- Jimin POV -
Era fim de tarde quando saí do prédio dedicado às áreas artísticas da universidade, exausto mentalmente devido à uma aula particularmente chata sobre história da arte. Porque uma pessoa que cursava dança precisava saber história, eu não saberia dizer. De qualquer modo, eu agora fazia caminho até o gramado que era rodeado por todos os outros prédios do campus, procurando uma árvore em especial onde eu sabia que encontraria meus dois colegas de quarto. Hoje era um daqueles raros dias onde nós três saíamos da faculdade no mesmo horário, por isso havia uma espécie de regra não-dita de que deveríamos nos encontrar e fazer algo juntos. Não demorei muito pra localizar a grande criança de cabelos tingidos que agora acenava os braços enquanto dava pulinhos pra chamar minha atenção, acompanhada por um garoto ranzinza que fingia não conhecê-la. Rindo, apertei o passo para me juntar aos dois. Aceitei o abraço de urso de Taehyung e troquei sorrisos com Jungkook enquanto ainda tinha o outro grudado no meu pescoço.
- Jiminie~! – Taehyung chamou numa voz manhosa, e eu imediatamente soube que ele queria alguma coisa. – Tô com fome. Paga um hambúrguer pra mim?
- Yah, por que você mesmo não paga? – retaliei, afastando-o rudemente pra lhe dar um peteleco brincalhão na testa.
- Ai! – choramingou, levando a mão ao machucado com uma expressão chorosa. – Jimin-ah, por que fez isso? Seu peteleco dói demais!
- Machucou de verdade? – arregalei os olhos, e com o peito cheio de remorso, tentei afastar sua mão pra avaliar a gravidade do machucado. O que eu falhei em reparar foi sua outra mão, que agora alcançava habilmente a carteira que eu tinha no bolso de trás da calça. Assim que notei que a sua testa não apresentava mais do que uma inofensiva mancha vermelha, Taehyung abriu seu sorriso retangular característico e abanou o objeto diante dos meus olhos, zombando de mim.
- Você não me pega! – caçoou o mais novo, rindo, enquanto corria pra longe de meu alcance antes que eu pudesse tirar a carteira de suas mãos.
- Aish, seu pestinha. – praguejei, correndo atrás dele. Pude ouvir Jungkook reclamando atrás de mim, mas ele também apertava o passo pra nos acompanhar. Taehyung me guiava até a entrada do campus, virando a cabeça pra gritar provocações por cima do ombro. O que eu não esperava era que ele fosse parar de repente, fazendo com que eu me chocasse contra suas costas. Estava pronto pra berrar com ele e perguntar qual era seu problema, quando vi onde seus olhos estavam fixados.
- Oi, hyung! – Tae cumprimentou alegremente o loiro que estava sentado sobre o capô do carro preto – que agora possuía alguns arranhões na pintura – com um cigarro entre os lábios e uma expressão entediada no rosto. Era embaraçoso admitir, mas meu coração quase parou no momento que botei os olhos nele. Yoongi estava vestido do jeito habitual: calças rasgadas acompanhada por uma simples blusa branca, devido ao calor do verão que se aproximava, botas nos pés e o costumeiro gorro preto na cabeça, com um “zzz” estampado em letras brancas na borda; o que me faria rir, já que o gorro expressava perfeitamente seu estado letárgico no momento – e em todos os outros momentos, pra ser sincero – se eu não me lembrasse que estava com raiva dele. Com muita raiva.
Yoongi fez uma careta de reprovação ao ouvir o tratamento, e essa foi a única saudação que ele deu ao outro. Colocou-se de pé e apagou o cigarro na calçada com a bota, como o vira fazer inúmeras vezes antes. Por um momento nossos olhares se encontraram, e o vi me cumprimentar com um breve aceno de cabeça. Me controlei pra não gritar com ele ali mesmo. Quem ele pensava que era? Era muita audácia de sua parte vir até minha universidade e não me dirigir sequer uma palavra, como se não houvesse nada de errado entre nós. Aliás, como ele descobriu qual era o campus onde eu estudava?
