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História Hold me Tight - Promessas


Escrita por: KiitaT

Notas do Autor


Olá, pessoinhas! Como vão? :3
Estão todos prontos pro comeback triunfal do Yoongi? :v HUASUHHSUAUHSU Eu particularmente estou bem orgulhosa desse capítulo. Parece que eu juntei TODOS os meus yoonmin feels que estavam reprimidos e vomitei em forma de arco-íris pra vocês lerem. (?) Espero que gostem. <33
P.S.: Bananeze, espero que uma certa cena esteja do seu agrado. :v
Boa leitura~!

Capítulo 29 - Promessas


Fanfic / Fanfiction Hold me Tight - Promessas

- Yoongi POV -

O homem diante de mim estava uma completa bagunça; seu nariz estava deslocado num ângulo longe de ser o natural, com sangue escorrendo do mesmo e manchando seus dentes, lábios cortados e inchados enquanto lágrimas rolavam livremente por suas bochechas. Meus dedos doíam e haviam pequenos machucados nas juntas de golpear seu rosto repetidas vezes, mas eu não me importava. O som lamurioso e patético que escapava de seus lábios era mais do que suficiente para me trazer uma pequena dose de satisfação, porém eu precisava de mais. Precisava de informações, coisa que esse filho da puta se recusava a me dar. Bom, azar o dele.

- Onde ele está? – vociferei, aproveitando-me da posse que tinha sobre a bandana vermelha que havia enrolado ao redor do seu pescoço, enforcando-o, enquanto minha mão livre, fechada em punho, desferia um novo golpe em sua face já tremendamente abusada. O som de osso quebrado era repulsivo e extasiante ao mesmo tempo; o ser irracional dentro de mim tomava grande prazer ao causar-lhe agonia. Quando não recebi resposta, repeti o processo mais uma, duas, três vezes. Repetiria o quanto fosse necessário para que ele dissesse o que eu precisava ouvir. Precisava descobrir onde ele estava. Precisava encontrar Jimin.

Da última vez que o vi, há quase duas semanas atrás, nós havíamos nos separado em termos não muito agradáveis. Na verdade, esse era um puta eufemismo. Havia puro ódio nos olhos de Jimin ao ordenar que me afastasse dele e das pessoas próximas à ele. O golpe que eu recebera no rosto havia me pegado desprevenido e me deixado atônito por um longo tempo, mais do que eu gostaria de admitir. O hematoma que se formara depois era um constante lembrete do quanto eu havia estragado tudo, zombando da minha estupidez cada vez que me olhava no espelho. Eu era covarde demais pra ir atrás dele, covarde demais pra lutar e tentar resolver as coisas.

Portanto, resolvi acatar seu pedido e me manter o mais longe possível. Eu sabia que estava pegando a rota mais fácil; era muito simples jogar a responsabilidade sobre seus ombros, livrando-me da culpa do nosso distanciamento. Era o que ele queria, não era? Ele deixara isso bem claro ao me presentear com uma mancha roxa no queixo. Mas eu sabia também que isso não era bem verdade, sabia que eram apenas desculpas que eu inventava para justificar minha própria covardia. As noites passadas em claro pareciam debochar de mim e da minha incapacidade de tirar aquele garoto da cabeça, com seu sorriso radiante e risada infantil, mas oh, tão graciosa; seus olhos que pareciam brilhar com incontáveis estrelas perdidas na imensidão castanha de sua íris, suas mãos tão pequenas e delicadas, seus lábios cheios e rosados que praticamente imploravam pra serem beijados. Eu me revirava entre os lençóis com nada além da insônia pra me fazer companhia, perdido em lembranças e desejos não saciados. Porém, mais do que a nostalgia, era o medo que realmente me tirava o sono. Eu temia a possibilidade de não vê-lo novamente, temia ter afastado para sempre a única coisa boa que acontecera na minha vida, tudo no intuito de preservá-la. Como sou patético.

