História Hold me tight, please! - Sob o céu de primavera

Já haviam se passado alguns minutos desde que YoonGi tinha saído - não sabia quantos especificamente -. Estava atrasado, pra variar, mas nada que o tivesse impedido de dar mais algumas risadas as minhas custas antes de se despedir me pedindo para que o desejasse sorte. E assim eu fiz, desejei-o toda a sorte do mundo.

O pequeno bilhete ainda jazia em minhas mãos e eu já o lia novamente pela enésima vez naquele meio tempo em que fui deixada sozinha. Não conseguia parar de pensar em Jimin, não importava o rumo que meus pensamentos tomassem, eles sempre voltavam para o garoto de sorriso fofo que mudou minha vida desde o momento que atravessou as portas daquela sala de aula e sorriu desajeitado enquanto se apresentava. Sem me dar conta, estava imersa naqueles pensamentos e revivendo mentalmente todos os momentos ao lado de Jimin, era poucos, talvez até irrelevantes se fossem vistos por outras pessoas, mas para mim, eram especiais o suficiente para me arrancar um sorriso involuntário sempre que pensava sobre elas.

Fui arrancada dos meus devaneios pelo som irritante da campainha que era tocada insistentemente. Levantei preguiçosamente e comecei a caminhar em passos lentos  até a porta. O fato de saber que atrás daquela peça de madeira estava a minha "babá" não ajudava nenhum pouco no meu estado de ânimo, na verdade eu ainda não acreditava que YoonGi tinha mesmo feito aquilo comigo. Me deixar com uma babá? Por Deus, eu tinha deixado de ser criança a muito tempo.

A senhorinha - sim, eu tinha imaginado a tal babá como uma senhorinha daquelas bem ranzinzas e que cheiram a naftalina e ração de gato, me julguem - parecia estar disposta a perfurar o botão da campainha, porque tocáva-o insistentemente e aquilo estava consumindo o resto da paciência que me restava.

-Por favor, será que dá pra parar de tocar esse troço? - falei alto enquanto girava a chave na maçaneta, eu não costumava ser mal educada, ainda mais com pessoas mais velhas, mas as circunstâncias não estavam cooperando com a minha educação. Respirei fundo e me preparei para receber a tal ahjumma com uma reverência, mas ao abrir a porta, digamos que as coisas não eram bem como eu pensava.

-HoSeok? - indaguei surpresa, ele deveria estar trabalhando àquela hora - O que faz aqui? - ele que antes sorria abertamente, rolou os olhos e fez uma careta ao ver minha cara de estranheza.

-É assim que você recebe sua babá? - balançou a cabeça em negação e fingiu estar decepcionado.

-Digamos que eu estava esperando alguém um pouco mais velho...na verdade mais 'velha' - rimos - YoonGi não me disse que era você que viria - ele entrou e fechou a porta atrás de si - Mas, você não deveria estar no escritório? - perguntei receosa, não queria que ele arrumasse mais problemas com o pai por minha causa.

-Eu pedi para que ele não dissesse, queria te fazer uma surpresa - sorriu sapeca enquanto tirava a mochila das costas e deixou-a ao lado da porta - E sim, eu deveria estar trabalhando, mas estava com muita saudade de uma certa pessoa, então depois que YoonGi me contou sobre a tal audição eu decidi tirar  o dia de folga e vir te ver. Não gostou da visita? - fez beicinho e eu sorri abertamente, não nos víamos a semanas e eu realmente senti falta dele. 

Ao invés de responder, enlacei meus braços em volta de sua cintura e abraçei-o forte, o que o pegou de surpresa, já que ele era quem sempre me abraçava e eu fingia ficar irritada com isso todas as vezes.

-Acho que isso foi um sim - ele disse ao retribuir meu gesto, não podia ver seu rosto, mas tinha certeza de que ele sorria.

Antes de nos afastamos ele depositou um beijo rápido no topo da minha cabeça, o que já era um hábito dele.

-Guarde bem essa cena, porque ela não vai se repetir tão cedo - me referi a abraçá-lo e ele sorriu largo, mas o sorriso se desfez rapidamente dando lugar a um semblante triste - Tem alguma coisa errada? - indaguei preocupada e sem esperar que ele respondesse, puxei-o pela manga da camisa até o sofá e ali nos sentamos lado a lado.

