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História Home - Aquela Com Ataque de Panico


Escrita por: SGAutora

Notas do Autor


Voltei, obrigada por todos os comentários.

Capítulo 3 - Aquela Com Ataque de Panico


I hear voices
Awoken from my sleep
I'm haunted by the air force
That grip
If the earthquakes now
Buildings fall
I'm pulling pictures off, from our bones
'Til you say

Here, here I am
Oh, and here, here I am!
Oh, oh

All the ghosts that float
Float around us
Now they've turned our dreams into dust
We saved your mother
But darling there was no spark, left for us
We won the battle but lost the heart
But now I know tha

 

 

 

— Dany? O que está acontecendo? O que você está fazendo aqui? — perguntou Arianne assim que apareci na porta da casa dela segurando minha bagagem.

 

— Foi mal eu aparecer assim, de repente, sem avisar, mas a bateria do meu celular morreu no caminho para cá, e meu carro também morreu e... — Fiz uma pausa enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas. — E acho que meu casamento também morreu! — Comecei a chorar copiosamente, cobrindo o rosto com as mãos e balançando a cabeça. Respirei fundo tentando me controlar da melhor maneira possível.

 

Os olhos de Arianne ficaram marejados também, e ela levou as mãos ao peito. Nós éramos esse tipo de amigas — Quando uma chorava as lágrimas da outra não demoravam muito para cair.

 

— Ai, meu Deus, Dany... — Sussurrou ela, a voz falhando.

 

— Eu queria saber se poderia passar um tempo aqui — Pedi, entrando na casa dela com minha mala. — Eu teria pedido antes, mas, por algum motivo, achei que Daario mudaria de ideia e perceberia que ainda me queria.

 

Eu me sentei no sofá e respirei fundo algumas vezes, com a cabeça baixa.

Meu coração, minha mente, tudo estava exaurido. Tinha sido um longo dia.

 

— Eu só... Gostaria que você tivesse ligado — declarou Arianne de forma direta.

 

— É, mas eu sei o quanto você anda ocupada — Respondi, olhando para ela. As lágrimas ainda escorriam de seus olhos, e o peso do seu olhar parecia quase tão triste quanto o meu. — Tudo bem, Ari. Sei que estou meio descontrolada, mas me sinto melhor agora que... — Olhei para a mesinha de centro, na qual havia um copo de água e uma cerveja aberta. Arianne não bebe cerveja. Ela sempre achou que tinha gosto de mijo. — Tem alguém aqui com você? — Senti um aperto no peito. Então, notei uma calcinha vermelha embaixo da cadeira. — Ai, meus Deus, tem algum cara aqui com você? Eu devia ter ligado.

 

— Dany... — Sussurrou ela.

 

Arianne abriu a boca de novo, mas não conseguiu dizer nada. Seu corpo inteiro tremia, mas nenhuma palavra saía de sua boca, e notei um par de tênis... Que eu já tinha visto antes. E uma camisa pendurada na cadeira. Meus olhos pousaram na camisa polo amarela. Eu me levantei devagar e fui até ela.

— Daenerys — Choramingou minha melhor amiga, e agora eu sabia que ela não estava chorando por mim, mas por causa de suas próprias emoções. Peguei a camisa amarela e comecei a analisá-la. O rasgo embaixo do braço e a mancha horrenda que eu nunca consegui tirar, por mais que tentasse, estavam lá.

 

Olhei para minha amiga.

 

Para minha melhor amiga.

 

A minha parceira.

 

A minha vida.

 

Senti o estômago queimar, enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto dela, tomada pela emoção, chorando descontroladamente.

 

— Foi você...? — Sussurrei.

 

— Meu Deus, Dany! — Exclamou ela, colocando a mão na boca numa tentativa de ocultar o próprio descontrole; mesmo assim, eu a vi desmoronar na minha frente.

 

Foi ela.

 

Não foi uma mulher qualquer, mas ela.

 

Ela.

 

Ariane Martell.

 

A mulher que esteve em todas as batalhas ao meu lado.

 

A gente não vinha se falando muito ultimamente. Sempre que eu ligava, ela encerrava as ligações depressa, dizendo que ligaria de volta, mas nunca ligava. Entendi tudo agora. O que eu não entendia era como ela podia ter feito uma coisa dessas comigo.