Fora nesse estado deprimido e cheio de auto piedade, afogando-me em uísque barato e rodeado por garrafas vazias dos mais diversos tipos, que eu encontrava-me prostrado no sofá da minha sala de estar, televisão ligada num canal qualquer servindo de som ambiente, quando recebo a notícia. Jimin havia desaparecido. Jungkook não conseguiu me explicar a situação pelo telefone, nervoso demais para formar frases coerentes, e tudo que eu conseguia assimilar era “sumiu”, “não sei”, “por favor” e “ajude”. Essas simples palavras desconexas foram o suficiente pra retirar-me do meu estupor. Nem sequer hesitei ao pegar a chave do carro e disparar porta afora, não dando a menor importância ao meu estado desgrenhado. Minha prioridade agora era chegar o quanto antes no apartamento de Jimin e descobrir o que aconteceu, já que acabara de entrar numa batalha contra o relógio; quanto mais tempo fosse desperdiçado, maiores as chances de Jimin correr sérios riscos. Dei a partida no carro, que acordou com um ronco, deixando toda a cautela de lado enquanto dirigia pelas ruas de Seoul, costurando por entre o trânsito e furando todos os sinais vermelhos, rasgando o asfalto em alta velocidade. Eu quase causara alguns acidentes e certamente recebera diversos xingamentos do mais baixo calão, porém meu cérebro nem registrava as informações a essa altura.

Apenas quando encontrei Jungkook e Taehyung pessoalmente – ambos em diferentes estados de histeria – naquela madrugada de domingo, foi que as peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar. Taehyung tentava me explicar a situação da melhor maneira que conseguia, mesmo que as lágrimas não parassem de rolar por seu rosto. Ele me contara que, na tentativa de esquecer nossa pequena desavença, Jimin acompanhara ele e Hoseok até uma boate nova em Gangnam – não consegui evitar uma careta de desprezo diante da informação – e lá encontrara um amigo. Amigo este que nenhum dos dois sabia me explicar quem era, pois eles sequer foram apresentados; portanto, sequer sabiam seu nome. A única coisa que podiam afirmar era que na última semana Jimin passava a maior parte do seu tempo com dita pessoa, por vezes esquecendo de compromissos entre eles, inclusive negligenciando dias sagrados – palavras de Taehyung – e chegando em casa mais tarde do que o habitual. Naquele mesmo fim de tarde, Taehyung havia falado com Jimin por telefone e sabia que este se encontrava na presença do amigo misterioso; porém, já se passaram cerca de oito horas sem o menor sinal de Jimin. Nenhuma ligação, nenhuma mensagem, nada. Inclusive, toda vez que tentavam contatá-lo, a ligação caía diretamente na caixa postal.

Preocupado, Jungkook resolveu me trazer para a equação, ciente da possibilidade da mesma gangue que o agrediu estar envolvida nisso e, para meu infortúnio, eu temia que pudesse estar certo. Os acontecimentos estavam muito ligados e próximos demais para ser mera coincidência. De alguma forma, eles desvendaram a pequena farsa que eu e Jungkook montamos; de alguma forma, havia alguém no meio deles capaz de perceber o engano cometido, que conhecia o rosto de Jimin, alguém que acabara por estar no lugar certo, na hora certa. Eu não tinha dúvidas de que esse novo amigo de Jimin estava presente entre as diversas classes da gangue de Bang Yongguk; eu só torcia para não ser ninguém de posição muito elevada. Saí do apartamento determinado a descobrir o paradeiro de Park Jimin, dando aos outros dois garotos a expressa ordem de não se meterem em encrenca e deixarem tudo por minha conta; o que eu menos precisava agora era que corressem perigo. Eu tinha consciência de que sozinho não seria capaz de fazer o progresso necessário num espaço de tempo tão limitado, por isso resolvi recorrer à Namjoon e pedir-lhe auxílio para encontrar um informante, algum dedo-duro que fosse me contar tudo que eu precisava saber.  

O que me trazia de volta até a presente situação, cinquenta e seis horas após o último momento que alguém tivera contato com Jimin, onde eu esmurrava a cara desse filho da puta até transformá-la numa massa sangrenta e disforme. Estávamos na salinha nos fundos do estacionamento, que estaria completamente vazia se não fosse por Namjoon e Seokjin observando a cena de braços cruzados; hoje não seriam protagonistas da sessão de tortura, mas sim meros espectadores.

