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História Home - Aqueles Prestes a Se Apaixonarem


Escrita por: SGAutora

Notas do Autor


Oieee Voltei tão rapidinhoooo. O prox talvez eu demore um pouquinho mias, mas eu queria liberar logo esse capitulo pq eu estou ansiosa por ele e pela reação de vocês então espero muitos comentários sobre. Porque é nessa parte do filme que o titanic começa a afundar então preparem se para o que vem aí e depois me contem tudo.

Capítulo 14 - Aqueles Prestes a Se Apaixonarem


The birds have left their trees, the light pours onto me
I can feel you lying there all on your own
We got here the hard way, all those words that we exchange
Is it any wonder things get broke?

Cause in my heart and in my head
I'll never take back the things I said
So high above, I feel it coming down
She said in my heart and in my head
Tell me why this has to end
Oh no, oh no

I can't save us, my Atlantis, we fall
We built this town on shaky ground
I can't save us, my Atlantis, oh no
We built it up to put it down

 

 

 

 

 

 

 

— Você está bem? — perguntei quando Daenerys apareceu na minha casa. Ela não tinha dito muita coisa, mas eu conseguia ver em seus olhos que ela queria usar o sexo para esquecer a noite.

— Não — respondeu ela, enquanto desabotoava a blusa. Seus olhos estavam cheios de emoção enquanto eu colocava a mão sobre a dela, fazendo-a parar.

— O que foi?

— Nada, na verdade. Será que a gente pode... — As palavras morreram nos seus lábios enquanto ela se esforçava para impedir as lágrimas, mas Dany não conseguia esconder as emoções muito bem. Suas emoções subiam à tona enquanto as minhas mergulhavam cada vez mais fundo.

Ela fechou os olhos e respirou fundo. Seus pensamentos deviam estar passando rapidamente por sua mente, porque ela entreabriu os lábios, mas não disse nada. Coloquei a mão em suas costas e a puxei para um abraço.

— A gente não precisa conversar — falei. — E a gente também não precisa transar. Eu posso apenas abraçar você.

Ela negou com a cabeça, enquanto seu corpo estremecia.

— Isso é contra o nosso trato.

— Acho que a gente já está há anos luz daquele trato, princesa.

Ela respirou fundo antes de falar.

— Tudo está muito confuso. Meu pai acha que estou cometendo um enorme erro por ficar tão próxima de você. Ele não disse exatamente com essas palavras, mas sei que ele está decepcionado com o jeito como estou lidando com tudo, e minha mãe... — murmurou ela com a voz falhando. — Ela é tão dura comigo.

— Não leve para o lado pessoal. Ela é dura com todo mundo porque a vida a tornou assim.

— Como aconteceu com você? — perguntou ela.

— Exatamente como aconteceu comigo — respondi.

Mesmo que eu não suportasse Elia Targaryen, percebi como tínhamos alguns traços em comum. Ela fungou e apoiou a cabeça no meu peito.

— A cada dia que passa, fica mais difícil respirar. Eu fico bem quando estou com você, mas quando vou embora, as coisas voltam a ser difíceis. É como se eu estivesse usando um curativo temporário para a minha dor.

— Pode me usar à vontade — respondi. — Da maneira como você quiser.

Senti o coração palpitar.

Meu coração andava palpitando demais quando eu estava com ela, e eu não sabia bem o que aquilo significava. Eu simplesmente permitia que isso acontecesse, sem querer analisar muito aquilo tudo.

— Eu estou despedaçada — confessou ela.

— É, eu sei. — Peguei sua mão e beijei a palma. — Eu também.

Ela colocou as mãos no meu peito e sentiu as batidas do meu coração.

— Você pode me consertar um pouco?

— Posso fazer isso a noite toda e continuar amanhã.

 

 

Dany

 

 

Ele não me consertou com o corpo, mas com as palavras. Ficamos acordados a noite toda conversando sobre tudo e sobre nada em nossas vidas, o que me ajudou a respirar. Saber mais fatos sobre Jon fazia a minha vida parecer menos solitária.

— Quando você soube que queria trabalhar com carros? — perguntei.

Ele fez uma careta e deu de ombros.

— Não era o que eu queria. Eu queria fazer Belas Artes. Puxei mais o lado da minha mãe do que o do meu pai, mas, depois de tudo que aconteceu, achei que deveria ajudar na oficina.

— Você nunca quis ser mecânico?

— Nunca.

Fiquei triste por ele. Jon nem conseguiu encontrar tempo para correr atrás dos próprios sonhos depois de passar tanto tempo cuidando do pai.

— Você pode voltar a estudar.

Ele deu de ombros.

— Estou bem aqui.

— Mas você está feliz aqui?

— A felicidade nunca pareceu ser uma opção para uma pessoa como eu.

— Você merece muito ser feliz.

— Menos do que você. — Ele deu um sorriso. — Você merece toda a felicidade do mundo.

Nós vivíamos em um universo estranho, ele e eu. Um universo no qual não éramos exatamente livres para expressar como realmente nos sentíamos em relação ao outro, mas, na minha mente eu não parava de repetir:

Eu adoro você. Eu adoro você. Eu adoro você...

Ele passou os dedos pelo meu punho e puxou meu braço para me beijar ali.

— Machuquei você da última vez que a segurei pelo punho.

— Existem maneiras bem piores de se machucar. — Dei uma risada. Ele franziu um pouco a testa, olhando para a marca no meu punho. — Está tudo bem, Jon. Eu estou bem.

— Eu não quero machucar você.

— Ultimamente você é a única coisa que não me machuca. — Eu me aproximei e dei um beijo leve em sua boca.

Ele fechou os olhos por um segundo e quando os abriu de novo, senti um frio na espinha.

— Quando você tem que voltar para Westeros para dar aula?

A gente nunca conversava sobre a minha partida. Nos últimos meses, a gente só caía um nos braços do outro e não trocava muitas palavras, a não ser por gemidos. Quando conversávamos, era sempre sobre o nosso passado, nunca sobre o futuro.

