História Hey, Thief - Capítulo 9

O clube estava lotado. O local era pequeno, porém deviam ter quase cem pessoas se esmagando umas nas outras para terem a chance de ouvirem o melhor que o rap underground poderia oferecer.

Yoongi estava nervoso. Há tempo que ele não se apresentava. Tudo bem que ele só iria mostrar duas das suas músicas, porém ter a chance de fazer uma performance gerava um sentimento de realização dentro dele.

Nos bastidores, ele abordou alguns artistas e até reconheceu outros, porém não houve muita conversa. Todos estavam bastante nervosos.

  – Mano, parabéns! – Yoongi fitou o homem que falava com ele. Ele o conhecia, mas não sabia seu nome. – Soube que você vai fechar o show.

Sorriu em retribuição a animação do homem enquanto reparava as pequenas enrugações que surgiam no nariz do outro enquanto ele sorria.

– Sou o Jinyoung. Sou o apresentador da noite. – falou, estendo a mão. Min retirou as mãos do bolso e estendeu a sua direita, correspondendo ao gesto.

– Ah, lembrei de você! – exclamou o de cabelo verde. – Você é o bartender.

– Isso mesmo. – Jinyoung deu um sorriso simpático enquanto ajeitava o topete. – Tenho que ir, pois já vai começar. Boa Sorte.

-

– Senhoras e senhores. – começou o apresentador berrando no microfone. – Agora, para encerrar essa noite, com vocês, Agust D.

As luzes se apagaram, deixando todo o ambiente no breu. Quando elas voltaram a se acender, o último artista da noite estava no centro do palco. O boné preto cobria sua cabeça, sua máscara, também preta, estava presa atrás das orelhas e em repouso abaixo do seu queixo. Sua blusa era branca, dando um contraste no moletom preto que a cobria e sua calça, era jeans com rasgos no joelho. Yoongi não era alguém que se arrumava, mas Agust era.

A música começou a ser tocada e o rapper lembrou que a acústica do local não era das melhores e por isso ele tinha que se fazer ouvir. Com um tom mais alto do que ele utilizava, sua voz começou a ser escutada pelo público.

O refrão começou a ser executado e a plateia, para a surpresa do cantor, entoou junto. Ele sabia que era conhecido, mas nunca pensou que tinha fãs. Sua mixtape estava disponível para download gratuito, mas, em sua cabeça, ninguém a escutava.

Na segunda música, não foi diferente. Muitas pessoas sabiam a letra, fazendo parecer que um coral bem desafinado o acompanhava na apresentação. Mas Yoongi ficou feliz, porque era o seu coral.

No fim da apresentação, Agust D foi ovacionado.

-

Eram quase três horas da manhã quando Yoongi saiu do clube. Muitas pessoas ainda estavam do lado de fora, em rodinhas, conversando, bebendo ou se agarrando. Ele se dirigia diretamente para casa, quando avistou Jimin.

Primeiro ele não acreditou. Teria o amigo vindo ver o show dele? Porém, logo depois, ele avistou dois braços entrelaçados na cintura do menor. “Aquele é o Wonshik?”

Jimin virou seu rosto e beijou o homem nos lábios e o outro saiu delineando uma das mãos pelas costas do mais baixo até repousá-la em seu traseiro.

Min respirou fundo. Aquele sujeito era muito perigoso; todos conheciam sua reputação e esta era terrível. “O que eu faço?”

O rapaz começou a analisar todas as suas opções. “Acho melhor ir para casa. Jimin já deixou bem claro que não quer mais saber de mim.” Esse pensamento evaporou de sua mente quando ele avistou o moreno alto oferecendo uma seringa para o de cabelo cinza. Estava um pouco distante, mas Yoongi percebeu na hora que se tratava de heroína. Um tremor terrível passou pelo seu corpo quando Jimin pegou o objeto com sua mão. Antes de perceber, começou a andar apressadamente na direção do casal.

 – Jimin, quanto tempo! – exclamou quando chegou perto dos dois homens. Ele resolveu que tentaria de outra forma dessa vez. Sem brigas, sem gritos. – Eu não te vi no clube. Se eu soubesse que estava lá, teria te procurado.

Seu amigo tinha uma expressão assustada no rosto e com um movimento rápido das mãos, devolveu a seringa ao antigo dono, ainda cheia, graças à Deus.

– Hum… Yoongi… você está bem?

– Sim, sim. – afirmou rindo simpaticamente. – Posso falar com você rapidinho?

O garoto exibiu um olhar de dúvida, beirando a curiosidade. “Ele está armando alguma coisa.” Mesmo com essa certeza, ele virou para Wonshik.

