de tópico deixou o moreno um pouco confuso, mas ao menos eles não estavam tecendo comentário sobre a história do banheiro. – Você quer levar Holly ao parque comigo? – Estava planejando o passeio com o cachorro há alguns dias e agora que tinha o dia de folga, talvez fosse uma boa ideia aproveitá-lo.

– Claro! Holly está precisando sair um pouco dessa casa, né? Ele acaba ficando o dia inteiro trancado.

– Só espero que não tenha mais ninguém com cachorro lá… Ele fica louco quando encontra outro da espécie.

– Talvez Holly esteja querendo um irmãozinho… Isso seria bom para ele não ficar sozinho.

– Pirou? E eu lá dou conta de cuidar de dois cachorros?

– Ah… Eles iam ficar correndo pela casa, animando nosso dia.

– Esse macarrão está com entorpecentes, só pode.

O ruivo riu, enrugando o nariz e Yoongi percebeu, com surpresa, que o outro estava fazendo algo que ele fazia. A convivência deles havia os feitos compartilharem características. Se viu pensando qual traço ele havia tomado de Hoseok.

– Yoongi, eu posso lhe pedir um favor? – O tom de voz do outro o chamou atenção; uma mistura de preocupação com vergonha.

– Qualquer coisa.

– Será que teria como você falar com o Jimin? – perguntou mexendo displicentemente com o garfo. – Eu queria pedir desculpas, mas… Estou com vergonha de ligar.

– Ah… tudo bem, claro. Não fica nervoso, Jimin não guarda rancor… Ele é só uma grande bola de afeto. Igual a uma criança.

O ruivo balançou a cabeça levemente, satisfeito com a resposta e voltou a comer. O resto da refeição seguiu normalmente, com alguma conversa boba sendo jogada fora. Alguns minutos mais tarde, quando estavam prestes a sair, um funcionário da seguradora trouxe o automóvel que fora designado para Hoseok até o dele passar por análise. Após a assinatura de alguns documentos, eles partiram, a pé, para o parque.

 

***

 

Seokjin tinha estava uma pilha de nervos, pois tinha certeza que tudo daria errado. A notícia que ele voltara a trabalhar havia se espalhado rapidamente e Jin se viu coberto de clientes curiosos. O loiro teve que inventar que havia sofrido um acidente de carro, porém todos pediam por detalhes. Passando por esse momento inicial, o restaurante lotou. Primeiro ele se sentiu lisonjeado, pois havia conquistado uma clientela que gostava da sua comida, porém depois acabou odiando aquela situação, principalmente quando os pedidos não paravam de chegar. Para piorar havia dado folga para Yoongi, mesmo este ligando dizendo que iria trabalhar, ele não teve coragem de mandá-lo ir para ali. Só esperava que Hoseok e ele tivessem algum avanço, se não iria ameaçá-los com uma faca até eles se beijarem. Seus amigos eram uns idiotas!

Namjoon chegaria a qualquer momento com sua irmã e ele já conseguia sentir a presença alta e bela entrando pela porta do estabelecimento e o vendo todo desgrenhado tentando servir as doze mesas do local. Seria um desastre, conseguia sentir de longe.

– Chefe, seu namorado chegou. – Seokjin fingiu que não escutou a brincadeira que seu funcionário fez. Namjoon não era seu namorado e o outro sabia disso.

– Ai… Eu tô apresentável? – O moreno chegou perto do mais alto e remexeu no cabelo loiro, até consertá-lo. – Obrigado.

Antes de sair da cozinha, Jin deu uma espiada nos irmãos. Namjoon, como sempre, parecia estar indo para algum desfile de moda. Aquele cara havia saído direto do Instagram, um absurdo para a sociedade. A irmã, claramente mais nova, não era tão alta quanto o policial, mas o seu salto de quinze centímetros a fazia chegar bem perto. Seu vestido preto na altura dos joelhos parecia esvoaçar na entrada do estabelecimento. A família Kim tinha um gene a mais de beleza, era óbvio.

