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História Hold me Tight - O que você fez?


Escrita por: KiitaT

Notas do Autor


OLÁAAA MEUS AMORESSSSS~ sentiram minha falta? *desvia das pedras*
Eu sei, eu sei, eu demorei séculos pra atualizar. Mas sabe como é né, faculdade em tempo integral é um cu. Enfim, não vou tentar criar desculpas aqui, o que importa é que eu voltei com mais um capítulo maravilhoso pra vocês. YAAAAAY *joga confete*
E como assim a fic tá com quase 370 favoritos? Que macumba é essa? Eu passo quase um mês sem atualizar e recebo uma tonelada de favoritos de presente? Vou passar a demorar mais vezes. -NNNNN Mentira, eu ainda prezo a minha vida e bem estar. Mas falando sério agora, talvez esse seja o último capítulo de 2015. ): De qualquer forma, eu queria agradecer à todos que favoritaram e comentaram, tanto os leitores antigos quando os novos. Titia ama todos vocês. ♥
Sem mais delongas, vou deixar vocês com essa preciosidade aí embaixo. Apertem os cintos, que a viagem será longa e turbulenta. 8D q (alguém me mate pls)
Boa leitura!

Capítulo 38 - O que você fez?


Fanfic / Fanfiction Hold me Tight - O que você fez?

- Hoseok POV -

Era uma noite escura e chuvosa. O barulho alto e estridente das sirenes dos carros de polícia podia ser ouvido ao fundo, aproximando-se numa velocidade alarmante – o tempo estava acabando. Nós precisávamos sair dali. Ele precisava sair dali. Em minha busca frenética, encontrei o garoto franzino de cabelos negros não muito longe, observando o brilho azul e vermelho descendo a rua por uma das poucas janelas do armazém que não estavam completamente vedadas com papelão e tábuas de madeira, dando-me as costas. Quando toquei seu ombro para chamar-lhe a atenção, a primeira expressão que encontrei em seu rosto era de alguém que não conseguia acompanhar, muito menos entender, a súbita reviravolta nos eventos. Assisti apreensivo sua feição mudar enquanto as engrenagens em seu cérebro rodavam, processando as informações adquiridas e fazendo as conexões necessárias para seu entendimento, e assim que a compreensão caiu sobre si, tudo que vi em seus olhos era dor, raiva, desprezo e, acima de tudo, o mais puro ódio.

O que você fez, Hoseok?

 

Acordei assustado, sentindo-me perdido e impotente diante da reação natural do meu corpo ao pesadelo: respiração descompassada, batimentos cardíacos acelerados, pele fria e úmida de suor. Permaneci imóvel por alguns segundos, encarando o teto branco sobre minha cabeça enquanto forçava-me a relaxar. Aquilo não passava de um pesadelo, por mais reais que as imagens fossem. Não era nem como se eu não estivesse acostumado com aquilo – as mesmas imagens sempre ressurgiam no meu subconsciente de tempos em tempos pra me assombrar, mas nos últimos dias eu sinto como se estivesse revivendo o passado com mais frequência. Suspirei pesadamente, juntando coragem e o resto das minhas energias pra levantar da cama. Ainda eram altas horas da madrugada, mas eu sabia que qualquer tentativa de voltar a dormir seria inútil – se tinha uma coisa que esses pesadelos conseguiam era me fazer perder o sono pensando em coisas que eu não tinha o menor controle sobre. Eu sempre fui o tipo de pessoa que detesta o sentimento de tempo perdido; deste modo, troquei-me para roupas mais adequadas e desci as escadas para o pequeno estúdio que havia no apartamento em busca da única coisa que eu sabia que tiraria minha cabeça de pensamentos torturantes – a dança.

Quando me considerei suficientemente desgastado – não só fisicamente, mas mentalmente também – para dormir, o sol já havia nascido no horizonte. Levei um tempo considerável para me reidratar e comer alguma coisa antes de tomar um longo e relaxante banho quente para só então cair na cama mais uma vez. Eu estava ciente de que não teria muito tempo para recuperar o sono perdido, mas ao menos a pequena soneca que tirei fora completamente isenta de sonhos, sejam eles bons ou ruins.

Ao acordar pela segunda vez naquele dia, eu me sentia animado. Com uma rápida olhada no celular encontrei uma mensagem enviada na noite anterior que lembrou-me de que hoje era o dia que meu Jiminie voltaria da viagem que fez à casa dos pais, e não me recordava de sentir-me tão empolgado com alguma coisa antes; a amargura que o pesadelo me trouxera previamente estava agora completamente esquecida, uma memória vaga e apagada sob a esperança de começar o dia bem. Antes de viajar, Jimin havia me prometido um encontro para praticar a coreografia que apresentaríamos no show que se aproximava, mas para mim isso era apenas uma desculpa – o que eu queria mesmo era matar as saudades. Ainda que eu quisesse, não podia negar que me sentia bem na presença do mais novo. Sua personalidade doce e otimista, sua lealdade invejável e a forma pura e inocente com a qual via o mundo eram os traços que mais me atraíam no menino, e em pouco tempo me vi encantado e vergonhosamente enfeitiçado pelo seu charme e carisma, orbitando-o como um corpo celeste ao redor do Sol.