Arianne tinha sido meu porto seguro. Nós ríamos juntas. Ela dizia que Daario e eu éramos um casal incrível. Disse que sentia inveja de nós. Eu fazia jantares para ela e seu ex-namorado, Arys. Quando ele a traiu, eu a consolei, dizendo que ela ficaria muito melhor sem ele, que encontraria alguém que merecesse seu amor. Mas eu não estava falando do meu marido.

 

— Ai, meu Deus, ai, meu Deus — Repetiu ela, ainda chorando. Senti suas lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

 

Peraí, não...

 

Aquelas eram minhas próprias lágrimas. A incredulidade diante de tudo aquilo abalou meu ser. Como uma coisa daquelas era possível? Não podia ser verdade. Senti como se estivesse presa em um pesadelo, sem conseguir abrir os olhos e acordar na segurança da minha cama. Será que era uma miragem?

 

Ari nunca seria capaz de fazer aquilo comigo. Daario nunca me magoaria daquela maneira — pelo menos era o que eu pensava. Ao que tudo indicava, porém, minhas crenças estavam erradas, e o coração deles estava marcado. Pisquei, mas ela continuava diante de mim. Meus olhos passaram pelo corpo dela, absorvendo cada detalhe. Analisei suas curvas, suas lágrimas. Arianne ficava bonita quando chorava. Eu odiava o fato de ela parecer uma deusa mesmo chorando. Ela parecia tudo que eu não era havia muito tempo.

 

Ah.

Aquilo doía.

 

— Ele está aqui? — Consegui perguntar por fim, empertigando-me, mas sentindo que estava prestes a desmoronar. Ela só continuava chorando. Ele estava lá. Aquele tênis. Estufei o peito. — Daario! — Berrei enquanto percorria a casa dela.

 

Eu conhecia cada pedacinho daquela casa. Cada canto. Quando ela se mudou, eu tinha vindo a Winterfell só para ajudá-la a organizar tudo. Olhei dentro dos armários, no banheiro e embaixo das camas. Quando abri a porta da despensa, meu coração apertou no peito, e aqueles olhos olharam direto nos meus. Meu marido estava se escondendo junto com tempero pronto de alho e sal marinho numa tentativa de evitar me encarar. Sem camisa.

 

— Dany... — Começou ele, mas logo calou a boca quando desferi uma bofetada em seu rosto. — Merda! — Berrou ele.

 

— Meu Deus! — Exclamei, esmagada pela traição, pela dor e pela tristeza. Levei as mãos à boca. — Meu Deus! Ai, meu Deus.

 

Eu ficava feia quando chorava. Só conseguia pensar em como eu parecia horrorosa naquele momento. Eu não parecia em nada com ela. Houve tantas noites da minha vida em que desejei ser parecida com ela.

 

— Sinto muito — Soluçou Arianne, as mãos cruzadas sobre o peito enquanto continuava a desmoronar diante dos meus olhos. — Eu sinto muito, Dany — Repetiu, e cada vez que ela dizia aquilo, eu achava que ia morrer bem ali, naquele instante.

 

Passei por ela, correndo para a porta da frente. Minha visão ficou embaçada e minha mente, confusa. Eu não conseguia pensar direito.

 

— Dany! — Ouvi atrás de mim e me encolhi ao ouvir a voz dele. Aquela voz que um dia tinha me enchido de tanta felicidade. Eu havia me apaixonado por aquela voz, tão macia, tão profunda, e que agora só me causava sofrimento.

 

— Não — Declarei determinada, vendo Daario sair do meu inferno pessoal e vir na minha direção. Ele não estava mais irritado comigo como estivera em Westeros, mas a culpa brilhava em seus olhos. — Não fale comigo.

 

— Eu só... — Ele apertou o topo do nariz. — Eu não sabia como contar para você. Nós não sabíamos como...

 

— A Arianne? Sério?! — Perguntei, com espanto, dando um empurrão no peito dele. — Minha amiga! Seu... Seu... Seu monstro!

 

Ele permitiu que eu batesse nele, e aquilo me deixou ainda mais furiosa. Eu queria que ele revidasse. Queria que atingisse meu corpo em vez de meu coração. Queria sentir dor.

 

— Você disse que ela não significava nada para você. Disse que não significava nada! Você transou com a minha melhor amiga!