Apressadamente, se dirigiu aos dois. Seokjin sabia que tinha que impressioná-la, só não sabia bem o motivo. Ele não era namorado de Namjoon, mas ainda assim, fez o que sabia fazer de melhor: usar seu charme.

Ele se aproximou dos irmãos com seu habitual sorriso e ao encontrar o rosto sorridente do moreno, seu coração falhou uma batida. Aquilo sempre acontecia quando o encontrava, a essa altura estava se perguntando quando iria se acostumar.

– Uau! Ele é mesmo muito bonito, oppa! Não me admira que você esteja de quatro!

– Sun Hee! Me desculpa. Eu sabia que não devia ter te trazido aqui! – O moreno olhou para a moça, com uma cara emburrada, transmitindo algum tipo de sinal via olhar. – Parece uma criança que não sabe se comportar!

– Ai, oppa. Só estou brincando.

Seokjin olhava a cena encantado com o que via. Ele adorava aquele tipo de relação entre irmão e irmã.

 – Jin, me desculpa… Essa é a minha irmã caçula, Sun Hee. Sun Hee esse é-

– Kim Seokjin. Eu sei! – A moça abanou a mão direita para o irmão mais velho antes de segurar uma das mãos de Jin entre as suas, o olhando fixamente com um sorriso adornado de covinhas nos dos lados da boca, exatamente como o irmão mais velho. – Oppa, seu restaurante é lindo! Eu estou louca para provar sua comida! Meu irmão diz que é tudo maravilhoso, aliás ele não vê qualquer defeito em você, sabia?! Ai! –  A menina reclamou. Seokjin não sabia, mas Namjoon havia beliscado a lateral do corpo da irmã, para fazê-la se calar um pouco.

– Por que não vamos para a mesa? – O loiro começou a perceber olhares raivosos entre os irmãos e achou que era o momento de se intrometer. – Reservei uma especial para o nosso almoço.

Os três seguiram para um canto perto da extensa janela de vidro, por ela se via a rua e todo o seu movimento. Jin achava aquele local relaxante e muitas vezes, quando havia pouco movimento, ele se sentava nela com uma xícara de café e ficava observando a paisagem.

 Sun Hee se sentou ao lado do irmão e Jin acabou ficando de frente para eles. Assim que se acomodou na cadeira, o loiro colocou as mãos no colo. Estava um pouco nervoso, mas o sorriso de Namjoon o ajudava a se acalmar.

– Então, quais são suas intenções com o meu irmão?

– Sun Hee! – Namjoon não podia acreditar em como a irmã não tinha papa na língua. Um olhar de desculpas se fez presente para o loiro. – Eu deveria ter te deixado no lixo, onde te encontrei!

– São as melhores possíveis. – A fala de Seokjin não surpreendeu apenas o casal a frente dele como a ele próprio. Falou aquilo sem nem mesmo perceber, simplesmente escapou. Ao notar o sorriso malicioso nos lábios da garota e o olhar assustado de Namjoon é que foi se dar conta do que havia dito. – Quer dizer… Nós somos amigos. Joonie tem me ajudado muito esses dias com todos os meus, ér… problemas. É isso, quero que continuemos amigos.

Tinha certeza de que até suas orelhas estavam avermelhadas pela vergonha. Será que conseguiria afundar a cara no chão igual a um avestruz? Não tinha coragem para erguer os olhos, mas se forçou a fazer e encontrou o casal à sua frente com seus sorrisos acompanhados de covinhas. Sun Hee ainda mantendo sua faceta brincalhona de quem sabia de tudo e mais um pouco e o homem, com um sorriso envergonhado, porém lindo, que reacendeu a vontade que Seokjin tinha de beijá-lo ali mesmo, mas não o fez. Não podia fazer aquilo. Não ainda e definitivamente não na frente daquela pestinha.

– Hum… Sei. – A moça olhou para o irmão e voltou para o loiro, com um sorriso brincalhão. – Estou esperando um amigo desses aparecer para mim. Falando nisso, aquele seu garçom é gatinho, será que rola?

