Kakashi caminhava com Sasuke em seu encalço e os olhares curiosos pairam sobre os dois. O copy-ninja estava acostumado, porém muitos dos olhares direcionados eram de medo, e isso o incomodou de uma forma inexplicável.
Ao adentrar na enorme e grandiosa sala do Hokage, o mais velho sentou-se atrás de sua mesa e fez um sinal com o queixo para que seu antigo aluno se sentasse a sua frente, porém o mesmo continuou em pé, se mostrando altivo.
- E então Sasuke. Agora que estamos a sós, pode falar.
- Primeiramente gostaria da minha permissão para reformar o distrito, como você mesmo havia me informado que já estava cuidando disso.
- Oh! Sim... - O Hatake abriu uma gaveta e vasculhando lá dentro tirou uma pasta e a entregou para o moreno. - Aqui estão todos os documentos devidamente assinados acerca disto. O distrito está oficialmente em seu nome, e já tem meu alvará para que comece uma reforma no antigo clã Uchiha.
- Ok. - Sasuke pegou a pasta e guardou dentro de sua capa preta. - Segundo. Eu queria tentar entender aquele último pergaminho que me enviou, não compreendi sua preocupação com o Naruto, achei que tudo estivesse certo de que ele iria virar o Nanadaime Hokage.
- E está, mas é uma longa história.
- Hm. - O Uchiha acenou com a cabeça para que o antigo sensei continuasse. Estava cansado da viajem que fez de volta a vila, porém tudo o que envolvia Naruto era assunto importante para ele, afinal, devia muito ao amigo cabeça oca por fazê-lo sentir novamente algo que a muito acreditava não ser capaz: amor.
- Acredito que saiba que para tornar-se Hokage é necessário ceder muito de sua vida pessoal. Afinal, Konoha é uma vila que está em constante crescimento, e após a guerra está sendo necessária muita dedicação e trabalho duro para fazê-la levantar. - Kakashi levantou-se de sua cadeira e caminhou calmamente para a janela que dava a vista da sua tão amada vila. - Naruto está se empenhando, e por mais que eu sinta por ele, estou pegando pesado.
- Não sinta. Ele será o próximo Hokage, deve aprender a se virar. E você com pena de dar trabalho para os outros, é nova para mim.
- Você não entende Sasuke... A questão não é essa... - O ninja deu um longo suspiro. - Naruto terá que casar-se por contrato.
- Como?
- Tentando manter uma aliança mais estável, os conselheiros decidiram casar o próximo Hokage com a herdeira legítima do senhor feudal, afinal isso daria ainda mais poder ao Hokage, o fazendo uma das pessoas mais respeitáveis de todo o mundo ninja. Trazendo muitos benefícios para a vila.
- E Naruto sabe disso? Ele não está de casamento marcado com a Hyuuga?
- Ele sabe. Contei ontem a noite, e ele disse que iria pensar, saiu daqui arrasado. Porém você sabe como o Naruto é, esconde suas preocupações e fraquezas atrás de um sorriso e animação inabalável. Mas eu tenho a certeza que ele irá aceitar, afinal, se tornar Hokage é tudo o que ele sempre desejou.
- Entendo. Irei conversar com ele.
- Sim, ele está muito ansioso com sua volta, tenho certeza que fará bem uma conversa entre vocês.
- Ok.
- E Sasuke... - O Hatake voltou a fitar o moreno. - Sakura está a sua espera.
- Não pedi para que me esperasse.
- Não fale assim, sabe que ela nutre um sentimento de amor por você.
- Somos ninjas Kakashi, sabe que amor é a última coisa que devemos nos preocupar. Agora não penso nisso.
- Mas você terá que reconstruir seu clã.
- Com todo respeito, mas isso são assuntos que só dizem respeito a mim. Agora com licença Hokage. - Sasuke fez uma leve reverência. - Estou indo para minha casa.
E assim o moreno sumiu a sua frente, deixando apenas um rastro de fumaça. Sasuke nunca mudaria, sempre seria o mesmo garoto mal humorado, egocêntrico e impotente. E por mais que Kakashi não fosse conivente com várias ações e pensamentos de seu antigo pupilo, ele ainda era o pequeno Uchiha do estimado time 7.
[...]
Após a breve conversa com Sasuke, o Hatake voltou para seus afazeres, e tudo fluiu normalmente. Quando passava das 20h30 e tudo se encontrava em perfeita ordem dentro do escritório do Hokage, Kakashi e Naruto iam em direção do Ichiraku, afinal não haviam nem ao menos jantado, decidindo por comerem um bom ramén juntos.
- Kakashi-sensei... - Naruto dizia olhando para baixo. - Hina-chan nunca irá me perdoar...
