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História Histórias em letras - Livraria


Escrita por: Lorisr

Capítulo 5 - Livraria


O ambiente familiar parecia diferente. Só não sabia o que era.

A estrutura de madeira envernizada continuava a mesma, assim como as estantes e prateleiras do mesmo material, juntas à parede. As mesas retangulares, mais ao fundo do lugar, ainda possuíam as luminárias e os balcões no meio do caminho estavam cheios. 

Freed estava no caixa e Yukino no balcão de empréstimos. Levy tinha se instalado em sua mesa de costume, Jellal observava atentamente os livros da sessão de mistério e Wendy, apesar de jovem, já pesquisava os livros de medicina. O cheiro permanecia de calhamaços novos e antigos, junto com um leve toque floral, causado pelo perfume de ambiente de Yukino, e amadeirado. Tinha cheiro de casa.

— Você tá avoada.— Freed comentou quando ela chegou ao lado dele. O movimento estava até muito bom, a maioria sendo pessoas que ela já conhecia e clientes regulares.— Bota pra fora.

— Não sei.— a loira suspirou.— Tem alguma coisa diferente, mas eu não faço ideia do que é.— esse pensamento estava batendo em sua cabeça.— Muito obrigada, volte sempre!— disse a uma cliente com um sorriso no rosto, vendo o amigo entregar a sacola com o mesmo sorriso. 

— Você tem certeza que não é coisa da sua cabeça?— se virou pra ela, um olhar de descrença.— Você é tão perfeccionista, às vezes é um livro que tá desalinhado, ou fora do lugar.— olhou o movimento, sua atenção sendo desviada para a porta.— Agora, isso é diferente.— apontou discretamente para o homem que tinha acabado de entrar. De fato, ela nunca o tinha visto ali.

— Eu vou gastar o meu tempo melhor, indo ali e descobrindo exatamente o que tem de errado que tanto me incomoda.— deu dois tapinhas no braço do outro.— E você continua aí, admirando nossos visitantes e fazendo o seu trabalho.— e saiu, andando pelos balcões.

A olhos comuns, tudo estava muito bem organizado e limpo. Mas Lucy já estava treinada. Trabalhava ali fazia 4 anos e conseguia identificar cada uma das falhas. Livros fora de suas sessões, desalinhados, ao contrário, de cabeça pra baixo, levemente amassados e com as páginas soltando. E estava tão acostumada com isso, que era instintivo e automático consertar o que estava errado.

Passando pela ala leste, recolheu os livros deixados em cima das mesas e os que foram colocados nos lugares errados. Às vezes as pessoas tinham tanta dificuldade de seguir as regras, principalmente a que dizia para não devolver o livro à prateleira depois de pegá-lo, e sim deixar em cima de uma das mesas. 

Ela observou o homem que tinha entrado há pouco, olhando atentamente as sessões de mistério e aventura. Era bem bonito, isso ela não podia negar. Cabelos rosados levemente bagunçados, ombros largos e braços que pareciam ser fortes dentro de uma camisa cinzenta de mangas compridas e pernas longas em uma calça jeans. Seria muito fácil simplesmente continuar andando e organizando, mas seus pés a traíram e, antes que ela percebesse, estava se aproximando.

— Aficionado por mistério ou aventura?— questionou, chegando mais perto do homem, que a olhou.— Lucy. Eu até ia te estender a mão, mas não queremos que haja uma tragédia, não  é mesmo.— brincou, apontando com a cabeça para a pilha em seus braços, fazendo o outro rir.

— Natsu, e, na verdade, eu tô procurando um presente pro meu primo.— observou a mulher recolher alguns dos exemplares que segurava e recolocá-los na prateleira de forma bastante metódica.— Ele é um devorador de livros e completamente apaixonado por mistério.

— Então é Sherlock Holmes, sem dúvida alguma.— tirou o calhamaço grosso de capa vermelha bem detalhada da estante, entregando para o outro.— Nossa coleção dele é enorme e você não vai se arrepender. Qualquer ajuda que precisar, é só me procurar.— piscou de forma cúmplice para o rosado, caminhando para longe e voltando ao trabalho.

 

*~*~*

 

Mais uma semana e mais trabalho. Lucy realmente amava trabalhar naquela livraria, era uma casa, um canto confortável, sem falar que ela não conhecia nenhum lugar tão bem quanto aquele. O problema era que a faculdade ocupava cada vez mais sua cabeça e seu tempo.

Jornalismo era seu sonho, mas ela passou a ficar acordada cada vez até mais tarde, estudando, fazendo resumos. Chegou até a dormir em cima dos próprios livros por exaustão. E no momento suas piscadas ficavam mais pesadas enquanto guardava as edições nas estantes.

Costumava ser terapêutico, mas agora dava-lhe tanto sono.

Seu braço, sem força pelo cansaço, tentou colocar um dos livros na prateleira um pouco mais alta. Claro que não foi uma boa ideia e o objeto só não se estatelou no chão porque um homem chegou de surpresa e o socorreu a tempo.