– Er… Acho que você tem que perguntar a ele. – Jin olhou para Namjoon que segurava uma risada.

– É… vai lá, irmãzinha, aproveita e faz o nosso pedido. Vai, vai…

A garota olhou para mais alto e sorriu animada. O chef teve pena, mas não iria acabar com a atuação de Namjoon, então simplesmente olhou para a moça e sorriu, a encorajando.

Sun Hee levantou acertando o vestido, sem perguntar o que os dois homens iriam querer para o almoço. Ela foi rebolando ao encontro de Jinyoung e Jin fez uma cara de desgosto, esperando o pior.

– Você é muito mal, Joonie.

– Ela é terrível, merece uma lição. – O moreno desviou o olhar da irmã e voltou para Jin, com um sorriso. – Como você está no primeiro dia da sua volta?

– Um pouco estressado, mas nada que eu não dê conta.

– Pela divindade, ela está jogando o cabelo. – Namjoon começou a rir descontroladamente. Jin seguiu o olhar, ficando cada vez mais com pena da jovem. – Ela vai passar a mão nele a qualquer momento… – Dito e feito, no minuto seguinte lá estava, Sun Hee acariciando o braço do garçom que apenas sorriu, cobrindo os lábios com a outra mão.

– Pobrezinha… Se bem que eu nunca perguntei se Jinyoung era mesmo gay, bi ou pan… Sua irmã pode acabar conseguindo alguma coisa. Reclamando ele não está…

– Ah, será? Que droga! Não quero ela se dando bem…

– Que péssimo exemplo de irmão.

– Ah… Ela tá voltando, disfarça. – Namjoon colocou o melhor sorriso no rosto para receber a irmã. – O que pediu para gente, maninha?

– O prato mais caro. – A moça se sentou, arrumando o cabelo atrás da orelha, claramente feliz consigo mesma. – Já que é cortesia do seu namorado.

– Sun Hee! Primeiro que eu nunca disse que seria cortesia nenhuma e segundo, Jin não é meu namorado, quantas vezes tenho que dizer? – O moreno acabou se exaltando, deixando o nervosismo falar mais alto. Olhou para o loiro e percebeu que tinha sido um pouco rude. – Quer dizer, sei que ele seria um ótimo namorado… Mas… é… Não que eu não goste dele...

– Namjoon, cala a boca que até eu estou sentindo vergonha alheia. – afirmou a morena. – Já entendi que ele não é seu namorado, mas você tá caidinho por ele. Falando nisso… – Sun Hee mirou no cozinheiro e com um sorriso afetado, continuou. –  Oppa, quando você vai lá em casa conhecer nossos pais?

– Chega! Mil desculpas Jin, mas vamos embora!

Namjoon se levantou vermelho de vergonha e bastante irritado. Sua perna acabou batendo na mesa, derrubando o arranjo de flores que ficava no meio desta. Apressadamente tentou arrumar, mas derrubou o saleiro, o que fez voar sal na roupa do cozinheiro. Sua irmã estava rindo e ele teve vontade de acertar uns tapas nela.

– Jonnie, tudo bem. Se acalma… Ela só está implicando com você para te ver assim, todo nervoso. – A moça o olhou, com uma expressão prepotente. Ótimo! Ela provavelmente já devia odiá-lo. – Senta aí…

Apesar de todas a brincadeiras, Sun Hee era uma moça de fácil convivência se você conseguisse rir de suas piadas. Sem contar que Jin sempre se sentia bem na companhia de Namjoon, como se o resto mundo fosse apenas um complemento.

Jinyoung não demorou a aparecer com o pedido da mesa e foi inevitável não reparar no garçom flertando com Sun Hee e vice-versa. Pelo visto, o tiro do policial havia saído pela culatra, já que ele havia fechado a expressão no instante em que viu a irmã caçula mexer em uma das mechas de cabelo de maneira sensual, mas ainda mantendo a pose de menina-mulher.