- Me responde, seu desgraçado! Onde ele está? – bradei, chacoalhando-o de maneira tão agressiva que a cadeira na qual se encontrava sentado tombou para trás. Aproveitei-me disso para agarrar-lhe pelo tecido ensanguentado da camiseta e agitá-lo ainda mais, fazendo com que a parte de trás de sua cabeça colidisse com o chão cimentado repetidas vezes. – Onde ele está? Onde ele está? Me diga! Onde ele está? – continuei repetindo a pergunta a cada impacto de crânio com concreto, assistindo uma poça escarlate se formar no chão. Neste momento eu não tinha o menor controle sobre meu corpo ou minhas ações. O monstro dentro de mim já estava solto e pedia por sangue; agora era mais uma questão de descontar minha ira no ser humano mais próximo.

- E-eu não s-sei! Eu ju-juro! Eu não se-ei! – soluçava, mas nem mesmo seu choro patético era capaz de me comover. Eu havia retornado a cobrir-lhe de socos, seus urros e lamúrias de dor me trazendo mais satisfação do que seria aceitável admitir. Estava tão absorto na minha brutalidade que não notei o toque vindo do meu celular no bolso de trás da calça. Apenas quando a trajetória do meu punho erguido fora interrompida em pleno ar por ninguém menos que Namjoon, foi que eu despertei do meu ímpeto de fúria.  

- É melhor você checar seu celular. – sugeriu, lábios comprimidos numa fina linha; sua expressão séria e levemente decepcionada dizia “já chega”. Livrei-me de sua mão que apertava meu braço com um puxão, alcançando o aparelho no bolso e abrindo a nova mensagem. Era de Jungkook, e continha apenas duas palavras, mas duas palavras que foram o suficiente pra me botar em movimento.

Encontramos ele.

Já fazendo caminho para fora do estacionamento, percorrendo o túnel de entrada com passos apressados, selecionei o contato de Jungkook e esperei a linha chamar. Nem cheguei a ouvir o segundo toque antes do garoto atender a ligação.

- Jungkook. Onde você está? – perguntei antes mesmo que ele pudesse me cumprimentar; podia ouvir o tic-tac do relógio imaginário indicando-me que o tempo corria, e cada segundo gasto com formalidades era um desperdício.

- No apartamento. Por favor, venha depressa. Jimin precisa de você. – o tom de voz do garoto era grave e sombrio, mas eu já não registrava nenhum desses detalhes. Desliguei o telefone sem dizer mais nada, sem me importar se estava sendo rude ou não. Havia apenas uma única frase martelando em minha mente sem parar, repetindo-se num ciclo eterno, como um mantra. Jimin precisa de você.

Minhas pernas moviam-se sozinhas, uma vez que meu cérebro estava focado demais em Jimin para prestar atenção em qualquer outra coisa. Passei direto por meu carro, meu consciente nem se dando ao trabalho de reconhecê-lo e registrar sua presença, optando por apenas apostar corrida contra o tempo. A distância entre o bairro abandonado que abrigava o estacionamento e a área universitária onde o apartamento de Jimin era localizado não era curta, mas eu não podia me importar menos. Corri até meus pulmões queimarem e minhas pernas tremerem, mas ao invés de fraquejar, eu apenas corri mais rápido. Não saberia dizer por quanto tempo corri, mas o alívio que senti ao avistar o prédio ao qual eu me destinava era simplesmente indescritível. Passei pelo saguão correndo e sobressaltando o porteiro, temeroso de que eu fosse algum baderneiro por causar tamanho alvoroço nessas horas ímpias da madrugada. Ignorando seus questionamentos insistentes e concluindo que eu tinha pressa demais para aguardar o elevador, dirigi-me às escadas, subindo até o quinto andar dois degraus por vez. Parando em frente à porta do apartamento de número 503 e reprimindo o impulso de derrubá-la à chutes, contentei-me em massacrar a campainha, esperando que minha urgência pudesse acelerar o tempo, nem ao menos considerando uma possível reclamação dos apartamentos vizinhos.

Quando a porta finalmente fora aberta, passei bruscamente por um Jungkook que parecia dividido entre o levemente aliviado e o extremamente irritado. O garoto fechou a porta suavemente atrás de si enquanto eu corria os olhos pelo apartamento a procura do menor sinal de Jimin. Para minha aflição e angústia, a sala estava vazia.