— Opa, cuidado.— o rosado sorriu, devolvendo o livro para a outra, que agradeceu, mesmo sentindo as bochechas pegando fogo.— Você tá bem?

No último mês, Natsu passou a frequentar regularmente a livraria toda terça e quinta. Na primeira vez, tinha ido para agradecer pela sugestão, dizendo que o primo só conseguia pular de alegria. Na segunda, disse que precisava de um lugar tranquilo para estudar e que a livraria era o lugar perfeito, além de que estava lhe dando bastante sorte, mas essa parte ela não tinha compreendido direito. 

Eles tinham se aproximado bastante durante esses dias. Uma troca de palavras aqui, um mesmo gosto ali, novas conversas, trocas de telefones e uma boa amizade estava nascendo. Bom, Lucy não podia afirmar ser só amizade, até porque o outro era bem interessante, mas ela não tinha tempo para pensar isso no momento.

— Eu só tô muito cansada.— revelou a ele, depositando o resto da pilha em uma mesa próxima, a que estava Levy.— As provas estão chegando e me deixando maluca. Essa noite eu acho que dormi só por 3 horas, no máximo.

— Então é isso, nós vamos sair.— começou a puxá-a para a saída.

— Eu não posso, tô no meio do trabalho.— se soltou, voltando para a mesa.

— Não que você vá ser útil.— resmungou, aproximando-se novamente, mesmo sob o olhar zangado da outra.— Lucy, você tá quase caindo no chão de tão cansada. Para com isso e vem tomar um café comigo.

— Tá bom.— cedeu em um suspiro.— Mas vai ter que ser rápido.

— Como um relâmpago.— o sorriso não saía do rosto dele, mas ela revirou os olhos antes começar a andar ao lado dele.

— Freed, eu vou ali rapidinho me acordar, mas já volto. Por enquanto, você tá no comando.— avisou ao amigo, que balançou a cabeça em concordância, com um sorriso malicioso nos lábios.

O café 8Island era no final do quarteirão da frente, um dos motivos que fez a loira aceitar. Conhecia o lugar que muitas vezes foi sua salvação em noites de estudos e desespero.

O cheiro de bolo e cafeína os envolveu quando entraram no estabelecimento, acomodando-se na mesa costume de Lucy: a última no canto esquerdo. O couro preto do sofazinho lhe era familiar, assim como todo o resto. 

— Lucy!— uma azulada mais alta se aproximou, com uma caderneta em mãos.— E está acompanhada, isso é novidade.

— Juvia, esse é o meu mais novo amigo, Natsu.— trocaram sorrisos cordiais.— Eu vou querer o de sempre.

— E eu quero um descafeinado metade leite.— a mulher saiu, garantindo que logo estariam prontos os pedidos.— Se não se importa, o que é o seu “de sempre”?

— Café preto com ¼ de leite e caramelo. Eles fazem o melhor, e nunca questionam o seu pedido.— revelou, sorrindo.— Como foi sua apresentação ontem? Fiquei torcendo por você.

— Foi um saco.— jogou a cabeça para trás.— Aquele professor me odeia. Tem mais 14 pessoas na sala, mas não, ele foca em mim. Mas eu calei a boca dele ontem com a minha teoria. Eu vou te falar, Lucy, nada nunca foi tão gratificante.— terminou em uma risada, sendo acompanhado pela loira. Ele queria muito se formar em física, mas às vezes parecia tão longe, tão difícil.

— Eu te entendo. Também tenho uma professora que é assim. Ah! Juv, você é um anjo.— disse quando a azulada colocou os pedidos na mesa. Foi impossível conter um gemido assim que o líquido quente entrou em contato com sua boca. Era simplesmente perfeito.— Agora abre o bico. Por que de fato você me trouxe?

— Porque você estava quase dormindo em uma das mesas.— respondeu de forma simples, tomando um gole de sua bebida.

— Natsu, eu posso até não te conhecer a tanto tempo, mas eu já sei que não era só essa a sua intenção.

— Tudo bem, tudo bem, eu sei que tá tão na cara assim. Eu ia te chamar para sair, mas eu sei que atualmente você tá muito ocupada com o trabalho e a faculdade.— disse tudo de uma vez, voltando-se para o próprio café. 

O silêncio permaneceu entre os dois por um tempo, que mais parecia uma eternidade.

— Você tá certo, eu realmente tô muito ocupada agora, de uma forma completamente desesperadora, até.— confirmou, em um riso de nervoso, mas pegou uma das mãos do rosado.— Mas eu adoraria sair com você, de verdade. Só espera até eu ficar menos sufocada com tudo, e você também ficar menos atolado. Um pouquinho de paz, então vai ser ótimo.— sorriu para o homem, que tinha a mesma expressão no rosto. Uma expressão de felicidade.



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