- Hinata é uma kunoichi criada dentro de um dos maiores clãs de Konoha, e também o mais conservador. Sabe que ela, mais do que qualquer um irá entender Naruto.
- Mas eu não queria magoa-la... Eu... Eu gosto muito dela sensei. - O loiro disse coçando os cabelos dourados.
- Entendo Naruto. Mas você já fez sua escolha, qualquer que fosse sua decisão, iriam haver consequências. Você deveria saber disso, afinal, é um shinobi.
- Só gostaria que ela encontrasse alguém que fosse bom para ela, e que a amasse da forma como eu nunca consegui.
- Infelizmente eu não sei o que falar acerca disso Naruto, mas saiba que estarei aqui sempre que você precisar.
- Obrigado sensei...
- Agora chega desse assunto. - O ninja mais velho falou, sentando-se em uma mesa do pequeno restaurante. - Me diz, o que você vai querer hoje? Eu pago.
Os olhos do loiro chegaram a brilhar de animação, e com um salto, ele já estava a seu lado todo animado, da forma como todos gostavam de vê-lo, da forma Naruto de ser.
- Sérioooo? Então eu acho que vou querem dois de carne de porco e...
- E mais nada. - O Hatake o interrompeu. - Eu disse que pago, mas o suficiente para uma pessoa. No máximo duas Naruto.
- Ah, qual é Kakashi-sensei, você é o Hokage, e continua sendo um pão duro.
- Isso mesmo, sou o Hokage, não sua poupança pessoal.
E com um bico enorme o loiro se contentou com os raméns pagos pelo antigo sensei, os devorando em seguida.
[...]
Pov. Hinata
A perolada cantarolava uma canção enquanto mexia as panelas a sua frente. Com o joelho flexionado, e o pé apoiado na coxa direita.
Não era segredo para ninguém como ela amava cozinhar, e poderia até considerar como um de seus hobbies.
Estava distraída, provando a sopa, quando dois toques na porta a fizeram sobressaltar: não estava esperando visitas, e Naruto costumava chegar só após as 22h, e não as 20h. Concentrou-se em sentir o chakra de quem quer que fosse, porém não encontrava nenhum vestígio, a não ser uma leve ondulação arroxeada.
Com passos leves foi até a entrada da casa, e abriu vagarosamente a porta, ficando surpresa com quem encontrou. Era Sasuke Uchiha, o melhor amigo de Naruto, e que pelo jeito havia acabado de chegar na vila, se não ela e todos já saberiam, pois seu noivo certamente estaria gritando aos sete ventos que o amigo estava de volta.
- Uchiha-san. - Ela fez uma reverência ao mesmo momento que ele.
- Hyuuga. Naruto está?
- Infelizmente não, ele ainda está no treinamento com o Hokage, você gostaria de entrar?
- Não. Sabe se ele vai demorar? Preciso conversar sobre algo com ele.
- Na verdade não posso afirmar, todo dia é diferente, mas normalmente ele só chega após as 21h. Tem certeza que não quer entrar? Eu acabei de fazer um Sukiyaki. Posso fazer um chá para acompanhar.
- Não quero incomodar Hyuuga.
- Não será incômodo nenhum Uchiha-san. Por favor, faço questão.
Na verdade Hinata não fazia tanta questão assim, porém não comia com uma companhia a tanto tempo, que qualquer pessoa que batesse em sua porta próximo a qualquer refeição ela convidaria, apenas para não se sentir só, como vinha se sentindo nos últimos tempos.
Abriu ainda mais a porta e deu alguns passos para trás, com um sorriso nos lábios sinalizou com a mão livre para que o moreno entrasse.
Sasuke sempre foi uma pessoa reservada, e nunca teve maior contato que uma simples reverência e troca de olhares com a Hyuuga, porém ainda era o melhor amigo de seu noivo, e ela ainda era Hinata, sempre muito gentil e acolhedora. Ela não iria medir esforços para ser atenciosa com os amigos do futuro marido, afinal, Sasuke sempre foi uma das grandes motivações para o loiro sempre buscar ser melhor, e ele o considerava um verdadeiro irmão.
Sua lógica era simples: se era importante para Naruto, também era para ela.
Caminhou em direção da cozinha com Sasuke em seu encalço e o convidou para se sentar.
Ao finalizar a mesa pronunciou em um tom afável.
- Pode se servir Uchiha-san.
Com um aceno com a cabeça o moreno se serviu e esperou até que ela também o fizesse. Quando os dois estavam um de frente para o outro, juntaram as mãos e falaram em uníssono:
- Itadakimasu!
Naquela pequena cozinha, nada mais era ouvido se não o bater leve de talheres e as respirações controladas. Um silêncio profundo pairou sobre o local, e como ambos eram descendentes dos dois maiores clãs de Konoha, foram criados com os costumes tradicionais, sendo o silêncio durante as refeições uma determinação para que se mantesse a ordem durante um momento considerado sagrado.