- Onde ele está? – indaguei, vagamente ciente de que essa era a pergunta que eu mais repetira durante a noite. Estava pronto pra disparar apartamento adentro e revirar todos os cantos daquele lugar, quando fui impedido por um aperto firme no meu braço. Virei-me de cenho franzido para Jungkook, que retribuía meu olhar revolto com um mortalmente sério.

- No quarto. Mas antes que eu te deixe ir, – chamou, apertando meu braço mais forte do que antes, como se aquilo fosse um aviso. – saiba que estarei no quarto ao lado, e se acontecer qualquer coisa com Jimin, eu irei te esfolar pessoalmente, entendeu? – não consegui conter a risada de escárnio diante de tais palavras. Sinceramente, o que esse moleque achava que eu era? Algum tipo de molestador?

Quando não recebeu resposta, Jungkook ergueu uma sobrancelha, desafiando-me a dizer alguma coisa. Revirei os olhos. – Entendi. Agora dá pra me soltar? – pedi, mas o garoto não o fez. Ao invés, direcionou seus olhos para baixo. Confuso e cansado dos seus joguinhos infantis, segui a linha do seu olhar até descobrir o que ele tanto encarava. Só então reparei em meus pés ainda calçados. Suspirando, livrei-me dos tênis e também me vi livre das garras do mais novo.

Eu já não estava mais com tanta pressa; agora, meu coração palpitava e minhas palmas suavam de nervoso. Segui caminho até o quarto que eu lembrava ser de Jimin com passos lentos, temendo a visão que me aguardava dentro do cômodo. Por alguma razão, eu acreditava que não iria gostar nenhum pouco.

A porta estava encostada, e respirando fundo mais uma vez para tomar coragem, a abri lentamente com a ponta dos dedos. Na cama, estava Taehyung sentado ao lado de uma protuberância que eu acreditava ser Jimin, envolto pelos lençóis claros e oculto de olhos curiosos. Ao me ver parado na soleira da porta, Taehyung inclinou-se para plantar um breve beijo na testa do amigo e fez menção de sair, parando por um momento à minha frente e lançando-me um olhar indecifrável. Sem proferir uma única palavra, passou por mim com passos largos e fechou a porta atrás de si, deixando-me sozinho com Jimin no quarto escuro.

A proeminência deitada sobre a cama permanecia imóvel, o que só contribuiu pro meu estado perturbado. Engoli em seco, tentando desfazer o nó que havia se formado na minha garganta e tomando coragem para movimentar minhas pernas, que agora pareciam grudadas ao chão. As luzes estavam apagadas, mas as cortinas finas deixavam passar claridade o suficiente para que eu pudesse enxergar o ambiente ao redor. Aproximei-me com passos comedidos, resistindo a súbita vontade de desviar o olhar; arrependi-me amargamente de não tê-lo feito, pois o que eu via diante de mim fazia meu sangue ferver e minhas mãos fecharem-se em punho.

Jimin estava acabado; seu rosto, tão belo e jovial, desfigurado. Seu olho direito não passava de uma massa preta e inchada, de forma que apenas o esquerdo me encarava; abaixo deste, sua maçã do rosto que antes tingia-se com os mais adoráveis tons de rosa, agora estava corrompida com o roxo de um hematoma; seu nariz, outrora tão pequeno e gracioso, estava grosseiramente inchado, combinando com seus lábios que pareciam ter dobrado de tamanho, rachados e vermelhos; haviam também marcas roxas em seu maxilar e alguns cortes na testa e bochechas. O que me trazia real pavor, era ter consciência de que esses eram os machucados visíveis apenas em seu rosto; sabe-se lá o que poderia estar escondido sob as diversas camadas de tecido.

- Jimin... – chamei, estremecendo quando minha voz falhou. – Quem fez isso com você?

Jimin ficara irresponsivo diante da minha pergunta, optando por fechar o único olho que ainda tinha capacidade para tal e deixar uma lágrima roliça e solitária escapá-lo e rolar pela bochecha. Acompanhei a trilha úmida deixada pelo pranto como se estivesse em câmera lenta; aquele simples gesto capaz de despertar novamente em mim a cólera que me consumia minutos atrás.

