História Hold me tight, please! - Um encontro?

“Como você foi capaz de me trair desse jeito, YuMi? – a voz de Jae estava quase irreconhecível, misturada a todo aquele ódio. Lágrimas corriam pelo seu rosto, assim como pelo meu e suas mãos apertavam com força os meus ombros me fazendo encará-lo, completamente desesperada – Eu confiei em você, MiMi, eu...eu te amava tanto e você teve coragem de beijar outra pessoa na minha frente? SunHee tinha razão sobre você...”

Chacoalhei a cabeça pela milésima vez tentando afastar as lembranças daquele pesadelo, mas a imagem do Jae, chorando bem a minha frente estava fixada em minha memória e voltava  como flashes repetidas vezes, me causando um desespero quase que incontrolável. 

Os números enormes e vermelhos do despertador sobre o criado-mudo marcavam exatas 5h e 15min, o que significava que eu deveria estar dormindo, confortávelmente debaixo daquele edredom, mas quase duas horas antes tivera aquele maldito pesadelo e não conseguira voltar a dormir. E provavelmente não conseguiria enquanto aqueles pensamentos ruins estivessem vagando  pela minha cabeça. Sequei algumas lagrimas que ainda corriam pelo meu rosto e forcei meu corpo cansado a se levantar, ficando sentada na cama ainda envolta pelos lençóis macios. Senti uma leve onda de tontura pelo movimento rápido, mas não voltei a deitar, quanto mais tempo eu permanecesse ali, imóvel, mais minha mente reviveria aquele sonho ruim e isso era a ultima coisa de que eu precisava naquele começo – não muito agradável – de dia.

Minha cabeça latejava, primeiro porque mesmo não precisando mais dos remédios para dormir, eles ainda exerciam uma certa influência sobre mim e qualquer noite mal dormida me rendia uma dor de cabeça insuportável e segundo porque eu tinha passado as duas últimas horas chorando, e isso não me ajudava nem um pouco. 

Caminhei com certa dificuldade até o pequeno banheiro do meu quarto sentindo o assoalho frio sob os meus pés me causarem ararrepios assim que adentrei no cômodo, parei em frente ao pequeno espelho e avaliei por alguns minutos o meu estado. Estava realmente deplorável. Seria quase engraçado para outras pessoas verem como um simples pesadelo foi capaz de me abalar tanto, mas para mim, aquele não tinha sido um "simples pesadelo" porque envolvia JaeHyuk e Jimin. 

Me permiti derramar mais algumas lágrimas enquanto a água perfeitamente aquecida do chuveiro deslizava por meu corpo. Naquele momento eu só desejava que assim como a água todos aqueles sentimentos ruins que me rondaram escorressem  pelo ralo, algo que com certeza não aconteceria.  Depois que quase quinze minutos, os soluços finalmente cessaram e resolvi me arrumar para a escola, embora ainda fosse muito cedo para isso. Vesti o uniforme que estava sobre a poltrona próxima da janela e penteei o cabelo, prendendo-o em um rabo de cavalo alto, deixando apenas a franja, que ia até a altura do queixo, caindo para os dois lados do rosto. Mesmo não sendo uma grande adepta de maquiagem tão cedo, era realmente necessário se eu não quisesse assustar todo mundo com minha aparência de zumbi, então fiz algo leve, que escondesse aquelas olheiras gritantes e disfarçasse a palidez excessiva da minha pele.

Passava um pouco das seis quando terminei de organizar todo o material que usaria durante o dia - exceto os livros, que ficavam em meu armario na escola -  e depoisde encontrar meu celular que estava perdido debaixo dos lençóis, saí da minha caverna.

Num lapso de memória lembrei-me da mensagem que tinha enviado para TaeHyung na noite anterior e desbloqueei o aparelho em minhas mãos, vendo que ele tinha respondido, quase uma hora depois. UMA HORA! 

-Como aquele moleque ousa demorar tanto pra me responder? - murmurei para mim mesma enquanto descia as escadas - Ele não tem amor a vida? - coloquei a mochila sobre o balcão da cozinha e sentei-me em um dos bancos altos que ficavam ali, para finalmente ver o que aquele ser estranho tinha respondido.

"O que pode ser tão importante pra você me fazer acordar uma hora mais cedo? Você tem ideia do quanto eu ainda poderia dormir em uma hora? Eu preciso manter esse rosto perfeito e esse corpo sexy, e pra isso eu não posso acordar uma hora mais cedo , Mi. [Emoticon de carinha chorando] Não podemos conversar durante o almoço? - bufei irritada.