Pelos meus cálculos Jimin já estaria em casa agora, a não ser que algo tenha acontecido no caminho. Desconsiderando rapidamente essa possibilidade, impaciente demais para preocupar-me com coisas tão pequenas como imprevistos e atrasos, me aprontei para sair em tempo recorde, decidindo que eu poderia comer algo no caminho – ou, melhor ainda, comprar algo para nós comermos quando estivéssemos de volta para o treino. Enquanto tirava o carro da garagem, peguei-me pensando se eu poderia mandar-lhe uma mensagem o avisando sobre minha visita – na verdade, era justamente isso que eu deveria fazer – mas decidi que fazer-lhe uma surpresa era uma alternativa muito mais agradável. Afinal de contas, quando foi que comecei a dar importância pra coisas triviais como espaço pessoal? Ah, isso mesmo. Nunca.

Quando estacionei o carro na frente de seu prédio, eu tive que literalmente me controlar pra não saltitar saguão adentro, tamanha minha animação e ansiedade pra ver o mais novo. Era engraçado, como apenas a promessa de ver Jimin conseguia eliminar qualquer resquício de mau humor que uma noite mal dormida e um pesadelo antigo poderiam deixar pra trás, elevando-o nas alturas. Cumprimentei o porteiro com meu característico sorriso ensolarado e entrei apressado no elevador que estava prestes a fechar suas portas, cumprimentando os demais ocupantes do espaço com o mesmo calor nos lábios; entretanto, não consegui conter meus calcanhares nervosos enquanto esperava o maquinário me levar até o andar já muito conhecido por mim, que agitavam-se contra o piso num tique nervoso e atraíam os olhares incomodados e julgadores dos moradores do prédio. Tentei não dar-lhes importância, concentrando-me exclusivamente em encontrar a porta de número 503 e pressionar a campainha, optando por uma chegada menos súbita e intrusiva. Porém, quando fui saudado pelo rosto de Taehyung ao invés do de Jimin, não pude deixar de me sentir um pouco decepcionado.

- Olá, gracinha. – cumprimentei-o com o meu melhor sorriso, tentando não transparecer a mudança em minha postura e olhar ao vê-lo. Aparentemente funcionou, pois o garoto agora me devolvia o sorriso com o seu próprio, ainda que um pouco tímido e contido.  – Jiminie está ai? Vim buscá-lo para o ensaio que ele me prometeu. – indaguei, esticando o pescoço para vasculhar o apartamento atrás de si em busca de um vislumbre de cabelos castanhos e bochechas fartas.

- Uh... não, na verdade ele não está. – respondeu de forma cautelosa e até um pouco incerta, estreitando seus grandes olhos castanhos ao me encarar como se percebesse que algo estava errado. Eu definitivamente não esperava aquela resposta, pois tinha certeza que hoje era o dia que Jimin voltava pra Seoul. Inclusive, a presença de Taehyung diante de mim só confirmava esse fato; se ele estava de volta, isso significava que Jimin também estava, certo? – Vocês ainda não se falaram? Jiminie não te avisou?

- Avisou o quê? – agora sim o garoto de cabelos lilases que ainda teimava em bloquear a porta tinha minha total atenção. O tom de voz que Taehyung usara servira como uma espécie de alarme, enviando diversos sinais histéricos e preocupantes para meu cérebro. Engoli em seco, tentando evitar que o pânico que se acumulava na base da minha garganta acabasse tomando o controle. O que diabos aconteceu dessa vez?

- Eu... Ahn... E-eu não tenho certeza se devo te dizer. – gaguejou, sua incerteza e apreensão ainda mais evidentes, tanto no tom de voz quanto no modo como se comportava, mudando o peso de um pé para outro nervosamente enquanto seus olhos evitavam os meus à todo custo.

- Por favor, Taehyungie. Aconteceu alguma coisa com o Jimin? – insisti, incapaz de conter o pavor que teimava em surgir no fundo do meu estômago e espalhar-se por meus membros, deixando-os tensos e congelados ao lado do corpo; fechei as mãos em punho, sentindo o suor frio brotar e escorrer por minhas têmporas e costas. Será que machucaram Jimin de novo? Terá acontecido algo em Busan, ou aqui em Seoul, quando chegaram? Onde o mais novo poderia estar?

- Não... não aconteceu nada com Jimin. – Taehyung respondeu de forma críptica, o que só piorou minha situação. Se o problema não era com Jimin, será que... não, não pode ser. O garoto permanecia quieto, mas sua expressão denunciava muita coisa. O pensamento que surgira em minha mente era improvável e até mesmo beirava o absurdo, mas eu não tinha outra opção senão perguntar. Só me restava um único palpite.

- Aconteceu algo com Suga? – tentei adivinhar, sem realmente esperar que meu palpite estivesse correto, mas aparentemente eu acertara o alvo em cheio. Apenas a mera menção do nome do outro provocara a reação que eu esperava de Taehyung: seus olhos arregalaram-se em espanto, mesmo que por uma fração de segundo, antes do mesmo prender o lábio inferior entre os dentes num gesto que gritava desconforto. De fato, essa era a única resposta que eu precisava dele, mas ainda assim queria ouvir o que tinha a dizer.

- Como sabe? Você conhece Suga-hyung? – questionou-me com uma expressão que parecia dividida entre o perplexo e o perturbado. Se fosse qualquer outro dia, eu poderia passar horas respondendo essa simples pergunta, dando-lhe detalhes sórdidos da estranha amizade que um dia compartilhei com Min Yoongi. Mas agora eu não tinha tempo nem condições pra isso.