- Vamos, Jungkook? – o mais velho perguntou, respondendo a minha pergunta e criando muitas outras no processo. Jungkook? Mas eles se odeiam. Ele não está aqui pra me ver? O que está acontecendo? Eu o encarava incrédulo, minha mente trabalhando à mil por hora sem compreender a cena que se desenrolava na minha frente. Porém, o pior de tudo foi o que ouvi a seguir.
- Sim, hyung. – o moreno respondeu, nos lançando um aceno de despedida enquanto sua face tomava uma expressão engraçada. Era como se ele estivesse indo pro abate. Mas ele chamara Yoongi de hyung. Jeon Jungkook, o pirralho atrevido e rabugento que não tinha um pingo de respeito pelos mais velhos, chamara Min Yoongi, o garoto igualmente rabugento e rude pelo qual nutria um ódio mortal, de hyung. Subitamente me vi sem palavras.
Assisti boquiaberto e estupefato o mais novo entrar no carro preto do lado do carona, enquanto o loiro tomava seu lugar no banco do motorista sem nos poupar um segundo olhar. Dentro de instantes, o motor acordou com um ronco e o automóvel tomou rumo pelas ruas de Seoul. Enquanto antes minha mente trabalhava a todo vapor em busca de alguma explicação pra anomalia que eu acabara de ver, agora ela permanecia em silêncio, completamente em branco, incapaz de processar a informação. O que diabos eu acabara de presenciar?
- O que... o que foi isso? – a pergunta veio cautelosa, incerta, como se Taehyung estivesse tão estupefato quanto eu. Me peguei rindo sem humor, sem motivo algum.
- Eu gostaria muito de saber. – respondi, trincando os dentes e fechando as mãos em punho. Se antes eu estava com raiva de Yoongi por desaparecer por dias, agora eu me encontrava furioso. – E assim que descobrir, irei matá-lo. – adicionei, sem saber que acabara falando em voz alta. Taehyung virou-se pra mim, analisando minhas feições com preocupação estampada no rosto.
- Aconteceu alguma coisa, Jiminie? – o carinho presente na sua voz me fez suspirar, fechando os olhos e abrindo os punhos. De repente me dei conta de que estava mantendo Tae no escuro sobre tudo que acontecera entre mim e Yoongi. Aqui estava eu, mantendo segredos, enquanto meu melhor amigo se importava e se preocupava comigo. Taehyung não merecia isso; era hora de esclarecer algumas coisas.
- Vem, Tae-Tae. – chamei, colocando meu braço sobre seus ombros e nos conduzindo pra fora do campus. O maior pareceu se animar um pouco com o uso de seu apelido carinhoso, mas ele praticamente saltitou com as minhas palavras seguintes. – Precisamos conversar. Eu te pago um hambúrguer.
Quase uma hora depois, estávamos sentados numa das mesas mais reclusas de uma lanchonete de fast-food nos arredores da universidade, refeição completa – sanduiche, batata frita e refrigerante – já devorada diante de nós, enquanto eu narrava todos os acontecimentos desde aquele dia vergonhoso que Taehyung drogara Yoongi. Contei-lhe tudo sobre o dia que visitara o “covil” da gangue – como Yoongi gostava de chamar – com Jungkook e vira um garoto morrer – em maiores detalhes dessa vez, visto que no dia eu estava em tamanho estado de choque que mal conseguia explicar a situação; contei-lhe sobre a noite que Yoongi me levara até sua antiga casa, e como tive a primeira conversa verdadeira e sincera com ele, sem os traços do muro que o loiro teimava em colocar entre nós, e como eu descobrira seu nome; contei-lhe também sobre o encontro que tive com Hoseok, num clube de hip-hop em Hongdae, onde descobrira que Suga era um rapper, um rapper estupendo por sinal, e... – E então ele me beijou. – concluí, encarando uma mancha de ketchup na mesa enquanto sugava o resto do refrigerante pelo canudo, fazendo um tremendo barulho quando a bebida acabara.