 

— Eu sei. Nós só... É...

 

— Juro por todos os Deuses que conheço Daario, que se você disser que é complicado, vou arrancar sua cabeça fora. — Eu nunca jurava pelos Deuses, a não ser que realmente estivesse falando sério.

 

— Eu ainda me importo com você, Dany. Não contei nada porque não queria magoá-la — Explicou ele.

 

Tapa na cara.

 

Dei outro tapa nele, e mais outro e outro. Como Daario podia usar aquelas palavras? Como uma parte do meu coração era idiota o suficiente para acreditar nele?

 

—Há quanto tempo? — Perguntei.

 

— Dany...

 

— Há quanto tempo?

 

Ele baixou a cabeça.

 

— Desde que me mudei para cá.

 

— Espere... Então não foi ela... — Respirei fundo. — Você me traiu com outra pessoa antes dela?

— Daenerys...

 

— Você teve outras? Mais de duas?

 

Ele ficou mudo. Ai, meu Deus.

 

— Odeio você. — Eu o empurrei. — Odeio você. Odeio você! — Eu continuava batendo nele. Minhas mãos acertavam seu corpo repetidamente e ele nem tentava me impedir porque sabia que merecia.

 

— Eu ia contar pra você. Eu só... — Ele engoliu em seco. — Depois de tudo que passamos...

 

— Não! — exclamei. — Você não passou por nada. Você não passou... Fui eu que passei. Eu passei por tudo — Berrei, envolvendo meu corpo com os braços. Eu não tinha mais ninguém para me abraçar, então era eu que tinha que fazer isso. — Eu passei por tudo, e v-v-você... — As lágrimas me cegavam enquanto eu olhava para o homem que um dia acreditei ser meu. A dor em meu peito queimava e consegui dizer as últimas palavras: — Você acabou comigo, Daario. Você acabou comigo.

 

Meu peito estava pegando fogo; respirar ficava cada vez mais difícil. Ele estendeu a mão para mim e me afastei dele. Daario não podia mais me tocar. Eu não era mais dele para ele abraçar.

 

Segui para a cidade tentando respirar um pouco, tentando compreender o que tinha acabado de acontecer, mas não demorou muito para eu perceber que havia cometido um grande erro ao passar pelo centro da cidade. Para onde quer que eu me virasse, via o rosto familiar de alguém que queria falar comigo, que queria saber por que eu estava chorando. Cada pessoa fazia meu coração partir ainda mais. Cada pergunta queimava minha pele. Eu não estava pronta para lidar com nada nem ninguém.

 

Eu não consigo respirar...

 

Comecei a correr, me esforçando para evitar todo mundo. Todos pareciam tão felizes, e isso tornava as coisas ainda mais difíceis. Passar por um espaço tão cheio de felicidade doía mais do que eu achava ser possível. Todo mundo estava tão vivo, tão cheio de vida, enquanto eu me sentia oca por dentro. Sempre que eu piscava, tinha certeza de que estava prestes a desmoronar. Como aquilo era possível? Como alguém podia estar no meio de uma cidade, cercada por pessoas que conhecia, e se sentir tão incrivelmente sozinha?

 

Demorei um tempo para diminuir o ritmo em frente à pizzaria e encostei-me à parede para recobrar o fôlego, mas era difícil respirar. Meu corpo estava coberto de suor, minha visão, embaçada. Cada vez que eu piscava, via Daario ao lado dela. Sempre que respirava, os cacos do meu coração cortavam minha alma. Estava prestes a ter um colapso mental, prestes a desmoronar quando senti alguém tocar em meu ombro e me virei, entrando em pânico ao me deparar com Jon. As palmas da minha mão estavam suadas, e meu coração batia disparado e com força no peito.

 

— Oi — disse ele, erguendo a mão como se estivesse se rendendo. A preocupação pesava em seu rosto e fiquei surpresa ao perceber que um homem como ele era capaz de se preocupar.

 

— Eu... Eu... Eu... — Eu tentava dizer que eu estava bem, balançando a cabeça para indicar que ele não precisava se preocupar. — Eu estou b bem. Acho que eu só... Só... — Eu não conseguia dizer mais nada, então comecei a sacudir as mãos tentando respirar, e Jon meneou a cabeça.

 

— Você está tendo um ataque de pânico — disse ele.