Um silêncio desconfortável se instalou entre nós por alguns poucos minutos e ele encarava pontos aleatórios da casa durante esse meio tempo. Janelas, móveis, piso, teto... Tudo parecia mais interessante e convidativo do que olhar para mim.

-Jimin me ligou ontem à noite... - falou de repente e tenho certeza que meu coração falhou uma batida, foi por isso que ele tinha vindo, não apenas por saudades - Ele estava desesperado e quando me contou o que aconteceu com você eu dirigi até aqui o mais rápido que pude... - apertei com força a barra da minha blusa, eu sabia onde ele queria chegar.

-HoSeok, eu...- falei um pouco mais baixo do que planejava, mas fui interrompida por ele que me dirigiu um olhar preocupado como YoonGi fizera mais cedo.

-Eu Pensei que nunca mais te veria daquele jeito...aqueles remédios...eu sei bem como era complicado - pigarreei na tentativa falha de limpar a garganta - Você sabe o quanto eu me importo com você, não sabe? - perguntou hesitante e assenti com um balanço rápido de cabeça deixando que continuasse - Não consegui pregar o olho a noite toda pensando sobre como seriam as coisas depois que você acordasse, eu tinha medo de que as coisas voltassem a ser como antes - remexeu-se desconfortavelmente no sofá - Tinha medo de que você votasse a se fechar pro mundo... - segurei uma de suas mãos suadas entre as minhas.

Eu entendia o que ele queria dizer, na verdade, além da minha mãe, HoSeok era o único que sabia de tudo o que eu tinha passado desde o início. As crises de pânico, os pesadelos, os desmaios, os meses sem falar uma palavra sequer...Ele estava lá.

Sorri o mais sincero que pude e toquei uma de suas bochechas fazendo-o desviar o olhar do chão para mim.

-Eu estou bem, Hobbi! - sooei animada, mas sua expressão permanecia triste - Quer dizer, eu me sinto um pouco fraca pelos últimos resquícios do remédio, minha cabeça dói um pouco e eu descobri que ainda vou precisar tomar essas drogas, mas eu me sinto estranhamente bem...estranhamente feliz - fui sincera e ele percebeu, um sorriso doce se desenhou em seus lábios antes de ele me lançar um olhar cínico.

-Será que essa felicidade toda tem a ver com o fato do Jimin ter passado a noite aqui? - corei instantaneamente e soltei sua mão, ouvindo-o gargalhar alto em seguida - Isso com certeza foi um sim - mostrei a língua e joguei uma almofada em seu rosto.

-Você e o YoonGi Oppa deveriam ser irmãos - resmunguei finjindo estar irritada - Por falar em YoonGi, você deveria fazer como ele e seguir seu sonho de uma vez - falei autoritária, realmente me irritava o fato de HoSeok, assim como YoonGi estarem sendo obrigados a fazerem o que não gostam enquanto suprimiam seus sonhos.

Ele parou de rir imediatamente e coçou a nuca visivelmente incomodado com alguma coisa.

-Quanto a isso... eu queria te contar uma coisa, mas não sabia como e agora acho que não é a hora - voltou a ficar sério e aquilo me incomodou um pouco. Detestava que me escondessem coisas, embora eu possuísse essa mania.

-Pois pra mim, essa é a hora certa - falei confiante - Pode desembuchar logo, Jeong HoSeok - dei um tapinha em seu ombro esquerdo e ele maneou a cabeça para o lado e pareceu medir os prós e contra de dizer ou não a tal coisa.

Mas por sorte ele me conhecia o suficiente para saber que ele só tinha duas opções: me contar ou ser importunado pelo resto do dia, da vida e até nas vidas futuras. E parece que a primeira opção foi a melhor pra ele.

-Eu vou embora, YuMi! - fechou os olhos com força e falou de uma vez.

 -Você vai...você...Como assim, Hobbi? - meus olhos pareciam prestes a saltar das órbitas e minha voz saiu alta o suficiente para assustá-lo, fazendo-o me olhar preocupado.

