Algum tempo já havia se passado e o grisalho, mesmo que ainda adormecido, podia sentir seu corpo mais leve. Um ligeiro cheiro doce parecia vir diretamente à si, além da movimentação e alguns baixos sons que pareceram surgir extremamente perto. Por fim, algo gelado encostou em sua testa e imediatamente ardeu o fazendo levantar-se bruscamente. E, ao levantar-se, ouvir um ligeiro grito agudo de susto lhe acompanhar, encarando sua fonte.
Karin estava à sua frente, com uma das pernas ainda apoiadas no sofá e um algodão na mão, encarava-o surpresa.
- Bom dia, Toushirou. - Cumprimentou-o de forma lenta à esperar alguma outra reação.
O grisalho pareceu ainda um pouco perdido.
- O que estava fazendo? - Questionou ele.
- Cuidando dos seus ferimentos, assim como você deveria ter feito. - Apontou.
- Estava ocupado. - Comentou se sentando no sofá.
- Eu sei. - Concordou. - Por que dormiu aqui? Chegou só de manhã. Poderia ter me acordado. Já seria o suficiente para mim.
O rapaz a olhou cético sobre a pergunta. Não era o tipo de homem que arrancaria uma mulher da cama - mesmo que fosse a dele - para que pudesse dormir.
- Pelo que ouvi, andou trabalhando bem mais do que eu. Merece descansar. - Comentou ele enquanto passava a mão pelo pescoço. Estava um pouco dolorido. - O sofá é suficiente para mim.
Foi a vez da morena o olhar cética.
- Sei… E é por isso que tem uma cama no quarto. - Concordou sarcástica. - Ao menos, me deixe terminar o que comecei. - Referia-se aos ferimentos.
Hitsugaya a encarou brevemente. Karin não parecia aberta à receber uma negação.
- Tanto faz. - Bufou. Se ela não fizesse, com toda certeza, o obrigaria a fazer.
- Agradeço. - Disse vitoriosa. - Levante o rosto na minha direção. Está com vários arranhões. - A morena voltava à sua posição anterior. Em pé e com um joelho apoiado sobre o sofá, tentava se manter o mais próxima possível, enquanto analisava os ferimentos utilizando a luz natural rebatida das janelas.
A posição não era uma das mais confortáveis para o capitão que, por sua vez, desviava o olhar tentando não se constranger.
A morena percebeu.
- Como já deve ter reparado, peguei uma roupa sua emprestada. - Comentou. - Mas não vou demorar a devolver. A Rangiku-san acabou de me trazer algumas roupas dela.
- Não tem problema... - Respondeu ele não sabendo bem o que dizer.
- Obrigada. - Disse ela.
Um breve momento de silêncio se instalou no ambiente. O desconforto do grisalho sem saber para onde olhar ficava nítido para a morena, que por sua vez também achava certa graça da situação.
- Não se preocupe. Não vou demorar muito com isso. - Declarou ela à continuar sua tarefa.
- Certo. - Concordou constrangido.
A garota sorriu.
- Desculpe por isso. Foi culpa minha. - Disse ela referindo-se aos ferimentos. - Obrigada por me salvar.
- Salvar vidas é a minha profissão. Fiz o que devia fazer. - Disse ele. - Está machucada? - Questionou encarando-a.
- Um pulso um pouco inchado e um galo na cabeça. De resto, apenas arranhões. Nada grave. - Comentou. - Já estive pior.
O rapaz não gostou muito do que ouvira.
- Espero que isso se trate do fato de ter estado presa e desacordada em um prédio em chamas. - Declarou sério.
A jovem analisou a feição do antigo amigo, sendo fácil entender o que pensava.
- É um deles. - Respondeu. - Também arrisco minha vida para salvar pessoas. É meu trabalho. - Completou.
- Porque ser uma policial? Que eu me lembre, pode-se salvar muitas vidas sem sair de um hospital. - Questionou.
Karin baixou o algodão para trocá-lo, embora também se tratasse de uma pausa. Tinha um motivo, mas não gostava muito de falá-lo em voz alta.
