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História Hino ao Amor - O primeiro movimento


Escrita por: makkachin

Capítulo 36 - O primeiro movimento


Lausanne estava fria. A secretária do Presidente da Federação Internacional de Patinação tinha muitas coisas a fazer, especialmente com a temporada acontecendo agora. O Grand Prix era a primeira grande competição depois das férias e tudo tinha que estar organizado para ontem. Atletas precisando de vistos de emergência, ou autorizações dos governos para competir, e ela tinha que fazer ligações com escritórios do mundo todo, só para garantir que tudo saísse da forma como tinha que sair.

Contudo, nem sempre as coisas aconteciam da forma mais fácil. Depois do final de semana com a competição em Moscou o site da Federação Internacional tinha recebido uma revoada de mensagens. Ela como secretária do Presidente nem veria muitas daquelas mensagens, só que quando elas começaram a chegar às centenas, alguma coisa tinha que ser feita.

Ela checou uma por uma as mensagens, e depois teve que ir procurar pelos protocolos da competição. Como alguém que nem tinha tanto conhecimento de patinação no gelo poderia saber onde que estavam os erros naquelas fichas? Ela poderia até reconhecer algo aqui e ali, mas era tudo por sobre a cabeça dela.

Só que, interromper o Presidente com mais problemas não seria bom. Contudo, alguém teria que fazer. Ela mandou todas mensagens para uma caixa de entrada especial e pegou os protocolos em mão para falar com o homem. Ela já sabia que o dia seria longo.

~*~

Justiça para o Japão!

Era aquilo que um monte das mensagens nas páginas de patinação pediam. Yuuri tinha que confessar que ele se sentia tocado por todo aquele carinho dos fãs, e certamente aquilo era uma das razões pelas quais ele queria voltar a patinar, que ele queria voltar a competir, porque se dependesse da sua própria vontade, ele voltaria a dormir no seu quarto pelo resto do ano.

“Filho, vem tomar café?” A mãe de Yuuri pediu. Ele ouviu ela voltando para a cozinha e depois se enterrou um pouco mais fundo nos cobertores. Se ele fosse continuar a patinar, Yuuri teria que algum dia decidir sair do seu quarto, mas haviam se passado dois dias desde a volta dele para o Japão e nada parecia fazer sentido na sua vida. A mãe de Yuuri deixou ele aguentar a sua tristeza por um momento, mas Yuuko e Minako viviam mandando mensagens para ele sobre voltar a treinar.

E Yuuri sabia que uma hora ou outra ele teria que voltar a treinar sim, porque ele não queria parar de competir agora, só que ainda era complicado. Pior do que isso, Yuuri não queria nem saber de treinar os seus programas porque eles lembravam Yuuri de Victor, e aquele momento não seria bom para lembrar de Victor. Yuuri não queria nem pensar nele.

No fim das contas ele decidiu se levantar, e caminhou com calma até a cozinha, com medo de ter toda a família por ali, mas só tinha sua mãe. Ela deu um sorriso cansado para Yuuri.

“Você quer comer algo em especial hoje?”

Yuuri sacudiu a cabeça, e ela preparou um simples omelete para ele.

“Você está melhor?”

A pergunta foi um tempo sem ser respondida. E o que Yuuri teria para dizer? Não ele não estava melhor, mas a vida teria que continuar, e uma hora ou outra Yuuri teria que seguir em frente.

“Acho que vou voltar a treinar hoje,” ele falou ao invés de responder.

“Ah, que bom, Yuuri. É bom que você retorne aos poucos a sua rotina, não é?”

“Acho que sim,” foi sua resposta. Logo a comida apareceu na sua frente e Yuuri se pôs a comer. Sua mãe não pediu mais nada, deixando Yuuri sozinho por um momento para fazer alguma coisa no Onsen. Ele ficou ali, comendo, pensando em nada. 

Pelo menos parecia uma pequena vitória ele finalmente sair da cama e fazer alguma coisa. Quem sabe ele poderia voltar aos poucos a treinar, fixar bem os seus saltos, treinar seu condicionamento físico, coisas que não precisavam pensar em música ou nada assim. Pelo menos ele tinha recolhido todos os pôsteres e fotos que tinha de Victor em volta da pousada, porque Yuuri não queria ir recolhendo elas agora.