- Conheço, somos amigos. – menti. – Por favor, Taehyung. Eu te imploro. O que houve? – pedi com o maior poder de persuasão que eu possuía, tentando tirar a informação do garoto à qualquer custo; nesse momento eu já estava mais do que nervoso – estava agoniado. Se a ideia de Jimin se machucar novamente já não era ruim o bastante, saber que na verdade era Yoongi quem corria perigo beirava o insuportável.

- Escuta, hyung. – começou o outro, soltando um pesado suspiro enquanto passava as mãos pelos cabelos tingidos num claro sinal de derrota. – Eu não sei direito o que aconteceu, ok? Tudo que sei é o que Jimin sabe, o que não é muito. Assim que chegamos em casa Jiminie foi ligar pra Suga-hyung pra avisá-lo onde estava, mas saiu daqui com pressa e aterrorizado, dizendo algo sobre o hyung ter sido baleado. Eu gostaria de poder ajudar mais, mas isso é tudo que sei.

No mesmo instante que escutei a palavra “baleado” saindo de seus lábios meu coração parou. Não, aquilo não era possível. Eu só podia ter escutado errado. Claramente Yoongi não poderia ter levado um tiro, poderia? – Você tem certeza? – questionei, desejando muito que o garoto estivesse equivocado; mas, ao contrário de minhas expectativas, apenas recebi sua confirmação com um aceno da cabeça. De repente me vi com dificuldades pra respirar, e minhas palmas estavam grudentas de suor frio. Não, eu me recusava a acreditar no que ouvia. Aquilo não estava nos planos. Não era possível – só que era; tanto era possível que havia acontecido. Cautelosamente, quase com medo de ouvir a resposta, perguntei numa voz pequena e frágil. – Ele está bem?

- Sinto muito hyung, eu não sei te responder. Não falei mais com Jiminie depois que ele saiu daqui, não sei nem onde ele está agora. – explicou, tomando piedade da minha expressão miserável e parecendo sincero em seu pedido de desculpas, mas eu já não prestava mais atenção em suas palavras.

Eu me sentia sem chão. Era como se estivesse fora do meu corpo, num outro plano dimensional, assistindo tudo que acontecia comigo sem poder intervir. Me lembro vagamente de ter balbuciado alguma coisa para o garoto – se era uma despedida ou uma maldição eu não saberia dizer – antes de ir embora, ignorando seus chamados insistentes atrás de mim enquanto me afastava. Minha mente estava um completo caos, uma cacofonia de pensamentos conflitantes que não me deixava concentrar em nada. Eu não sabia o que fazer, ou como reagir. Meu corpo agia sob piloto automático, caminhando até o elevador, pressionando o botão, entrando na máquina e esperando que ela me levasse até o térreo. Enquanto meu corpo fazia essas coisas sem que eu precisasse mandar, minha mente parecia correr para longe com uma velocidade absurda. Com um gosto amargo na boca, notei que o dia não seria nada daquilo que eu esperava – eu tinha vindo até aqui com o intuito de encontrar Jimin e passar um tempo de qualidade com ele fazendo o que ambos amávamos, mas ao invés disso recebi uma notícia que abalara todas as minhas estruturas. Era quase como se meu subconsciente estivesse tentando me deixar de sobreaviso ao me mandar aquele pesadelo na madrugada. Ri sem humor algum com tal ideia; isso seria deveras conveniente, não?

Quando dei por mim, eu já estava dentro do carro, dando a partida no motor. Deixei que meus membros conduzissem os pedais e volante por conta própria, levando-me para um lugar que nem mesmo eu conhecia. Tudo que eu queria no momento era fugir: do apartamento de Jimin, da cidade, da minha mente; enquanto dirigia sem rumo pelas ruas de Seoul, eu me permitia fazer de conta que era exatamente isso que estava fazendo. Mas eu não poderia realmente fugir, não com todas as coisas que me prendiam à este lugar. Era tarde demais pra mim, eu estava muito envolvido. Um segundo tarde demais me dei conta que deixar que o carro me conduzisse praticamente sozinho enquanto prestava a mínima atenção no trânsito não era lá uma ideia brilhante; bastou uma quase colisão com outro veículo no cruzamento após atravessar um sinal vermelho para despertar-me do transe caótico que minha mente criara.

Parei o carro no acostamento com mãos trêmulas, ignorando completamente a buzinada raivosa que havia levado em resposta. Isso não estava certo. Eu não devia deixar que a notícia me afetasse tanto quanto estava afetando; não a ponto de colocar minha própria vida em risco. Mas infelizmente isso não era algo que eu podia controlar, não é mesmo? Afinal, tudo isso era minha culpa.

Não! Não vamos começar de novo, gritei em minha mente, fechando os olhos com força para tentar afastar os pensamentos autodestrutivos. Nada disso era minha culpa; eu não tinha como saber. Inclusive, se não fosse por Taehyung, eu continuaria sem saber. Como poderia ser minha culpa? Eu não havia feito nada de errado, nada do que pudesse me arrepender no futuro.

Coincidentemente ou não, assim que tentei assegurar-me da minha inocência, uma risada seca estranhamente semelhante à de um fantasma ecoara na minha mente, como se debochasse da minha ingenuidade. Fechei os olhos com força novamente, apoiando a testa sobre o couro frio do volante, mas só isso não fora capaz de afastar o som, então cobri minhas orelhas com as mãos. Estou ficando louco.