— Em umas três semanas — respondi.

Ele baixou o olhar, com expressão de decepção.

— Ah, está bem.

— O que foi? — perguntei.

— É só que... Vou sentir saudade. Só isso.

Senti o coração palpitar.

— Jon Stark sente saudade das pessoas? — brinquei, tentando controlar o sentimento que tomava o meu peito.

— Não das pessoas... Só de você.

Eu adoro você. Eu adoro você. Eu adoro você...

Eu o abracei e comecei a acariciar sua pele, enquanto ele me envolvia em seus braços. Pousei o olhar em sua boca. Aquela mesma boca que já tinha passeado por todo o meu corpo, mas o que me tocava mais eram as palavras que saíam por entre aqueles lábios.

— Eu também vou sentir saudade — declarei suavemente. — Sem você, eu teria me afogado neste verão.

Ele me beijou, e alguma coisa mudou naquela noite. Os beijos dele foram diferentes, mais reais do que a história fictícia que vínhamos contando um para o outro todos os dias durante todas aquelas semanas. Ele não disse as palavras, nem eu, mas nossos beijos pareciam implorar por um pouco mais de tempo, alguns toques a mais e mais palpitações no peito. Fiquei até mais tarde naquela noite enquanto nosso toque imitava algo que poderia ter sido confundido com amor. Quando o sol nasceu, eu me vesti para voltar para casa.

— Eu vou levar você — disse ele.

Sorri e bocejei.

— Você sabe que eu não vou aceitar.

— Então, mande uma mensagem de texto para avisar que chegou.

— Posso fazer isso.

— Tudo bem. — Ele sorriu e se apoiou no batente da porta.

— Tudo bem — respondi.

— Daenerys Targaryen?

— O quê?

Ele pigarreou e enfiou as mãos nos bolsos.

— O que você acha de a gente sair um dia desses? Tipo em um encontro de verdade?

Senti um frio na barriga.

— Eu não sabia que Jon Stark convidava pessoas para encontros.

— Não pessoas... Só você.

Mais um pouco de frio na barriga.

— Na verdade, eu ia convidar você para ir a um lugar comigo.

— Onde? — perguntou ele.

— Todos os anos, desde que me entendo por gente, meus pais dão uma festa a rigor no salão de baile da prefeitura para arrecadação de fundos para a caridade. É um acontecimento aqui na cidade, e todo mundo se veste como se fosse à entrega do Oscar ou coisa assim. Tem um jantar e um baile e literalmente todo mundo da cidade vai estar lá.

— O Baile dos Targaryen. Já ouvi falar.

— Você vem comigo? — pedi. Ele fez uma careta e senti meu coração se partir. Enrubesci de vergonha. — Se não quiser, não precisa ir. Juro, eu só achei que...

— Eu quero ir — disse ele, tentando me tranquilizar. — Minha única preocupação é que as pessoas dificultem as coisas para você se aparecer lá comigo. Não quero estressar você ainda mais e causar mais problemas na sua vida. As pessoas vão comentar.

— Que comentem — respondi, colocando a mão no peito dele. — A gente simplesmente não vai ouvir.

Ele sorriu. O tipo de sorriso que fazia meu coração saltar no peito. Ele se inclinou e encostou a testa na minha. Seus lábios roçaram os meus, e eu sabia que estava acabada.

— Então... — sussurrou ele. — Temos um encontro?

— Sim. — Senti um frio na espinha. — Temos um encontro. Boa noite, Jon.

Ele me deu um beijo suave na boca, e senti com todas as fibras do meu ser quando suas mãos pegaram minha nuca. Ele massageou a pele com suavidade e falou com voz rouca:

— Bom dia, Dany.

 

 

 

Jon

 

 

 

— Vai fechar mais cedo hoje? — perguntou Grey, um pouco surpreso. — Você nunca fecha a oficina mais cedo.

— Eu sei, mas tenho planos esta noite.

Ele arqueou uma das sobrancelhas.

— Planos? Com uma mulher chamada Dany?

— Não faça isso — pedi.

— Fazer o quê?

— Sorrir.

— Eu sempre faço isso.

— Eu sei, mas é irritante — brinquei.

— Então, vocês dois estão... Namorando?

— O quê? Não. Nós somos só.... Amigos.

— Amizade colorida.

— Algo do tipo.

— Mas é mais que isso — comentou ele. — Tão mais que isso.

— Grey, vou precisar que você cale a boca agora.

— Tudo bem, mas só estou falando que não tem problema você gostar de alguém. Eu sei que você acha que tem, mas não tem. Faz parte da natureza humana.

Franzi a testa e encolhi um dos ombros, enquanto guardava as ferramentas.

— Eu não posso gostar dela, Grey. E, mesmo que eu gostasse, ela vai embora da cidade em algumas semanas.

— E daí? Vá com ela.

Revirei os olhos.

— Até parece.

— Cara, estou falando sério. Saia desse inferno e vá viver sua vida. Mesmo que não seja com Daenerys, você pode ir embora deste lugar.

Eu bufei.

— Não é como se eu pudesse deixar o meu pai. O único motivo de eu ter conseguido ir para a reabilitação foi porque você entrou em cena, e eu jamais vou pedir para você fazer isso de novo.

— Cara, seu pai não é responsabilidade sua.

— Eu não vou deixá-lo aqui para morrer. Eu sou tudo o que ele tem.

— Tudo bem, vou parar de falar sobre isso, porque dá para perceber que você está ficando chateado. Só quero que você saiba que o mundo vai continuar a girar mesmo se você for viver a sua vida. Meu ponto aqui é que você tem permissão para ser feliz, talvez mais do que a maioria das pessoas, e acho que a Dany faz você feliz e que você a faz feliz também.

Engoli em seco.

— Você acha?