– Yah! Você quer parar com isso? Não sabe que é muito nova para essas coisas?

– Ah, não! Nem vem, Joonie! Eu não sou nenhuma criança! Aliás sou maior de idade, tá legal? – Depois de reclamar com o irmão, a morena voltou a atenção para Seokjin que levava a taça de água aos lábios sorvendo um pequeno gole. – Oppa, dá pra acreditar que ele é um irmão mais velho ciumento?

– Quem aqui tem ciúmes de você? Se enxerga…

Era claro que o policial sentia ciúmes da irmã e só não queria admitir; tanto que suas bochechas ficaram vermelhas no mesmo instante. A garota se aproveitou do momento para segurar o rosto do irmão mais velho entre as mãos, apertando as bochechas dele, o que obrigou os lábios do homem a formar um bico.

– Ah… quem é o irmão mais ciumento do mundo, hein, hein?! É o Namjoon! – A moça ria gostosamente, forçando os dois homens a fazer o mesmo, já que seu sorriso era um daqueles que chamavam os outros para acompanhar.

A conversa fluiu tranquilamente. Seokjin descobriu que Sun Hee estava no primeiro semestre da faculdade de moda e que estava bastante animada para seguir na profissão. A moça também tagarelou de como os pais do moreno foram morar no Japão há uns cinco anos, quando o pai deles havia recebido uma proposta de emprego irrecusável e como eles tinham a levado para lá, o que acabou separando a família, pois Namjoon havia ficado na Coreia. Mas agora, que ela era maior de idade, tinha voltado para o país de nascença e trabalhava meio período em uma loja de roupas, como vendedora, para pagar o aluguel. Ela também completou a fala, elogiando o irmão, pois este sempre a ajudava com as despesas, quando precisava, o que era sempre.

– Nossos pais vão vir nos visitar no Natal… Oppa, você deveria ir lá conhecê-los.

– Sunny, de novo com isso? Deixa o Jin em paz.

– Joon, papai e mamãe iam querer conhecer o seu… amigo. Ainda mais que vocês parecem bem próximos. – A morena olhou do irmão para o loiro e balançou a cabeça revirando os olhos. – Mas tudo bem, parei com assunto.

Um silêncio acabou tomando conta da mesa e Seokjin chamou Jinyoung para poderem pedir a sobremesa. O restaurante já estava quase vazio. O horário de almoço, há muito tinha acabado e o chef percebeu que havia conseguido lidar com tudo: os clientes e os irmãos.

A moça aproveitou a presença do garçom para continuar a flertar, o que fez o policial se remexer na cadeira, enciumado. Antes de sair do estabelecimento, teria uma conversa séria com o moreno mais baixo. Onde já se viu aquela falta de vergonha e profissionalismo?

– Vou contar uma piada. – anunciou o cozinheiro assim que o jovem voltou com tortas de chocolates para todos. – Como se faz um… – O loiro começou a rir, já achando graça antes de terminar de contar a anedota. Namjoon abriu um sorriso adornado de covinhas e irmã revirou os olhos ao perceber como seu irmão ficava perto do outro. – Como se faz uma omelete de chocolate? – Esperou por alguns segundos, mas nenhum dos dois sabia o que falar, então ele completou, dando a resposta. – Com ovos de Páscoa!

O silêncio teria preenchido todo o ambiente se não fosse pela risada estranha que o próprio Seokjin proferia após a resposta. Os irmãos Kim se entreolharam e sorriram, mas não por acharem graça da piada em si, mas pelo fato de Jin rir divertidamente daquela história sem graça. A risada do cozinheiro soava estranha, como vidro sendo limpo com um pano úmido e em pouco tempo, usando olhares que somente irmãos possuíam, Sun Hee e Namjoon começaram a rir também, para a felicidade do cozinheiro.

– Oppa! Eu não acredito que você conta piadas de tio! Eu não acredito!

– Mas são as mais divertidas!

– Não! Eu não aguento!