Antes que eu pudesse de fato entrar num colapso mental, uma ponta de esperança surgiu no fundo de meu consciente. Eu poderia muito bem estar me preocupando à toa. Yoongi poderia estar bem e à salvo nesse exato momento. Talvez ele estivesse em casa, ou no estacionamento que dividia com os amigos. Fui rápido em acatar essa hipótese como verdade, porque era nisso que eu preferia acreditar; era mais fácil me segurar no otimismo e na esperança – a alternativa era muito cruel. Convencido de que estava tudo bem e não havia motivos pra entrar em pânico, resolvi fazer a única coisa que poderia me trazer paz de espírito – ou destruí-lo por completo: ligar pra Jimin e descobrir que tipo de informação eu seria capaz de lhe arrancar.

Fisguei o celular no bolso da calça e procurei na lista de contatos pelo nome “Meu Chim-Chim <3”, torcendo para que o garoto pudesse receber chamadas. Jimin levara exatamente oito toques para atender a ligação.

- Hyung? – ouvi a voz melodiosa do garoto me saudar com o que parecia ser incerteza em seu tom de voz, o cumprimento soando mais como uma pergunta do que uma afirmação.

- Olá, Chim-Chim. Onde você está? Espero que não tenha esquecido o nosso compromisso. – disse tentando soar o mais natural que conseguia, ainda que minha animação parecesse um pouco forçada; resolvi lançar a isca na esperança de que o mais novo a mordesse e respondesse minha pergunta. Era de vital importância que eu soubesse se ele estava na presença de Yoongi ou não.

- Ahn, e-eu... oh, é mesmo! Como pude me esquecer? – exclamou, e quase pude ver o modo como Jimin batia na própria testa. Eu até poderia ter sido enganado, se suas palavras não soassem tensas e controladas, como se ele estivesse tentando me esconder algo. – Me perdoe, hyung. Acabou surgindo um imprevisto, e... eu vou precisar cancelar nosso ensaio.

- O que houve, Chim-Chim? Posso te ajudar em algo? – insisti, torcendo para que eventualmente o garoto cedesse e revelasse alguma coisa. Infelizmente hoje não era meu dia de sorte.

- Não, está tudo bem. É só que... uh... – Jimin às vezes era tão óbvio. Eu podia literalmente ouvir o barulho que as engrenagens do seu cérebro fazia ao buscar alguma boa desculpa. – Eu tive um problema com as minhas notas numa matéria da faculdade, e preciso resolver isso urgentemente. Você entende, não é?

- Claro. – respondi, deixando a decepção evidente na voz. Jimin poderia se enganar ao pensar que meu desapontamento devia-se ao fato de nossos planos serem adiados, mas na verdade eu estava desapontado ao pegá-lo numa mentira tão óbvia. Pelo visto seus lábios eram um túmulo; eu não tiraria nada deles. – Claro que eu entendo, Chim-Chim. Suas notas são mais importantes.

- Me desculpa mesmo, Hobi. Eu não pretendia furar com você assim de repente. Eu estava realmente ansioso pra dançar ao seu lado novamente. – adicionou, parecendo mais sincero dessa vez.

- Não se preocupe com isso, bobo. Eu já disse que entendo. Mas você fica me devendo uma, combinado? – brinquei, vendo-me incapaz de guardar mágoas contra o mais novo. Eu precisava de informações e ele não estava cooperando, mas não era como se Jimin fosse meu único recurso. Entretanto, se ele apenas me dissesse o que havia acontecido de fato, meu trabalho seria muito mais fácil.

- Combinado! – concordou, o habitual tom alegre retornando para sua fala brevemente. – Vamos marcar de nos encontrar de novo, ainda essa semana. Eu vou trabalhar ainda mais duro pra compensar a falta que cometi hoje. Prometo, hyung!

- Cuidado, Jimin. Eu levo promessas muito à sério. – eu disse na intenção de o provocar, mas tive que conter um riso ao perceber a veracidade de minhas palavras.

- Pode confiar em mim. Eu não vou te decepcionar, Hobi.

- Eu sei que não. – respondi, sabendo que mais uma vez minhas palavras eram verdadeiras. Nada que o garoto fizesse poderia me decepcionar, pelo menos não de forma incorrigível. Park Jimin era precioso desse jeito. Nos despedimos logo em seguida com o mais novo reforçando sua promessa de compensar o treino perdido no futuro, promessa à qual eu pretendia cobrar.

Encerrei a chamada me sentindo não muito melhor do que me sentia antes de tomar a decisão de fazê-la. Jimin não tinha sido de muita ajuda; eu ainda não sabia onde Yoongi estava, nem o que tinha acontecido com ele – não nos mínimos detalhes. Pelo menos uma coisa era certa: se Yoongi estivesse gravemente ferido – ou pior, morto –, certamente a recepção de Jimin seria diferente. Eu não era cego, sabia que o loiro significava muito para o garoto. Se as circunstâncias fossem piores, ele não teria condições nem pra atender o telefone, quem dirá atirar mentiras e desculpas esfarrapadas na minha cara. Permiti-me tirar proveito do sentimento que me invadiu diante da realização de que meu palpite estava certo: não havia motivos pra me preocupar, afinal.

Contudo, a paz de espírito não durara por muito tempo; aparentemente minha mente tinha outros planos; aparentemente eu não tinha permissão pra ficar de consciência limpa. No mesmo momento que me permiti ficar aliviado se não pelo recebimento de boas notícias, pelo menos pela falta de notícias ruins – ou piores, no caso –, pude ouvir uma pequena voz sussurrar no meu ouvido; uma voz perversa e venenosa, uma voz que sabia exatamente o que dizer pra destruir a barreira de otimismo e esperança que eu construíra ao meu redor como forma de proteção; uma voz que se assemelhava terrivelmente à um fantasma do passado.