— Ela estava pronta para puxar o cabelo de uma mulher que estava falando mal de você. Ela é tão protetora em relação a você quanto você é em relação a ela. Eu nunca vi uma coisa que fizesse menos sentido fazer tanto sentido até olhar para vocês dois juntos.

— Ela é tão... Boa.

Ele riu, aproximou-se de mim e me deu uns tapinhas no ombro.

— Você também é. Agora vou dar o fora daqui. Divirta-se essa noite, está bem?

— Valeu. Boa noite.

Ele saiu da oficina e eu continuei arrumando tudo antes de voltar para casa e tomar banho. Eu tinha alugado um terno para o evento porque não tinha nada no meu armário que fosse bom o suficiente para o Baile dos Targaryen. Eu queria ficar bonito para Dany. Não queria decepcioná-la. O fato de ela me levar àquele evento, de permitir que eu a abraçasse, era mais do que um pequeno gesto. Ela estava fazendo uma declaração para a cidade inteira de que era livre para viver a vida do jeito que ela quisesse.

Eu amava isso e amava o fato de ser eu a entrar de mãos dadas com ela. Dany apareceu na minha casa às sete e meia da noite e, quando abri a porta, dei alguns passos para trás.

Ela estava deslumbrante.

Desde os cachos castanhos até o vestido justo prateado, ela parecia uma deusa.

— Uau — ofeguei. Ela começou a ficar vermelha e eu amei.

— Uau — repetiu ela, olhando-me de cima a baixo. Ela estendeu a mão para mim. — Vamos?

Peguei a mão dela, e caminhamos pelas ruas de Winterfell. As pessoas nos viram e não nos importamos. As pessoas nos julgaram, mas não ouvimos. Quando chegamos ao salão da prefeitura, todo mundo se virou para nos olhar. Senti os olhares como um soco no estômago e fiquei imaginando o que estariam pensando. Que eu não era bom o suficiente para estar de mãos dadas com um dos membros da realeza de Winterfell. Como eu era simplesmente um aproveitador. Quando estava prestes a pedir a Dany para irmos embora, ela apertou minha mão, me tranquilizando.

— Momentos poderosos — sussurrou ela, puxando-me para si. Ela então aproximou os lábios dos meus e me beijou na frente de todo mundo. Eu retribuí, porque como seria possível não retribuir? Tudo que eu queria era sentir os lábios dela nos meus.

— Momentos poderosos — respondi, enquanto nos afastávamos devagar.

De algum modo, naquele exato instante, a opinião de todos ficou oficialmente nula porque Daenerys tinha me escolhido. Na frente do mundo, ela pegou a minha mão.

 

Dany

 

 

As pessoas logo me cercaram e começaram a fazer perguntas sobre mim e Jon, e ele se afastou para pegar bebidas. Aquilo era um pouco sufocante, mas tentei lidar com tudo da melhor maneira possível porque ele valia o risco de eu ser julgada por todo mundo. E cara, como eles julgavam.

— É um pouco cedo demais para começar a namorar, você não acha?

— Você deveria ficar sozinha por um tempo.

— Acho que você e Daario vão voltar a se acertar.

— Daario obviamente ainda gosta de você.

Tantas opiniões. Tantas almas intrometidas. Eu só sorria para todos e me esforçava para não me deixar afetar.

— Se me derem licença, eu preciso encontrar... Uma coisa — falei, com um sorriso forçado.

No segundo em que me afastei de todo mundo, encontrei Brienne. Ela era uma alma calma que ficava na dela. Ela olhou para mim e fez um gesto com a cabeça.

— Oi, Dany.

— Oi, Brienne.

— Acho que vocês dois formam um lindo casal.

— Obrigada. — Dei um sorriso, ainda sentindo um nó no estômago. Estava esperando o próximo comentário, como o de todo mundo.

Em vez disso, ela disse simplesmente:

— Vocês merecem ser felizes.

Ela me abraçou, e o abraço pareceu tão sincero. Eu há segurei um pouco mais do que deveria. Talvez nem todo mundo na cidade tivesse tendências para fofoca. Talvez algumas pessoas realmente desejassem o meu bem.

— Daenerys Targaryen — chamou minha mãe, caminhando na minha direção. Ela pareceu surpresa ao me ver enquanto alisava o vestido.

— Oi, mãe.

— O que você está fazendo aqui?

— Eu nunca faltei a nenhum dos bailes. E não pretendo começar agora.

— Você está aqui só para causar uma cena? Para fazer algum tipo de escândalo?

— O quê?

— Eu a vi chegar com aquele rapaz. Só não quero nenhum drama. Você o trouxe aqui para se vingar de mim depois da nossa última conversa? Por causa do que eu disse?

— Ah, mãe. — Eu sorri e me aproximei mais dela. — Nem tudo tem a ver com você.

Eu me afastei e encontrei Missi, que estava com um sorriso aberto, enquanto olhava para mim.

— Ah, minha nossa! Será que eu acabei de testemunhar você dar um fora na sua mãe? — perguntou ela, tomando um gole de champanhe.

— Acho que foi exatamente isso.

— Vi que você trouxe uma certa pessoa como seu acompanhante esta noite, não que eu já não soubesse, Grey Warm já tinha me fofocado antes de sairmos de casa — comentou ela com um sorriso maroto.

— Eu trouxe.

— Que bom para você, Dany. — Ela ergueu a taça como se fosse brindar. — Muito bom para você.

A banda preparou os instrumentos e Missandei ergueu o olhar.

— Ah! A música vai começar. É melhor eu chegar até o meu noivo antes que alguma garota de Winterfell tente conseguir a primeira dança dele. A gente se vê mais tarde.

A primeira dança do Baile dos Targaryen é algo divertido de se ver. A tradição diz que quem quer que a convide para dançar, você tem que aceitar. Sem nenhum “se” e nenhum “mas”. Foi assim que consegui que Daario dançasse comigo tantos anos atrás. Foi assim que comecei a me apaixonar por ele naquela época.