- Jimin! – esbravejei, observando o garoto sobressaltar-se com a minha repentina mudança de tom. – Não tente proteger aquele desgraçado! Me conte agora. Quem foi que fez isso com você? – ao invés de responder, Jimin me encarava com súplica nos olhos, enquanto novas lágrimas se formavam e trilhavam o mesmo caminho da anterior. – Jimin, não se engane. Mesmo que você não me conte, eu vou matar cada um daqueles desgraçados até descobrir quem foi o culpado. – rosnei, com sangue nos olhos e veneno na voz. Se eu estivesse sendo completamente sincero, mesmo que eu soubesse quem fora o responsável por tamanha barbárie, eu ainda mataria todos só pelo prazer.

Quando Jimin franziu os lábios machucados e fez uma careta de dor, eu senti como se aquilo fosse a gota d’água necessária para fazer meu copo transbordar. Com um rosnado territorial e animalesco, dei-lhe as costas, pronto para sair do apartamento e fazer a chacina que estava planejando em minha mente, apenas pra ser interrompido por um puxão fraco nas costas da minha camiseta. Se eu realmente quisesse, poderia me livrar de sua retenção sobre o tecido, mas por mais que aquele gesto fosse quase imperceptível, fora o suficiente para me deixar aturdido no lugar.

- Por favor... Fica comigo. – sua voz, antes tão alegre e melodiosa, soara carente e quebrada, apenas um fantasma do que costumava ser. Aquilo quebrara meu coração em mil pedaços. Permaneci imóvel no lugar por mais alguns instantes, fechando os olhos com força na tentativa de reprimir a dor no peito, sem sucesso.

Cautelosamente, como se temesse quebrá-lo com algum movimento brusco, ajoelhei-me ao lado da cama, deixando que meus olhos percorressem a extensão de seu rosto a fim de averiguar melhor os danos. Seus cabelos estavam molhados e seus ferimentos estavam limpos e não sangravam, o que indicava que seus amigos o haviam cuidado bem. Troquei olhares com Jimin por um longo tempo sem dizer nada; apenas quando um novo pranto brotava em seus olhos e ele estendeu seus dedos para tocar minha bochecha, foi que eu percebi que também tinha lágrimas raivosas rolando por minha face.

- Era exatamente isso que eu tentava evitar... – meus lábios tremiam enquanto eu permitia que mais lágrimas quentes escapassem de meus olhos e formassem pequenos círculos perfeitos no lençol claro que envolvia o corpo do mais novo. Fechei os olhos com força, segurando a mão pequena contra minha bochecha, chorando com tanta intensidade que chegava a soluçar. – Eu falhei, Jimin. Eu f-falhei em proteger você.

- Shh... Yoongi, não chore. – tentou consolar-me, mas sua voz estava tão embargada pelo choro quanto a minha. Ajustando melhor sua palma contra minha face, Jimin deslizou o dedão pela bochecha úmida de lágrimas, me fazendo inclinar a cabeça em busca de mais contato. Virando o rosto, plantei um leve beijo na parte interna de seu pulso, e só então notei as marcas negras que o maculavam; não precisava nem olhar pra saber que o outro pulso apresentava marcas gêmeas à esta. Mordi os lábios e fechei os olhos numa careta de dor, incapaz de compreender como um ser tão puro quanto Park Jimin poderia sofrer desse jeito. O mundo de fato era um lugar injusto e cruel.

- Me perdoa. – supliquei, afundando o rosto no colchão ao seu lado e deixando que mais lágrimas caíssem livremente. Eu sentia raiva; raiva do mundo, raiva das pessoas que causaram dor à ele, raiva de mim mesmo por não conseguir impedi-los. Como se pudesse pressentir o rumo auto destrutivo que meus pensamentos tomavam, Jimin pôs-se a afagar meus cabelos, pedindo silenciosamente pela minha atenção. Quando voltei meu olhar para sua face, ele sorria. Era um sorriso pequeno e nem se comparava com o raio de sol que eu estava acostumado a ver em seus lábios, mas não deixava de ser um sorriso.