-Você se lembra daquela vez que eu disse que queria muito entrar pra àquela escola de dança na Austrália, não lembra? - apenas assenti, ainda com cara de pânico.

Eu lembrava perfeitamente desse dia. Ele tinha buscado Jae e eu não escola e estavamos almoçando juntos enquanto falávamos sobre o que queríamos ser nos anos futuros. Eu seria uma médica renomada, Jae um jogador de basquete conhecido no mundo todo e HoSeok um dançarino famoso. E no meio dessa conversa Hobbi havia mencionado a tal famosa escola de dança que tinha sua sede em Sydney, na Austrália.

-Há mais ou menos um ano eu conheci uma garota que estuda lá e no mês passado ela me disse que eles tinham aberto o período de audições pro próximo semestre e me convenceu a tentar...- permaneci escutando em silêncio, enquanto ele parecia se martirizar a cada palavra - E no mês passado eu fingi uma viagem de negócios pra ir até lá e por incrível que pareça eu...eu consegui uma vaga - um sorriso largo se desenhou em meus lábios ao ouvir aquelas palavras - Eu simplemente fiz o teste sem o mínimo de esperança e dois dias depois meu nome estava na lista dos aprovados... - me joguei em cima dele - literalmente me joguei - e abraçei-o pelos ombros, pegando-o de surpresa pela segunda vez em menos de uma hora.

-E porque você estava com medo de me contar isso? - a animação na minha voz era quase palpável - Meu Deus, Hobbi! Essa é a segunda melhor notícia que eu recebo hoje! - na verdade era a terceira, porque saber que Jimin tinha passado a noite ao meu lado foi a segunda, mas HoSeok não precisava saber disso, não é mesmo? - Primeiro YoonGi finalmente fazendo o que gosta e agora você? Você tem ideia do quanto isso me deixa feliz e orgulhosa? - ele finalmente sorriu, um sorriso desajeitado, mas ainda assim contagiante -Por que você não queria me contar? - indaguei um pouco mais seria e ele suspirou.  

-Eu não queria que você achasse que eu estava quebrando a promessa e sofresse por isso - franzi o cenho visivelmente confusa -Quando YoonGi foi embora, eu prometi que nunca te deixaria...- entendi o que ele queria dizer - Tive medo que você pensasse que eu estava te abandonando - sorri carinhosamente e afaguei seu ombro.

-Jeong HoSeok, você é um completo idiota por achar que eu ficaria triste ao saber que você finalmente vai realizar seu sonho - ele riu baixinho e vi seus olhos marejarem - Eu vou sentir sua falta, é claro, mas sei lá quantos quilômetros de distâncias não vão mudar o fato de que você é uma das pessoas mais importantes do mundo pra mim e não vão diminuir o carinho que eu sinto por você - uma lágrima correu por ser rosto e ele secou rapidamente - Então trate de se animar e me contar com detalhes essa história - dessa vez ele quem me puxou para um abraço e assim ficamos por alguns segundo. 

Não estava me reconhecendo no meio de toda aquela demostraçao de amor, mas estava feliz o suficiente para sair gritando pela casa. Isso se aquela dor de cabeça não insistisse em continuar incomodando.

Conversamos pelo resto da tarde e ele me contou com detalhes sobre a escola, a viajem e a tal "amiga" australiana, Lauren era o nome dela e segundo ele seríamos apresentadas em breve, via webcam, é claro. Ele estava realmente animado e já tinha tudo planejado, sairia no meio da noite e contaria a verdade apenas quando estivesse fora do país, assim não corria o risco de ser impedido por seu pai, que provavelmente o deserdaria depois de saber que o filho seria um "vagabundo" como ele fazia questão de dizer sempre que Jae e HoSeok comentavam sobre seguir o basquete e a dança. O Sr. Jeon e o meu pai não possuíam nenhum grau de parentesco e não se pareciam em nada ficicamente, mas no quesito personalidade poderiam ser irmãos gêmeos.