Meus olhos passearam pelo salão, enquanto eu procurava Jon. Comecei a seguir até ele, que ainda estava perto do bar, se despedindo de Grey enquanto era arrastado pela minha amiga para a pista de dança, mas meu coração afundou no peito quando ouvi as palavras:

— Daenerys Targaryen, quer dançar comigo?

— Não — respondi, virando-me para ir embora, mas ele continuou falando.

— Mas é a tradição. Você não pode negar.

Soltei um gemido.

— Ele está certo, sabe? — interveio uma senhora, passando por nós com um jovem que parecia desanimado. Estava claro que ele não a tinha chamado para dançar. — É a tradição.

Revirei os olhos e olhei para Daario.

— Uma dança. Nada mais.

— Isso é tudo que eu quero.

— Isso é tudo que você vai ter.

Seguimos para a pista de dança e ele tentou colocar a mão nas minhas costas, mas eu não permiti e ele teve que colocar as mãos nos meus ombros, como se estivéssemos em um baile do ensino médio.

— Obrigado por isso — disse ele, com hálito cheirando a uísque.

— Você está de porre — comentei, olhando naqueles olhos sem brilho.

— Eu tomei alguns drinques. Só estava tentando reunir coragem para vir falar com você, para convidá-la para dançar. Achei que isso despertaria lembranças em nós dois.

Não respondi.

— E, então? — insistiu ele. — Você se lembra?

— Daario, onde está a Arianne?

— Sei lá. Eu não me importo com ela. Só me importo com você!

— Desde quando? Desde que eu comecei a conversar com Jon?

Ele fez uma careta.

— Eu fico louco quando a vejo com ele, sabia? Fico louco da vida. — Seus olhos ficaram marejados. — Dany, está me matando vê-la com outro homem.

— Agora você sabe como eu me sentia.

— Você tem que me desculpar, Dany. Estou falando sério — disse ele, enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto. Eu não conseguia me lembrar da última vez que ele tinha chorado na minha frente. — Depois que perdemos o primeiro bebê, eu me perdi. Foi difícil para mim, e eu tinha que esconder a minha dor porque sabia que você estava sofrendo demais. Eu só precisava de espaço para pensar e clarear os pensamentos.

— Usando o corpo de outras mulheres? Por quanto tempo você acha que eu deveria esperar por você? Por quanto tempo você acha que eu deveria ficar sentada rezando para você voltar a me amar?

— Você não entende. Depois de tudo que aconteceu, eu não conseguia respirar.

— Eu gosto de ver como você usa os bebês que eu perdi como uma desculpa para a sua infidelidade quando você deveria ter agido de maneira completamente diferente. Eu... — Pisquei e respirei fundo. — Quando eu mais precisei de você, você não ficou ao meu lado. Quando eu precisava que você me amparasse, você simplesmente ficou olhando enquanto eu desmoronava, e quando estava prestes a atingir o chão, você me deu as costas e foi embora.

— Dany...

— Chega. Acabou.

— Você não é assim. Esse cara está entrando na sua cabeça. Você me ama — afirmou ele. — Você me ama e eu sei disso. Você não pode desistir da gente, Dany. Você não pode...

— Eu quero o divórcio — interrompi. Eu estava farta de ele me procurar e ir embora quando lhe desse na telha. Estava farta de ele tentar me dizer quem eu era e no que eu acreditava. — Eu não quero mais fazer isso. Não quero mais implorar para você me amar. Eu não quero ficar acordada a noite inteira, me perguntando se você está com outra mulher. Eu não quero que você me queira só porque acredita que outra pessoa me quer. Eu quero me libertar dessa prisão, Daario. Eu quero me separar de você.

— O quê? Não. — Ele ficou tenso, tentando me segurar, mas eu me afastei.

— Você é a única mulher que eu já amei.

Eu não sei por que, mas aquilo me magoou.

— Então, acho que você não sabe o que é amar.

Eu me virei para ir embora, mas Daario me segurou.

— Daenerys, por favor. — Ele me segurou com força, e seus olhos estavam suplicantes. Olhei naqueles olhos cristalinos por um momento. Aqueles mesmos olhos para os quais acreditei que eu olharia pelo resto da minha vida. Aqueles olhos que sempre acreditei que me trariam paz durante as tempestades mais sombrias.

— Daario... — sussurrei, vendo que Arianne tinha acabado de entrar no salão. Ela estava linda no seu vestido dourado, que mostrava suas curvas. Cada uma delas. — Quero que você me largue agora.

Ele soltou minha mão e olhou para Arianne.

— Merda — resmungou.

Eu me afastei depressa, tentando me acalmar. Quando estava prestes a escapar, Jon me viu. Ele abriu um meio sorriso, e eu correspondi.

— O que houve? — perguntou ele.

— Nada.

Jon estreitou os olhos.

— O que aconteceu?

Eu neguei com a cabeça.

— Sério, eu só preciso de um pouco de ar. Isso é tudo.

Ele se empertigou e pigarreou.

— O fato de eu estar aqui com você está fazendo você ficar mais estressada? Porque, se for isso, eu posso ir embora. Sei que esse evento é importante para você e para a sua família, e não quero prejudicar em nada...

Ah, Jon...

— Você estar aqui é a única coisa que está impedindo que eu me afogue.

— O que aconteceu? Alguém magoou você?

— Sim, não, bem... Eles só magoam o meu coração.

Ele se aproximou e colocou um cacho solto do meu cabelo atrás da minha orelha.

— Esse é o pior tipo de mágoa.

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, e eu nem me preocupei em enxugá-la. Jon franziu o cenho.

— O que eu posso fazer por você?

— Eu só preciso tomar um pouco de ar lá fora. Será que você pode... Me esperar? — pedi com um sussurro, colocando a minha mão no peito dele.

