História Hold the Door - Segure a porta!

Após uns vinte minutos dentro daquele ônibus quente com cheiro de suor, finalmente chego ao meu destino: o centro da cidade. É lá que rola a maior parte do comércio, e toda essa coisa da industrialização, que o professor de Geografia vivia falando. Eu adorava o centro. Pelo menos a parte que eu conhecia. Apesar de minha mãe sempre dizer que eu ainda não fui á todos os lugares da cidade, ela é pequena, e fácil de ser explorada, pelo menos perto das cidades vizinhas, então quase tudo que a cidade produzia se resumia ali, eu acho.

Saindo do Terminal Rodoviário, subo até a estação de trem, mas não é lá que entro, pois um pequeno atalho fica ali perto, e é ele que eu uso para não ter que dar outra volta na cidade em um ônibus quente e com cheiro de suor. Não sei ao certo o que me domina, se é  fome, ou o sono, mas se que um deles vai me derrubar alguma hora. Enfim atravesso o atalho, que era uma longa passarela em formato quadrangular  inclinado, que permitia-nos passar por cima dos trilhos do trem, e ás vezes dava calafrios ao imaginar que alguém pudesse me jogar dali se eu fizesse alguma besteira.

Ao chegar á escola, me contento ao ver toda aquela multidão, feliz em me ver, vindo me abraçar e pedir autógrafos. Tá, quase te peguei, admite! Primeiro que quatro nerds feios não são uma multidão. Segundo que o sexto nerd feio é o mais feio, e este acabou de chegar, então ninguém me pediria autógrafos. Para Higor, um aperto de mão casual, coisa que combinamos no 3º ano da escola. Vinicius 1 não cumprimenta ninguém, ele é meio chato, se é que me entende. Vinicius 2 recebe o mesmo aperto de mão de Higor, mas faz uma piadinha clássica com a minha masculinidade (se é que la existe em escala relevante), apertando minha mão forte demais. Enzo é  o mesmo que Vinicius 1, mas ele não cumprimenta pois ainda não combinamos sobre como fazer isso.  Geralmente, homens cheios de testosterona começam uma converso perguntando sobre o jogo da noite anterior, mas se fizéssemos isso, um iria falar sobre uma nova fase secreta do Super Mario, que ele pode já ter passado, mas não se lembra, ou de como seu personagem foi assassinado cruelmente no fim da Busca. Homens falam sobre a liga, mas nós, de uma Liga, com o "L" maiúsculo, você sabe.

Mas tudo que precisamos é de uma piadinha sem graça sobre alguém, como um zíper aberto, ou até mesmo com o cabelo desarrumado para começarmos uma conversa interessantíssima e cheia de piadas. Mas não dá tempo, o sinal acaba de tocar, e temos que entrar, pois somos os primeiros da classe. Menos o Vinicius 2, que está em outra classe, mas ele é o primeiro dela também, então, tá valendo. Á caminho, comçamos uma conversa aleatória, que sai de um dos cantos do grupo:

-Viram Guia dos Mochileiros ontem? -todos adoramos esse filme. -Passou 20:00.

-Eu estava dormindo essa hora, cara. -disse algum outro

-Deve ser legal sair por aí. -digo, e todos, param um pouco para se imaginar numa jornada pelas galáxias. -A gente devia combinar um fim de semana e ir ver a Princesa Leia.

Um conjunto de risos meio finos meio grossos por conta da puberdade ecoa na calçada, menos o Vinicius 1, porque ele é chato, e não gosta de Star Wars. Enquanto viramos a esquina, e nos deparamos com a inspetora. De repente, os risos púberes se tornam gritos desesperados:

-Espera, tia!!

-Calma!

-O inverno está chegando, deixa ele entrar!

-Já que falou em Game of Thrones, SEGURA A POOOOOORTA!