Já passava um pouco das seis da tarde e assistimos um filme de terror que tínhamos encontrado por acaso enquanto zapeávamos os canais tentando encontrar algo que nos tirasse do tédio. HoSeok gritava freneticamente ao meu lado e escondia o rosto atrás de uma das almofadas todas as vezes que alguém era morto  de forma horrível ou a "criatura de duas cabeças" aparecia na tela enorme, enquanto eu me ocupava em devorar toda a pipoca da tigela e rir da falta de coragem do meu amigo.

Minha cabeça quase não doia mais e a tontura, assim como as dores pelo corpo haviam sumido. Não tinha como aquele dia ficar melhor. Ou tinha?

Alguns minutos depois, no exato momento em que HoSeok se escondia atrás das minhas costas e berrava de medo, minha mãe chegou acompanhada de YoonGi, que depois da audição - que terminou mais tarde que o previsto -  foi até o hospital para vê-la e acabou ficando por lá até o fim do Platão e em seguida foram até o supermercado comprar os ingredientes para preparar o nosso "Jantar de comemoração" - palavras da minha mãe. 

Depois de alguns minutos sendo zoado pela minha mãe e irmão, HoSeok despediu-se. Infelizmente ele não pôde ficar pra jantar, por ter passado o dia fora do escritório tinha um monte de coisas a fazer e o Sr. Jeon não parava de ligar. Senti-me culpada por fazê-lo arrumar mais problemas, mas não podia negar que estava feliz por ele ter "tirado o dia de folga".

Depois que ele saiu, mamãe e YoonGi se dirigiram a cozinha para preparar o jantar e disseram que eu poderia ir me arrumar. Não entendi de primeira o porquê de eu ter que "me arrumar", mas depois do sorrisinho cínico que YoonGi me lançou, compreendi a irônia. Jimin chegaria em alguns minutos e segundo meu querido irmão, eu deveria estar minimamente apresentável quando o meu "namorado"visse me ver.

Subi as escadas resmungando e praguejando o mais velho em voz baixa e me dirigi ao banheiro, tomei um banho rápido e ainda enrolada na toalha comecei a procurar algo "vestível". Acabei por escolher uma saia rodada preta que chegava até a metade das minha coxas e uma blusa de mangas curtas branca com listras azul-marinho. Penteei o cabelo e deixei-o solto e fiz uma maquiagem básica, minha favorita, olhos bem marcados pelo delineador e um batom rosa-quase-nude apenas para hidratar os lábios. Não queria que parecesse que eu tinha me arrumado excessivamente apenas para ficar em casa. Se bem que aquela era a verdade. 

Encarei meu reflexo no espelho pela última vez e por um milagre gostei do resultado. Borrifei um pouco de perfume e depois de calçar um par de pequenas meias brancas, calcei as pantufas e resolvi descer

~~x~~

Estaria mentindo se dissesse que não senti meu coração bater mais rápido ao ver que Jimin já havia chegado e conversava distraidamente com YoonGi recostado no balcão da cozinha. Ele estava de costas para mim e não notou minha presença enquanto eu decia silenciosamente e rezando para que meu querido irmão não fizesse nenhum comentário maldoso quando eu chegasse. Mas mais uma vez minha oração não funcionou...

-Finalmente, Cinderella! - YoonGi praticamente gritou, fazendo com que Jimin virasse rapidamente em minha direção e por Zeus, como ele estava lindo! 

Ele usava uma calça jeans escura, uma camiseta preta que parecia de um time de basquete e seus cabelos ainda molhados estavam levemente bagunçados como de costume, o que o deixava ainda mais lindo. Não pude conter o sorriso bobo ao vê-lo e me xinguei mentalmente por aquilo, mas não havia mais nada a ser feito. 

Desci os últimos degraus e parei em sua frente, sendo recebida por um de seus melhores sorriso. Eu pareceria louca se dissesse que quis beijá-lo naquele mesmo instante? Pois é, eu quis.

-Faz tempo que você chegou? - perguntei timidamente e ele negou com a cabeça.

-Claro que faz, você tem ideia do quanto demorou lá em cima? Parecia que estava se preparando pra um casamento...- recebeu um tapa não tão discreto no braço vindo da minha mãe, indicando silenciosamente que ele deveria se calar e assim ele fez. 