Quando olhei para os seus olhos, vi tanta suavidade. Olhei naqueles olhos castanhos por um instante. Aqueles mesmos olhos que me ajudaram a respirar... Aqueles mesmos olhos que me trouxeram paz durante minhas tempestades mais sombrias...

— Por favor, Jon — supliquei. — Espere por mim.

— Princesa... — Ele passou o polegar pelo meu rosto e enxugou as lágrimas que escorriam. Depois, inclinou a cabeça e me deu um sorriso. Era bem discreto. A maioria das pessoas nem notaria a expressão, mas eu estava olhando atentamente para Jon e notava cada movimento dos seus lábios. Senti uma onda de conforto, enquanto ele respondia suavemente. — Como eu poderia não esperar por você?

 

 

Jon

 

 

Dany se afastou por um minuto para tomar um pouco de ar, e fiquei esperando por ela. Eu estava parado ali, sentindo-me totalmente deslocado. O terno me pinicava. As pessoas eram grosseiras, e a comida era servida em porções mínimas. Eu estava oficialmente no inferno.

— Não é a sua turma usual, hein? — comentou uma mulher.

— Não mesmo.

Ela estendeu a mão para mim.

— Eu sou a Margaery, irmã de Dany.

É claro — elas tinham os mesmos olhos, mesmo que fossem de cores diferentes. Apertei a mão dela.

— Prazer em conhecê-la. Ouvi muitas coisas sobre você.

— Eu também ouvi muitas coisas sobre você. — Ela sorriu e se agitou um pouco.

Eu arqueei uma das sobrancelhas.

— Essa é a parte que você me manda ficar longe da Dany?

— Não. Por que você pensaria uma coisa dessas?

— É o que todo mundo tem me mandado fazer.

— Entendi. Não é por isso que estou aqui. Eu só quero pedir para você ser gentil com ela, está bem?

— O que você quer dizer?

— O coração dela... É frágil. Dany já passou por mais do que ela mesma percebe, e não sei se ela vai aguentar mais um golpe. Se você vai permitir que ela se apaixone por você, por favor, esteja pronto para ampará-la, pois não sei se ela vai conseguir se reerguer de mais uma decepção.

Ela amava a irmã e deixou isso bem claro com suas palavras. Margaery não estava gritando para eu ficar longe da irmã, só pedindo para eu ter cuidado com o coração e com a alma dela.

— Eu posso fazer isso — respondi.

— Promete?

— Prometo.

Ela sorriu esfregando o braço direito com a mão esquerda.

— Você gosta dela.

— Gosto.

— Ela gosta de você.

Espero que sim...

— Divirta-se hoje à noite, Jon, e, por favor, ignore todo mundo que está nesta festa, menos ela. Ela é tudo que importa nesta noite, está bem?

Margaery me agradeceu antes de se afastar para falar com outras pessoas. Eu consegui ver tanto da personalidade de Dany em sua irmã. Era bom saber que existiam pessoas boas no mundo, além de Daenerys. Eu queria ir atrás dela, pois já tinha saído havia um tempo, mas estava me esforçando para ser paciente. Ela precisava respirar, e eu estaria esperando quando ela voltasse para mim.

— Você deve estar muito orgulhoso de si mesmo, hein?

Eu me virei e vi Daario caminhando na minha direção. Ele parecia um pouco enlouquecido quando falou comigo. Ele estava bêbado. Eu já tinha visto aquele brilho nos olhos do meu pai o suficiente para saber.

— Não vamos brigar esta noite — avisei.

— Fique longe da minha mulher — ordenou ele, arrastando um pouco as palavras.

— Mulher? — bufei. — Acho que você está usando a palavra no sentindo amplo, não é?

— Não tente bancar o esperto — avisou ele, cambaleando na minha direção.

Eu suspirei. Essa é a última coisa de que preciso agora.

Respirei fundo e tentei controlar meu instinto natural de acabar com ele. Mesmo que ele fosse um babaca, ainda era o ex de Dany, e eu não queria fazer nenhuma bobagem que pudesse irritá-la.

— Olha só, cara, você está bêbado e não está pensando direito. É melhor você beber um pouco d’água.

— Ah, vá se foder — sibilou ele, dificultando ao máximo as coisas para mim. — Você está se achando o máximo por estar dormindo com a minha mulher, hein?—

Novamente, usando a palavra no sentido amplo.

— Ela foi minha por quinze anos.

— E você a deixou.

Ele fez uma careta e passou as mãos pelo rosto. Aproximou-se mais e empurrou o meu peito.

— Eu vou consegui-la de volta.

— Por favor, não encoste em mim — avisei, sentindo minha raiva crescer a cada segundo.

— E eu não quero que você encoste na minha mulher — argumentou ele, deixando-me cada vez mais irritado. Dany não pertencia mais àquele cara. Ele a tinha abandonado e ficou claro que ele só estava mudando de ideia porque estava se sentindo ameaçado.

— Tudo bem, vá em frente. Ela é toda sua. — Eu me virei e segui para a porta de entrada porque não queria causar uma cena. Eu não ia alimentar as fofocas porque era exatamente isso que ele queria. Queria que eu reagisse. Desejava soltar o monstro que eu queria manter preso dentro de mim e provar que eu não era bom para Daenerys.

Na frente da cidade inteira. Então me afastei.

Soltei um suspiro pesado enquanto ouvia Daario, bêbado, me seguir.

— Eu só quero deixar bem claro que se você chegar perto dela, eu vou acabar com você — berrou ele.

Aquilo me fez rir. Daario não era forte, e eu tinha certeza de que conseguiria derrubá-lo com um golpe.

— Tudo bem, cara. Agora pode me deixar em paz.

— Venha logo — provocou ele, correndo atrás de mim e me empurrando por trás. — Se você é tão valentão, brigue comigo.

Parei de andar.

Ele não vale a pena.

Ele me empurrou de novo.

Eu respirei fundo e puxei a pulseira no meu punho.

Ele não vale a pena.

