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História Home - Aquele Que Ama Sempre e Para Sempre


Escrita por: SGAutora

Notas do Autor


Oieeee voltei!!!!!

Preparem os corações se eles forem uma manteiga derretida igual o meu, porque esse capitulo é de deixar em caquinhos.

Capítulo 11 - Aquele Que Ama Sempre e Para Sempre


 

And I’ll run to you when the waters rise
And I’ll run to you if the bombs ignite
I’ll still call to you if I lose my sight
And I’ll fall for you if you need a fight

And I’ll run to you when the waters rise
And I’ll run to you if the bombs ignite
I’ll still call to you if I do go blind
And I’ll be all for you if you lose the fight

 

 

 

Jon 

 

 

Ele tinha perdido a porra da cabeça.

Cheguei à oficina, onde Grey estava se esforçando para conter a bebedeira do meu pai. Olhei em volta e vi vidro espalhado por todos os lados. Quando meus olhos pousaram no carro de Dany, fiz uma careta. Todos os vidros estavam estilhaçados e o capô tinha marcas, provavelmente causadas pelo taco que Grey tentava arrancar das mãos de meu pai.

— Caralho — resmunguei, correndo em direção a eles. — Pai, o que você está fazendo? — gritei.

— Eu disse para você tirar esta merda de carro da porra da minha oficina! — berrou ele, arrastando as palavras.

Segurei o taco e o arranquei da mão dele e o joguei para o lado. Nem tentei conversar com ele porque vi que não havia nem um brilho de lucidez em seus olhos. Ele estava a segundos de desmaiar. Na manhã seguinte, já não ia se lembrar de nada. Havia muitos problemas com o que ele tinha feito com o carro de Dany, mas a principal questão é que sua embriaguez tinha afetado mais do que apenas o carro dela. Ele tinha quebrado uma porção de coisas na oficina. Cada vez que eu respirava, ficava mais puto, enquanto segurava meu pai e o obrigava a ir embora. Eu o levei para casa e o joguei em seu quarto, enquanto ele resmungava o tempo todo sobre os Targaryens e sobre como os odiava. Também reclamou de mim, sobre como eu sempre fui um problema na vida dele e, então, desmaiou.

Finalmente.

Quando voltei para a oficina, suspirei enquanto olhava à minha volta, com as mãos na cabeça. Grey já estava varrendo o vidro estilhaçado.

— Foi mal ter ligado para você, cara. Ele se descontrolou totalmente. Eu estava trabalhando no carro da Dany, queria tentar dá uma agilizada Missi disse que ela não estava bem nos últimos dias achei que o carro dela consertado a animaria, mas ai ele chegou e teve um ataque.

— É bem a cara dele — respondi com sarcasmo. — Não precisa limpar. Pode deixar comigo.

— Não. Não é nada demais.

— É, sim — gemi, olhando em volta. — Vamos gastar uma grana preta para consertar tudo. É claro que ele nem vai ficar sabendo do prejuízo que causou.

— Ele precisa de ajuda, cara. Tipo, ajuda de verdade, ou um dia ele vai acabar... — A voz de Grey morreu na garganta, mas eu sabia aonde ele queria chegar.

...morto.

Meu maior medo era receber aquela ligação, alguém dando a notícia de que meu pai estava morto e, a cada dia que passava, aquele medo parecia mais justificado. Ajudei Grey a arrumar a oficina da melhor maneira que consegui, mas disse que ia considerar o dia encerrado e que a gente recomeçaria no dia seguinte. Ele saiu e fui até a varanda da casa do meu pai. Eu me sentei no degrau de cima, ouvindo atentamente para ver se ele não estava fazendo muita confusão lá dentro. Fiquei ali por alguns minutos, horas, e a única vez que me mexi foi para ir ao quarto ver se ele ainda estava respirando. Então, voltei para o meu lugar na escada onde eu provavelmente acabaria passando a noite. Eu não conseguiria voltar para a minha casa por medo do que veria ao acordar de manhã.

— Jon? — chamou uma voz baixa, me fazendo desviar a atenção das minhas mãos, para as quais eu estava olhando nos últimos minutos. Dany estava parada ali, com um sorriso suave no rosto.

— O que você está fazendo aqui?

— Eu queria ver como você estava... Sei que você disse para eu não vir, mas esperei um tempo e quis me certificar de que estava tudo bem.

Respirei fundo.

— Está tudo bem. Eu sempre estou bem.

Ela fez uma careta.

— Posso me sentar aqui com você?

— Se você quiser.

Dany subiu os degraus e se sentou bem do meu lado. Ela não disse nada no princípio. Talvez não soubesse o que dizer ou talvez sentisse que só precisava ficar um pouco em silêncio. Tê-la ali sentada ao meu lado pareceu estranho, como um consolo que eu nem sabia que queria.