O que você fez, Hoseok?

Eu não fiz nada, eu juro. Eu não fiz nada!

É isso o que você diz para si mesmo antes de dormir? Eu só ouço mentiras e mais mentiras.

Não! Você está errado.

Isso é tudo culpa sua.

Isso não é verdade.

Como você consegue viver conhecendo as consequências dos seus atos? Você não sente remorso ao destruir a vida das pessoas?

Não! Pare! Eu não fiz nada, por favor, eu não fiz nada. Eu juro!

Eu não acredito em você. Não há nada pior que um traidor, não é mesmo?

- Já chega! – eu não havia percebido que tinha gritado até sentir os soluços que assolavam meu corpo por conta do choro. Imediatamente envolvi meus braços ao redor dos ombros, numa espécie de abraço solitário que eu esperava conseguir acalmar um pouco meus nervos. Demorou um bocado, mas o contato – ainda que insuficiente e patético – acabara surtindo o efeito desejado. Eu ainda podia sentir lágrimas gordas e quentes rolando por minha face e ainda tremia profusamente, mas ao menos não estava mais à beira de um ataque de pânico e a voz havia desaparecido – por enquanto.

Decidido e motivado a ir atrás de respostas, engoli o choro e sequei os olhos com as costas das mãos, alcançando novamente o aparelho celular a fim de contatar a única pessoa que poderia me dar aquilo que eu buscava. A mensagem que enviei fora curta e direta, sem brechas para questionamentos; nem ao menos esperei pela resposta antes de ligar o carro e seguir novamente pelas ruas, agora com um destino certo em mente.

Precisamos conversar.

 

Quando parei o carro novamente eu estava numa parte reclusa e um tanto perigosa de Gangnam. Aqui não havia nada daquele brilho e glamour da famosa e badalada Gangnam dos ricos e turistas; não, aqui era o território das gangues, dos marginais e dos maus elementos. Eu me encontrava diante de um antigo hotel e cassino, muito prestigiado há cerca de vinte anos atrás, mas que acabou perdendo a clientela para os novos e modernos cassinos que começaram a pipocar pela cidade. Ao contrário do que se pensaria, o hotel ainda funciona normalmente, porém apenas de fachada. Atualmente o local era palco de todo tipo de atividade ilícita que alguém poderia imaginar: apostas e jogos de azar, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e até mesmo prostituição. Era aqui que os grandes empresários e políticos vinham de tempos em tempos buscando um pouco de diversão, seja envolvendo dinheiro ou prazer. Ou ambos, pensei, sentindo meu estômago revirar desconfortavelmente. Esse lugar me dava náuseas.

Atravessei a rua com ambas as mãos enfiadas nos bolsos e os passos um tanto hesitantes, tentando me preparar mentalmente para o que estava prestes a fazer – para quem eu estava prestes a confrontar. Meus olhos vasculhavam os arredores nervosamente, voltando-se para vislumbrar a rua por cima do ombro como se eu temesse estar sendo seguido – o que era estúpido, se parasse pra pensar exatamente onde eu estava. Por que o caçador precisaria seguir sua presa, quando esta estava voluntariamente entrando em seu covil?

Fui interceptado no saguão por dois dos inúmeros capangas sem identidade que o dono do hotel/cassino/centro de operações possuía, ambos assemelhando-se mais com um par de armários ambulantes – com seus músculos monstruosamente definidos e carranca intimidadora meio escondida por trás de bandanas vermelhas – do que seres humanos. Pude sentir a tão familiar sensação de ter um milhão de agulhas fisgando minha pele enquanto tinha dois pares de olhos me analisando de cima à baixo, e de repente me vi dividido entre sair correndo sem olhar pra trás e rolar os olhos com irritação. Não era a primeira vez que eu vinha até aqui; certamente os buldogues que constituíam a segurança desse lugar já deviam saber quem eu era, mas ainda assim eles insistiam em manter as formalidades.

- Quem deseja? – o segurança da direita indagou com um tom monótono e entediado, quase robótico, e mesmo que eu soubesse que esse era o procedimento padrão, não consegui conter um ruído indignado, sentindo-me quase ofendido com a pergunta.

- Jung Hoseok. Minha presença é esperada. Pode conferir, se quiser. – ofereci impaciente, pensando que já que estava aqui e não tinha como voltar atrás, podia muito bem acabar logo com aquilo. Assisti consideravelmente entediado o outro fazer exatamente como sugerido, afastando-se um pouco para resmungar algo que não tinha o mínimo interesse para escutar no walkie-talkie que todos eles carregavam consigo e voltando-se de tempos em tempos para roubar olhares indecifráveis na minha direção. Era engraçado, como esses brutamontes me entediavam e me davam calafrios ao mesmo tempo.

Aparentemente quem quer que estivesse do outro lado da linha confirmara minhas palavras, pois agora os dois se colocavam ao meu lado e me escoltavam para o elevador sem dizer uma única palavra, como se eu fosse algum tipo de prisioneiro. Durante a subida para os andares superiores num cubículo fechado eu não pude evitar o sentimento sufocante de claustrofobia, mesmo que não nutrisse esse medo em circunstâncias comuns. Ser espremido entre dois brutamontes que tinham a altura de um jogador de basquete e os músculos de um lutador de boxe não fazia nada para aplacar meus nervos, muito pelo contrário; no momento eu me sentia pequeno e frágil, um mero peão no grande esquema das coisas.