Quanto mais cedo ele me deixasse sozinho, mais cedo Dany e eu ficaríamos juntos. Mesmo assim, estava cada vez mais claro que ele queria arrumar uma briga. Ele queria soltar a fera, e eu não queria sair.

— Você não vai revidar? — provocou Daario, irritado.

— Não. Eu não vou.

— Por quê? Porque você acha que Dany vai ficar decepcionada? Você acha que ela vai sentir nojo do monstro que você é? O que você acha que vai acontecer? Você acha que ela vai escolher você ou algo assim? — Olhei para ele e, por um segundo, senti meu coração disparar. Ele deve ter visto a expressão nos meus olhos, porque começou a rir. — Puta merda, você realmente acredita que ela vai escolher você?

Fiquei em silêncio.

Puxei a pulseira.

— Você não tem nada a oferecer para ela — gritou ele, cheio de ódio. — Você é a raspa do tacho, e ela nunca vai escolher você, sabia? Você pode ser um caso de verão para ela, mas nunca vai tê-la de verdade. Ela está sofrendo, mas não é burra. Você não é nada. Você não tem nada, você nunca vai ser nada. Depois de um tempo, ela vai voltar a ser ela mesma sem você, e você vai continuar não sendo nada.

— Isso mesmo, Daario. Você está certo. Parabéns.

Ele se aproximou de mim e me empurrou com força.

— Você não é nada além de lixo, e seria melhor se estivesse morto como a vaca da sua mãe.

Quando ele falou da minha mãe, eu perdi a cabeça. Quando dei por mim, estávamos rolando pela pista de dança. Eu o joguei no chão e ele me acertou um soco no olho. Quando tentei recuperar o equilíbrio, Daario pulou em cima de mim, me fazendo cair de costas direto na mesa na qual havia um bolo de cinco camadas. Caí no chão e o glacê voou para todos os lados. Continuamos trocando socos enquanto uma turma tentava nos separar. Ele continuava socando, então revidei, de novo e de novo.

A briga só foi apartada quando o xerife Robert apareceu e nos separou. Antes de eu conseguir me explicar, ele nos colocou atrás das grades.

Ótimo.

Esse era exatamente o oposto de como aquela noite deveria terminar.

 

 

Dany

 

— Xerife, ele não merece estar atrás das grades — gritei, entrando na delegacia.

No instante em que ouvi falar sobre a briga e a prisão de Jon, segui direto para lá. O xerife estava com o terno e a gravata que tinha usado na festa, sentado atrás da sua mesa.

— Pois é, e eu não mereço estar aqui preenchendo uma porção de formulários porque parece que seus dois homens não conseguem deixar de agir feito dois macacos em público.

— Eu sei, mas não foi culpa dele. Ele não fez nada de errado. E eu acho...

— Espere um pouco. De quem você está falando? — quis saber o xerife. — Qual dos dois você veio salvar?

— Jon — declarei como se fosse óbvio. — Estou aqui por ele.

— Boa escolha. Parece que foi o Daario que começou a briga, o que é um pouco chocante.

Aquilo não era nem um pouco chocante para mim.

— Posso ir até lá ver os dois com você?

Ele negou com a cabeça.

— Eu não sei Dany. A gente não deixa ninguém entrar.

— Xerife... Sou eu. A pequena Srta. Daenerys. Eu só quero falar com os dois, isso é tudo, eu juro.

Ele suspirou.

— Acho que não vai fazer mal a ninguém. Vamos lá. Mas você não pode contar para ninguém que eu deixei, está bem? Não quero que as pessoas achem que sou um molengão.

Concordei em manter aquilo em segredo e fomos até os fundos. Senti meu coração disparado. Quando olhei para Jon, ofeguei um pouco. Ele tinha cortes pelo rosto, e marcas roxas e azuladas. A gravata estava frouxa em volta do pescoço e ele parecia tão derrotado.

Meu Deus, Daario No que você estava pensando?

— Oi — murmurou ele.

— Oi — respondi.

— Parece que você ganhou um passe-livre da cadeia, cara, graças à sua mulher aqui. Agradeça a ela, pois eu ia deixá-lo passar a noite atrás das grades. — comentou o xerife enquanto procurava a chave para abrir a cela de Jon.

No instante em que ele abriu a porta, eu o abracei.

— Você está bem?

— Estou. Sinto muito.

— Sente muito? Por quê? Você não fez nada de errado.

— Eu sei. Mesmo assim, eu não deveria ter aceitado as provocações dele. — A voz dele estava tão baixa que era quase um sussurro. Percebi na hora que a mente dele estava um turbilhão e eu esperava que ele não se afastasse de mim.

Fique aqui comigo, Jon...

— Vou me encontrar com você lá na frente em um minuto, está bem? — falei, acariciando o braço dele. Ele assentiu e foi até a frente da delegacia. Fui até a cela de Daario. Ele olhou para mim e seu rosto estava tão ferido quanto o de Jon.

— Acho que você não está aqui para pagar a minha fiança, não é? — brincou ele.

Eu mal conseguia olhar para ele. Daario parecia um estranho para mim.

— Você ainda está de porre.

— Um pouco.

— Você não faz esse tipo de coisa, Daario.

— Bem, talvez você não seja a única que tenha mudado um pouco. — Ele se levantou e se aproximou de mim, segurando as grades. — O que é que você está fazendo, Dany? Saindo com um viciado?

Uau, ele estava jogando sujo.

— Ele está sóbrio — argumentei. — Há anos.

— Por ora. Tipo olhe o que ele fez com o meu rosto. Ele é perigoso.

— Você fez a mesma coisa com ele.

— Sim, mas... — Ele suspirou, virou de costas e, depois, olhou para mim. — Eu amo você.

— Pare de dizer isso.

— Não, eu não vou parar, porque eu amo. Nós temos uma história de anos juntos e não posso ficar sem fazer nada enquanto vejo você cair nos braços daquele babaca. Eu amo você demais para isso.

