História Histórias - Field

O sol escandante do campo é mais insuportável ainda no verão, sua estação mais seca e abafada. Apresso-me, quase impaciente, para terminar o mais rápido possível minha cansativa tarefa de recolher os colmos do chão. Inspiro profundamente, devaneando um pouco, como sempre faço. Gosto de pensar alto, imaginar-me crescida, fazendo algo grandioso, como ser uma concertista famosa de cabelos sedosos e um lábio avermelhado, conhecida por muitos, e não como estou agora, fazendo coisas que são feitas desde o período triássico.

Entretanto, no momento, seguir o gênero musical agora é algo vago, fora de minha realidade, como disse meu pai uma vez, quando despertei esta vontade súbita, que ele logo pensou ser um pensamento variável da idade, mas provou-se errado anos depois. Ai, meu pai, se ainda estivesse vivo, mas fora vítima de um parricídio, traído por meu velho irmão. Não pode negar que rusgava por qualquer coisa, afrontando os adultos, até a ira lhe subir à cabeça. Dou-me um sacolejo apressado, tirando minha mente frustrada do passado imutável, concentrando-me nos algarismos, analisando melhor o total de colmos arrancados.

Mas hoje o campo está colorido, e só por isto valeu a pena vir aqui lhe cuidar. Agora, mesmo limitadas, estamos livres e sozinhas, mamãe e eu. Com um irmão preso, um pai morto, mas mesmo assim, estou grata pelo hoje, grata pelo amor verdadeiro que tenho agora, feliz por toda a paz. E, se não estiver bem, sempre posso ficar melhor indo ao lago para olhar os peixes, e ver a água vaporizar no verão. Pois o dia é lindo e só se vive uma vez.