— Eu odeio maçã. A não ser que estejam picadas em tiras — disse ela, por fim, e eu inclinei a cabeça em sua direção. — Sei que mágica não existe, mas sempre que vejo um truque muito bom, fico completamente chocada. Sou péssima jogando Uno, mas sou o máximo em Banco Imobiliário.

— Informações aleatórias? — perguntei.

— Sim. Para você se sentir mais confortável.

A cada momento que passava, eu gostava mais dela. Respirei fundo.

— Eu adoro hip-hop e música country na mesma medida. Eu canto no chuveiro. Como comida mexicana pelo menos três vezes por semana e, às vezes, quando o dia está particularmente ruim, eu canto “Tubthumping”, de Chumbawamba.

Ela respirou fundo.

— Não sei assoviar.

— Não sei estalar os dedos.

— Eu chorei em todos os filmes da Marvel — sussurrou ela.

— Eu ainda choro quando assisto ao Rei Leão.

Ela abriu aquele sorriso bondoso, capaz de fazer a pessoa mais triste do mundo se sentir um pouco melhor.

— Eu acho que você é uma boa pessoa.

— Acho que você é melhor — respondi. Engoli em seco e olhei para a minha mão. — E acho que minha vida fica mais fácil quando você está comigo.

— Ah — disse ela suavemente, olhando para mim. — Então acho que é uma coisa mútua. Mais fatos.

— Reais ou de bobeira?

— Acho que coisas reais são boas — respondeu ela. — Eu gosto de real. Só não sabia se você gostaria de compartilhar esse tipo de coisa.

— Eu não gosto.

— Tudo bem, então compartilhe o que você quiser.

Respirei fundo e senti o braço dela roçar de leve no meu, mas não disse nada. Passou-se um longo período de silêncio antes de eu reunir coragem para falar de novo. Era como se meu cérebro estivesse avaliando quão real eu queria ser com ela. Nós vínhamos basicamente deslizando pela superfície de verdades sem realmente mergulhar nelas.

— Ghost foi o último presente que minha mãe me deu — revelei. — Ela me deu Ghost algumas semanas antes de decidir deixar meu pai e recomeçar a vida com outro homem. Eu me lembro como se fosse ontem. Meus pais não me deixavam ter animais de estimação quando eu era criança. Diziam que eu era muito pequeno. Mas que quando eu fizesse dez anos, poderia ter um cachorro. Acho que era porque eu sofria tanto bullying na escola e não tinha amigos de verdade. Eles se sentiam mal por eu ser tão sozinho quando era pequeno. Então, algumas semanas depois, ela arrumou as malas para ir embora.

— Como você descobriu que ela estava indo embora?

— Vi meus pais discutindo na sala. Eles brigaram um tempão até que meu pai ficou farto daquilo. Eu me lembro da expressão de derrota no rosto dele. Acho que foi naquele exato momento que ele percebeu que ela nunca mais voltaria a ser dele. Minha mãe tinha escolhido outra pessoa, e isso foi muito difícil para o meu pai. Ela era tudo para ele. Para nós dois. Mas, bem, só porque alguém é tudo para você, não significa que você é tudo para essa pessoa também. Eu implorei para ela ficar. Eu literalmente me joguei em seus braços e chorei, implorando para que ela não fosse embora. Meu pai já tinha saído da sala porque aquilo tudo tinha sido demais para ele. Ele bloqueou tudo, eu acho. Ele já tinha desistido, e o coração dele estava tão partido, mas eu era só um garoto. Tudo que eu sabia é que eu queria que minha mãe ficasse comigo. Eu chorei em seus braços, puxei suas roupas, me agarrando a ela, e ela ficava me prometendo que não era para sempre, que ela nunca ia me deixar, que nós encontraríamos um jeito de descobrir um novo modo de viver. Você sabe qual foi a última coisa que ela me pediu?

— O quê?

— Ela me deu um beijo na testa, olhou nos meus olhos e pediu “Cuide do seu pai”.

— Uau.

— Um pouco depois, fomos comunicados sobre o acidente de carro com o pai de Missandei. Minha mãe morreu na hora. Nós nem tivemos tempo de odiá-la por ter partido, antes de sermos obrigados a ficar de luto.

— Jon, eu sinto tanto por você — disse Dany. — Eu nem posso imaginar o que uma coisa dessas pode fazer com alguém.

Senti um aperto no peito e, quando falei, me lembrei por que aquele era um assunto sobre o qual eu nunca conversava. Era difícil demais reviver aquelas lembranças, ter que enfrentar a culpa de novo. Sempre que pensava na noite da morte da minha mãe, juro que parecia que eu voltava no tempo e estava lá de novo, me afogando outra vez.

