Recobrei os sentidos e abri os olhos desorientada, eu estava na enfermaria da escola em cima de uma maca e com uma agulha no braço, senti calafrios ao olhar para aquele troço fincado na minha pele.
- Que porra ta acontacendo aqui? - Perguntei por impulso, ainda deitada. Eu nem havia notado que o Mário estava ali comigo.
- Calma, Baixinha. Finalmente você acordou! - Ele se levantou rapidamente da cadeira encostada na parede e foi até mim.
- O que aconteceu?!
- Do nada você desmaiou, ainda bem que te segurei e trouxe aqui, eu é que te pergunto porquê aconteceu isso com você. - Ele disse sério, ao mesmo tempo que demonstrava grande preocupação.
- Eu não sei. - Menti.
- A enfermeira disse que pra acontecer isso do nada, ou sua pressão caiu, ou você está desnutrida, ou grávida.
- Você sabe que eu sou virgem, babaca.
- É... mas também sei que essa sua dieta é suspeita.
- Não tem nada a ver! - Eu tentei mentir, mas era difícil demais, as lágrimas já queriam aparecer, desvantagens de ser chorona.
Mário se aproximou mais de mim e começou a acariciar meu rosto.
- A enfermeira foi pedir pra ligarem pra sua mãe. Baixinha, você tem que me prometer que vai voltar a comer o suficiente pra uma pessoa normal, por favor.
- Eu prometo. - Falei baixo, minha voz já estava carregada e era perceptível, eu ia começar a chorar feito louca se tentasse dizer mais alguma coisa.
- O que é isso no meu braço? - Mudei de assunto.
- É a agulha que tá levando soro pro seu sangue. Pra ver se você recupera as forças, mas agora que você acordou, acho que o bom seria você comer um bom lanche. - Ele acariciou meu cabelo. Olhávamos um nos olhos do outro, e sabíamos que nos amávamos. Me senti estranha, feliz e triste de alguma forma.
- Com licensa? Ayala pode voltar pra sua sala, estou vendo que a mocinha acordou, eu estava certa, desnutrição, 7 minutos no soro sempre respondem essa dúvida. - Disse a enfermeira aparecendo de surpresa.
Poisé, Mário não queria sair dali de jeito nenhum, brigou com a enfermeira e tudo mais, e só saiu depois que minha mãe passou pra me buscar.
- Marcelina, meu amor, essa coisa de emagrecer subiu a sua cabeça! Essas coisas viram doenças, você sabe! - Minha mãe dizia enquanto dirigia, ela estava triste e preocupada, me senti muito mal por ela estar assim por minha culpa.
- Mas eu só queria viajar e poder vestir um biquini sem sentir vergonha. - Abaixei a cabeça.
- Vergonha de que? Me responde... Você tem rosto de princesa, tem as pernas grossas e bonitas, não tem gordurinhas na barriga... Eu e seu pai não te fizemos esse mulherão pra você ter vergonha!
- Eu sou uma anã, se eu ficar gordinha então... todos vão me achar parecida com uma bolinha de tênis.
- Marcelina, se continuar com esse pensamento vou te levar numa psicóloga! - Ela disse, dessa vez visívelmente brava, mas de todo modo preocupada com a minha saúde.
- Olha, aquela enfermeira antipática não deixou você lanchar na escola porquê disse que o soro te "sustentava", mas como a sua mãe sou eu, eu vou te levar pra comer agora, e eu quero ver você comer tudinho!
- Mãe, eu não to com fome. - Eu realmente não estava.
- Vai usar a mesma frase que vem usado pra escapar do jantar, do almoço e do café? Quer desmaiar denovo? Quer ficar doente? -Minha mãe é dessas.
- Não.
- Pois fassa o favor então.
Ela estacionou o carro em frente a um restaurante e descemos.
Comi o lanche, mesmo sem fome, acho que aquele era o momento de eu parar com tanta obcessão, perfeita eu não serei nunca mesmo de qualquer forma. Tomei um copão de suco, e senti que estava até mais feliz depois disso. Talvez o que eu precisasse mesmo era saber que nem tudo na vida vale mais a pena do que a própria saúde, muito menos recriminar as próprias vontades.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.