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História Hipocentro - Zahir


Escrita por: yugensouls

Capítulo 17 - Zahir


Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se me revela.

Albert Einstein

 

Os bangalôs tem um movimento razoável ao anoitecer. Itziar desce a pequena escada de acesso à areia, e é presenteada pela brisa marítima. O vestido que usa é preto, com alças finas que deixam seus ombros em destaque, e um tecido que se ajusta confortavelmente, contornando com precisão suas curvas notáveis.

Sente alguns olhares, mas não se dá ao trabalho de devolvê-los.

“Itziar! Aqui!”

Ela se vira.

Bem, pelo menos eles não estão sozinhos. Esther, Darko, Jesus e mais algumas pessoas da equipe de filmagem acompanham Álvaro. Uma banda toca salsa animadamente, e ela suspira ao som dos maracás sendo chacoalhados de maneira festiva. Ela se aproxima da mesa, e senta-se em uma das pontas, ficando na diagonal dele. Percebe o olhar do mesmo, a maneira discreta com que ele confere cada centímetro. Há um certo desconforto, e ele se ajeita na cadeira, desviando os olhos para o outro lado.

Mi vida!” Esther a abraça. “Como foram as gravações hoje?”

“Foi bem divertido. As pessoas aqui são tão bondosas!”

“Sim. Este lugar é um paraíso.” Suspira a loira. “Será que podemos ficar por aqui por mais alguns meses?”

Itziar sorri. Seus olhos encontram os dele, e ela se pergunta qual seria o desfecho se eles ficassem ali por meses. Odeia a maneira com que ele a tem encarado desde que chegou. Faz com que seu estomago pegue fogo, e ela apenas começou a beber.

“Seria uma reviravolta, não é?”

“Vamos comemorar isso!” Exclama Darko, sorrindo. Ela o adora. Ele é bastante simpático, e sempre a trata com carinho. Eles brindam, liquido caindo pelos copos cheios, risadas lado a lado com a música tocada ao fundo.

Um dos garçons chega até a mesa deles com um copo alto, uma bebida colorida que começa amarela, e desce numa transição até um vermelho vinho, uma espécie de pôr do sol em uma taça. Há cerejas na parte de cima, acompanhadas de um pequeno guarda-sol decorativo. Eles trocam um olhar confuso, rindo.

“Acho que ninguém aqui pediu por isto, meu caro.” Responde Darko.

“Foi enviado daquela mesa ali, para a senhorita.” Diz ele, colocando o copo na frente de Itziar. Eles se viram para a mesa indicada pelo garçom; são diversos rapazes, talvez de férias, e um deles está encarando-os com um sorriso perfeito. Ele é bonito. Muito bonito.

“Eu sou casada.” Diz ela, mas Esther revira os olhos.

“Oras, é só um drinque. Diz para ele que agradecemos muito, mas que ela é casada.”

O garçom sorri, e se afasta da mesa balançando a cabeça. “Mulher, não se nega uma bebida assim. Ainda mais de um gato daqueles.”

“Quem é gato?”

Ela não sabe de onde Álvaro saiu. Mas de repente, ele está de pé ao lado de Darko, olhando para ela. “Itziar está arrasando corações por aqui. Acredita que lhe mandaram essa bebida? Roberto que se cuide.” Zomba Esther, rindo.

Ela o vê engolir em seco, sua garganta movendo-se à contragosto. Não sabe se quer rir ou se esconder embaixo daquela mesa. “Você quer dançar?” Pergunta ele, mas ela fica perdida nas palavras. Não entende o que exatamente ele quer dizer; é como se houvesse um pane em sua cabeça.

“Eu quero.”

Esther toma a sua frente, e o segura pela mão. Eles se afastam, caminhando na direção da multidão que dança animadamente, os corpos em um ritmo universal. Ela adora a amizade entre o elenco; são todos tão unidos, quase como uma real família. Mas ainda assim, ela a inveja. Inveja que ela não possa fazer aquilo, dançar daquela forma com ele – permitir que ele a segure e a guia de uma forma tão sensual na frente de todos. Sabe, com toda certeza, que deixaria muitas coisas transparecerem se o fizesse.

“Eles são tão bonitos dançando.”

“Sim.”

“Que saudade da minha querida.” Sussurra Darko e ela sorri para ele, colocando a mão sobre a dele.

“Que homem apaixonado! Não fazem nem dois dias.”