 

Assenti de novo.

 

— Isso. — Levei as mãos ao coração e jurei que logo ficaria bem. Eu ficaria bem. Eu tinha que ficar bem. Tinha que existir algum momento em que meu coração ia parar de se estilhaçar, não é?

 

— Venha aqui — chamou Jon, estendendo uma das mãos para mim.

 

— Eu estou... Eu estou b-bem — Gaguejei, mas ele negou com a cabeça enquanto as pessoas passavam por nós na rua, cochichando e olhando. — Princesa — Disse ele baixinho. Ele se aproximou mais e olhou para mim de modo gentil. — Confie em mim.

 

Eu não confiava. Não sabia mais em quem confiar. As duas pessoas que deviam sempre estar ao meu lado destruíram tudo em que eu acreditava em relação à confiança, mas... Eu precisava respirar. Só por um instante. Peguei a mão de Jon, e ele me levou por um beco. Passamos por um muro e nos encostamos-nos a uma parede de tijolos. Enquanto eu desmoronava, tentei pedir desculpas, mas as palavras saíram incoerentes e confusas.

 

— Está tudo bem — Afirmou ele, com firmeza.

 

Eu continuava ofegando, mas nada parecia funcionar. Meu corpo estava prestes a cair no concreto e eu estava prestes a ceder à minha dor, e fiquei surpresa quando caí nos braços de Jon Stark.

 

Ele me pegou.

 

Ele me abraçou.

 

Ele não me deixou cair.

 

Eu me agarrei à blusa dele, puxando-o para mais perto de mim, enquanto desmoronava diante dele. Eu queria ser corajosa, queria acabar com aquele colapso, mas, por um breve segundo, enquanto Jon me abraçava, pareceu que eu podia desmoronar. Quando meus soluços ficaram intensos demais, quando parecia que a ansiedade e o pânico iam me engolir por inteiro, ele me abraçou com mais força.

 

— Está tudo bem — Repetiu ele em tom calmo, a voz grave e estável. — Ei, vem aqui — Disse, sentando-se no chão e me puxando com ele. — Senta aqui um pouco. Respira.

 

Era mais fácil dizer do que fazer.

 

Eu me sentei ao lado dele, encostando-se ao mural de nossa cidade.

 

— Muito bom — Elogiou ele. — Agora, coloque a cabeça entre os joelhos e respire fundo.

 

— Eu... Eu não consigo.

 

— Consegue sim, princesa. Claro que consegue. Você só precisa se acalmar. Baixe a cabeça e una os dedos na sua nuca. Você consegue.

 

Fiz exatamente o que ele pediu, e toda vez que eu tentava me desculpar, ele me impedia e dizia que eu só precisava respirar. De maneira lenta, mas certa, meu coração voltou a bater no ritmo normal. De maneira lenta, mas certa, fui tomada pela vergonha quando levantei a cabeça e me deparei com o olhar intenso de Jon pousado em mim. Enxuguei os olhos e respirei fundo.

 

— Perdão.

 

— Pare de dizer isso.

 

— Perdão — Murmurei, fazendo-o revirar os olhos.

 

— Acabei de pedir para você parar de pedir perdão.

 

— Per... — Comecei de novo, mas parei. — Está bem.

 

Ele suspirou com a expressão ainda pesada. Passei os dedos pelo meu cabelo e meneei a cabeça.

 

— Você já pode ir agora, juro. Eu só sou um pouco descontrolada, lembra? Acho que é melhor eu ir também — Disse, fazendo que ia me levantar, mas ele segurou meu braço.

 

— Espere mais um pouco. Deixe seu corpo se acalmar. Ataques de pânico demoram um pouco para desaparecer completamente.

 

— Você já teve algum?

 

Ele ficou mexendo as mãos e olhou para o chão.

 

— Minha mãe tinha às vezes. — Ele ficou olhando para as mãos, antes de continuar: — Você vai ficar bem. Só espere um pouco, certo? Respire devagar.

 

Respirar devagar.

 

Eu consigo fazer isso.

 

Ficamos ali, em silêncio, olhando para frente, deixando o ar quente da noite tocar nossa pele.

 

— Qual é a sua história? — Perguntei, inclinando a cabeça para ele, um pouco confusa por sua existência. Ele era tão cruel, tão sombrio, mas, ao mesmo tempo, conseguiu ser um pouco gentil...