- Não posso salvar quem já morreu. - Declarou olhando para o novo algodão que pegara. Seu olhar parecia um tanto perdido. - Me tornei policial por não aceitar que uma mãe precise se sacrificar para salvar os filhos do ataque de um psicopata. Quero impedir que aconteça de novo. - Admitiu após um longo suspiro. O algodão molhado voltou ao rosto do grisalho.
O capitão não tinha mais argumentos. Preferiu não continuar a discussão.
- Parece estar fazendo bem o seu trabalho. Salvou dezenas de vidas ontem. Eu não teria tempo ontem. Não conseguiria salvar todas antes do prédio cair. - E ele tinha total consciência disso. A saída era pequena demais para o tempo restante. Ao menos, metade ficaria soterrada.
- Agradeço o elogio, mas apenas tive sorte. Eu tinha acabado de voltar do banheiro quando eles chegaram. Bastou voltar para lá e quebrar as janelas depois da luta. De resto, todos saíram sozinhos. - Declarou a garota.
O grisalho já imaginava que a resposta seria algo do tipo. Karin sempre fora humilde e parecia não ter mudado neste aspecto. Contudo, uma dúvida ainda permanecia.
- O que estava fazendo lá? - Finalmente questionou.
- As pessoas normalmente frequentam esse tipo de lugar nas folgas. - Disse ela.
- Mas você, não. Não gosta daquele tipo de banda, nem daquele tipo de lugar. Pode ter mudado durante os anos que não a vi, mas não acho que seu temperamento tenha mudado. Sabia que o local seria atacado. - Arriscou ele.
Karin sorriu. Hitsugaya continuava esperto.
- Não, não sabia. - Declarou. - Apenas tinha a impressão que algo aconteceria.
- Com o lugar? - Questionou ele.
- Comigo. - Respondeu à encarar os olhos dele.
O rosto do rapaz imediatamente se refez em preocupação.
- Por quê? Quem está atrás de você? - Inquiriu de forma mais incisiva.
- Estava investigando um caso sobre a morte de um policial e encontrei a solução. Contudo, não tenho provas. O criminoso sabe do que eu sei quem ele é. - Respondeu ela.
- Mas se não tem provas, ele não dev… - Sua voz morreu ao ver o sorriso gentil da morena. Havia um motivo ainda oculto.
- Não deveria, mas está. Ele quer vingança. É o que chamamos de psicopata. - Concluiu ela. - Estou te contando isso porque você foi envolvido. Atrapalhou os planos dele e pode ser alvo de uma vingança.
Os olhos claros do grisalho se arregalaram. Demorara tempo demais para perceber algo importante.
- Não era um ataque terrorista ou qualquer outra coisa. A intenção sempre foi matar você. - Concluiu ele após pensar nos fatos.
A morena deu um pequeno sorriso de canto.
- Você pensa demais, Toushirou. - Comentou ela ao terminar sua tarefa com os ferimentos. - Desse jeito vou acreditar que se preocupa comigo.
- Não brinque comigo, Kurosaki! Acaba de me falar que tem um louco tentando te matar! Que tipo de reação você espera que eu tenha?! - Reclamou ele mais alterado.
- E acabei de falar também que ele pode estar atrás de você. - Lembrou ela calmamente.
Por um instante ele pareceu pensar, mas logo em seguida mostrou ignorar o fato.
- Ainda assim, é apenas uma suposição. Com você é diferente! Ele tentou te matar e quase conseguiu! - Exclamou Hitsugaya. - Como espera que eu fique calm… - A voz rouca novamente morreu, embora dessa vez interrompida de forma física.
A morena havia tomado os lábios do capitão em um beijo lento e repentino, deixando-o sem reação. E, ao se afastar novamente, encarou com um sorriso satisfeito os olhos do rapaz atordoado.
- Obrigada pela estadia, Toushirou. - Disse a garota e, depois de tais palavras, Hitsugaya imediatamente sentiu uma pancada repentina em sua nuca. Por fim, só o que lhe restara fora um profundo breu.
Karin o havia nocauteado com sua arma. Hitsugaya não lhe permitiria agir sob risco de vida, mas precisava concluir o que começara.
Enfrentaria sozinha o 4° criminoso.
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