“Um dia já me parece uma eternidade.” Brinca ele, e volta a brindar com ela.

Mais um brinde, mais um gole, mais um passo em direção ao desconhecido.
 

***

 

Ele e Esther continuam a dançar. A música é deliciosa, e a banda parece de fato adorar o que fazem, a melodia não deixa nunca de ser convidativa. Está quase imerso naquilo; mas algo chama sua atenção.

Darko está do outro lado da mesa, conversando com Jesus e Itziar não está em lugar algum. Ele volta a sorrir para Esther, evita que a mesma perceba o que ele está procurando. À direita deles, no bangalô-bar, ele a encontra. Está sentada na banqueta, conversando com um rapaz bonito de olhos azuis. Provavelmente o mesmo que lhe enviara a bebida.

Sente um aperto.

Não tem direito algum em sentir ciúmes dela. Não pode.

Mas ele sente, e isso o corrói.

Ela está sorrindo, e parece de fato muito confortável na presença dele; e ele por sua vez, parece definitivamente interessado. Ele mantém uma distância respeitosa, e não a toca, segurando seu copo de cerveja com confiança, os olhos fixos nela enquanto ela fala despreocupadamente.

Droga.

“Vou dar um tempo. As pernas clamam.” Diz Esther e ele assente, e a escolta até a mesa. Eles sorriem, satisfeitos, enquanto novas canecas de cerveja chegam. Há comida na mesa também. Esther percebe a movimentação no bar e dá um sorriso malicioso que não escapa aos olhos dele e faz sua cabeça latejar. Não quer pensar nisso.

 

***
 

Ao voltar para a mesa, ela imediatamente sente a ausência de Álvaro. Mas não comenta nada. Traz consigo a garrafa de champanhe italiana que Diogo lhe deu de presente; e Esther não pode fazer outra coisa a não ser arquear as sobrancelhas.

“Esse rapaz está querendo mesmo embebedar você.”

Ela ri.

“É um cara interessante. Disse que em outro contexto, eu me sentiria muito tentada a leva-lo adiante.”

“Eu levaria muito adiante.”

“Eu não conhecia este seu lado, Esther.”

A atriz e apresentadora sorri, o rosto explicitamente alegre. “Uma mulher solteira precisa de seus momentos de diversão.” Ao ajeitar-se na cadeira, ela volta a perguntar. “O que ele lhe disse?”

“Apenas se apresentou. Ele é engenheiro, estão em uma despedida de solteiro de um dos amigos. Me reconheceu por conta da série, disse que admira meu trabalho. É muito educado, não faltou com o respeito.”

“Um caso raro hoje em dia.”

Ela percebe que o movimento está caindo. Pergunta-se se ele foi dormir.

“Boa noite, meninas. Estamos subindo.”

Itziar levanta-se e vê Darko, Jesus e os outros em pé. “Mas já?”

“Gostaria de descansar um pouco.” Comenta Jesus. Mas não se importa se ela ficará. Ela não se sente julgada, felizmente. Afinal de contas, ele sabe que ela estará no local indicado na manhã seguinte, pontualmente como sempre.

Ela se levanta, e os beija. “Acho que vou com eles.” Diz Esther. “Você se importa?”

“Eu vou daqui a pouco também. Não se preocupe.”

Esther sorri e olha por cima de seu ombro para o grupo de rapazes atrás dela. “Seja o que for, vou querer saber depois.”

Itziar sorri para ela. Em poucos minutos ela está sozinha na praia, com a maré alta batendo contra as pedras e o som do tamborim preenchendo sua mente. Diogo a olha de longe, com uma curiosidade que ela conhece bem. Mas isso sequer atravessa sua mente.

“Agora você pode me conceder aquela dança?”

O sussurro a arrepia. Os lábios dele tocam sua orelha, e ela não se move, até que ele aparece em seu campo de visão. Há um certo silêncio entre eles; olhares confusos e provocativos. Ela coloca a mão sobre a dele, e ele a guia para um canto um pouco mais distante, fracamente iluminado. A mão firme toca a base das suas costas. Mas dessa vez, ele se arrisca. Seus corpos estão colados, e ela sente a respiração dele em seu rosto.

Por algum momento, sentem-se confortáveis no silêncio.

“Você está tão bonita hoje.”