Se tinha uma coisa que TaeHyung odiava, essa coisa era acordar cedo, mas dessa vez ele não teria escolha. Talvez eu até pudesse adiar nossa conversa para a hora do almoço, mas por ele ter me deixado sozinha com o trabalho de Química e ainda ter passado quase uma hora para me responder, eu não sossegaria até tê-lo acordado.

"Experimente não estar na porta da escola ás 6h e 45 min que eu vou destitui-lo do posto de meu 'melhor-amigo-alien' e dar esse lugar pro primeiro estranho com sorriso retangular  que passar por mim na rua"- enviei e deixei o celular sobre o balcão.

Fui até o pequeno cômodo  que ficava nos fundos da casa onde guardávamos  materiais de limpeza e outros objetos em busca do regador que eu usava todos os dias pela manhã para molhar as plantas do jardim da frente, em especial a árvore do Sung Yeol, mas ele não estava lá, então voltei para a cozinha me perguntando onde poderia tê-lo deixado. Ouvi meu celular vibrar e fui até lá, era mais uma mensagem do TaeHyung.  

"Você não seria capaz de viver sem mim ^^" - que abusando.

"Pobre iludido. Isso é o que veremos!" - foi a minha resposta.

Menos de dois minutos depois  a resposta veio. 

"Tudo bem, tudo bem, eu já estou saindo de casa '-_- " - sorri vitoriosa.

"Escolha inteligente, jovem gafanhoto :D"

"Mas tem uma condição, você vai me pagar um sorvete depois da escola U.u" - finalmente alguma coisa boa tinha saído daquela cabeça.

"Hoje é o seu dia de sorte Kim TaeHyung, eu realmente estou afim de um sorvete. Escolha o lugar que eu pago." - imaginei o sorriso no rosto da criança depois da minha resposta. 

Conferi a mochila para ter certeza de que estava levando a carteira e se tinha dinheiro suficiente, quando se tratava de TaeHyung e sorvete era melhor estar preparada para gastar alguns -muitos- wons.

"Aaaah *------* Saranghae, Mi-Yah!" - ele respondeu. 

"Não minta, TaeHyung. Você ama o sorvete que eu vou pagar e não eu.  - enviei.

Peguei o pequeno bloco de notas que ficava fixado na porta da geladeira e escrevi um bilhete para YoonGi.

"Oppa, eu precisei sair mais cedo pra encontrar com o Tae, por favor, cuide das plantas pra mim, ne!? Saranghae!"

Fixei-o no mesmo lugar, tinha certeza que ele encontraria assim que entrasse na cozinha.

Ajustei a mochila nos ombros, peguei o celular e algumas barras de cereal e saí. 

Abri a porta cuidadosamente para não acordar a mamãe e o YoonGi, e quase soltei um grito quando vi uma figura sentada na grama e aparentemente falando sozinha. 

Fechei a porta atrás de mim e encostei-me em um dos pilares da varanda, observando silenciosamente a imagem de YoonGi sentado sobre a grama verde, ao lado da árvore repleta de flores cor de rosa que costumávamos dizer que pertencia ao nosso irmão, embora teoricamente ele fosse minha. O pequeno regador lilás com florzinhas azuis que eu procurei anteriormente  estava em uma de suas mãos e ele derramarava calmamente o líquido no tronco da planta.

-Você deve estar bravo comigo, não é? -  repousou  o regador ao seu lado e abraçou os joelhos - Eu deixei nossa pequena sofrer, quebrei a promessa que eu te fiz -  suspirou pesadamente e senti um aperto no peito - Mas eu prometo que vou protegê-la agora, se bem que ela consegue se cuidar muito bem sozinha - riu abafado - Ela amadureceu muito nesse último ano, se tornou mais forte e responsável do que eu sempre fui, está cada vez mais parecida com você nesse quesito. Você ia se orgulhar ainda mais dela -  senti uma lágrima correr pela minha bochecha e um sorriso involuntário se desenhou em meus lábios. 

Apertei as alças da mochila e caminhei até ele, que só notou minha presença quando parei ao seu lado e acariciei seus cabelos bagunçados.

-Não deveria estar aqui fora tão cedo - falei e recebi um olhar surpreso seguindo de sorriso fofo que melhorou em 65% o meu dia - A Dra. Ahn vai ficar brava se souber que você não está descansando como ela mandou .

