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História Hipocentro - O começo


Escrita por: yugensouls

Capítulo 2 - O começo


O olho vê somente o que a mente está preparada para compreender.

Henri Bergson

 

Álvaro Morte sempre chega na hora. Sorri, escaneando o local de maneira silenciosa. Tem uma energia marcante, que ela não diria ser intimidadora. Apenas intensa. É o primeiro dia dela no set. Não foi apresentada a ninguém do elenco, e ele é o primeiro que conhecerá. Vão realizar o primeiro ensaio, e ela está feliz. É uma novidade, fazer uma serie como essa, tão perto de casa.

“Olá. Você deve ser Itziar Ituño.”

“Sou eu.”

“Prazer em conhece-la, finalmente. Sou Álvaro Morte. O Professor.” Sorri. É difícil não simpatizar com ele. Tem o rosto suave, cabelos e barbas escuros, uma expressão serena. Sorri com frequência. As pessoas ao redor deles demonstram adorá-lo. “Teremos muitas cenas juntos pela frente. Se eu puder ajudar em algo, para deixa-la mais confortável, não hesite em me chamar.”

Ela agradece. O contato com um colega com quem se irá passar grande parte das cenas é um divisor de águas. Mostra ao ator ou atriz se ele terá momentos tranquilos ou de tensão pelo resto da jornada de trabalho. E aparentemente a sorte estava ao seu lado. Alex Pina, o criador da série, os chama para a cena. Raquel Murillo entra em um bar, e Itziar está ansiosa. Mas ela é uma atriz, e sabe como atuar, é parte de seu papel aprender a gerir suas próprias emoções e deixar que apenas as emoções de Raquel transpareçam. Respira fundo. A inspetora age como se o celular houvesse descarregado. No decorrer da cena, ela deve mostrar-se um pouco arredia, é o que Alex e Jesus esperam. Não demora muito para que terminem. Não é uma cena longa. Fazem apenas mais alguns takes, apenas para auxiliar na edição. Assim que se encerra a gravação, ele sorri para ela.

“Até a próxima cena, inspetora.”


***

 

Ela gosta dele.

É um bom parceiro de cena. A escuta, sugere coisas, trabalha em conjunto. A essa altura, ela já conhece o restante do elenco. A maioria é bastante comunicativa. Gosta de Fernando também, e passa muito tempo com ele. Há certas peculiaridades em cada um; cada dia é uma nova descoberta, mas ela se sente muito acolhida. Pedro é um dos mais carismáticos do grupo, e mais próximo de Álvaro. Assim como Úrsula. La casa de papel é um projeto ambicioso e com um texto incrível; ela adora as nuances do enredo.

“Está gostando?”

Ela se vira; Esther a encara, sorridente. A loira dá a vida à Mônica, uma das reféns. Nunca tiveram cenas juntas, mas já se encontraram algumas vezes nos bastidores.

“É completamente diferente de qualquer outra coisa que eu tenha feito.” Confessa.

“Sim.” Ela estica os braços, descansa o corpo sobre a cadeira. Seu vestido florido brilha sob o sol. A produção oferece sempre um intervalo útil para manter a equipe disposta por mais tempo, e ela é grata por isso. Ajuda bastante a aliviar a tensão de se entrar em sua personagem. “Parece que Pedro fará uma reunião na casa dele. Todos foram convidados. Você irá?”

“Não sei, mas é bem possível que não. Roberto não gosta muito de reuniões assim.”

Ela percebe que Esther não pensou o melhor de seu marido, mas preocupou-se em não dizer nada que a ofendesse. Manteve o sorriso nos olhos. “Se puder, apareça. É uma boa maneira de relaxar. Não rolam até tarde, por conta das gravações.”