- O quê? – Taehyung engasgara com sua soda, fazendo uma careta quando o líquido entrara pelo lugar errado. Se recompondo, ele me lançou um olhar reprovador. – Jiminie, isso faz quanto tempo?
- Pouco mais de uma semana. – admiti, timidamente. Quando arrisquei um olhar para meu amigo, arrependi-me amargamente. Ele tinha uma expressão que misturava raiva e mágoa, e naquele momento eu queria me bater. – Me desculpa, Tae. Eu realmente não pretendia esconder isso de você.
- Mas escondeu. – ele não conseguiu conter a decepção na voz, fazendo eu me sentir ainda pior. Porém, ele apenas sacudiu a cabeça e me deu um peteleco dolorido na testa. – Tudo bem, eu dou um jeito de você me compensar depois. O que aconteceu depois do beijo?
- Ele foi embora. – contei, observando o modo como seus olhos se arregalaram em surpresa. – Ele me largou sozinho na rua, e desapareceu desde então. Não retorna minhas ligações, nem responde minhas mensagens. Agora você entende a minha surpresa ao vê-lo hoje, crente que ele aparecera pra pedir desculpas. Mas ao invés de procurar por mim, ele procura por Jungkook. – acrescentei, a raiva que eu sentia bem aparente nas minhas palavras.
- E pensar que o relacionamento estava progredindo... – Taehyung murmurou baixinho, seguido de um suspiro cansado.
- O que você disse? – indaguei, incerto de que ouvira corretamente.
- Hm? Não, nada. – ele dispensou a pergunta com um aceno de mão, como se afastasse uma mosca. – O que você acha que ele quer com o Kookie? – perguntou, sem realmente esperar uma resposta, enquanto lambuzava os dedos com o molho do hambúrguer que ficara acumulado no embrulho e chupava-os pensativamente.
- Não sei, Tae. – suspirei, apoiando os cotovelos sobre a mesa e escondendo o rosto nas minhas palmas. – Eu realmente não consigo entendê-lo. Ele age todo possessivo comigo do nada, me beija, some por não sei quantos dias, e quando finalmente aparece, é pra sair com alguém que ele detesta. Se você consegue ver lógica nisso tudo, por favor, me ajude. Porque eu não consigo.
- Realmente, não faz o menor sentido. – concordou. – A não ser que... – a pausa que ele fez me intrigou, obrigando-me a levantar o rosto para encará-lo em questionamento.
- A não ser que o quê, Tae?
- Nada, deixa pra lá. – ele desconsiderou seus pensamentos com um aceno negativo da cabeça e uma careta estranha. – É uma ideia ridícula mesmo. Vamos, Jiminie. Já está ficando tarde. Você trabalha hoje, esqueceu? – disse, levantando-se da mesa e me estendendo a mão larga. Aceitei-a à contragosto, porque queria saber o que ele estava pensando, mas por mais que eu insistisse, ele se recusava a compartilhar suas suposições. Deixei que Taehyung me guiasse até o ponto de ônibus mais próximo, onde ele me deixou sozinho pra pegar a condução que o levaria de volta pra casa, diferente da minha, que me levaria à loja de conveniência onde trabalhava. Retribui seus acenos animados com um pouco de relutância, ainda tomado pela curiosidade e frustração que suas palavras trouxeram. Minha mente voltara a trabalhar de modo extenuante, tentando encontrar respostas para as inúmeras perguntas que eu tinha, quando vi o ônibus que eu precisava pegar se aproximando na avenida movimentada, interrompendo meus devaneios.