-Eu perdi o sono e não consegui continuar na cama - fiz que " sim" com a cabeça, parece que eu não estava sendo a única com um começo de dia difícil.

-Eu venho aqui todos os dias - apontei para a árvore a nossa frente - Por incrível que pareça, me ajuda a seguir em frente - ele assentiu.

-Eu lembro do dia exato em que vocês dois plantaram essa árvore - fiquei um pouco surpresa, eu não lembrava com detalhes desse dia - Era o seu aniversário de 8 anos, Yeollie e eu tínhamos brigado por causa de um jogo de basquete e eu passei o dia todo trancado no quarto - às memórias daquele dia começaram a se acender em minha mente, aquela árvore tinha sido o presente de aniversário que eu escolhi, embora isso possa não fazer sentido, afinal, quem pede um pé-de-cerejeira de presente de aniversario? - Você bateu na porta por um tempão me pedindo pra sair e " plantar o presente" com vocês, mas eu não quis. Você fez birra até que a mãe veio te buscar, mas antes de ir com ela, você me chamou de bobão e provavelmente mostrou a língua - acabei rindo ao imaginar a cena.

-Mas depois você cuidou dela tão bem quanto o Yeol Oppa e eu cuidávamos - ele riu - E agora, ela é uma das lembranças mais bonitas que nós temos - fiquei na ponta dos pés e estiquei o braço, pegando algumas daquelas flores delicadas e coloquei-as no cabelo de YoonGi, que me observava com um sorriso no rosto - O que você acha de continuarmos cuidando dela juntos, hum? - estendi a mão e ele apertou-a, aproveitando para ficar de pé e me puxar para um abraço.

-É uma ótima ideia, Pequena - apertei um pouco mais o abraço envolvendo sua cintura com meus braços.

-Tenho que ir agora - dei um beijo estalado em sua bochecha - Alimente-se bem, tome os remédios que a mamãe receitou e descanse - apontei o dedo indicador para ele e falei como se desse uma ordem.

-Yes, Sir! - bateu continência - Mas YuMi, ainda não é cedo demais pra você ir pra escola ... - olhou rapidamente para o relógio em seu pulso e eu fiz o mesmo com meu celular. Já passava um pouco das seis e meia, se eu não me apressasse chegaria atrasada 

-Eu preciso contar os acontecimentos da última noite para o Tae -  ele riu e apenas assentiu com um balanço de cabeça - Ah, e depois da escola nós vamos tomar sorvete, então avisa pra mamãe que eu vou chegar um pouquinho mais tarde, mas ainda vou chegar a tempo pro jantar - falei já me afastando dele e indo em direção a rua.

-Eu aviso sim - falou um pouco mais alto devido a distância considerável que já havia entre nós - E aproveita pra dizer pro TaeHyung que ele não vai precisar me bater - ri daquele comentário, e depois de acenar rapidamente para ele, acelerei o passo.

Cheguei em frente a escola cinco minutos depois do horário que tinha combinado com o Tae. O local estaria completamente deserto, se não fosse por um pequeno grupo de alunos que costumava chegar mais cedo para revisar as matérias antes das aulas começarem e por um ser desconhecido mais a frente. Pela distância entre mim e ele, era difícil visualizar o rosto, mas o cabelo alaranjado nenhum pouco discreto deixava claro quem era. Caminhei até ele e parei ao seu lado. Sua cabeça estava pendida para a frente, abaxei-me um pouco para ver o rosto da criatura e vi que olhos estavam fechados, ele mantinha-se encostado no muro, com um dos pés apoiados na parede e as mãos nos bolsos da frente da calça. Estalei os dedos na frente do rosto dele, mas não obtive resposta. Ele estava mesmo dormindo em pé? Não consegui conter o riso, eu precisava fazer algo a respeito e esse algo era assustar TaeHyung. 

Aqueci minha garganta e me aproximei do ouvido do alien adormecido.

-Ya, TaeHyung! - gritei e presenciei a cena mais cômica que veria naquele dia, o garoto completamente atordoado, com os olhos arregalados e a maior cara de pânico possível, quase cair.

Talvez tenha sido maldade, mas que foi hilário, ah, isso foi!

-Ya! Sua peste - bufou irritado, enquanto eu tentava me recompor depois da crise de riso - Tá todo mundo me olhando como se eu fosse louco - olhei em volta e ele realmente era o centro das atenções e, o que me fez voltar a rir. 

Ele me olhou irritadiço.