Um monstro gentil.

 

— Você conhece a minha história, lembra? Você disse que me conhece. Todo mundo neste lugar parece me conhecer — Retrucou, quase rosnando. — Eu sou o babaca da cidade, e isso é tudo. — Ele se levantou e pigarreou. — Só espere mais uns cinco minutos, está bem?

 

— Está bem. Obrigada.

 

Ele passou a mão na nuca e meneou a cabeça.

 

— Pare de falar e só respire.

 

Seus olhos escuros pousaram nos meus, e passamos um tempo nos olhando. Era como se estivéssemos nos vendo pela primeira vez. Enquanto eu olhava em seus olhos, reconheci algo que via na minha própria alma: solidão. O jeito como ele me olhou me fez achar que Jon também tinha reconhecido isso em mim.

 

Ele lançou um último olhar na minha direção. Não sorriu, mas também não franziu a testa e, de algum modo, aquilo pareceu uma pequena vitória. Quando ele foi embora, eu o agradeci em silêncio. Depois de uma noite me afogando, foi à ovelha negra da cidade que me ajudou a me erguer para tomar um pouco de ar.

 

 

 

Jon

— Estou vendo que você está saindo por aí, fazendo novos amigos — comentou Grey quando entrei na oficina um pouco mais tarde carregando uma pizza. Eu a joguei em cima da mesa na salinha que usamos quando queremos fazer uma pausa do trabalho e saí, arqueando uma das sobrancelhas para ele.

 

— O que você está fazendo? — Perguntei, vendo ele sob o capô daquele carro vermelho e preto.

 

— O que parece que estou fazendo? Estou consertando o carro da Dany.

 

— Eu disse para você levar para o ferro-velho e não para cá.

 

— Ah, foi? Acho que não entendi direito — Mentiu. Grey Warm era muito atento; nunca deixava passar nenhuma palavra que as pessoas diziam. — Bem, já que ele está aqui... — Ele riu, e eu revirei os olhos. — Vamos logo, cara. Poderia ser nosso novo projeto apaixonante. A gente estava procurando o brinquedo perfeito.

 

— Não tem nada nesta coisa que desperte a minha paixão. É uma lata-velha. Sério, esse carro é uma merda. Se fosse a merda de um animal, acho que seria de macaco. Se fosse a merda de uma pessoa, seria a sua. É a pior merda que já existiu.

 

— Hum... — Murmurou ele. — Que bom que você está evitando falar palavrões. E sério? Merda de macaco é pior que a de um hipopótamo?

 

— Bem, acho que depende do tamanho do macaco.

 

— Não, Jon. — Ele negou a cabeça. — Não depende, não.

 

— Sério cara. Tire isso da oficina.

 

— Olha só, Cara, você sabe que eu te amo como se fosse meu irmão, mas acho uma tremenda infantilidade sua recusar uma boa experiência de aprendizagem com essa belezoca só porque você odeia a família dela.

 

— Aquela família é uma merda — Retruquei. — Você também deveria odiar todos eles.

 

— Claro, com certeza. Mas esta belezoca — Disse ele, abraçando o carro. — Este carro é uma joia. E não tem culpa da família que o escolheu. Ele não teve escolha. Estava lá na loja, querendo um pouco de amor e carinho. Será que a gente não pode fazer isso por ele, Jon-Jon?

 

Grey fez aquele olhar de cachorro pidão, e sabia muito bem quanto eu odiava quando ele fazia aquilo. Ele era meu melhor e único amigo nessa cidade de merda, e se mudou para Winterfell alguns anos atrás. Grey era praticamente a única pessoa da cidade com quem eu me importava. Nós éramos próximos, pelo menos tão próximos quanto eu permitia que as pessoas fossem o que não era muito.

 

Ele passava todo o tempo livre trabalhando na loja de tatuagens que ficava fora da cidade. Quase não tinha cabelos. Se você passasse por ele na rua, poderia ficar morrendo de medo de todos os seus músculos e tamanho até que ele começasse a falar sobre a última máscara de abacate que tinha descoberto. Ele era uma das pessoas mais positivas do mundo, e eu era o extremo oposto. Mas, ao mesmo tempo, nossa conexão fazia sentido — um equilibrava o outro.