Entretanto, tal sentimento de inferioridade não era nada se comparado ao que senti no momento que saímos do elevador e entramos em um dos vários quartos de hotel – uma das suítes presidenciais no andar mais alto, notei com um revirar de olhos – para encontrar a pessoa que me trouxera até ali. Apenas quando nossos olhos se encontraram eu percebi o quão estúpido eu era e o quão arrependido estava por achar que procurá-lo seria boa ideia; o pequeno contato, mesmo que breve e distante, fora o suficiente pra desencadear a mesma reação enervante que tive ao ser escrutinado pelos capangas no saguão, mas dessa vez as agulhas pareciam dar choque.

Depois que consegui reprimir o ataque de pânico que ameaçava explodir em minha mente e recuperar calma o suficiente pra colocar uma expressão de falsa indiferença no rosto, me permiti reparar o quarto de aparência cara e requintada que fora revelado por trás das portas duplas. Contudo não fora a decoração que mais me chamara a atenção; a primeira coisa que reparei foi como o único ocupante do recinto parecia destoar do resto do ambiente, uma figura suja, amassada e tão incrivelmente exausta no meio de um quarto banhado à ouro. Zelo estava no processo de colocar uma jaqueta por cima de sua regata preta, mas não antes que eu pudesse vislumbrar um pedaço de bandagem branca enfeitando seu bíceps direito.

- O que houve no seu braço? – questionei sem rodeios no momento que os armários ambulantes fecharam a porta atrás de si com um sinal do garoto para que nos deixassem à sós. Eu precisava desesperadamente de respostas, e a visão do machucado me deu uma carga de coragem e ousadia para pular as formalidades e apenas ir direto ao assunto. – Se meteu em alguma briga ultimamente?

- Ah, isso? – perguntou com indiferença, quase como se não se lembrasse da existência das bandagens, indicando seu braço agora coberto pela jaqueta. – Não é nada, apenas um pequeno arranhão. Nada com o que você deva se preocupar, Hoseok-hyung. – continuou, forçando um sorriso estranhamente intimidador após proferir o meu nome como o bom dongsaeng que era. Arqueei uma sobrancelha cética para sua afirmação. Quem ele acha que está enganando?

- Não parece um simples arranhão. – comentei de forma petulante, sentindo-me ousado de uma hora pra outra. Provavelmente eu acabaria cavando minha própria cova se continuasse a falar desse jeito e, pela expressão no rosto de Zelo, eu estava certo.

- O que você quer, Hoseok? – Zelo, assim como eu, parecia não estar com humor nem disposição para aturar joguinhos e dançar ao redor do problema. O garoto jogou-se pesadamente sobre o sofá atrás de si, apoiando ambos os braços sobre o encosto e indicando-me um lugar na poltrona ao redor da mesa de centro. Soltou um longo suspiro cansado quando não fiz menção nenhuma de me mover, encarando-me diretamente nos olhos enquanto esperava pela resposta.

- Onde está Yoongi? – soltei abruptamente, levemente surpreso por minhas próprias ações ao fazer a pergunta de ouro logo de cara, mas ao mesmo tempo eu não me arrependia. Fiz questão de permanecer em pé, cruzando os braços na altura do peito e erguendo-me sobre o menino, ainda que não esperasse intimidá-lo. Eu precisava de respostas. Melhor consegui-las logo.

- O que te faz pensar que eu tenho essa informação? – rebateu o outro, imitando minha postura inconscientemente enquanto a expressão dura em seu rosto era intensificada, sua reação claramente defensiva. Ah, então era verdade o que diziam sobre dois poderem jogar o mesmo jogo. Interessante.

- Eu sei que ele foi baleado. – admiti. – E você está machucado também, então isso só pode significar uma coisa. – concluí, minha voz controlada e expressão mortalmente séria, quase como se o desafiasse a negar e inventar desculpas esfarrapadas e histórias mirabolantes. Eu realmente não estava com a menor paciência para joguinhos.

- Nossa. – soltou, as sobrancelhas erguidas e olhos arregalados, parecendo genuinamente impressionado por um momento. No instante seguinte a expressão havia desaparecido, dando lugar ao sorriso presunçoso que puxava seus lábios. Suspirei; chegava a ser ridículo o quão manipulativo o garoto era. – Os boatos correm rápido nessa parte da cidade, não é mesmo? Além disso você realmente conseguiu juntar dois mais dois e fazer a ligação sem saber de praticamente nada. Parabéns, hyung. Estou orgulhoso de você. – elogiou-me, batendo palmas enquanto ria descaradamente da minha cara. Se fosse qualquer outro, eu já teria lhe dado uma lição por desrespeitar os mais velhos. Mas esse não é qualquer um, pensei, derrotado. Era difícil admitir, mas Zelo tinha um poder, uma forma doentia e tão eficaz de mexer com a sua cabeça que era difícil de descrever. Como eu sou covarde.

- Cala a boca, Zelo. Eu não estou aqui pra receber aplausos. – rosnei, vagamente ciente de que estava pisando num terreno perigoso e instável. Zelo estreitou os olhos, todo o traço do riso desaparecendo de seu rosto por completo. – Onde Yoongi está? – repeti, de forma mais urgente dessa vez, para o caso do mais novo ainda não ter entendido que eu esperava uma resposta.