-Miane, TaeTae! Não queria te deixar bravo - apertei suas duas bochechas - Hum, sorria pra mim, ne?! - ele tentava manter a cara emburrada, mas eu sabia que era só fingimento - Mas se você não quiser mais falar comigo, podemos cancelar o sorvete depois da escola - fingi estar triste e vi sua expressão mudar, se transformando em um daqueles sorrisos estranhos que eu tanto amava.

-Você é tão irritante... - me abraçou e eu retribui o gesto - O que você tinha de tão importante pra me contar, hum? Comprovou a existência de aliens? Viu um unicórnio? Seu vizinho é um vampiro? Descobriu uma passagem secreta pra Terra do nunca? Espera, espera, você descobriu qual o final de One Piece? - dei um tapa com força no ombro dele para fazê- lo calar a boca.

-Se eu descobrisse uma passagem pra terra do nunca, te mandaria pra lá imediatamente e fecharia essa passagem pra sempre, só pra ter certeza de que você não conseguiria voltar - ele fingiu ficar ofendido e acabamos rindo.

Atravessei os portões seguida pelo Tae e nos sentamos em um dos degraus da entrada principal. Sem mais rodeios, comecei a contar tudo que tinha acontecido na noite anterior, desde a conversa entre Jimin e eu no café e a ligação da SunHee, até o encontro com meu pai e a conversa com YoonGi, que terminou na nossa reconciliação. A reação dele me arrancou mais alguns risos, seus olhos estavam mais abertos que o normal e sua boca formava um perfeito "o". Sorri.

-Tudo isso aconteceu numa mesma noite?- falou ainda com a expressão de surpresa - Deve ter sido muita informação de uma única vez, como você está se sentindo, hum? - indagou agora num tom de preocupação.

-Ainda surpresa e tentando me adaptar as mudanças repentinas, mas bem - ele finalmente sorriu - Parece que finalmente eu posso sorrir de novo, entende? - encarei minhas mãos, me sentia envergonhada por parecer clichê.

-Mas parece que ainda tem alguma coisa te incomodando,  mesmo enquanto você sorri eu consigo ver isso -  não me arrisquei a encará-lo, mas vi de soslaio que ele me observava como se tentasse entender qual o problema - Aconteceu mais alguma coisa, não foi? E pela sua cara agora, acho que tem a ver com Park Jimin - suspirei pesadamente.

Mesmo sentindo minhas bochechas queimarem, contei a ele ( com o mínimo de detalhes possível)  sobre o beijo, o que com que o - só dois meses- mais velho levantasse e começasse a fazer uns passos estranhos no meio do pátio de entrada, que diferente de quando chegamos, já estava abarrotado de gente.

-Tae, tá todo mundo olhando - sussurrei puxando a barra da calça dele, mas fui completamente ignorada e ele continuou a se remexer como uma minhoca com dor de barriga - Se você não parar agora, eu vou sair daqui e te deixar pagar esse mico sozinho! - meu tom foi de irritação, embora eu estivesse me divertindo.

Ele se recompôs imediatamente e voltou a sentar do meu lado, completamente ofegante depois daquela dança estranha.

-Você se arrependeu? - perguntou hesitante, enquanto seu olhar fixo em mim parecia tentar ler minha alma - Ou só continua se culpando por algo que não deveria?  -  soltei mais um daqueles suspiros longo, eu queria socar TaeHyung por ele me conhecer tão bem.

Com um certo esforço contei sobre o pesadelo, minha garganta ardia e as lágrimas ameaçavam escorrer a cada palavra, mas me mantive forte, embora minha voz estivesse embargada. Diferente do que eu pensei, ele não agiu como se eu fosse louca por me deixar abalar por um sonho e escutou tudo em silêncio, talvez porque ele soubesse tanto quanto eu como a memória  do Jae ainda era um campo minado para mim. E aquele pesadelo conseguiu ativar várias das bombas desse campo. 

Sem precisar que eu dissesse mais nada, TaeHyung envolveu meus ombros com um dos braços e me puxou para um abraço, apoiei a cabeça em seu ombro e permanecemos em silêncio por mais alguns minutos. 

Durante vários meses depois do acidente, os pesadelos me assombarram por repetidas noites, mas aquele foi diferente, parecia tão real que chegava a me sufocar. Me vi revivendo a cena exata em que Jimin e eu nos beijamos, mas diferente da realidade, Jae estava lá, parado ao nosso lado assistindo tudo e em seguida vieram as palavras mais duras que ele poderia me dizer, as palavras que meu subconsciente tanto temiam. O desespero em seus olhos, sua voz entrecortada pelo choro, a culpa que me dominava. Foi uma das piores sensações que eu já tinha experimentado. Eu tinha mesmo o traído como ele gritava parado a minha frente?