– Ravi, eu já volto. – falou com um pequeno sorriso nos lábios. – Você nem vai sentir minha falta. – Sua voz melosa acertou os ouvidos do jovem de cabelo verde e este engoliu sua raiva pela garganta. “Isso é tão errado.”

Eles seguiram em silêncio para a esquina mais próxima, onde havia uma viela vazia na qual eles poderiam conversar sem interrupções.

Jimin baixou sua cabeça assim que ficaram frente a frente, mesmo assim o outro reparou um corte no lábio inferior do amigo. E isso não era tudo. Ele estava mais magro e exibia um leve mancar em seu lado esquerdo.

– Como vão as coisas, baixinho? – O jovem mexeu a cabeça em um gesto de irritação. Ele odiava que apontassem sua baixa estatura. – Não quero brigar com você. Só quero conversar.

– Eu sou dois centímetros mais baixo que você, corta essa. Fala logo o que você tem para falar.

– Que porra você está fazendo com sua vida? – perguntou, agora exibindo um pouco de exasperação. – Eu achei que Jackson era a pior pessoa que você poderia se relacionar e agora eu até me arrependo. Ravi? Sério? – Yoongi não conseguia parar de falar. Tudo saiu de uma vez enquanto ele se mexia descontroladamente. – Você era tão inocente… Merda, eu quase te vi se drogando.

– Eu fui obrigado a mudar. Ser inocente não me trouxe nada de bom. – Jimin olhou para os olhos marejados do homem na sua frente. Ele não voltaria a ser como era. – Talvez seja hora de perder completamente essa face da minha vida.

– Minnie, eu sei que as coisas sempre foram difíceis para você e eu não ajudei em nada te tratando daquela forma, mas por favor, você vai acabar se matando. – A voz do rapaz estava em tom de súplica; o desespero era evidente.

– Morrer é melhor do que se sentir um lixo todo dia. – O jovem deixou as lágrimas rolarem e encarou a cara piedosa do outro. – É horrível acordar todo dia e saber que seus pais te desertaram por você querer seguir um sonho que há muito tempo já percebeu que nunca conseguirá realizar.

– Não fala assim, você ainda vai se tornar um grande dançarino. – afirmou se aproximando do amigo. – Eu sei que parece impossível agora, mas nós podemos superar os obstáculos juntos.

– Superar obstáculos juntos? – Jimin riu sarcasticamente. – Você é um batedor de carteiras, seu pai logo, logo vai morrer e seu destino é a prisão. Você só pode estar maluco em pensar que algo na sua vida irá dar certo.

As palavras proferidas acertaram Min como um tapa. Suas lágrimas não podiam mais ser controladas e ele nunca se sentiu tão fraco. Todos os medos dele foram expostos de uma só vez e saíram da boca da pessoa que ele mais confiava na vida.

– Não vai falar nada? Perdeu a língua?

– Eu não te reconheço mais. – falou limpando as lágrimas que teimavam sair.

– Então significa que eu estou atingindo meu objetivo de mudar.

Yoongi mirou a pessoa que o fitava fixamente com um olhar triste e percebeu que por detrás de toda aquela nova fachada, o antigo menino que ele conhecia, ainda estava ali, porém quebrado demais para sair de sua casca defensiva e, recentemente, maldosa.

– Você quer dar esse gostinho para os seus pais? – perguntou dando ênfase nas palavras. – Está fracassando e é tudo o que eles disseram que iria acontecer.

– Cala a boca. – começou rangendo os dentes. – Você é um nada e não tem direito nenhum de me falar sobre falhas.

– Jimin, eu… – Não podia deixar o outro ganhar, pois iria significar que ele voltaria para o Wonshik, para o roubo, para as drogas, ou seja, para a morte certa. – Eu conheço um professor de dança, ele pode te ajudar. “Mas que merda eu estou falando? Hoseok não iria querer ver minha cara nem pintada.” – Os movimentos dele são muito bons. “Estou realmente desesperado.”

O cabelo cinza do rapaz se mexeu quando ele balançou a cabeça em confusão e uma pequena ruga surgiu bem no meio da sua testa. “Ele só pode estar mentindo.”

 – Que? E por que você nunca me apresentou a ele?

– Somos amigos recentes. – Yoongi se animou um pouco, pois o outro parecia estar cedendo na conversa. – Hobi ficou tão feliz em escutar sobre você… Hum… ele que me incentivou a te procurar e pedir desculpas. – Um barulho divertido escapou das narinas enquanto Min comentava sobre o ruivo.

Yoongi olhou para o amigo com um olhar esperançoso e percebeu que Jimin o encarava de volta com um lado dos lábios arqueados quase em um sorriso.