A noite se arrastava lenta e angustiadamente, os ponteiros do relógio parecendo demorar o dobro do tempo necessário para moverem-se. O movimento de clientes na loja era fraco; não atendi mais do que uma dúzia de pessoas nas quatro horas que estive aqui, desde que o meu turno começara. Eu estava sozinho na loja, uma vez que ela nunca fora movimentada o bastante pra ter a necessidade de serem contratados mais de um funcionário por turno. O vazio e o silêncio em nada me ajudavam, muito pelo contrário. Sem ter nada com o que ocupar minha mente, eu ficava livre pra pensar sobre Yoongi e seu comportamento deveras estranho de horas atrás. As dúvidas e suposições martelavam minha cabeça incessantemente, tanto que eu tinha certeza de que adquiriria uma enxaqueca mais tarde. Eu tamborilava os dedos sobre o balcão à minha frente, organizava e reorganizava os itens dispostos ao lado do caixa, atraindo compradores de última hora, contava o lucro do caixa pela enésima vez, separando as notas em bolos e as moedas em montes. Nada adiantava pra tirar minha mente daquilo que me preocupava o dia inteiro. No final, acabei me dando por vencido. Corri os dedos pelos meus fios castanhos, bagunçando-os antes que eles voltassem para o lugar naturalmente, tomando coragem para o que eu estava prestes a fazer.
Peguei o celular no bolso de trás da calça e escolhi o número de Jungkook no meio da lista de contatos. Apoiando o aparelho sobre o ouvido, esperei que a ligação chamasse uma, duas, três, inúmeras vezes. Por fim, fui direcionado à caixa postal. Bufando, cancelei a ligação e procurei outro contato na lista. Entretanto, a ligação não chamou sequer uma vez; tudo que ouvi foi uma voz mecanizada avisando-me de que o aparelho estava fora de serviço. Fora de serviço uma ova, pensei, irritado, enquanto pressionava o botão de desligar e colocava o smartphone sobre o balcão com mais força do que o necessário. Yoongi havia desligado o celular apenas pra me evitar, eu podia sentir.
Fiquei encarando o aparelho por alguns segundos na esperança de receber uma ligação, uma mensagem, qualquer coisa que serviria pra aplacar minha raiva, porém nada aconteceu. Antes que eu pudesse me arrepender e mudar de ideia, percorri novamente a lista de contatos atrás do número de Jungkook. Decidi dá-lo a última chance de se redimir e atender a ligação, mas essa chance foi jogada no lixo depois de ser redirecionado pra caixa postal pela segunda vez seguida. Sem paciência para repensar minhas ações corretamente, resolvi apelar para mensagens de texto. Mandei uma atrás da outra, tentando fingir indiferença de início, perguntando casualmente onde ele estava, sem querer revelar minhas reais intenções; conforme tais mensagens foram visualizadas mas não respondidas, elas tornaram-se cada vez mais urgentes e nervosas, minha dignidade aparentemente esquecida. Só parei o bombardeio raivoso quando recebi uma notificação de nova mensagem, mas o remetente não era exatamente quem eu esperava que fosse.
De Hobi-hyung ♥: Boa noite, Chim-Chim! ( ̄▽ ̄)ノ
Para Hobi-hyung ♥: Boa noite, hyung.
De Hobi-hyung ♥: Tá tudo bem? @_@
Para Hobi-hyung ♥: Não. Estou sendo ignorado. ヽ(#`Д´)ノ
De Hobi-hyung ♥: Mas... eu acabei de falar com você...
Para Hobi-hyung ♥: Não é de você que eu estou falando.
De Hobi-hyung ♥: Ah, não? Quem está ignorando meu Chim-Chim, então?
Para Hobi-hyung ♥: Eu não sou seu. -___-
De Hobi-hyung ♥: Isso não responde a minha pergunta, Jiminie~
Para Hobi-hyung ♥: ........Yoongi.
De Hobi-hyung ♥: Hm.
De Hobi-hyung ♥: Desde quando? Desde aquele dia no clube?
Para Hobi-hyung ♥: Como você sabe?