 

— Meu pai vai ter um ataque se descobrir que o carro de alguém da família Targaryen está aqui na oficina — Avisei. Se alguém odiava a igreja mais que eu, esse alguém era meu pai.

 

— Ele não vai descobrir — prometeu, negando com a cabeça. — Juro que vou manter nosso segredinho guardado a sete chaves.

 

— O seu segredinho. Eu não vou colocar a mão nesse carro. Não quero ter nada a ver com ele nem com aquela família. — O único motivo por eu ter aceitado deixar o carro ficar foi porque eu sabia que meu amigo  não desistiria até conseguir. — Mas só para deixar as coisas bem claras: eu não estou nem um pouco feliz com isso.

 

— Só para deixar claro: você nunca está feliz, então acho que isso é uma coisa boa. De qualquer maneira, sei que seu pai e você têm questões com aquela família, mas eu gostei dela.

 

— Você gosta de todo mundo — Comentei.

 

— Verdade, mas você tem que admitir que ela é linda, mesmo com os olhos inchados.

 

Ele não estava errado. Daenerys Targaryen era linda. O cabelo dela era platinado assim como de toda a sua família do lado do pai, mas eram muito longos e cheios de cachos, e os olhos eram quase violeta, e hipnotizantes, cheios de medo e curiosidade ao mesmo tempo. Eu estaria mentindo se dissesse que não havia notado todas as curvas nos lugares certos, mas aquilo não era surpresa nenhuma. Todas as garotas da família  eram bonitas. Elas andavam e falavam como as damas sulistas deviam fazer — menos Dany, quando estava desmoronando. Na maioria das vezes, elas se sobressaíam pela beleza, pelo charme e pela elegância — pelo menos por fora. Por dentro, eram as almas mais feias, e eu não queria ter nada a ver com elas nem com seus carros de merda.

 

Eu ainda não sabia bem por que tinha parado para ajudá-la em frente à pizzaria. Não fez o menor sentido, a não ser o fato de o seu colapso me fazer lembrar tanto da minha mãe.

 

— Ei, Jon-Jon? — chamou Grey, e dessa vez, quando olhei para ele, vi preocupação em seus olhos. Era o mesmo olhar preocupado que ele me lançava quando achava que eu poderia me perder. — Como você está? Tudo bem?

 

— Estou bem — Respondi. Essa era a resposta que eu sempre dava quando ele me fazia àquela pergunta.

 

Mesmo depois que tive uma overdose e quase perdi a vida um ano atrás, respondi do mesmo jeito: estou bem. Eu sempre estava bem, mesmo quando não estava.

 

— Certo, então. Olha só, se não quer que este carro seja o seu novo projeto, você deveria procurar um hobby ou alguma coisa assim para manter sua cabeça no lugar. Você ainda está trabalhando com arte ou algo do tipo? Acho que deveria voltar a fazer isso. Está namorando? Acho que você deveria ter alguns encontros ou quem sabe tricotar um suéter. Qualquer coisa, na verdade.

 

— Tá. Tudo bem.

 

— Estou muito orgulhoso de você.

 

— Eu não fiz nada — Respondi, secamente.

 

— Exatamente. — Ele assentiu. — Você não saiu dos trilhos nem voltou aos seus antigos hábitos. Estou muito orgulhoso de você, e se um dia você precisar de alguém para conversar, eu sempre estarei aqui.

 

Encolhi os ombros.

 

— Valeu.

— Pode contar Jon-Jon.

 

— Ah, e Grey? Pare de me chamar de Jon-Jon.

 

Voltei para a sala de descanso, peguei algumas fatias de pizza e levei para a casa do meu pai. Quando passei pela sala, eu o vi desmaiado de tanto beber no sofá. Às vezes, eu fingia que ele estava dormindo por causa do cansaço, mas a verdade era que o uísque o fazia perder os sentidos na maior parte das vezes.

 

Coloquei as fatias na geladeira e resmunguei enquanto limpava um pouco o lugar. Meu pai continuou desmaiado no sofá, e de vez em quando eu passava por lá para ver se ele ainda estava respirando. Houve uma época na minha vida em que eu acreditava que meu velho viveria para sempre. Houve uma época em que ele era meu herói, e eu achava que ele derrotaria qualquer vilão do mundo inteiro.