“Esther!” Jaime a chama do outro lado do saguão, e ela despede-se rapidamente antes de se afastar, deixando-a sozinha. Itziar está sozinha, entretida em seus pensamentos. Pensa em todas as variáveis em sua vida. Seu relacionamento não vai mal, mas também não vai bem. Está inerte, como se apenas existisse. Havia tantas coisas que ela esperava ter alcançado a essa altura. Não queria filhos. Acreditava não possuir o instinto materno tão aclamado. Talvez seu relógio biológico a houvesse traído. Ela suspira, e tenta bloquear sua mente. Isso não a ajuda.

“Está tudo bem?”

Ele a encara. Ela percebe que ficou em seus devaneios por algum tempo, pois o grupo já se distanciou, e ela está sozinha com ele ao redor das cadeiras. “Sim. Me distraí.”

“Você pareceu triste.”

“Não é nada.”

A mentira é tudo que ela pode utilizar no momento. Não é do seu feitio desabafar sobre a sua vida privada a um colega de trabalho. Mesmo ele sendo amigável, companheiro ou até mesmo incrivelmente confiável. Não pode misturar as coisas. Ele entende o silêncio deixado por ela, trazendo outro assunto à tona. “Você leu o roteiro da nossa próxima cena? Tenho uma ideia que pode deixar a cena ainda melhor.”

 

***

 

“Onde está com a cabeça, Alvie?”

Blanca o encara através da mesa de jantar. As crianças já estão na cama. Podia sentir que ela ficara ligeiramente irritada com ele por ter demorado na reunião de Pedro. Não fizera nada de errado. Não podia entender porque ela ficava tão irritada.

“Estou aqui, meu amor.”

“Não, não está.” Resmunga ela, empurrando o prato na mesa. “E ainda diz não saber por qual razão não gosto que se envolva demais com colegas de trabalho. Você esquece que tem uma família? As crianças foram dormir sem ver o pai.”

“Eu chego todos os dias a tempo de vê-las.”

Ela estava lá?”

Essa dança novamente. Ele fecha os olhos. Blanca cismara com Úrsula desde o dia um. Compreendia um pouco de ciúmes; a atriz por trás de Tokyo era sensual, bonita. Tinha muitos trabalhos enfatizando seu perfil de mulher fatal. Mas não era nem a primeira nem a única mulher com quem ele trabalhava, e em nenhum momento faltara com o respeito, ou insinuara alguma coisa. Ele era profissional em seu trabalho. Um ator, atuando. Nada mais do que isso.

“Meu amor...” Suspira. “Há diversos locais em que estou, e que Úrsula também estará. Como lhe disse anteriormente, não há motivos para implicar com isso. Ela é muito, muito feliz em seu relacionamento. Todos naquele elenco sabem disso. Ela não esconde de ninguém.”

Blanca levanta, e caminha até ele. Por trás dele, o abraça, as mãos encontrando-se na altura de seu coração. Ela o beija no pescoço. “Me desculpe. Acho que estou um pouco insegura.” Ele não a responde, apenas acaricia as mãos dela com as suas, num gesto gentil. “Sei que me distanciei. É o estresse com as crianças, todas as tarefas.”

Ele a sente guiar seu rosto, e permite. Logo seus lábios se unem em um beijo curto e carinhoso. “Vou subir.”

Álvaro observa sua esposa sair da cozinha, e pensa em tudo. Falha em sua tentativa de não pensar a quanto tempo não se deitam juntos. Em como ela encontra justificativas para não o tocar, e para evitar que ele o faça. Não consegue encontrar onde está errando. Sua mente vagueia até que Itziar lhe vem à mente. Algo a estava entristecendo explicitamente durante o intervalo da tarde. Podia ver em seu rosto, a nuvem escura e carregada modificando seu semblante, levando-a a um lugar obscuro da mente. Gosta de sua companheira de cena. Ela é bem-humorada. Possui um astral contagiante. Uma entrega em cena que o faz querer aplaudir todas as vezes. Quer que ela confie nele, que o deixe ajudar. Mas com todas as defesas que ela tenta disfarçadamente esconder, ele sabe que levará algum tempo.

 



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