— Eu rezei tanto para você dizer essas palavras de novo para mim — sussurrei, balançando a cabeça. — Eu rezei para você me querer de volta, para você voltar para mim, mas não era o que você queria.

— É, sim. Estou dizendo para você aqui e agora que é você que eu quero. Eu sei que as coisas estão confusas, mas...

— Você só demonstrou interesse em mim depois que outro homem demonstrou Daario. Isso não é amor, isso é ciúme, e eu não quero participar desse jogo. Não quero participar de jogo nenhum. Só quero que você me deixe em paz.

— Eu não vou desistir — avisou ele. — Eu não vou desistir de nós. Não vou desistir disso.

— Não existe um nós, Daario.

— Por causa daquele merda?

— Não. — Neguei com a cabeça. — Por sua causa.

 

 

~*~

 

 

— Está tudo bem — resmungou Jon sentado no sofá enquanto eu pressionava um pano úmido em seu olho. — Não é a primeira vez que fico com o olho roxo por dormir com a mulher de outro homem.

— Eu não sou a mulher dele — declarei com voz séria, observando enquanto ele fazia careta por causa da pressão do pano. — E ele não é o meu homem.

— Se você não é a mulher dele, de quem você é?

— Eu não sou de ninguém — respondi sem ar, sentindo meu coração disparar. — Antes de eu ser de alguém, preciso saber ficar sozinha.

— Nossa — sussurrou Jon, balançando a cabeça e mordendo o lábio inferior. — Você não faz ideia como é bom ouvir o que você acabou de dizer.

Dei um sorriso para ele e voltei à atenção para o olho roxo.

— Você está conseguindo — sussurrou ele, segurando a minha mão, para eu parar de aplicar o pano em seu rosto.

— Conseguindo o quê?

— Descobrir quem você é.

Eu sorri e pendurei o pano.

— Acho que você vai sobreviver.

— Bom saber — resmungou ele, olhando para os dedos.

— O que foi? — perguntei. — O que houve?

— O que você vê quando olha para ele? O que você vê quando olha para o Daario? — perguntou Jon com voz insegura. Parei por um tempo, agachando-me no chão, antes de olhar diretamente para ele.

— Eu vejo o meu passado. Vejo tudo que eu era e tudo que eu não era.

— E o que você vê quando olha para mim?

Juro que havia uma pequena centelha no olho dele que curou partes de mim que eu nem sabia que estavam quebradas. Passei a mão pelo cabelo, mordi o lábio e encolhi os ombros.

— Possibilidades.

 

 

 

Jon

 

 

 

 

Fiquei chocado quando a manhã de domingo chegou, e Elia Targaryen apareceu batendo na porta da minha casa. Quando abri, notei que ela estava elegante na sua roupa de domingo, com chapéu de abas largas e vestido esvoaçante. Parada ali, na minha porta, parecia tão sulista quanto era possível. Eu odiava o fato de o rosto dela ser parecido com o da filha. Isso tornava muito difícil continuar a desprezá-la.

— A senhora não deveria estar na missa rezando para o seus Deuses? — perguntei, apoiando-me no batente da porta com os braços cruzados.

Ela não chegou com todo o ímpeto da primeira visita que fizera à oficina. Não estava fazendo exigências nem gritando comigo. Estava agindo de maneira calma e controlada.

Isso me deixou um pouco inseguro.

— Eu não falo há dias com a minha filha — informou ela. — E a última vez que nos falamos, eu disse coisas das quais me arrependo.

— Pois é. Talvez a senhora devesse pensar antes de falar. Agora, se me der licença, tenho mais o que fazer. — Comecei a fechar a porta e ela bloqueou com o braço. Arqueei uma das sobrancelhas. Ela rapidamente baixou o braço.

— Sinto muito, é só que... — Ela suspirou e meneou a cabeça. — Eu a vi na cidade, e ela me virou a cara. Ela está usando esse cabelo curto e castanho e fez tatuagens, e Dany não é assim. Ela nem tem ido à igreja.

— Eu também não iria se as pessoas falassem de mim o que andam falando dela.

— E você acha que eu gosto? Você acha que eu gosto de ouvir o que as pessoas estão falando dela?

— Acho que não. — Balancei a cabeça. — Eu sei que você não gostou, mas também acho que não fez nada para impedir.

Ela abriu a boca, mas parou, enfiando a mão na bolsa e puxando um cheque.

— Achei que eu tinha dito que não quero seu dinheiro.

— Talvez você devesse dar uma olhada no valor. É o suficiente para dar a você e ao seu pai uma vida boa. Vocês poderiam recomeçar em qualquer lugar do mundo.

Peguei o cheque e rasguei ao meio.

— Eu não quero o seu dinheiro. Você não vai expulsar o meu pai e a mim das nossas terras. Além disso, o que importa? Daenerys vai voltar para o trabalho em algumas semanas.

— Eu sei, mas ela voltará nos feriados, e você ainda estará aqui. Então, ela começará a vir nos fins de semana para visitar você, e logo encontrará um emprego mais perto daqui. Será que você não vê? Você está mexendo com a cabeça dela, fazendo com que ela acredite que poderia se apaixonar por você. Você não percebe, não é? O jeito como ela olha para você?

Como?

Como ela olha para mim?

— Não quero problemas — falei. — É melhor a senhora ir embora.

— Jon, por favor, você precisa ser realista. Daenerys já passou por muita coisa, e no caminho de se reencontrar, ela não precisa de distrações que possam desviá-la. Eu sei que você está tentando ajudá-la, mas você só está magoando a ela e a si mesmo. Eu vou fazer mais um cheque — disse ela, enfiando a mão na bolsa.

— Eu já disse que não quero o seu dinheiro. Além disso, Dany é adulta. Vou deixá-la tomar a decisão de me excluir da vida dela ou não. — Tentei fechar a porta e ela gritou, fazendo-me parar.

— Foi o meu Rhaegar! — gritou Elia.