Ele já nem queria pensar em Victor, mas vez ou outra o homem aparecia em sua mente. Yuuri não sabia exatamente o motivo de aquela separação ter acontecido, especialmente porque Victor parecia tão feliz com Yuuri, e tão triste ao desfazer o relacionamento deles dois.

Os fãs estavam sem saber o que fazer. Nenhum repórter cobriu a separação porque eles não sabiam, mas havia uma foto que foi tirada e apareceu na internet, era uma montagem de duas outras imagens de Victor e Yuuri. Na foto de Yuuri ele estava abraçado a Yuuko e chorando. Na outra foto, Victor tinha lágrimas escorrendo pelo rosto e olhando para o céu.

Ninguém tinha ideia exatamente do que havia acontecido, por isso os fãs tinham as suas teorias, mas ninguém parecia querer ficar apenas de um lado da história. O que era uma completa mudança do que havia acontecido no começo. Yuuri não conseguia nem imaginar quando aqueles fãs que faziam montagens com ele tinham desaparecido, porque a maior parte dos fãs agora tinha ficado triste com esses momento difíceis entre os dois.

Yuuri tentava se impedir de olhar para aquelas fotos, ele tentava. Mas era complicado.

Quando ele deixou o Onsen para ir treinar, as ruas de Hasetsu estavam vazias. Era algo tão diferente do que ele estava acostumado ao lado de Victor, de ter patinadores e repórteres e pessoas de um lado e de outro, de ter uma vida agitada, mas um lugar apenas para eles dois juntos. Muita coisa acontecia ao mesmo tempo, mas Victor era sempre Victor, não importava onde.

Era daquilo que Yuuri sentia falta.

Quando ele entrou no ginásio muitas das crianças que estavam treinando pararam de se mover, e todo mundo ficou olhando para Yuuri. Num momento ele achou que ia ter que se esconder, mas do nada as palmas começaram. Primeiro mais contidas, mas logo as crianças começaram a gritar também, batendo palmas com todas as forças para Yuuri.

“YUURI! YUURI!” E com todo aquele amor ficava difícil controlar as emoções. Yuuri sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, e ele acenou para as crianças que treinavam no gelo.

Sem esperar um momento elas começaram a correr e patinar na direção de Yuuri, e ele se viu envolto em um mar de pequenas mãos e cabeças, querendo abraçar e apertar nas mãos de Yuuri, querendo parabenizá-lo pela competição. Parecia bom demais para ser verdade, mas pelo menos depois de tanta dor, Yuuri se sentia acolhido em sua casa de volta.

Quem sabe as coisas iriam ficar bem.

~*~

Victor ficou dois dias longe do rinque. Nem Yakov, nem Yuri ou Otabek perguntaram sobre ele, mas Victor não iria os atender mesmo se perguntassem. Ele só queria ter um momento para avaliar o que ele tinha feito de sua vida.

Perder Makkachin tinha sido muito doloroso, mas dizer um adeus para Yuuri, aquilo tinha sido de cortar o coração. E tudo aconteceu bem em um dos momentos mais complicados da carreira de Yuuri. Victor tinha feito aquilo já tarde demais, porque Yuuri já estava praticamente sem chances para chegar a final, e ainda assim eles se separaram.

Ele tinha tuitado sobre seu desgosto com corrupção nas competições de patinação, e ele viu que sua mensagem foi reblogada por muitas pessoas, compartilhada em muitos meios, e um pequeno mas poderoso movimento de protesto tinha começado. As pessoas queriam competições mais limpas, e as diretrizes daquele movimento pediam que todo mundo enviasse mensagens para a Federação Internacional de patinação sobre isso.

Ele não fazia ideia se iria funcionar ou não, se os Presidente da Federação iria fazer alguma coisa, porque se começasse a se incomodar com uma pessoa, ele iria puxar a quadrilha inteira, e Victor sabia que muita gente estava envolvida nisso.

No seu coração ele sabia que havia a possibilidade de em algum momento em sua carreira ele ter sido ajudado dessa forma também, por isso ele não podia ser hipócrita, mas era por isso mesmo que ele queria que isso terminasse. Foi triste demais ver toda a evolução que Yuuri tinha feito ir por água abaixo.

Enfim, passados esses dois dias, Victor sabia que teria que fazer alguma coisa. Ele sabia que não poderia ficar apenas em casa, porque afinal de contas ele ainda teria que continuar trabalhando com Yakov, por isso que a primeira coisa que ele fez foi tomar um banho e se aprontar para ir ao ginásio onde eles treinavam.