De Hobi-hyung ♥: Intuição. ^^
Para Hobi-hyung ♥: Hyung!
De Hobi-hyung ♥: ㅋㅋㅋEu te disse que já fui amigo dele, Chim-Chim.
De Hobi-hyung ♥: Sei bem com quem estou lidando.
Para Hobi-hyung ♥: Hyung... me ajude. ㅠㅠ
De Hobi-hyung ♥: O que eu vou ganhar com isso?
Mordi o lábio ao ler a pergunta, percebendo a malícia escondida entre as letras. Eu sabia que tinha de prosseguir cuidadosamente nesse momento, não querendo me meter numa encrenca maior do que já estava, mas notara um pouco tarde demais que já havia jogado a cautela pela janela há muito tempo. Engoli em seco antes de responder.
Para Hobi-hyung ♥: Não me faça implorar, hyung.
De Hobi-hyung ♥: Tsc, tsc. Eu não faço nada de graça, Jiminie. <3
Para Hobi-hyung ♥: O que você quer?
De Hobi-hyung ♥: Saia num encontro comigo mais uma vez.
Para Hobi-hyung ♥: De novo?!
Para Hobi-hyung ♥: Por que você faz isso comigo?
De Hobi-hyung ♥: Achei que fosse óbvio. Eu gosto de você, Park Jimin.
Para Hobi-hyung ♥: Por favor, hyung. Não fale besteiras. ^^;;;;;
De Hobi-hyung ♥: Mas eu estou falando muito sério.
Para Hobi-hyung ♥: ......O que eu faço? @_@
De Hobi-hyung ♥: Apenas diga sim. ^.~
Suspirei, corando mais do que gostaria de admitir. Esse era exatamente o tipo de enrascada que eu gostaria de evitar, mas aparentemente eu tinha uma pré-disposição pra atrair situações como essa. Eu tinha plena consciência de que não deveria alimentar suas esperanças, estava ciente de que, caso aceitasse, o desfecho não seria nada bom. Até mesmo a voz no fundo na minha mente dizia que aquilo era uma má ideia. Mas eu estava desesperado.
Para Hobi-hyung ♥: Eu te odeio.
De Hobi-hyung ♥: Isso é um sim?
Para Hobi-hyung ♥: ..............................Sim.
De Hobi-hyung ♥: o(≧∇≦o)
De Hobi-hyung ♥: Isso!
De Hobi-hyung ♥: Onde meu Chim-Chim gostaria de ir?
Para Hobi-hyung ♥: Qualquer lugar. Você escolhe. Preciso ir, estou trabalhando.
Para Hobi-hyung ♥: E eu não sou seu. -________-
De Hobi-hyung ♥: Claro, claro. Até mais...
De Hobi-hyung ♥: Meu Chim-Chim. <3
Revirei os olhos para o tratamento, mas deixei passar, sabendo que se eu o corrigisse mais uma vez só estaria estimulando esse tipo de comportamento. Onde ele arrumara esse apelido, afinal de contas? Fiz uma anotação mental para perguntá-lo da próxima vez que falar com ele, guardando o celular no bolso da calça enquanto aguardava impaciente meu turno acabar. Nos minutos restantes, não recebi mais nenhum cliente, ficando rapidamente entediado. Assim que o meu substituto entrou pela porta dos funcionários e saiu momentos depois já com o uniforme e pronto pra assumir seu posto no caixa, corri para a área exclusiva da qual ele acabara de sair a fim de trocar meu próprio uniforme por roupas casuais. Saí de lá apressado, correndo para pegar o ônibus que por pouco eu não perdera. Desci no ponto mais próximo de casa, percorrendo o resto do caminho tremendo levemente devido à noite que ainda teimava em ser fria, mesmo com a aproximação do verão. Adentrei o saguão do prédio, cumprimentando o porteiro responsável pelo turno da noite – tão acostumado a me ver chegando nessas horas da madrugada – em seguida fazendo a curta viagem de elevador sozinho, de certa forma agradecido pelo silêncio; desse modo eu poderia organizar meus pensamentos. Estava ansioso pra chegar em casa e confrontar Jungkook, então fui pego de surpresa quando abri a porta pra ser recebido por um apartamento vazio.