O ponto era que eu sabia que aquele não seria o último pesadelo, ou a primeira vez em que me sentiria mal por sentir algo a mais por Jimin, mas eu também sabia que precisava seguir em frente, se não fosse por mim, que fosse pelas pessoas que se preocupavam comigo.

-Eu estou bem, Tae -encerrei o abraço e me forcei a esboçar um meio sorriso.

Ele balançou a cabeça em negação.

-Digamos que eu finja acreditar nisso... - seu ar tornou-se mais sério - O que você pretende fazer agora? Vai afastar o Jimin de novo? 

Fechei os olhos por alguns segundos e soltei todo o ar de meus pulmões.

-Eu não posso! -  murmurei abrindo os olhos lentamente e vi que TaeHyung me encarava com um misto de surpresa e felicidade no rosto - Eu gosto de verdade do Jimin, Tae, quando eu estou perto dele eu me sinto bem como pensei que nunca me sentiria de novo,  nem eu sei explicar o efeito que o sorriso daquele garoto tem sobre mim - eu estava sendo clichê mais uma vez, mas agora pouco me importava. 

Tae sorriu.

-Eu só preciso aprender a lidar com essa culpa que ainda me assombra - ele concordou -Mas vamos mudar de assunto...-  eu realmente queria não falar mais sobre aquilo. Um sorrisinho sapeca se desenhou em meus lábios e ele parecia já saber qual seria o próximo assunto - Como foi o encontro com a In Ha? - as bochechas do garoto adquiriram uma coloração avermelhada imediatamente.

-Na-não fo-foi nada de mais - aproveitou o toque do sinal para fugir da conversa. Pegou a mochila e saiu andando apressado em direção a entrada.

Peguei minha mochila e fui atrás dele, enchendo-o de perguntas enquanto caminhávamos pelos corredores lotados e cada resposta tímida e gaguejada eu tinha mais certeza de que ele estava apaixonado pela In Ha e ela por ele, é aquilo me deixava realmente feliz. 

-Você deveria convidá-la pra tomar sorvete com a gente...- me olhou confuso enquanto entrávamos na sala ainda com poucos alunos - In Ha-Yah - ele finalmente entendeu e pareceu gostar da ideia.

-Eu ligo pra ela se você convidar o Jimin - ele estava mesmo me chantageando? - E assim podemos fazer um encontro de casais - fez uma expressão fofa.

-Então você está assumindo que você e a In Ha são um casal? -  ele parecia não saber o que responder.  1:0 para mim. 

-Y-Ya! Eu não disse isso! - bufou e eu acabei rindo abafado - E-e-e então, vai aceitar ou nao? - considerei a ideia por alguns segundos.

Jimin e eu certamente não éramos um casal, mas isso não me impedia de convidá- lo. Eu realmente queria passar mais tempo ao lado dele...

-Por mim tudo bem, mas...- toda o meu foco foi direcionando ao ser em questão que atravessou a porta com os fones de ouvido e completamente alheio a tudo.

Não consegui conter o sorriso ao vê-lo e quando ele me viu sorrindo, me lançou o seu sorriso mais fofo e veio em nossa direção.

-Jimin-ah, a Mi-yah tem uma coisa pra te perguntar - TaeHyung como sempre intrometido, falou antes que ele chegasse ao meu lado e quebrou completamente o contato visual entre Jimin e eu. Soquei-o repetidas vezes em minha mente por isso.

-Pra me perguntar? - toda a sua atenção foi direcionada para mim, o que me fez corar automaticamente. 

-Vo-vo-você quer...Aish! - ouvi a risada abafada do Kim Miserável TaeHyung atrás de mim e precisei me conter para não mandá-lo pra aquele lugar - Tomar sorvete depois da escola? - falei em disparada e fechei os olhos por alguns segundos percebendo o quão estranha eu tinha parecido. Era apenas um convite, não era? 

Não, não era. A tão conhecida voz dentro da minha cabeça fez questão de gritar e me lembrar o que eu realmente sentia sobre aquele convite.

Seria o primeiro encontro oficial entre Jimin e eu, independente de Tae e In Ha estarem lá também. Eu tinha mesmo motivos para ficar nervosa. Ou nao?!   