O resto do almoço seguiu naquele mesmo clima descontraído e quanto mais conversavam, mas os três se entendiam melhor; o que era ótimo.

O relógio já marcava dezesseis horas quando Namjoon anunciou que precisavam ir embora, pois entraria em serviço às dezoito. Jin e a garota logo proferiram uma onomatopeia de tristeza pelo fim do encontro, mas compreendiam a situação e ficaram mais alguns longos minutos programando o próximo almoço.

– Vocês se despeçam que eu tenho um número de telefone pra conseguir… – A morena saiu, confiante, jogando os cabelos por cima dos ombros e caminhando em direção a Jinyoung, mesmo sob os protestos de Namjoon.

– Deixa, Joonie. Ele é um bom rapaz e muito bonito também, esforçado… Sabia que ele tem dois empregos e ainda faz faculdade? Realmente é um cara bastante confiável.

– Mas ela é minha irmãzinha…

– Pela divindade! Você é mesmo um irmão mais velho ciumento.

Seokjin sorriu encantado com a descoberta e Namjoon não pode deixar de admirá-lo. Ele era indiscutivelmente bonito, em todos os aspectos. Aquele tipo de beleza que você encontra nas televisões e capas de revista.

– Não é a obrigação de todo irmão mais velho?

– É… talvez você tenha razão.

– Obrigado pelo almoço, estava realmente delicioso. O que não é nenhuma surpresa. E me desculpe pela Sun Hee, ela é…. excêntrica.

– Imagina… Ela é muito divertida. Iria se dar bem com Hoseok e com Jungkook. Céus, imagina essa menina cinco minutos conversando com Kookie?!

– Eu prefiro nem imaginar. Pelo pouco que vi do garoto é melhor mantê-los afastado!

– Olha lá… Parece que eles trocaram os números.

– Pelo visto sim.

Sun Hee retornou radiante para a mesa, balançando o celular com o número de Jinyoung registrado. Os três logo se encaminharam para a saída do restaurante. Seokjin se despediu da menina com um abraço rápido, mas não fez o mesmo com Namjoon. Estava tímido e o outro também, mas a moça não pareceu satisfeita.

– Oras… tudo bem que vocês não se beijem, mas um abraço, né? Por favor.

Se os olhos do policial fossem armas aquela menina não respiraria outra vez. Ele abanou a cabeça e se aproximou de Seokjin beijando a bochecha do cozinheiro de maneira rápida, sussurrando algo como “até depois”, mas fora rápido e tão baixinho que o outro nem conseguiu identificar as palavras.

Sun Hee gritou de forma aguda, como se estivesse vendo um filhotinho de cachorro ou algo igualmente fofo, mas não conseguiu dizer mais nada antes de ser arrastada pelo irmão mais velho para o carro, enquanto abanava a mão para o loiro que ficou para trás, corado de vergonha e com um enorme sorriso nos lábios, devolvendo os acenos dela.

– Sua cunhada é uma gracinha, hein. – Jinyoung comentara assim que Jin voltou para a cozinha, ainda com um sorriso gigante no rosto.

– Cunhada? Tá maluco? – O moreno simplesmente revirou os olhos com a fala do outro. – E sim, ela é uma gracinha, então segura sua onda! Mas... não é minha cunhada!

– Não vai me dizer que ainda não deu um jeito de pegar aquele policial? Você é muito lerdo…

– Ei, pare com isso! Tá querendo ser demitido?

– Ah… chefinho! Não seja dramático!

– Some daqui Jinyoung. Já deu seu horário por hoje.

O moreno saiu correndo quando loiro o ameaçou com a colher de pau. Estava mesmo no fim de seu turno e o outro garçom já havia chego para rendê-lo. Este acenou para ele e disse que estava feliz por ele estar de volta. Seokjin agradeceu e se preparou para começar a preparar novos pratos, pois a clientela noturna era totalmente diferente da vespertina. Com um sorriso, começou a selecionar os ingredientes; teria mais algumas horas de trabalho, mas estava feliz.