- Espero que tenha gostado Uchiha-san. - Hinata comentou enquanto recolhia as louças e as colocava na pia para serem lavadas.
- Estava maravilhoso. Agradeço Hyuuga.
- Obrigada. Sempre faço o suficiente para dois, mas na maioria das vezes como sozinha e Naruto no Ichiraku.
- É bem a cara dele.
Hinata deu um breve sorriso e em seguida suspirou profundamente.
- Sinto muito por lhe fazer esperar... Ele ainda não chegou. - Ela dizia olhando para o relógio e confirmando que já passavam das 21h20.
- Tudo bem. Não quero mais tomar seu tempo, já irei, quem sabe encontro ele no caminho.
- Ok. - Ela levou o Uchiha até a porta, e após ele colocar as sandálias ninjas e abrir a porta ela se despediu. - Jaa ne Uchiha-san.
- Jaa ne. - E curvando-se, Sasuke saiu porta afora.
A Hyuuga voltou para dentro, indo em direção da cozinha, teria que dar um jeito na louça, e após iria tomar um banho e esperar seu amado.
Quando estava colocando os pés para fora da banheira, escutou a porta se abrir: Naruto havia chegado. Terminou de se arrumar e desceu as escadas, encontrando seu noivo sentado no grande sofá, com a cabeça abaixada, e os cotovelos apoiados nos joelhos. Aquilo era uma cena incomum, pois apesar do Uzumaki sempre chegar cansado, era de costume ir direto para o banheiro tomar banho para dormir, não ficar sentado cabisbaixo no sofá.
- Naruto-kun? Está bem? - Ela perguntou preocupada. O loiro enfim levantou a cabeça e fitou a amada, porém seus lindos olhos azuis estavam opacos, sem vida e demonstravam uma tristeza que ela a muito não via.
- Precisamos conversar Hina-chan.
O coração da perolada já estava apertado, um sentimento de medo a consumia. Entretanto tentou afastar pensamentos ruins, e sentou-se ao lado de Naruto.
- Sabe Hina, inicialmente eu queria lhe dizer que eu te amo. Você sempre esteve ao meu lado quando ninguém mais acreditava em mim. Sempre com esse sorriso doce e o jeito delicado de se preocupar com o próximo. Devo confessar que realmente te admiro... Além de uma ótima kunoichi, é uma mulher maravilhosa, e eu sou eternamente grato por tudo o que sempre fez por mim. - Hinata já estava com os olhos marejados, não entendia o motivo do Uzumaki estar falando tais palavras, e seu coração indicava que não viriam mais coisas boas a partir daí. - A última coisa que eu queria era lhe magoar, pois você merece todo o amor e felicidade do mundo. Então me desculpe Hina... Mas nós não podemos mais manter essa relação.
A kunoichi arregalou os olhos. Seu coração acelerou, e respirar havia se tornado difícil. Como assim? Naruto estava terminando com ela? Isso não fazia nenhum sentido. Tentando se acalmar, ela perguntou em um fio de voz:
- M-mas p-porque Naruto-kun?
- Agora não posso explicar, mas saiba que assim que possível eu esclareço tudo a você Hinata. Me perdoe... - O loiro também tinha os olhos marejados, contudo conseguiu se manter firme. Com toda certeza seria um ótimo Hokage. - Eu apenas vou pegar minhas coisas, e voltarei para o apartamento onde morava. Você pode ficar aqui com tudo Hina, é o mínimo que eu posso fazer.
A morena estava desolada, e chorava abundantemente. Sua mão estava sob o peito, como se tal ato a ajudasse a amenizar a dor que a consumia.
Naruto aproximou-se da Hyuuga, e ela pode perceber que quando ele foi abraça-la suas mãos tremiam.
- Por favor, não chore Hina! - A voz sempre tão animada, saiu chorosa. - É tudo minha culpa, me perdoe.
Hinata não conseguia nem respirar direito, portanto falar era impossível naquele estado. O loiro pegou-a delicadamente nós braços, e a levou para o quarto, no andar de cima.
Chegando lá, depositou a morena na cama, e deitou-se junto dela. Não sairia daquela casa com ela naquele estado por nada. Iria cuidar dela, ao menos uma última vez.
Os perolados olhos da Hyuuga já ardiam, e não saberia dizer quando tempo chorou até dormir. Mas quando acordou no meio da madrugada, já estava sozinha. Naruto, seu amado Naruto não estava mais na casa, e ela sabia que nunca mais estaria.
A dor que se apossou de seu peito a torturava. Era algo dilacerante, e tudo o que ela fez foi se encolher na cama, e soluçar, até algo divino acontecer, e a tirar dessa escuridão que a assombrava.
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