-Tipo um encontro...- mais uma vez TaeHyung abriu a boca para soltar asneiras enquanto passava o braço em volta dos ombros de Jimin, que abriu um sorriso capaz de deixar o sol com inveja. Tá bom, talvez não fosse para tanto, mas a verdade é que foi capaz de iluminar o resto do meu dia - E então..topa ou não topa?  - engoli seco, eu realmente não estava preparada para ouvir um "não"  - Se eu fosse você eu aceitaria, não é todo dia que a Mi convida alguém pra tomar sorvete com ela -  dei um pisão nenhum pouco discreto no pé do Tae, que soltou um gemido de dor baixo e FINALMENTE calou a boca.

-Eu topo!- a resposta foi seguida de um sorriso e por mais que eu tenha tentando esconder a felicidade pela resposta dele, meu suspiro aliviado entregou a situação.

Nos entreolhamos por mais alguns minutos, até ouvir o pigarrear do Professor de Química, que entreu na sala um pouco mais ranzinza que o normal. Jimin foi o primeiro a seguir para o seu lugar, restando apenas eu e TaeHyung, que possuía um sorriso malicioso nos lábios. Me aproximei um pouco mas dele e belisquei seu braço com força, o que provavelmente renderia um hematoma enorme, mas não me importei nenhum pouco e vê- lo quase choromingar enquanto esfregava a mão sobre o local foi o mais divertido.

-Você me paga, seu idiota- sussurrei e ele abriu aquele sorriso retangular fez um aeygo em seguida me arrancando uma risada.

Segui para o meu lugar e sentei-me em silêncio, sentindo o olhar de Jimin sobre mim. 

-Ignora o Tae, aquele bastardo não sabe o que diz - falei baixo e mantive minha atenção no professor, que já tinha iniciado a aula.

-Sem problemas...mas - "mas" nunca era bom, voltei minha atenção para ele -...Eu iria gostar se fosse mesmo um encontro - vi suas bochechas corarem em pouco e as minhas não deviam estar muito melhores. Nota mental: "Mas" poderia ser algo bom.

Desviamos nosso olhares em direção ao quadro,  cada um com um sorriso bobo nos lábios. Éramos duas crianças tímidas ou algo assim?

~~X~~

O refeitório estava lotado como sempre. Tae, Jimin, JungKook e eu já tínhamos pagado por nossos almoços e estavamos indo em direção a mesa em que alguns hoobaes da turma do Kookie estavam, quando senti o celular vibrar no bolso do meu blazer. Apressei um pouco mais o passo e depois de depositar a bandeja sobre a mesa, pequei o aparelho, desbloqueando-o em seguida. Estranhei de primeira o fato da mensagem ter vindo de um número estranho, mas bastou abri-la para saber quem era o remetente.

"Um encontro de casais? Uau! Você é rápida mesmo, não é 'MiMi'... - senti um arrepio percorrer todo o meu corpo, Jae era o único que me chamava de MiMi, e SunHee sabia disso -...Mas pelo visto não é muito inteligente." - eu não era inteligente?  Naquele momento as circunstâncias mostravam o contrário.

Olhei em volta procurando a garota e avistei-a algumas mesas a frente me encarando com um sorriso sádico no rosto. Sorri da maneira mais aberta e confiante que consegui e acenei discretamente para ela, o que fez a mais nova bufar de raiva e sair pisando duro para fora do refeitório. Se o plano dela era me fazer sentir mal, falhou miseravelmente. 

Voltei a atenção para a mesa e vi que Jimin me observava confuso por eu ainda estar sorrindo. Por estar de costas para a direção em que a garota estava, ela não viu a cena completa.

-O que é tão engraçado? - Tae perguntou com a boca cheia de arroz. Suas bochechas gordinhas por estarem estufadas de comida tornaram a cena cômica, exceto pelo fato de que ele cuspiu alguns pedaços. Aigoo ...sempre estragando o momento.

-Nada, só estou animada com o encontro - falei descontraída e recebi um sorriso de canto vindo de Jimin.

-Então você assume que é um encontro? - Tae praticamente gritou pulando na cadeira e arrancou uma risada de todos em volta da mesa.

Não respondi, apenas continuei comendo. Precisava agradecer a SunHee por ter me dado coragem de assumir aquilo em voz alta.

Mas algo me dizia que ela não deixaria as coisas como estavam, eu conhecia Choi SunHee o suficiente para saber que ela não aceitava perder e mesmo assim não me importei.

E aquele foi o meu maior erro!