A voz dele lhe arrepia, ainda mais tão baixa e tão próxima. Ele desliza a mão sobre as costas dela, acariciando-a. Estão brincando no limite do precipício e por mais perigoso que seja, a adrenalina vale a pena.

”Você também.” Sussurra ela. “Fica bem com essa camisa.”

A mão dela que está posicionada no ombro dele desliza, escorrega até seus tríceps. Ele suspira quando ela percorre a pele ali com as unhas, para depois apertar com um pouco mais de força. Ele geme, encosta a cabeça na cabeça dela. “Não faça isso conosco.”

“Achei que tivesse ido embora.”

Ele toca sua nuca, desliza as pontas de seus dedos ali, brinca com seus cabelos. “Eu precisava pensar. Fui caminhar na praia. É linda a essa hora.”

“Me leve.”

Ele abre os olhos, estabelecendo contato visual. “O que?”

“Me leve para caminhar na praia.” Ela desliza a mão até a nuca dele, e o puxa para perto. Alcança a orelha dele, mordiscando a pele do lóbulo antes de sussurrar. “Enseñame toda la isla, Álvaro.”

 

***
 

Eles caminham em silêncio. Itziar sente seu coração batendo tão forte que poderia quebrar sua caixa torácica. Não sabe exatamente o que está fazendo. Mas não consegue evitar. Percebe que ele também não faz ideia.

Mas ele estava certo. A praia está linda. Há pouca iluminação, apenas a que cobre a rua, em alguns metros de distância. A maré sobe um pouco mais, impulsionada pela lua. É bonito de se ver. “Me desculpe por tudo.”

A voz dele a traz de volta.

“Não faça isso agora.” Pede ela. “Apenas me dê sua mão.”

Álvaro não sabe o que ela vai fazer. Mas apenas aceita que aquela situação siga seu curso. Ele dá a mão a ela e a sente entrelaçar os dedos nos seus. É uma sensação familiar e gostosa, que o preenche de paz. Como se fossem destinados a estar ali, naquele momento, fechados em sua bolha.

“Não será possível, Itziar.”

O coração dela dispara. Por favor, não me rejeite.

“Como assim?”

“Eu jamais conseguirei ser somente seu amigo, cariño. Por mais que eu queira. Eu... Eu confesso. Eu sou fascinado por você. Meu corpo todo entrou em chamas quando vi você naquele bar, com aquele homem, sorrindo. Foi como sentir um soco na boca do estômago.”

“Álvaro.”

“Eu sei que não posso. Já fizemos toda aquela merda. Não sei o que você acha que eu sinto por você, não sei o que você quer de mim, mas por Deus, Itziar, eu aceito tudo. Qualquer coisa. Apenas não me tranque fora do paraíso.”

Eles permanecem em silêncio. Ele sente as mãos tremerem. Não faz ideia se levará um tapa no rosto a qualquer momento. Pergunta-se se ultrapassou os limites pela última vez.

“Álvaro...” A voz dela trepida, a cabeça gira descoordenada.

“Eu sei que”

“Meu Deus, cale a boca por um minuto.” Rebate ela, puxando-o pela camisa branca antes de colar sua boca na dele. Leva apenas alguns segundos até que as mãos dele alcançam suas nádegas, apertando-as, e ela permite acesso à língua dele, beijando-o com vontade, sugando-a, arrepiando-se com o toque molhado de uma sobre a outra. Ela geme, desliza as mãos para baixo da sua camisa, contorna o abdômen dele, sentindo sua pele. Está inebriada, completamente entorpecida pela libido fora de controle. Ela o quer, e nada a impedirá. As mãos dele deslizam pelo seu corpo, contornam sua cintura, e embaralham seus sentidos. Seu corpo todo está pegando fogo; sua mente não consegue mais achar justificativas para que ela se negue aquilo que tem desejado por todo este tempo. Memórias dos lábios dele em seu corpo, da maneira com que os dedos dele a fizeram explodir de prazer agora ressoam em seu cérebro, entupindo-a de lascívia.  

Está acontecendo.

“Itziar, o que estamos fazendo?” Geme ele, quando seus lábios encontram caminho para o pescoço dela, e ele a lambe preguiçosamente, sua língua trilha um caminho libidinoso da clavícula dela até o lóbulo da orelha. “Até onde pretende ir com isso?”

Ela fecha os olhos, morde os lábios por um segundo.

Ao abrir, ela tem uma certeza.

“Faça-me sua. Esta noite.”



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