- Deita aqui comigo. – pediu, mexendo-se na cama para abrir espaço pra mim ao seu lado. O movimento acarretou um sibilo e uma careta de dor; tive que conter a vontade de repreendê-lo, optando por lançar um olhar reprovador e, com um pouco de relutância, deitar-me no espaço oferecido. Tomei cuidado ao deixar uma pequena distância segura entre nós, com medo de que pudesse machucá-lo, mas Jimin pareceu jogar a cautela pela janela ao aninhar-se contra meu corpo, apoiando a cabeça em meu ombro.

Jimin suspirou contente enquanto brincava com meus dedos, entrelaçando-os com os seus vez ou outra. Assisti o ato quieto, admirando o contraste dos meus dedos pálidos e finos contra os seus curtos e rechonchudos. Dentro de instantes eu estava deitado de lado como ele, ambas as nossas cabeças apoiadas no mesmo travesseiro, enquanto sustentávamos um olhar cálido. – Yoongi... – Jimin chamou meu nome num sussurro, ao qual eu respondi com um murmúrio. – Me beija.

O pedido era inocente e livre de segundas intenções, mas pegou-me de surpresa do mesmo jeito. Continuei encarando-o por mais algum tempo, procurando em seus olhos algum sinal de dúvida ou hesitação, mas não encontrei nenhum dos dois. Ergui-me sobre o cotovelo para mudar de posição, e compreendendo meu propósito, Jimin também se mexeu, deitando-se novamente de costas. Pairei sobre seu corpo apoiado nas mãos e joelhos, cada um respectivamente disposto ao lado de sua cabeça e quadril. Tomei cuidado para não colocar nenhum tipo de peso sobre seu corpo fragilizado, mas aproveitei-me do novo ângulo para explorar sua pele em busca de mais hematomas. Sua camisa com gola cavada deixava à mostra uma marca roxa em sua clavícula, e foi por ela que comecei a trilhar meu caminho.

Plantei ali um suave beijo, um mero roçar de lábios, e vi como sua pele arrepiava-se com o contato. Livrando uma de minhas mãos que sustentavam meu peso, procurei por seus pulsos e beijei cada um da mesma maneira, fixando meu olhar em seu rosto atrás de qualquer sinal de incômodo. Até então, a única indicação de dor eram alguns suspiros e silvos baixos que escapavam de seus lábios. Mudando minha atenção para seu rosto e tornando a me apoiar sobre ambas as mãos, flexionei os braços para depositar um beijo no corte em sua testa, depois em seu olho inchado e escurecido pelo hematoma, seguido pela mancha que coloria sua maçã do rosto. As feições de Jimin contorciam-se de dor, mas ele não reclamou sequer uma vez.

Segui a trilha com um beijo na ponte de seu nariz, nos cortes em sua bochecha, na sua mandíbula judiada. Eu parara por um instante a fim de olhá-lo nos olhos, e a emoção que encontrei ali era tão diferente daquela demonstrada da última vez que nos vimos. Enquanto naquela ocasião essas mesmas orbes castanhas me olhavam com puro ódio e desprezo, agora elas me encaravam com ternura e afeto. Por que me olha assim? Eu não sou digno de sua atenção, pensei. Como se lesse minha mente e sentisse minha insegurança, Jimin levou a mão até meu rosto, um pequeno incentivo para completar o percurso. Com um sorriso acanhado no rosto, inclinei-me e encostei meus lábios ao seus. Minha intenção era manter o beijo casto, com pressão suficiente apenas para deixar de ser um mero encontro de pele, mas aparentemente Jimin tinha outras expectativas. Soltando um lamurio necessitado, seus lábios começaram a mover-se contra os meus; deixei que ele tomasse o controle da situação, indo até onde sentia-se confortável, quando senti meu lábio inferior preso entre seus dentes. Incapaz de conter um gemido baixo, deslizei a língua por seu lábio superior, o único que não estava rachado e extremamente sensível. O gesto parecia levar Jimin à beira do êxtase, pois agora suas mãos encontravam minhas costas e sua boca aprofundava o beijo. Porém, o momento não durou muito; com um gemido alto de dor, nossas bocas desgrudaram-se num instante. O ato reabrira o corte em seu lábio, e agora um pouco de sangue brotava do ferimento. Aproximei-me para correr a língua sobre o machucado, sentindo o gosto de ferro. Um sibilo escapou de seus lábios, mas suas mãos apertavam minha camisa com mais força.