Arqueei uma das sobrancelhas.

— Hã?

— Foi o meu Rhaegar. — Ela pigarreou, e algumas lágrimas escorreram pelo seu rosto enquanto eu observava seu corpo tremer. — O homem que sua mãe amava era o meu marido. Era com Rhaegar que ela ia partir naquela noite.

Cerrei os punhos e senti a boca seca.

— Qual é o seu problema? Por que você mentiria sobre uma coisa dessas?

— Não estou mentindo. Eu descobri na noite da tempestade. Rhaegar me contou como ele tinha se apaixonado pela mulher com quem ia partir. Mas ele não me disse o nome dela. — Ela estreitou os olhos e balançou a cabeça enquanto olhava para a varanda de madeira. — Antes de sua mãe, as mulheres eram só uma fuga. Ele nunca tinha gostado de nenhuma delas, e sempre voltava para mim. Porque quando ele vacilava, eu ainda estava ali para ele. Eu era a mulher para quem ele voltava todas as noites e sussurrava “eu te amo”. Eu era dele para sempre, e ele era meu.

Ela continuou:

— Então, um dia, uma nova família comprou uma propriedade aqui na cidade, e uma mulher com olhos iguais aos seus apareceu em um dos eventos da igreja. Ela era linda, e Rhaegar notou, assim como eu. Eu não me ofendi com isso, porque, no fim do dia, era para mim que ele sempre voltava. Nós tínhamos esse trato. Por respeito e lealdade, ele sempre voltava para mim. Mas, então, ele começou a trabalhar cada vez até mais tarde. Algumas vezes, chegava tão tarde que eu jurava que o sol já estava nascendo. Ele parou de dizer que me amava e eu sentia o cheiro dela nele. Madressilva e framboesa. — Ela fechou os olhos e mais lágrimas escorreram por seu rosto. — Eu tinha as minhas suspeitas sobre quem era a mulher, mas ficou muito claro para mim quando eu soube que sua mãe tinha morrido em um acidente de carro. Eu nunca vi um homem ficar realmente de luto até ver meu marido cair de joelhos e chorar por sua mãe. Lyanna Stark

— Você está mentindo — declarei, chocado.

— Não estou não. E acho que você sabe disso.

— Sai da minha casa — berrei.

— Por que você acha que seu pai atacou a igreja, Jon? Por que acha que ele começou a odiar a minha família?

— Eu disse para sair.

— Tudo bem, eu vou embora. Mas me diga uma coisa... Você pode ficar com a minha filha, a mulher cujo pai é o motivo de sua mãe ter deixado vocês tantos anos atrás, e amá-la de verdade? Você acha que vai conseguir se doar para Dany sem nenhum ressentimento e raiva? Vai conseguir olhar nos olhos dela, tão parecidos com os do pai, e não ligá-la àquele terrível acidente? Eu sei que não conseguiria.

Não respondi, porque não fazia ideia de como dizer qualquer palavra naquele momento. Entrei em casa e fechei a porta enquanto as palavras dela invadiam cada fibra do meu ser.

 

~*~

 

 

 

— É verdade? — perguntei, entrando na casa do meu pai. Ele estava sentado no sofá, os olhos semicerrados enquanto assistia ao noticiário matinal. O lugar já estava uma zona, apesar de eu ter arrumado tudo alguns dias antes. Ele parecia um zumbi. Olheira profundas, cabelo oleoso, roupas imundas. Nada no meu pai lembrava alguém com vida.

— E aí? — insisti, levantando as mãos com irritação. — É verdade?

— Do que você está falando? O que é verdade?

— Rhaegar Targaryen era o homem com que a mamãe estava tendo um caso?

O jeito como as sobrancelhas dele caíram e ele abriu boca deixou bem claro para mim que era verdade mesmo.

— Você está de sacanagem com a minha cara? Você está me dizendo que esse tempo todo você sabia que Rhaegar Targaryen foi o homem responsável pela morte da minha mãe e você não achou necessário me contar?

— Eu disse para você tirar a porra daquele carro da minha oficina. Eu falei para você parar de comer a porra daquela garota. O que mais você queria?

— Ah, eu não sei, pai. Quem sabe a porra da verdade? Por que você não me contou?

— Porque não era da sua conta, garoto — respondeu ele, pegando a garrafa de uísque para tomar um gole. — Você não tinha o direito de saber.

Arranquei a garrafa da mão dele e a atirei para o outro lado da sala.

— Eu tinha todo o direito de saber.

— Dê o fora daqui, Jon. Eu não tenho tempo para isso.

— Minha mãe morreu por causa dessa situação e a sua vida é uma merda por causa de tudo isso. Você podia ter me contado. Eu não teria deixado aquela família nem chegar perto da oficina. Eu teria lutado por você, por nós. Eu teria...

— Essa porra toda já passou. Agora saia da minha casa.

— Mas, pai...

— Sua mãe está morta e enterrada e ela não vai voltar mais, tá legal? Esqueça isso. Não me faça falar de novo. Vá embora. Eu não quero olhar para a sua cara.

Ele falou comigo, completamente bêbado, como se não fosse nada de mais. Como se a morte da minha mãe não fosse nada, apenas uma lembrança passageira, em vez de uma sensação diária de sofrimento. Ele falou como se não revivesse aquele pesadelo todos os dias, do mesmo jeito que eu. Ele falou como se ela não fosse nada, quando, na verdade, ela era tudo. E o homem responsável pelo seu trágico fim morava no fim da rua. O pai da mulher por quem eu quase me apaixonei. Mais alguns dias e eu teria permitido que ela entrasse no meu coração. Mais alguns dias e eu teria dito para ela as palavras que nunca tinha descoberto antes.

No entanto, naquela manhã, as correntes da minha alma me aprisionaram novamente. Não havia chance de Daenerys Targaryen voltar a chegar perto de mim de novo.


Notas Finais


E ai???? Me Contem Tudo!!!!


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