Para a minha alegria!

-Desculpa se te fiz esperar muito... - sorri desajeitada.

-Toda a espera valeu a pena, você está linda, YuMi - sua voz suave me fez corar instataneamente e pude ouvir as risadinhas cúmplices vindas de trás do balcão. Eles estavam se divertindo as minhas custas enquanto fingiam não estar ouvindo nada.

-Obrigada, você também está muito bonito - foi a vez dele ganhar um tom avermelhado nas bochechas.

-Sabe Jimin-ah... - minha mãe começou e me  preparei mentalmente para o que viria - A YuMi precisa de ar fresco e ainda temos duas horas até o jantar, o que você acha de convidá-la para dar uma volta e tomar um café?  - cobri o rosto com as mãos, cadê aquele super poder de teletransporte quando se precisa dele?

-Omma! - tentei repreendê-la, mas já era tarde demais, Jimin já me fitava com um sorriso engraçado no rosto.

-É uma ótima ideia, Sra. Ahn! - falou sem desviar os olhos de mim e retirei as mãos do rosto devagar - Você quer ir? - perguntou timidamente e eu apenas assenti. Minha mente envergonhada não conseguiu construir uma resposta melhor do que simples balanço de cabeça.

Pedi que ele esperasse um pouco e subi correndo até o meu quarto. Vesti uma jaqueta de couro preta que estava sobre a poltrona próxima a janela, joguei meu celular e a carteira dentro de uma pequena bolsa também de couro preto e depois de colocar sua alça única no ombro, corri até a outra parte do closet em busca de algo para calçar. Acabei optando por um all star de cano médio vermelho, o primeiro que me chamou atenção. 

Desci quase correndo com o tênis em mãos e vi que Jimin já me esperava na porta. 

-Prometo trazê-la em duas horas - dirigiu-se a minha mãe enquanto eu amarrava os cadaços e ela assentiu.

-E fica para jantar com a gente? - a mais velha indagou e ele pareceu pensar na resposta, mas apenas sorriu e disse que aceitaria o convite se não fosse incomodar. Fogo!

~~X~~

A noite estava agradável, não fazia muito frio e o céu estava estrelado, as cerejeiras que formavam um corredor por toda a extensão do bairro estavam floridas e vez ou outra derrubaram flores sobre nós, dando um visual encantador ao nosso caminho até a cafeteria. Uma cena bem romântica, se pararmos para pensar. 

Caminhávamos lado a lado há uns cinco minutos, perto o suficiente para que vez ou outra nossas mãos de tocassem acidentalmente. Uma sensação boa me preenchia sempre que isso acontecia.

-Como foi na escola? - quebrei o silêncio que havia se instalando entre nós desde que saímos de casa, não sabia bem sobre o que falar, então achei que a escola seria um tema melhor para iniciar uma conversa do que o clima.

-Beem chato! - ele fez uma careta fofa - O Sr. Han nos obrigou a responder um monte daquelas questões chatas e foi difícil fazer tudo sem a minha parceira de turma inteligente pra ajudar - sorri descontraída.

-Quer dizer que você não sentiu minha falta, só sentiu falta da minha inteligência? - fingi decepção e ele riu.

-Eu estava preocupado com você - mudou bruscamente de assunto e diminuiu a velocidade dos passos me fazendo encará-lo - Não consegui parar de pensar em você um minuto sequer durante o dia todo...- sua voz saiu um pouco mais baixa e seu sorriso envergonhado deixou-o ainda mais fofo.

-Então estamos empatados nesse quesito, porque... eu também pensei em você o dia todo - falei encarando meus pés, de onde eu tinha tirado coragem para dizer aquilo? Também não sei.

-Eu sinto muito por ter feito você se preocupar...- continuei - Mas agora eu estou bem, de verdade - era uma meia verdade, mas ele fingiu acreditar.