Victor foi de carro porque ele não queria ter que olhar para a cara de ninguém, e quando ele chegou lá o estacionamento interno foi a escolha para Victor ver o menor número de pessoas possível. Contudo, ele se surpreendeu com a falta de gente no ginásio. Durante o dia era comum ver os patinadores treinando, atletas indo e vindo, mas ninguém estava por ali.

Ele foi caminhando pelos corredor até ouvir um murmurinho vindo da sala de imprensa. E para sua surpresa ela estava lotada de jornalistas, atletas, dirigentes, pessoas assistindo a uma coletiva de imprensa que Victor não sabia que tinha sido convocada. No palco estavam Yuri, Otabek e Yakov, sentados e esperando pelas perguntas.

Victor ficou curioso sobre o que era aquela coletiva.

“Nós os convocamos aqui porque meus dois atletas têm notícias para a comunidade internacional.” Yakov apontou com a mão para Yuri e Otabek.

Havia um sentimento de receio se firmando em Victor, e ele esperava que os dois não estivessem fazendo o que ele pensava que estavam fazendo, porque se eles anunciassem um relacionamento agora, era bem possível que o Presidente da Federação Russa fosse enlouquecer, e acabar com a carreira dos dois - se bem que, pensando um pouco, o homem não poderia fazer nada, porque os dois eram os melhores patinadores que a Rússia e o Cazaquistão poderiam ter.

Otabek assentiu para Yuri, que respirou fundo antes de falar.

“Nós estamos recusando as nossas possíveis vagas para a final do Grand Prix deste ano,” ele falou. Câmeras começaram a soar e pessoas murmuravam sua surpresa. Victor também estava surpreso. “Depois de conversas entre Yakov e meus preparadores físicos, foi encontrado que a melhor opção para mim e para Otabek seria ficar se fora da final neste ano.”

Assim que ele finalizou sua frase, uma onda de perguntas começou a voar pelo ar.

“O que motivou essa escolha?”

“Porque vocês dois estão juntos nessa coletiva?”

“Isso tem a ver com as denúncias de possível corrupção na patinação?”

Por um momento nenhum dos dois falou nada, mas Yuri logo levantou sua mão e silenciou a todos.

“A minha única resposta será dada agora, então peguem suas canetas e gravadores porque vou falar só uma vez. Depois de ter participado de duas provas do GP nesta temporada, eu e Otabek já temos a nossa vaga praticamente garantida. Ao mesmo tempo em que estamos felizes com a possibilidade de competir por essa medalha mais uma vez, ficamos bastante consternados com a reação do público durante o Grand Prix de Moscou, no último final de semana. Após muita discussão, nós entendemos que a reação do público não é tão diferente da nossa, e por isso nós decidimos tirar mais tempo para nos preparar para outros campeonatos, como o Europeu e os Quatro Continentes, além do Mundial, deixando de lado essa competição em particular. Vai ser uma pena não poder conhecer o público da América do Norte na final, e nós pedimos desculpas aos nossos fãs, mas nós voltaremos a competir em seguida, só não achamos realmente necessário participar desta competição.”

Yuri assentiu para os jornalistas e se levantou. Assim que ele fez isso, Otabek e Yakov fizeram o mesmo, e os jornalistas começaram a lançar mais uma revoada de perguntas. Victor ficou ali estupefato com o anúncio, mas logo que alguns dos jornalistas viram que ele estava ali, Victor foi abordado.

“Isso tem alguma influência sua, Sr. Nikiforov?”

“Foi você que os obrigou a sair da competição?”

“Tem alguma coisa a ver com sua briga com Yuuri Katsuki?”

Victor começou a caminhar para uma das salas e fugir deles, mas ele se virou para olhar para todos que estavam ali. Ele tinha que deixar claro para todo mundo, e o Presidente, que ele não tinha nada ver com isso.

“Eu não tive nada que ver com isso, nem sabia que iriam decidir desistir da competição. Certamente é algo que eu não autorizei, mas como eles não são meus atletas, nada posso fazer. E é só isso que eu posso dizer.”

Victor ouviu mais perguntas, mas ele se foi para uma sala e a trancou, esperando todo mundo ir embora. Parece que as coisas tinham começado a se mover sem ele nem fazer nada, e Victor estava curioso para ver como o mundo, e o Presidente, iriam reagir a tudo isso. Ele torcia para nada ruim acontecer agora com Yuri e Otabek.

 



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