– Você gosta desse cara… – A expressão de Jimin beirava a incredulidade e o divertimento.

– Claro que não! – exclamou um pouco nervoso. Ele não queria que tudo fosse por água abaixo por causa de um ataque de ciúmes. – Ele é uma pessoa muito divertida e você ia amar dançar com ele.

– Sua cara é ridícula. Você não sabe mentir... – O jovem de cabelos verdes coçou a nuca e tentou mudar a expressão para a seriedade. – Não acredito que vivi para te ver apaixonado.

Estava tudo perdido, Min tinha certeza. O jovem nunca o perdoaria, provavelmente estava com mais raiva dele.

– Babaca… – Park abanou a cabeça levemente, disfarçando um sorriso, mas este foi captado pelas olhos preocupados de Yoongi.

O coração do homem pulsou levemente em esperança, talvez não fosse realmente perder Jimin, talvez essa fase “rebelde com causa” terminasse se ele fosse paciente o suficiente. O lado ruim é que a vida não é nada paciente.

O sorriso de Jimin morreu a medida que seus olhos se fixaram em algo atrás de Yoongi. O corpo pequeno do jovem ficou visivelmente mais tenso e Min logo entendeu o motivo quando ouviu uma voz bem próxima a sua nuca, como uma espécie de provocação.

– Querendo reaver o que perdeu, Agust D?

Foi preciso muita força de vontade, para que Min Yoongi não socasse o sorriso debochado para fora da cara de Kim Wonshik. Os dois homens se encararam por longos segundos, era um disputa, perdia aquele que desviasse primeiro, que fraquejasse primeiro. O clima estava a cada segundo mais tenso, cada respiração parecia pesar mais e mais entre aqueles dois. Temeroso pelo pior, Jimin entrou no meio, puxando Wonshik pela mão.

– Ele veio apenas me dar um recado. Já está de saída, certo? – A voz do mais novo soava como uma súplica. Apesar de tudo o que havia dito, no fundo, Yoongi sabia que ele se preocupava com sua segurança e tinha total noção de que estar na presença daquele outro homem era sinônimo de encrenca.

– Mas já? Qual o motivo da pressa? Contou pra ele do nosso novo trabalhinho? – O sorriso debochado, característico de Wonshik, cresceu em seu rosto. Os olhos de gato faiscaram de malícia ao notar a expressão de medo nos olhos de seu acompanhante. O homem achava aquilo deveras excitante, motivo pelo qual ele gostava de provocar Jimin em primeiro caso.

– Que trabalhinho? – Pausadamente o homem de cabelos verdes perguntou, buscando os olhos de Park. Sua voz não escondia seu medo ou sua raiva daquele momento.

– Ah, não é que esse mocinho sabe guardar segredo? – Ravi estava tendo o momento da vida dele. Agust sempre foi alguém que ele desprezada. “Estou acabando com seu precioso menino.” – Nós vamos limpar a casa de um ricaço.

– Jimin, você vai participar disso? – As palavras pularam tão rápido de sua boca que Yoongi nem respirou direito. – É perigoso. Não vale a pena.

A garganta de Park ficou seca e seu olhar era de puro desespero.

– Verdinho, acho melhor você ir embora não? – falou, chegando bem perto do rosto do mais baixo. – Eu ainda tenho que dar um trato no moleque aqui.

Antes que Jimin pudesse reagir, Yoongi partiu para cima do outro homem, socando-o bem nos dentes. Debochadamente, o outro gargalhou e cuspiu o sangue no chão.

– Você está me deixando cada vez mais excitado.

Dessa vez, o mais baixo foi mais rápido e ficou entre os dois com os braços esticados. Seu amigo era ágil, mas seu amante era duas vezes mais forte e violento.

– Já chega! Chega! Eu disse chega! –  O de cabelo cinza gritou, afastando Yoongi de Wonshik com toda a sua força. –  Não se mete nisso. Chega. –  A voz do garoto era suplicante e tão baixa que somente Yoongi o escutou e antes que o mesmo pudesse retrucar ele se afastou abanando a cabeça.

–  Vamos embora… –  Foi a última coisa que ele ouviu antes de observar o menor se afastar, puxando Wonshik pela mão. O homem de sorriso irônico apenas lançou um último olhar de desprezo para o homem de cabelos verde e espalmou o traseiro de Jimin, somente para provocá-lo.

O jovem ficou parado no meio da viela repassando em tudo o que tinha acontecido naquela madrugada, quando percebeu o que tinha que ser feito para mudar aquela situação.

“Eu vou te tirar dessa, seu pirralho inconsequente. Depois eu mesmo vou te matar.” Pensou enquanto caminhava para casa.