História Hold me tight, please! - Você não vai ser feliz

~Flashback on~

            Exatos um mês e dois dias depois do acidente eu finalmente recebi alta, mas acabei indo para casa completamente dopada, porque a simples ideia de entra em um carro me causava ataques de pânico.

            Acordei atordoada e minha cabeça ameaça explodir a qualquer momento, uma névoa densa cobria os meus olhos e precisei me esforçar para reconhecer a minha mãe sentada ao lado da cama.

            -Oi minha pequena – o timbre doce de sua voz me fez sorrir – Como você está se sentindo? – afagou os meus cabelos bagunçados.

            -Meu braço ainda dói e minha cabeça parece que tem um monte de gente gritando dentro da cabeça, mas é bom estar em casa – ainda estava um pouco sonolenta e minha voz saiu arrastada – Omma, você estava chorando? – perguntei esfregando a mão sobre os olhos tentando limpar a visão e percebi que seus olhos estavam vermelhos e um pouco inchados, sem contar nas enormes olheiras que marcavam seu rosto pálido, que parecia ter envelhecido uns dez anos depois do que aconteceu.

            -Não meu amor, só estou um pouco cansada – forçou um sorriso e antes que eu pudesse questioná-la novamente voltou a falar – Tem uma pessoa te esperando lá embaixo a mais de duas horas – encarei-a surpresa pela mudança rápida de assunto – Ela me disse que estava preocupada e ficou aqui esse tempo todo me ajudando a arrumar tudo pra quando você acordasse – meu único palpite era o Tae, então pedi para que ela mandasse subir sem nem ao menos perguntar quem era e esse foi o meu maior erro.

            Choi SunHee parou em frente a porta com uma mascara de boa moça encobrindo sua cara de demônio ao lado da minha mãe e fiquei completamente sem ação.

            -Então queria, ela era a pessoa de quem eu falei – a garota sorriu e veio em minha direção para me dar um abraço, que com certeza eu não retribuí. Eu já conseguia imaginar o que ela estava fazendo ali e o que eu queria mesmo era expulsa-la não só do eu quarto mais da minha casa também, mas não queria assustar a mamãe, ela já estava frágil demais.

            -Fico tão feliz em ver que você está bem – sentou ao meu lado na cama – Sinto muito por suas perdas – segurou minha mão e calafrios percorreram o meu corpo.

            Minha mãe disse que precisava ir até a farmácia e a garota de ofereceu para “cuidar” de mim enquanto ela estava fora e recebeu vários elogios por ser uma pessoa bondosa, algo que com certeza ela não era. Nós estudávamos juntas desde o primário, mas nunca fomos amigas e quando Jeon JaeHyuk, o novato do ensino médio chegou na sala metade das garotas, inclusive SunHee e eu acabamos nos apaixonando por ele, mas por ironia Jae acabou escolhendo a mim e começamos a namorar um ano antes do acidente, o que fez com que a ela passasse a me odiar.

            -O que você quer aqui? – perguntei assim que ouvi a porta da frente ser fechada indicando que minha mãe tinha saído – Não somos amigas, então não finja que se importa comigo e não se aproxime da minha mãe – ela levantou lentamente e caminhou até a porta que estava aberta e fechou-a, mas não utilizou a chave.

            -Eu precisava ver essa sua cara de desespero com os meus próprios olhos – a ironia e o desprezo em sua voz era quase táteis – Precisa ter certeza de que você estava machucada e sentindo dor, que sua mãe estava sofrendo pela morte do seu irmão e que você estava se prendendo aos poucos fios de esperança pra não se afogar de vez nas lágrimas e acabar enlouquecendo – forcei meu corpo fraco e dolorido a ficar de pé e fui até ela.

            -Por quê? Por que você queria tanto ver que nós estamos sofrendo? Que eu estou sofrendo? O que aconteceu ainda não foi o suficiente pra você? – ela riu na minha cara.

            -Suficiente? – gritou e vi a raiva através dos seus olhos – O Jae está morto e a culpa disso é sua, então nada que você passar vai ser suficiente – me segurou com força pelo braço que estava imobilizado e mordi o lábio inferior para conter o grito de dor – Se ele estivesse usando a droga do cinto, ainda estaria vivo.  

            -Como você pode dizer que a culpa é minha – senti as lágrimas correrem pelo meu rosto e me esforcei para me soltar dela – Você acha que eu faria alguma coisa pra machuca-lo? – gritei.

            -Você tem certeza que não foi por sua causa? Porque a sua mãe disse no depoimento que você estava com frio durante a viajem e ele tirou a droga do cinto pra que pudesse ficar mais perto de você e “te aquecer” – me empurrou com força e no estado em que eu estava, cai sentada ao lado da cama e senti cada centímetro do meu corpo doer com o choque – Você não tinha a porcaria de um casaco ou qualquer outra coisa? – continuou gritando parada na minha frente e eu não fazia outra coisa além de chorar, por não conseguir me levantar e por ter que ouvir todas aquelas coisas – Ele morreu por algo idiota, porque não queria que você sentisse frio – se ajoelhou na minha frente e segurou o meu rosto com uma das mãos me obrigando a olhar para ela – Então você ainda tem coragem de dizer que não foi culpa sua? – minha garganta queimava e meus pulmões pareciam duas lixas sendo esfregadas uma contra a outra.