— Talvez, se eu tivesse implorado um pouco mais, ela não estaria na estrada na hora do acidente. Talvez, se eu tivesse me agarrado mais a ela... — sussurrei.

Dany balançou a cabeça.

— A culpa não é sua, Jon. Não há culpados nessa história.

— Eu poderia ter me esforçado mais para ela ficar.

— Não. Essa foi uma lição bem difícil que eu aprendi. Não importa quanto você implore para alguém ficar. Se a pessoa quiser ir embora, ela vai, independentemente de qualquer coisa. Tudo que podemos fazer... Tudo que alguém pode aprender é a arte de deixar a pessoa livre, não importa o que aconteceu. É óbvio que ela amava você.

— Ela era o mundo para mim e, depois que eu a perdi, Ghost se tornou o meu melhor amigo. Eu sentia que, de algum modo, ele era uma parte dela. — Baixei a cabeça e fechei os olhos. — Diga alguma coisa para mudar de assunto — implorei. — Diga qualquer coisa para fazer parar esse turbilhão que está na minha cabeça.

Dany pigarreou e de repente começou a cantar “Tubthumping”, de Chumbawamba. Eu ri na hora. Eu precisava daquilo. Precisava dela ao meu lado para me afastar um pouco da escuridão.

— Mandou bem — falei, soltando o ar e relaxando os ombros.

— Sinto muito por sua mãe.

— Tudo bem. Ela é o principal motivo de eu não acreditar no amor.

— Você não acredita no amor? Não mesmo?

— Não. Eu vi bem o que o amor pode fazer quando é encontrado e o que ele se torna quando é perdido. Meu pai é quem ele é agora por causa do sofrimento, porque perdeu o amor da vida dele. Durante meses, ele nem conseguiu levantar da cama. Ele procurou consolo na bebida como uma maneira de se sentir melhor. Ele tentava beber até apagar minha mãe de suas lembranças e, quando isso não funcionou, ele continuou bebendo e agora está... Destruído.

— Como o seu pai era? Antes de mudar?

— Feliz — respondi. — Essa é a única palavra que consigo pensar. Ele tinha uma risada sonora, sabe? Daquele tipo que retumba dentro de você, fazendo você rir junto com ele. E estava em sintonia com os carros. Ele conseguia consertar qualquer coisa. Eu me lembro de como achava isso incrível quando era pequeno.

— E agora ele ficou assim por causa do sofrimento.

— Exatamente. Eu odeio quem ele é agora, odeio vê-lo desse jeito porque fico puto da vida diariamente. Eu não conheço mais aquele homem que está lá dentro, mas não posso culpá-lo. O amor da vida dele morreu de uma forma horrível, bem depois de dizer a ele que não o amava mais. Se eu fosse ele, teria enlouquecido também.

— Você acha que ele vai conseguir ficar bem algum dia?

— Não sei. Acho que sim. Mas realmente não sei. Já tentei levá-lo para a reabilitação, mas ele não quer nem ouvir falar sobre o assunto. Acho que ele se pergunta por que iria. Não importa o que aconteça, nada a trará de volta. Além disso, ele sofreria sóbrio. Talvez fosse ainda pior.

— Você acha que um coração partido tem cura?

— Acho que sim — declarei de maneira direta. — Mas ele começa a bater de um jeito um pouco diferente.

— Então, talvez um dia o coração do seu pai se cure.

Neguei com a cabeça.

— Para que um coração partido seja curado, a pessoa tem que querer isso. É meio como o motor de um carro. Você pode consertar se você se dedicar e trabalhar em todas as peças quebradas, mas acho que meu pai se acostumou com a sensação de sofrimento. Acho que é como ele se sente confortável agora.

— E quanto ao seu coração? — perguntou Dany. — Ele está bem?

— Eu perdi meu coração no dia em que ela morreu.

— Ah, Jon... — Ela baixou a voz, e senti um aperto no peito. — Vê-lo assim me faz sofrer.

Não dissemos mais nada, mas ela não saiu do meu lado por um bom tempo. Dany não sabia daquilo, mas, naquele instante, fiquei muito feliz por ela ter ficado. Eu estava desesperado por alguém que ficasse comigo.

 

 

 

Dany

 

Em uma segunda-feira à tarde, passei por Daario na cidade, e ele ficou gritando meu nome. Eu me esforcei para ignorá-lo, mas ele não desistiu.

— Daenerys! Dany!

Eu desisti e me virei para olhar para ele.

— O que você quer Daario? — sussurrei, exasperada, sem querer chamar atenção.

— Eu... — Ele passou a mão pelo cabelo curto. — Eu acho que a gente precisa conversar sobre as coisas. Sei que você está zangada, mas a gente ainda é marido e mulher, Dany. Você não pode me evitar para sempre.