- Suga ainda vive, se é isso que está me perguntando. Infelizmente. – revirou os olhos, parecendo contrariado ao me dar a notícia. Só então eu soltei o ar que não sabia que estava prendendo, tomando conforto nesse pequeno pedaço de informação. Mas aquilo ainda não respondia a minha pergunta. – Obra daquele seu amigo Seokjin, sem dúvida. Mas quanto à sua exata localização, eu não faço a menor ideia. E não dou a mínima também, se quer saber. Por que não pergunta pro namoradinho dele?

- Eu já perguntei. – admiti entredentes, sentindo-me envergonhado por um motivo ainda desconhecido por mim, mas no fim a raiva acabara tomando conta. Era mais fácil redirecionar a atenção para outra pessoa. Fechei as mãos que tremiam ao meu lado em punho enquanto juntava toda a minha força de vontade para não surtar e socá-lo bem no meio da fuça. Como ele ousa trazer Jimin pra conversa? Depois de tudo que o garoto passou por causa dele? Por minha causa?, meu cérebro acrescentou, mas fui rápido em silenciar o pensamento.

- E ele não te disse? Woah, aquele garoto é realmente leal. Park Jimin não para de me impressionar. – disse com divertimento na voz, soltando um risinho sarcástico enquanto sacudia a cabeça, parecendo ainda não acreditar no que ouvia. Aquilo acabara desligando algo dentro de mim, uma alavanca ou um botão, eu não sabia ao certo. Um segundo tarde demais reparei o que exatamente eu havia perdido: meu auto controle.

- Não se atreva a falar tão casualmente sobre ele! – vociferei, invadindo seu espaço pessoal em poucos passos e agarrando-lhe as vestes antes que pudesse pensar melhor e ver a grande burrice que estava fazendo. – Não depois de tudo que você fez!

- Você sinceramente acha que eu fiz tudo sozinho? Está se esquecendo da sua parte nisso, hyung? – indagou-me com a voz calma e despreocupada, não parecendo se importar nem um pouco com a minha súbita explosão ao inclinar a cabeça com falsa inocência estampada no olhar. Quando olhei para aquelas orbes escuras, realmente olhei, vi ali refletido o mesmo julgamento e desprezo que invadiam minha mente sob uma voz diferente da minha, uma voz que pingava ódio e veneno, uma voz que me assombrava todas as noites.

- Cale a boca! Merda! – exclamei, atirando-o contra o estofado para trazer minhas mãos até as orelhas, na intenção de cobri-las. Minha mente estava um verdadeiro caos, sussurros venenosos ecoando por ela como um enxame de abelhas, e de repente tudo estava rodando, minha visão nublada pela culpa e raiva. O que eu mais queria fazer era calar a boca de Zelo com um soco, mas amargamente notei que o barulho estava todo dentro da minha cabeça. – Eu nunca quis que nada daquilo acontecesse. Aquilo foi tudo culpa sua. Você me manipulou como uma maldita marionete! Foi tudo culpa sua! – apontei o dedo acusadoramente para o garoto que me olhava com uma expressão neutra no rosto, mas havia algo sob a máscara de indiferença que eu não sabia muito bem como rotular. Não percebi que havia começado a gritar histericamente até começar a andar em círculos pelo quarto, perturbado demais pra permanecer quieto. Eu só queria fugir; do hotel, da cidade, da minha mente. – Você é um maldito filho da puta, Zelo! Você me usou. Nada daquilo estava nos planos quando concordei em te ajudar. Foi ruim o suficiente quando Jimin se machucou, e eu sabia que era obra sua, mas fiquei quieto porque não queria problemas. – reprimi um soluço ao me lembrar da visão de Jimin e a imediata realização de que Yoongi e Zelo haviam causado aquilo. Eu havia causado aquilo. – Agora você vai atrás de Yoongi também? Para matá-lo?! Não, você não tem esse direito. Deixe Yoongi em paz, ou eu nunca mais farei seu trabalho sujo por você.

Eu ofegava e sentia o coração martelar nos ouvidos quando consegui conter minha explosão antes que virasse um surto psicótico, sustentando o olhar do mais novo com o que eu esperava ser um olhar desafiador, e não aterrorizado, como eu realmente me sentia. A última coisa que precisava era deixar Zelo perceber o quão poderoso era e exatamente qual era a extensão de seu controle sobre mim. Entretanto, a competição de olhares não perdurara por muito tempo; logo Zelo estava gargalhando, alta e claramente, chegando a jogar a cabeça pra trás com a intensidade de seu riso. Senti algo parecido com vergonha penetrar minhas entranhas enquanto o via zombar de mim sem dizer uma única palavra, e tal realização só serviu para intensificar o sentimento – o que era ridículo. Depois de uns bons longos minutos que mais pareceram décadas Zelo finalmente pôs um fim em seu acesso de risos, enxugando as lágrimas dos olhos antes de dirigir-me um olhar do mais puro divertimento.

- Hyung, você sinceramente acha que está em posição de fazer demandas? Não me faça rir. – toda a postura do mais novo gritava autoridade e poder, mesmo que uma pequena risadinha de escárnio escapasse de seus lábios no final da sentença.

- Estou falando muito sério, Zelo. – insisti, tentando manter o semblante de desafio e não soar tão derrotado quanto me sentia. Eu sabia que era inútil tentar lutar contra sua influência; eu já havia dito demais, feito demais. Zelo tinha mil e uma armas que poderia usar contra mim.