Eu podia sentir que estava começando a entrar em pânico. Taehyung tinha motivos pra não estar em casa, já que trabalhava à noite como eu, mas por que Jungkook ainda não havia chegado? Será que ele ainda estava com Suga? O que os dois estavam fazendo? Peguei-me fazendo essas perguntas mentalmente, e não me orgulhava do fato de que juntamente com elas vinha um sentimento terrível que rasgava meu peito e turvava minha mente: o ciúme. Não podia deixar de imaginar as mais diversas situações, cada uma mais ridícula e perturbadora que a outra. De repente eu estava de volta àquele beco, mas ao invés de mim, era Jungkook que Yoongi beijava. Sacudi a cabeça em negação fortemente, tentando me livrar de tais imagens, enquanto escarnecia de mim mesmo. Você está sendo irracional, Jimin, eu tentava me assegurar. Resolvendo esperar pelo mais novo, deixei os sapatos e a mochila no hall de entrada, dirigindo-me até a sala pra tentar me distrair com qualquer coisa que estivesse passando na televisão.
Eu estava quase pegando no sono quando ouvi o bipe da senha sendo digitada na porta da frente, o que me despertou imediatamente. Levantei-me do sofá, indo de encontro à um Jungkook que mais parecia um cervo capturado pelos faróis de um carro. Seus olhos estavam arregalados e seus lábios entreabertos; era notável que ele não esperava me encontrar acordado. Eu devia estar com uma cara muito feia, porque o garoto engoliu em seco e desviou o olhar para o chão, envergonhado.
- Onde você estava? – fui direto ao ponto, minha voz dura como gelo. Cruzei os braços, esperando sua resposta.
- No apartamento de Suga-hyung. – respondeu, receoso, mudando seu peso pra outra perna. Ergui uma sobrancelha, encarando-o acusatoriamente.
- Agora ele é hyung? – provoquei, vendo-o encolher sob meu olhar. – O que vocês andam tramando?
- E-eu não se-sei do que você está f-falando. – Jungkook gaguejou, dando alguns passos pra trás inconscientemente. Ele mais parecia uma presa indefesa e assustada diante de seu predador; a cena toda era digna de pena, mas eu só conseguia sentir raiva. Era como se eu tivesse sido traído pelo meu melhor amigo.
- Não brinca comigo, Jungkook! – explodi, sobressaltando o mais novo. – Eu pensei que nós éramos amigos. – acrescentei, fazendo uma careta ao notar que minha voz falhara. Jungkook finalmente retornara meu olhar, e por um momento pude ver nos seus olhos a dor que refletia a minha própria.
- Nós somos. – garantiu-me com a voz fraca, mas no segundo seguinte retirava os sapatos apressado, passando por mim de forma rude a fim de entrar no quarto. Não hesitei antes de segui-lo, determinado a não permitir que ele fugisse sem uma explicação lógica pra toda aquela bagunça.
- Então me diga o que vocês estavam fazendo juntos. – exigi, seguindo-o pelo corredor e pelo quarto adentro. – Jungkook! – chamei assim que ele entrou no banheiro conectado ao quarto, prestes a fechar a porta na minha cara. Ele segurou a porta aberta por alguns instantes, me encarando com a boca pressionada numa linha fina.
- Me desculpe, Jimin. O que eu e Suga fazemos não é da sua conta. – respondeu seco, e antes que eu pudesse contestar, fechou a porta e a trancou, me deixando devastado enquanto encarava a madeira escura, lutando para impedir as lágrimas raivosas que se acumulavam nos meus olhos de rolar bochecha abaixo.
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