— Você quer dizer do mesmo jeito que você me evitou nos últimos oito meses?

— Eu sei que não lidei bem com a situação e peço desculpas por isso. As coisas andam um pouco complicadas.

— Arianne está grávida de um filho seu. Além disso, ela me contou que você disse que eu tinha deixado você. Sério, Daario? É assim que você consegue levar as mulheres para a cama agora? Fazendo com que eu pareça um monstro?

Ele baixou a cabeça e fez uma careta.

— Eu cometi muitos erros, mas estou me esforçando para aprender com eles e a me tornar uma pessoa melhor. Eu devo mais pedidos de desculpas a você do que jamais vou conseguir expressar, e só quero que a gente consiga conversar um pouco. Pensei em terapia de casal... Ou talvez pudéssemos começar a rezar juntos de novo. Você se lembra de como a gente costumava rezar juntos?

— Eu me lembro bem. Depois você começou a dizer que estava cansado demais para se ajoelhar ao meu lado.

— Estou tão perdido, Dany. Eu só... Eu preciso de você de volta. Eu não sei viver sem você ao meu lado.

O quê?

Como é que é?

Fiquei confusa.

Completamente confusa ao ouvir aquelas palavras.

— Você me dá nojo — declarei, virando-me para me afastar.

Não havia terapia, oração ou pedido de desculpas capaz de consertar as coisas entre nós. Ele tinha destruído o nosso relacionamento sozinho, e as partes jamais poderiam ser consertadas.

— Por que você está dormindo com ele? — perguntou Daario, em voz nada baixa, forçando-me a olhar para ele.

— Como é que é?

— É para se vingar de mim? Porque eu magoei você?

— Eu não estou acreditando no que estou ouvindo.

— Ele é perigoso, Dany. E, tipo, vocês são completamente diferentes, principalmente socialmente.

— Minha família tem dinheiro, eu não tenho nada alem de um carro e um trabalho como professora, provavelmente Jon tenha mais dinheiro que eu, e não que seja da sua conta, mas parece que eu e ele temos mais em comum do que qualquer um possa imaginar.

— Ele transa com todo mundo na cidade.

— Parece que vocês dois têm alguma coisa em comum — retruquei, revirando os olhos.

— Você realmente quer ser mais uma na lista dele? Você não está sendo nada inteligente, Dany. Nem está se cuidando. Você sabe que pode pegar uma doença que ele pegou de alguma mulher por aí?

Será que ele não via? Como era irônico que Daario — o marido que me traiu — estivesse me dizendo que eu estava correndo o risco de pegar uma doença quando ele teve a cara de pau de se deitar na cama comigo depois de inúmeros casos.

— Eu não vou ter essa conversa com você — avisei.

— Tudo bem, então, está claro que você não quer conversar comigo nem com sua mãe. Talvez com a Margaery? Ela sempre foi uma pessoa muito equilibrada. Você precisa de uma distração que não seja Jon Stark.

— Você não tem o direito de se meter na minha vida. Você não pode mais opinar sobre o que eu faço ou deixo de fazer com o meu tempo livre. Assim como eu não posso mais me meter na sua vida.

Fui até a casa da Margaery, tentando afastar da cabeça as palavras de Daario. Ele era como um carrapato nojento do qual eu não conseguia me livrar. Pior de tudo é que ele parecia ser louco. Era quase como se esperasse que eu simplesmente deixasse a traição dele passar só porque o meu amor deveria ser forte o suficiente para perdoar qualquer erro que ele cometesse. Quando voltei para a casa da Margaery, parei na varanda e olhei pela janela.

Minha irmã estava atrás de um pódio, com uma colher de pau na mão, como se estivesse segurando um microfone, e empostou a voz como se estivesse se dirigindo a um auditório lotado. Quanto mais eu ouvia, mais percebia o que ela estava fazendo. Ela estava dando um sermão. Quando ela se virou e me viu, rapidamente soltou a colher e correu para abrir a porta.

— O que você está fazendo, Dany? — perguntou, corada.

— Mar... — falei com os olhos arregalados. — Você estava dando um sermão?

— Não, imagina. Não é nada disso — retrucou ela, alisando o vestido. — Eu não dou sermões. Só estava entediada e resolvi brincar.

Balancei a cabeça.

— Pois você realmente parecia uma pastora e estava falando como uma.

Ela ficou com os olhos marejados, e eu vi um brilho de esperança.

— Sério?

— Sério mesmo.

Fui até o vestíbulo e abri um sorriso para ela.

— Se você quiser fazer mais do que ficar brincando por aí, eu poderia falar com o papai.

— Por favor, não faça isso — pediu ela rapidamente. — Eu não posso fazer isso. Estou feliz conduzindo os estudos bíblicos e coordenando os eventos da cidade.