 

Engraçado como o tempo tinha transformado meu herói no meu pior vilão. Engraçado como o tempo tinha destruído a alma do meu pai. Depois que terminei de limpar a casa do meu pai, fui para a minha e entrei. Cada pedaço daquele lugar tinha um pedaço de como meu pai era antes que a bebida tivesse dominado sua alma — a tinta nas paredes, o assoalho de tábua corrida, os azulejos do banheiro. Tudo naquela casa contava a história do homem que ele era antes de sua vida começar a ruir.

 

Eu tinha ajudado a arrumar aquele lugar quando era criança — antes de minha mãe ir embora e antes de meu pai se tornar um alcoólatra. Todas as noites eu me sentava ali no escuro, olhando o lugar. No canto da sala havia um cavalete e material de pintura, e, no quarto extra, as prateleiras estavam cheias de livros. Pela casa inteira havia quadros emoldurados. Não havia nenhum cômodo sem uma das obras de arte da minha mãe. Aquela era a última parte dela na qual eu ainda me apegava. A casa era um presente e uma maldição para mim, me fazendo lembrar o passado, que contrastava completamente com o presente.

 

Era um espaço cheio de vazio.

 

Eu aceitava o vazio de bom grado e permitia que a solidão fosse praticamente tudo que eu conhecia, e quando tudo ficava demais para mim, eu mergulhava no meu novo hobby.

 

Grey não sabia, mas eu já tinha uma coisa para me manter longe das drogas. Nos últimos anos, eu dava prazer a diversas mulheres na cama quase todas as noites. Não era algo de que eu me orgulhasse, mas aquilo me distraía da minha própria realidade.

 

Eu já tinha ficado com algumas antes, mas geralmente nem me lembrava disso até elas me dizerem. Outras agiam como se fosse uma grande conquista conseguir ir para a cama comigo e ficavam rindo feito umas adolescentes de merda.

 

Olhos azuis, olhos marrons, olhos castanhos, olhos cor de mel, olhos verdes...

 

Cada uma delas me ajudava a esquecer  um pouco.

 

Cada uma delas fazia meu cérebro desligar.

 

Cada uma delas se tornava um novo tipo de droga para mim e, de maneira lenta, mas certa, fiquei viciado.

 

Ninguém nunca passava a noite. Eu não queria que elas ficassem; tudo que queria era algumas horas para me ajudar a esquecer. Era sempre a mesma coisa: sexo, nada de conversa e dar no pé. Sexo, nada de conversa e dar no pé. Uma noite, quando a olhos castanhos estava indo embora, me disse que a gente já tinha transado, e que ela gostava mais de mim quando eu estava drogado.

 

— É mesmo? E eu gostava mais de você quando a sua boca estava chupando o meu pau em vez de falando merda.

 

— Você é tão babaca! — Exclamara ela, agindo como se não tivesse sido grossa primeiro. — Você é nojento.

 

— Seus lábios pareceram não se importar com isso quinze minutos atrás — Respondi secamente.

 

Foi à vez de ela mostrar o dedo para mim, e eu provavelmente mereci. Eu era tão babaca às vezes. A questão era que algumas pessoas pareciam gostar mais de babacas do que de caras legais e patéticos.

 

A olhos castanhos provavelmente ligaria para treparmos de novo. Era como se as mulheres se sentissem atraídas por caras que as tratavam como lixo. E, quando elas iam embora, eu ficava sozinho de novo.

 

Bem, não completamente.

 

Ghost estava mais velho, mas ainda era tão leal quanto antes. Todas as noites ele vinha lentamente na minha direção, abanando o rabo, e subia no meu colo no sofá. Às vezes eu precisava ajudá-lo a subir, mas ele sempre se aproximava de mim. Mesmo nas noites em que eu achava que merecia ficar sozinho. Mesmo assim, não importava o que eu fizesse ou dissesse para ele, ele ficava. Ghost era meu amigo. O único que eu tinha, e o único de que eu precisava. Bom garoto, Ghost, pensei com meus botões, abraçando-o mais. Bom garoto.


Notas Finais


É isso! Me Falem o que acharam, acho que o Jon se redimiu um pouco de ter sido um babaca no cap anterior, em compensação que tipo de gente a Dany tem perto dela, não? Um pior que outro.


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