            -YoonGi oppa! – ele deveria estar em casa aquela hora e foi a única pessoa por quem eu consegui chamar antes de ouvi-la gargalhar alto.

            -Pode continuar chamando por ele, vai ser perda de tempo – não reagi e ela me encarou surpresa – Você ainda não sabe? Ah meu deus! Ninguém te contou? – continuei sem reação e ela começou a bater palmas e rir como se alguém tivesse contado a melhor piada do mundo – É claro, você estava no hospital toda machucada e completamente dopada com aqueles remédios porque não parava de chorar e de tentar se levantar e sair, então ninguém seria capaz de contar pra garotinha que tinha acabado de perder o irmãozinho e o namorado que o pai e o irmão que sobrou tinham ido embora de casa – ela estava mentindo, só podia estar.

            -O que você está dizendo? – por um impulso consegui ficar de pé e fui para cima dela – Eles nunca abandonariam a mamãe e eu – gritei e ela me empurrou novamente e dessa vez a queda foi um pouco maior e senti meu nariz sangrar – Eles não fariam isso – falei mais para mim mesma do que para ela e caí em desespero enquanto ela se ajoelhava de novo na minha frente.

            -Você não só machuca as pessoas YuMi, você também faz com que elas queiram ir pra longe de você – deslizou a mão com força pelo meu cabelo – Você tirou o Jae de mim pela segunda vez e agora foi pra sempre, então eu vou te fazer uma promessa – me puxou até que eu ficasse de pé e me segurou pelos ombros me deixando cara a cara com ela e eu simplesmente não reagi nem tentei me soltar, meu corpo não me obedecia mais e eu nem sequer conseguia sentir dor – A partir de hoje, se qualquer chance de felicidade surgir na sua vida eu vou arrancá-la de você assim como você arrancou o Jae de mim. Você não merece e não vai ser feliz, porque eu não vou deixar – falou bem próximo ao meu rosto e ameaçou me arremessar novamente no chão, mas antes que eu caísse, senti alguém me segurar e me afasta das mãos daquele ser desprezível.

            -O que você pensa que está fazendo? – Hobbi gritou me colocando com cuidado na cama e virando-se na direção dela – Você passou dos limites sua idiota – segurou-a pelo braço e por um segundo eu achei que ele fosse bater nela.

            -Eu só fiz o que toda a sua família queria ter feito, o Jae morreu por causa dessa garota e ela merece sofrer – ele a empurrou com força.

            -Quem pode garantir que se o meu irmão estivesse usando a porra do cinto ele teria sobrevivido, hein? – gritou ainda mais alto e pela primeira vez ela pareceu sentir medo – O Yeol também estava no carro, ou você esqueceu disso? E ele estava usando aquele porcaria, mas me diz uma coisa, mudou o que aconteceu? – ela não respondeu – Você é tão mesquinha e hipócrita quanto todos os outro que apontam o dedo pra YuMi sem nem ao menos parar pra pensar que além do Jae ela também perdeu o irmão e que está sofrendo o dobro, então acho melhor você sair daqui e não voltar nunca mais, porque senão eu juro que não vou me segurar e vou arremessar você por essa janela – ela saiu correndo do quarto sem olhar para trás e o Hobbi voltou a atenção para mim que apenas soluçava sobre a cama.

            -Não é verdade, eles não me abandonaram – murmurei quando ele sentou do meu lado e essas foram as ultimas palavras que eu falei pelos quase cinco meses que se seguram.

~Flashback off~

Tae me encarava estático depois de ouvir tudo isso, as lágrimas corriam pelos seus olhos vermelhos, assim como os meus e suas mãos tremiam freneticamente. Eu tentei não contar, mas ele deu um jeito de convencer a minha mãe a nos mandar ao supermercado outra vez só para ouvir essa história e pelo estado em que ele se encontrava depois de saber de tudo, tinha certeza de que se arrependeu por ter insistido

-E-e-ela não pode ser tão má assim – falou incrédulo, mas sabia que era verdade – Como alguém pode ir tão longe? – abracei-o e tentei confortá-lo dizendo que eu estava bem e já tinha superado tudo aquilo, mas sabia que não conseguiria e que ele não acreditaria em mim. Doía vê-lo daquele jeito, Choi SunHee podia ser uma das piores pessoas do mundo, mas ainda era a garota de quem ele gostava, e ninguém merece descobrir que a pessoa por quem é apaixonado não passa de um ser humano deplorável e sem escrúpulos.

-Me desculpa por ter te contado essas coisas, mas agora você pode entender um pouco sobre o porque de eu ter te afastado e porque eu não posso me aproximar do Jimin – ele apenas assentiu com a cabeça ainda aturdido, enquanto esfregava as mãos com força pelo rosto.

Park Jimin parecia ser a minha tal “chance de felicidade”, então como prometido, ele seria arrancado de mim e era melhor me afastar dele o mais rápido possível enquanto ainda era mais fácil.