— Mas você merece mais que isso — argumentei. — Antes de o papai descobrir que eu queria ser professora, ele conversou comigo sobre assumir a igreja depois dele. Os deuses sabem que isso é uma coisa que eu jamais vou querer na vida, mas você seria ótima nisso! Tipo, se você...

— Dany, deixe isso para lá, está bem? — pediu ela, claramente constrangida diante da ideia. Vi como Margaery se encolheu, então acatei o pedido. — Você está animada para o Festival do Pêssego? — perguntou ela.

Todos os anos, a cidade organizava um grande festival para comemorar os pêssegos mais doces de toda Westeros. Era um evento enorme, com desfiles de carros alegóricos e show de fogos de artifício, que acontecia todos os anos, mas aquele era o primeiro ano que Margaery era a organizadora oficial.

— Estou, sim. Se precisar de qualquer coisa, é só dizer.

Ela mordeu o lábio inferior.

— Você está falando sério? Qualquer coisa?

Levantei uma das sobrancelhas.

— Aonde você quer chegar com essa pergunta?

— Bem, no dia do evento, a mamãe precisa de ajuda com os bolos...

Eu gemi. Não era segredo para ninguém que minha mãe e eu não estávamos de boa. Mas eu sabia o quanto significava para Margaery dar tudo certo com o festival, então eu ia me esforçar para aturar a chatice da nossa mãe por ela.

— Eu posso fazer isso por você.

Ela deu um gritinho.

— Obrigada, obrigada mesmo! Você não faz ideia de quanto estresse você acabou de tirar dos meus ombros.

— Sempre e para sempre — respondi. — Só voltei em casa rapidinho para trocar de roupa e sair.

— Ah, e para onde você está indo? — perguntou ela, arqueando uma das sobrancelhas.

Senti o rosto esquentar pelo jeito como ela fez a pergunta. Como se já soubesse para onde eu ia.

— Tenho ouvido muitas fofocas sobre você e Jon Stark — disse ela. — A mamãe está fora de si com isso.

— E quando é que nossa mãe não está fora de si por causa de alguma coisa? — brinquei, sentindo um aperto no estômago.

Eu estaria mentindo se dissesse que não me importava de meu relacionamento com minha mãe estar tão ruim ultimamente. A vida toda, eu sempre tinha me esforçado para deixá-la orgulhosa de mim, e agora parecia que tudo que eu fazia era decepcioná-la.

Margaery franziu a testa.

— Eu só quero ter certeza de que você está bem. Sei que o que aconteceu com Daario e Arianne foi demais para você, e eu nem consigo imaginar o que está passando pela sua cabeça, sabe? Eu só não quero que você sofra ainda mais por estar andando com pessoas como Jon Stark. Ele é uma pessoa horrível.

— Ele é melhor do que Daario — declarei com a voz trêmula.

— Só porque ele é melhor, não significa que ele seja bom.

— Mar...

— Não quero dar uma de mãe para cima de você, Dany. Os Deuses sabem que essa é a última coisa de que você precisa agora, mas só quero que você tenha cuidado. Sei que seu coração está partido, e não quero que ninguém a magoe ainda mais.

— Você se preocupa muito, maninha — brinquei.

— Não é excesso de preocupação, é a quantidade certa de preocupação. Eu amo você. Isso é tudo.

— Também amo você. Sempre e para sempre.

Se minha mãe tivesse tido a mesma abordagem que Margaery com suas preocupações comigo, as coisas teriam sido diferentes. Enquanto ela foi dura, minha irmã foi gentil. As duas queriam o melhor para mim, mas minha mãe tinha dificuldade de expressar isso de um jeito gentil. Talvez ela e Jon tivessem mais em comum do que pensavam. Eles tinham dificuldades para se expressar. Eu entendia bem por que todo mundo se preocupava sobre Jon fazer parte da minha vida agora. Eles ainda olhavam para ele e viam a imagem distorcida que as pessoas da pequena cidade de Winterfell tinham criado. Eu, por outro lado, estava olhando para ele com atenção.

Quando cheguei à casa de Jon um pouco mais tarde, fiquei um pouco insegura. Mandei uma mensagem de texto para ele e esperei algum tempo, antes de desistir e voltar para casa. Além disso, sempre que a gente marcava, ele já estava lá, esperando por mim. Eu me esforcei para não dar muita importância àquilo. Jon tinha a vida dele, e eu, a minha. Era só legal quando a gente ficava junto.