-Você pode me prometer uma coisa? - olhei-o confusa, mas assenti - Me prometa que vai me deixar cuidar de você e que não vai mais se esconder de mim... Prometa que vai me dizer sempre algo estiver errado ou difícil demais pra você enfrentar sozinha - senti sua mão quente tocar a minha e enlaçar seus dedos ao meus, me puxando de leve e fazendo com que eu parasse de andar e ficasse de frente para ele. Sua expressão era séria e ele maneou a cabeça um pouco para o lado esperando pela resposta - Você me promete? -  insistiu. Senti meu coração se aquecer ao ouvir aquelas palavras e sorri involuntariamente.

-Eu prometo! - respondi confiante e sem hesitar ele me puxou contra seu corpo e me envolveu num abraço apertado.

Me permiti ser abraçada por ele e ficamos assim por alguns minutos, até que ele se afastou um pouco, levando uma de suas mãos até o meu rosto e acariciando suavemente minha bochecha direita.

-Eu preciso fazer uma coisa agora, por favor, não me bata - sussurou com uma voz um pouco mais rouca e sem aviso prévio quebrou a pouca distância que havia entre nós e tomou meus lábio.

Foi um beijo calmo e lento, sua mão continuava a acariciar meu rosto, enquanto seu outro braço envolvia minha cintura e me puxava para mais perto. Estávamos no meio da calçada e provavelmente as poucas pessoas que passavam por ali nos julgavam e se incomodavam com a cena e talvez eu até levasse isso em conta, mas não naquele momento. Eu precisava daquele beijo e não tinha forças nem vontade de afastá-lo. 

Esqueci mais uma vez meus lado racional e enlacei meus braços em volta do pescoço dele. Cada centímetro do meu corpo reagia a seu modo àquele toque e as famosas borboletas no estômago se fizeram presente.

 Infelizmente a falta de ar se fez presente e fomos obrigados a encerrar o beijo, mas continuamos a poucos centímetro um do outro e eu sentia sua respiração quente bater contra minha pele fria. Ele mantinha os olhos fechados, mas sorria docemente e me abraçou mais uma vez.

-Obrigado por não me bater - falou abraçado a mim - Agora vamos sair daqui, porque tenho que te deixar em casa em menos de duas horas e não quero que nosso primeiro encontro seja no meio da rua - ri abafado. 

Cortamos o abraço, mas ele ainda me segurava pela cintura e cuidadosamente afastou uma mecha de cabelo que caia sobre o meu rosto, prendendo-a atrás da minha orelha.

-Você fica ainda mais linda quando está com vergonha, sabia? - riu baixinho e senti meu rosto queimar.

-Você é um bobão, Park Jimin - dei-lhe um selinho e saí correndo, deixando-o completamente atônito.

E voltamos a mesma pergunta: De onde eu tinha tirado coragem para fazer aquilo?

Mas a verdade era que pouco me importava saber, eu estava realmente feliz por ter sido capaz de demonstrar o que eu sentia, afinal, eu tinha prometido a ele que não me esconderia mais. 

Continuei correndo até onde pude, mas com pernas daquele tamanho, digamos que é difícil ir longe e logo Jimin me alcançou, me puxando pela manga da jaqueta e me fazendo parar pela segunda vez e ficar de frente para ele.

-A culpa de eu ser um bobão é sua - nossas respirações estavam ofegantes graças a pequena corrida e seu olhar sustentava o meu como se necessitasse daquele contato - Você não sabe o efeito que tem sobre mim, Min YuMi - sorri.

-Então você pode me contar durante o nosso encontro - beijei sua bochecha e comecei a andar na direção da cafeteria, mas antes que pudesse me afastar, senti sua mão tocar a minha novamente e mais uma vez nossos dedos se entrelaçaram. 

Nenhum de nós dois se atreveu a comentar nada sobre o fato de estarmos de mãos dadas, apenas seguimos nosso caminho sorrindo como duas crianças e conversado sobre coisas aleatórias.

Enquanto ele falava, por várias vezes eu me peguei admirando-o em silêncio, seus olhinhos que praticamente desapareciam ao sorrir, sua voz doce, seu cheiro, e aquele sorriso que era capaz de aquecer meu coração até nos dias mais sombrios.

E enquanto tomávamos nossos cafés e caminhávamos ainda de mãos dadas sob o céu estrelado naquela noite de primavera, eu encontrei a resposta para a minha pergunta. 

Eu amava Park Jimin.