- Muito bem. – anunciou, seu tom de voz mudando abruptamente enquanto se punha de pé, me pegando desprevenido. Sua altura ridiculamente avantajada para alguém mais novo erguia-se sobre a minha, trazendo de volta aquela horrível sensação de ter agulhas passeando por todo meu corpo. – Digamos que eu deixe Yoongi em paz. E então, o que você vai fazer? Correr para os braços dele e dizer o quanto sente sua falta? Talvez tentar roubar o lugar de Jimin? – sugeriu, batendo o dedo indicador no queixo de forma contemplativa. – Oh, mas tem um pequeno detalhe. Você é covarde demais pra tomar qualquer atitude. Provavelmente só continuaria o observando de longe como sempre fez, não é mesmo? – continuou antes que seus olhos se arregalassem com algo que acabara de passar por sua mente, estalando os dedos como se tivesse uma grande revelação. – Ah! E ainda se esquece de que foi você o responsável por transformar a vida de Suga num verdadeiro inferno. Será que ele ainda vai querê-lo de volta ao seu lado depois de tudo que você fez? O que foi? Você não estava planejando esconder o que fez e mentir pra ele, estava? Nossa, hyung. Você é inacreditável. – riu. Por mais que eu tentasse bloquear as palavras, elas ainda penetravam minha mente como veneno, tóxico e destrutivo. Tentei o máximo que podia não transparecer a dor que a verdade me trazia, mas o punhal afiado que Zelo me enviara fora direto no coração. Cobri as orelhas com as mãos e fechei os olhos com força, mordendo o lábio inferior para impedir que um urro doloroso escapasse. Zelo apenas riu mais um pouco, deixando que um sorriso sádico estampasse seus lábios mesmo depois das risadas terem cessado. – Inclusive, eu preciso te agradecer por isso. Sério hyung, obrigado. Sem a sua ajuda eu não teria conseguido destruí-lo.

- Eu não posso mais fazer isso. – disse, minha voz pouco mais do que um sussurro, fraca e patética. Balançando a cabeça em negação repetidas vezes como um tique nervoso, afastei-me dele em passos vacilantes, buscando a saída. Eu não podia ficar aqui; não podia ouvir sequer mais uma palavra, mais uma verdade, senão ficaria louco. – Você não pode me forçar a trabalhar pra você pra sempre. Eu não quero mais. N-não posso. Não posso.

Zelo não mostrava a menor intenção de fazer ou dizer alguma coisa, pois permaneceu onde estava, mãos nos bolsos e sorriso doentio no rosto, observando-me como um cientista observa sua experiência, fascinado com os frutos de seu trabalho. Por um segundo peguei-me questionando como um garoto tão jovem podia ser tão distorcido e cruel, brincando com a mente das pessoas até que elas se apresentassem quebradas aos seus pés; no instante seguinte censurei-me por ser tão estúpido a ponto de acreditar que poderia sair ileso de um encontro com tal pessoa. O tiro definitivamente saíra pela culatra – ao invés de respostas, eu sairia dali com mais cacos para juntar.

- Isso é o que vamos ver. – o garoto soava calmo e despreocupado, como se meu ato de rebeldia não o afetasse de forma alguma, mesmo quando minhas costas encontraram a madeira da porta e minhas mãos voaram para girar a maçaneta. Eu preciso fugir daqui. Eu preciso fugir daqui agora. Mesmo quando abri a porta e dei de cara com os mascarados que a guardavam do lado de fora, prontos pra me segurar ali ou me fazer em pedacinhos, dependendo da vontade do outro, Zelo apenas acenou para que saíssem do caminho. – Deixem-no ir. Ele não representa nenhuma ameaça para nós.

Senti o controle escapar de minhas mãos novamente, minha mente trabalhando no piloto automático enquanto meu corpo movia-se sem precisar de comandos. Quando dei por mim, eu encontrava-me dentro do sedã prateado que possuía, familiar e reconfortante; o motor estava ligado, produzindo um som e uma vibração que eu achava extremamente relaxante, mas o carro não se movia. Olhando brevemente ao redor, notei que nem havia saído de Gangnam ainda. Ao invés, permaneci petrificado encarando a rua diante de mim com um olhar vazio no rosto, segurando o volante nas mãos com tanta força que as juntas de meus dedos ficaram brancas. Eu não percebi que estava chorando pela segunda vez naquele dia até que os soluços tornaram-se incontroláveis, sacudindo todo o meu corpo com sua intensidade. O peso da culpa, do arrependimento, da raiva e do nojo que sentia por mim mesmo caiu sobre meus ombros todo de uma vez, esmagando-me, sufocando-me, quebrando-me; a realização de que a vida dos outros, dos meus amigos, estava uma completa merda e de que era tudo culpa minha era demais pra suportar. Como o esperado, ouvi uma pequena voz retornando aos meus ouvidos para caçoar da minha miséria, sussurrando palavras afiadas e cheias de veneno que estariam para sempre gravadas no fundo do meu subconsciente.

O que você fez, Hoseok?

Me perdoe, Yoongi. Eu te traí... mais uma vez. 


Notas Finais


Se eu não ver mais vocês, tenham todos um ótimo Natal e Ano Novo, toda aquela balela chata de fim de ano. Agora tchau, que eu preciso me esconder da ira de quem tava esperando yoonmin. Byebye~! <3


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