Passaram-se alguns dias e Jon ainda não tinha dado notícias. Eu sabia que não tínhamos aquele tipo de relacionamento no qual eu tinha o direito de me preocupar, mas estava preocupada. Era difícil não me preocupar, considerando que havia muitas nuvens tempestuosas na mente dele. Eu deixava livros no canto dele na livraria, mas, sempre que voltava, os recados escritos em Post-it permaneciam intocados, o que me fez ficar ainda mais nervosa.

Depois de cinco dias sem notícias, eu me vesti e fui até a casa de Jon para ver o que estava acontecendo. Quando ele não atendeu, fui até a oficina, mas ele também não estava lá. Então, contornei a loja e o vi segurando a marreta, destruindo um outro carro. A camiseta branca estava enfiada na lateral da calça jeans, enquanto ele golpeava os vidros do automóvel. Seus braços estavam musculosos e bronzeados como se ele tivesse passado os últimos dias pegando sol. Pigarreei algo e observei enquanto o corpo dele reagia ao som. Ele sabia que eu estava ali, mas não olhou para mim. Depois de abrir e fechar a boca algumas vezes, finalmente reuni coragem de fazer uma pergunta:

— Está tudo bem? Não tenho visto mais você na livraria e, quando eu liguei, você não atendeu nem retornou a ligação.

Ele ergueu a marreta e golpeou o capô do carro.

— Estou ocupado.

Ele ainda não tinha olhado para mim.

— Ah, tudo bem... Eu só queria saber se você estava bem.

Ele não respondeu.

Eu gostaria de ter a capacidade de entrar na cabeça de Jon para ver o que ele estava pensando. Eu sabia que as questões dele eram muito mais profundas do que ele demonstrava. Eu deveria tê-lo deixado em paz e permitido que ficasse sozinho, mas algo em meu coração me disse para não ir embora. Algo em meu coração me fez ficar.

— Jon, o que houve?

— Nada.

— Jon, vamos lá. Você pode conversar com...

— Porra, será que a gente pode não fazer isso? — gritou ele, soltando a marreta. — Será que você pode ir embora? — ele se irritou, provocando um frio na minha espinha. Ele estava agindo como o monstro que eu conheci logo que cheguei à cidade, e eu não fazia ideia do motivo.

Uma lágrima escorreu do meu olho. A frieza dele doía muito mais do que imaginei que doeria. Da última vez que nos vimos pareceu que estávamos avançando, como se ele finalmente estivesse derrubando o muro que tinha construído em volta de si durante todos aqueles anos. Além disso, ultimamente, parecia que ele era a minha única fonte de conforto, e eu estava convencida de que todo mundo na cidade estava errado sobre Jon. Agora, porém, ele estava agindo exatamente como as pessoas da cidade o viam. — como uma fera raivosa.

Funguei e enxuguei o rosto, assentindo.

— Sinto muito.

Eu me virei para ir embora e o ouvi resmungar “Merda”, antes de chamar meu nome. Quando me virei, ele estava diante de mim, o suor escorrendo por cada pedacinho do seu corpo como se os raios de sol estivessem brilhando apenas sobre ele. Cada parte do seu corpo estava encharcada. Ele estava completamente molhado. Senti o rosto queimar e meu estômago deu algumas cambalhotas.

— Estou de péssimo humor — explicou ele, enxugando a testa com as costas da mão. Fingi que o nervosismo crescente não existia e concordei com a cabeça. Ele cruzou os braços e continuou falando: — E meus pensamentos estão bem fodidos no momento.

Ele esfregou os olhos e depois levou as mãos à boca, onde ficou dando batidas enquanto falava:

— Tipo, fodidos de verdade, mas em vez de tentar decifrar meus pensamentos ou tentar encontrar alguma merda para me fazer esquecer, decidi continuar de péssimo humor e destruir esse carro aqui. Eu sei qual é a sua intenção e agradeço pela mão que está estendendo, mas se eu falar agora, provavelmente vou ser um babaca, e não quero ser um babaca com você porque você é legal. Você é uma boa pessoa, mas vou perder a cabeça se você continuar me pressionando, e eu sei ser um tremendo de um babaca, Dany. E, então, você vai me odiar, e eu me sinto mal com isso. Então... Só preciso ficar sozinho para me sentir um merda por um tempo.

Eu assenti de novo. Marretar um carro era a válvula de escape para a sua raiva, para o seu sofrimento. Eu era o cinto de segurança que impedia que ele se enfiasse em um buraco, e eu o tinha interrompido. No caminho de volta para casa, eu me senti uma idiota por ter cruzado aquele limite com Jon. Como eu podia ser tão ingênua a ponto de achar que ele ia me deixar me aproximar tanto assim?

 

~*~

 

 

Passaram-se alguns dias desde que Jon tinha me pedido para deixá-lo em paz, e eu não tinha tido mais notícias até que ele foi ao meu canto na livraria no fim da tarde de quarta-feira.