Sorrindo, saí de cima da sua figura frágil pra acomodar-me novamente no espaço vazio ao seu lado, convidando-o a deitar sobre meu peito. Com muito cuidado e alguns suspiros sôfregos, Jimin aninhou-se contra a lateral do meu corpo, encostando a cabeça sobre meu ombro e jogando um braço por cima do meu estômago. Com o braço que apoiava a cabeça de Jimin, comecei a afagar seus fios castanhos, tão macios ao toque; com a mão livre, distribuía carícias pelo braço estendido sobre meu tronco. Por baixo dos lençóis, nossos pés se encontravam; os pés surpreendentemente quentes de Jimin tentando aquecer um pouco os meus assustadoramente gelados. Virando o rosto para deixar em sua testa um beijo de boa noite, pedi para que relaxasse e dormisse, pedido este que ele respondeu com um suspiro.

Não ficamos nem dez minutos imersos no mais confortável dos silêncios até que a campainha soasse pelo apartamento. Franzi o cenho, estranhando a situação, uma vez que era ainda muito tarde – ou cedo, dependendo do ponto de vista – para visitas. Um rápido olhar na direção de Jimin mostrou-me sua expressão preocupada. Nenhum de nós pretendia mover um músculo, e após mais três toques da campainha, ouvimos alguém sair do quarto vizinho para atender a porta.

- Sim? – a voz grave e grogue de sono de Taehyung ressoara pelo ambiente. Era verdade que estávamos num quarto fechado, mas as paredes eram finas e a sala era aberta e ampla, permitindo que as vozes fossem ouvidas de forma abafada, mas clara.

- Boa noite, senhor. Recebemos uma denúncia sobre um indivíduo suspeito que invadiu o prédio há pouco mais de uma hora, e olhando pelas câmeras de vigilância pudemos concluir que ele entrou neste apartamento. – disse uma voz masculina, fazendo meu sangue gelar. Policiais? O porteiro chamou malditos policiais?

- Ah, você tá falando do hyung? – o tom de voz de Taehyung demonstrava reconhecimento. – Não se preocupe, ele é um amigo meu. Fui eu quem o chamou aqui, na verdade. Ele não é nenhum indivíduo suspeito senhor policial, apenas mal educado.

- Tem certeza que não quer prestar queixa? Nós podemos removê-lo—

- Tenho sim, senhor. Muito obrigado pela oferta, mas não será necessário. – Taehyung cortou. – Não há nada de errado aqui.

- Muito bem. – o policial cedeu após longos segundos em silêncio, como se ponderasse alguma coisa. – Tente não causar problemas futuros. Espero não ter que voltar aqui novamente.

- Pode deixar, senhor policial. Mil desculpas pelo inconveniente. Tchauzinho! Dirija com cuidado. – exclamou animadamente antes de fechar a porta. Após alguns segundos de silêncio onde só podia-se ouvir o som de passos que se aproximavam, a voz grave de Taehyung ressoou através da porta fechada do quarto. – Agora você me deve dois favores, Park Jimin.

Segurei o riso enquanto ouvia seus passos afastando-se na direção do seu próprio quarto. Quando olhei para Jimin, vi que seus olhos brilhavam de divertimento. A sensação de escapar por pouco do perigo era extasiante, mas era uma sensação que eu esperava não se repetir muitas vezes. Deixei que meus olhos se demorassem sobre os seus por mais alguns instantes, banhando-me no calor do seu corpo contra o meu, no seu sorriso tímido, na paixão expressa em seu olhar. Eu poderia contemplar seu rosto – mesmo marcado como estava – por horas e nunca me cansar. Naquele momento, na escuridão e aconchego do quarto com Jimin em meus braços, eu fizera uma promessa pra mim mesmo.

- Não me deixe. Nunca. – pediu, fechando os olhos e encostando o nariz contra meu pescoço, suspirando contente e arrepiando minha pele. Envolvi meus braços protetoramente ao redor do seu corpo, trazendo-o mais pra perto.

- Não deixarei. Eu prometo.


Notas Finais


Eu ouvi um amém?


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