— Oi — sussurrou ele, empertigado e com as mãos enfiadas nos bolsos do jeans preto.

— Oi — respondi baixinho.

— Eu queria pedir desculpas... — começou Jon, mas eu o interrompi.

— Não, sou eu que tenho que pedir desculpas. Você deixou claro que precisava de um tempo, e eu não ouvi, e sinto muito por isso. Você me pediu isso e eu não atendi.

Uma pessoa fez psiu para mim, mas quando viu o olhar intenso de Jon, disse um “Deixa pra lá”, levantou-se e foi embora. Eu nunca tinha visto um olhar tão poderoso.

Ele passou a mão pela nuca e suspirou.

— Eu não sei lidar com pessoas querendo saber se estou bem. Eu reagi mal e só queria pedir desculpas pelo jeito como eu a tratei. Você merece mais.

— Está tudo bem. De verdade. Mas você está bem?

— Não — respondeu ele. — Mas isso é normal.

Eu gostaria que ele compreendesse que não havia nada de normal em não estar bem.

— Você pode conversar comigo, sabe? Sei que é contra as regras e tudo mais, Jon, mas você pode confiar em mim.

Olhei seu pomo de adão se mexer enquanto ele engolia em seco. Seu corpo começou a tremer. Ele abriu a boca para falar, mas seus olhos ficaram marejados antes que qualquer palavra saísse de sua boca. Ele se esforçou muito para controlar as lágrimas, mas, pelo jeito que seu corpo estremecia, ele estava prestes a perder aquela batalha.

Eu me levantei e me aproximei dele.

— O que foi? O que aconteceu?

Jon pigarreou, e seu lábio inferior tremeu.

— Ghost se foi.

— O quê? — arfei, pousando uma das mãos em seu braço. — Como assim, se foi? O que aconteceu?

— Ele... Hum... Ele morreu cinco dias atrás. Eu acordei, e ele nem conseguia andar. Eu o levei ao veterinário e ele me disse que era falência de órgãos. Disseram que não teria chegado ao fim da semana, então tive que tomar a decisão de sacrificá-lo.

— Minha nossa, Jon... — Eu me aproximei mais e vi o corpo dele ficar tenso. — Sinto muito.

— Está tudo bem.

— Não está, não.

— Eu sei, mas...

— Jon, essa não é a parte em que você discute comigo.

— Que parte é, então? — perguntou ele.

— Essa é a parte que você me deixa te abraçar.

Ele abriu a boca para falar, mas se rendeu, curvando os ombros. Ele assentiu de leve e, em questão de segundos, eu o envolvi em um abraço apertado. Eu o abracei enquanto sentia seu corpo tenso começar a relaxar contra o meu. Quando ele pediu que eu o soltasse, abracei com mais força porque sabia que ele precisava que eu ficasse bem perto naquele momento. Depois de um tempo, ele se afastou e esfregou os olhos, sacudindo a cabeça.

— Você quer fazer uma coisa comigo?

— Qualquer coisa — respondi. — Seja o que for que você precisar, estou aqui.

Fomos até um bosque que ficava dentro da propriedade de Jon. Ele estava com uma caixa nas mãos e, depois de seguirmos por entre as árvores, chegamos a uma clareira. Havia um terreno aberto e o sol se pondo tocava cada canto do espaço. No meio do campo havia um cavalete com uma tela. Havia tintas em volta e uma pequena cruz feita com pincéis.

— Foi aqui que enterramos as cinzas da minha mãe — revelou ele. — Era aqui que nós íamos construir o estúdio de arte para ela. Achei que seria bom enterrar as cinzas de Ghost ao lado das dela.

— Que ideia linda, Jon.

Ele colocou a caixa no chão e pegou o dragão de pelúcia de Ghost e as vasilhas de comida e água. Depois, pegou a urna com as cinzas e arrumou tudo. Ele pigarreou enquanto se empertigava e seu rosto se contraía. Peguei a mão dele e a apertei de leve.

— Ele salvou a minha vida — disse Jon com um olhar melancólico. — Alguns anos atrás, quando tive uma overdose, Ghost me encontrou e levou Grey até a oficina para me ajudar. — Ele engoliu em seco, e sua voz falhou. — Só estou vivo hoje por causa dele.

Meu coração não parava de se partir diante daquele sofrimento de Jon. Segurei a mão dele por mais um tempo, mas não disse nada. Não havia o que dizer ao se ouvir uma história como aquela. Eu só agradecia por Jon ainda estar vivo e bem.

— Não sei como me despedir — declarou ele suavemente, olhando para as vasilhas vazias.

— Então não se despeça. Só diga boa noite e até amanhã.

Jon fechou os olhos e respirou fundo antes de colocar Ghost no seu lugar de descanso e se ajoelhar. Dei um passo atrás, querendo lhe dar todo o espaço de que precisava. Mas não me afastei muito porque queria que ele sentisse a minha presença. Queria que soubesse que não estava sozinho, mesmo que tivesse um pouco de espaço.

— Ei, garoto — começou ele com voz suave. — Eu não sei como fazer isso. Não sei como deixar você partir. — Ele fungou, enxugando o nariz com a mão. — Você foi um bom garoto e a definição de amor incondicional. Quando todo mundo me abandonou, você ficou ao meu lado. Você me amou até nos dias em que eu não merecia ser amado. Você ficou do meu lado nos dias bons e nos dias ruins. Você aturou as minhas alterações de humor e me amou independentemente de qualquer coisa. — Ele fungou, abaixou-se e tocou a grama. — Você estava comigo quando eu não tinha nada. Você foi o melhor amigo que eu já tive, e eu não vou mentir, estou sofrendo muito. Estou sofrendo mais do que achei que sofreria, mas você não ia querer me ver descontrolado, então não vou fazer isso. Não acredito no paraíso, mas hoje vou acreditar por você. Espero que esteja correndo pelo maior parque cheio de ossos e brinquedos de cachorro. Você foi o melhor cachorro que eu poderia querer, e eu nunca serei capaz de agradecer o suficiente. Eu amo você, Ghost. E sempre vou amar. Sempre e para sempre. Boa noite. Até amanhã.”

Chamou minha atenção quando ouvi a expressão “Sempre e para sempre” sair da boca de Jon. Ele nem sabia o que tinha dito, mas a declaração usada pela minha família tinha acabado de sair da sua boca. Senti a pele do meu braço se arrepiar. Quando ele se levantou, enxugou as lágrimas do rosto e se virou para mim com o olhar mais triste que eu já tinha visto na vida. Sem dizer nada, eu o abracei.

Ele apoiou a testa contra a minha e respirou fundo.

— Daenerys Targaryen?

— Hã?

Ele roçou os lábios nos meus e fechou os olhos.

— Estou muito feliz por você existir.

 

 

 

Jon

Dez anos de idade

 

— Sério? — Eu estava radiante olhando para os meus pais. — Eu posso escolher um mesmo? — Minha bochecha estava até doendo porque eu não conseguia parar de sorrir. Estávamos em um pet shop olhando para as vitrines com diferentes tipos de filhotes.

— Pode. Suas notas estão boas. Além disso, achamos que você já tem idade para ter um pouco de responsabilidade. Então — meu pai fez um gesto em direção aos cachorrinhos. — Vamos escolher seu novo amigo.

Senti vontade de chorar porque era aquilo que eu queria. Eu sempre quis um amigo, e agora teria um. Meus pais andaram pela loja comigo, apontando para os cachorros de que gostavam. Não concordavam com nada e, então, diziam alguma coisa cruel um para o outro. Mesmo que se esforçassem para esconder, brigavam até quando respiravam. Eu não entendia por que andavam tão irritados um com o outro ultimamente. O que precisavam fazer era dizer “Eu te amo” e resolver tudo. Mas não deixei a briga deles me afetar naquela tarde. Eu tinha a missão de encontrar o cão certo para ser meu parceiro. Desse modo, quando meus pais estivessem brigando, teria alguém para me fazer companhia.

— E este aqui? — perguntei, indicando com a cabeça um filhotinho preto que começou a abanar o rabo muito rápido quando olhou para mim. Parecia que ele também estava animado para encontrar um novo amigo. O funcionário da loja o trouxe para nós e nos acompanhou até uma sala para interagirmos com o filhote e ver se ele se dava bem comigo. No instante em que ele colocou o cachorrinho no chão, ele saltou na minha direção e pulou no meu colo. Começou a lamber meu rosto e me abraçar enquanto eu o abraçava também.

Minha mãe sorriu.

— Acho que encontramos um carinha perfeito para você.

Eu ri, enquanto ele continuava lambendo meu rosto.

— Agora precisamos escolher um nome para ele — comentou meu pai.

Sempre que eu tentava afastá-lo um pouco de mim, ele dava um jeito de afundar mais no meu colo.

— O que vocês acham de Ghost? Ele é tão branco

— Ghost, então — assentiu minha mãe, sorrindo. — Adorei a escolha.

— Eu também — concordou meu pai.

Eles concordaram.

Então, realmente tinha sido a escolha certa.

— Oi, Ghost— sussurrei, abraçando-o. Parecia que ele estava retribuindo o abraço e aquilo foi do que mais gostei. Eu nunca ia deixá-lo ir embora. — Eu vou amar você para sempre.


Notas Finais


Acho que caiu um cisco no meu olho aqui!!!!!
Comentem. Espero no prox capitulo.


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