Graças aos braços mecânicos, Otto não podia mais dormir de costas. O que foi um grande problema no começo, uma vez que Otto sempre foi uma pessoa que preferia dormir de costas; dormir em qualquer outra posição sempre tinha sido difícil. Mas depois de um ano com os mecanismos, o cientista foi forçado a se acostumar a dormir de lado, com os braços mecânicos caídos pelo lado da cama ou encolhidos contra suas costas.
De qualquer modo, era melhor assim, suas pobres costas viviam em constante dor e a última coisa que ele queria fazer era colocar mais peso sobre elas. Às vezes a dor era só um leve cutucar irritante num canto de sua mente, fácil de ignorar, e algumas vezes era uma sensação excruciante, como se ele estivesse sendo esfaqueado múltiplas vezes nas costas, pele e músculos sendo rasgados pedaço por pedaço. Ainda assim, depois de tanto tempo vivendo daquele modo, Otto tinha aprendido a ignorar a dor na maior parte do tempo, mas alguns dias eram mais difíceis que outros.
Ele ficava feliz por ter Peter ali para ajudá-lo com aquilo. O rapaz sempre estava pronto para fazer o que era preciso a qualquer sinal de dor, até mesmo quando o cientista tentava afastar sua preocupação. Suas mãos eram sempre delicadas e cuidadosas, tocando Otto como se ele fosse quebrar embaixo de seus dedos.
Algo bom que vinha com ter que ficar deitado apenas de lado, Otto tinha de admitir, era que ele sempre podia se encontrar frente a Peter na cama. Deitando no lado da cama que ele tinha tomado como seu, o rapaz se aninhava a Otto, descansando a cabeça em seu peito e permitindo que ambos os braços orgânicos e mecânicos de Otto o envolvessem, o escondendo do resto do mundo. Graças ao peso em suas costas, o cientista quase não podia se mexer na cama, não que ele já tivesse sido alguém que se mexia muito enquanto dormia, mas ele sempre acordava se encontrando enrolado com Peter, mesmo quando eles tinham mantido uma leve distância entre os dois na noite anterior.
De vez em quando ele não podia dormir em um lado, tendo de trocar pelo outro. A dor viajava por seu corpo, pinicando um lado e depois pulando para o outro, às vezes o deixando incapaz de mover certas partes do corpo. Então algumas vezes Otto se encontrava dormindo com as costas voltadas para Peter, os braços mecânicos enrolados contra ele de modo a não tomar muito espaço na cama. Mas um deles sempre acabava esticado na direção de Peter no meio da noite, descansando sobre sua cintura.
Peter nunca reclamava, ele só deitava ao lado de Otto e deslizava os dedos pela pele manchada de cicatrizes nas costas do cientista. A sensação gentil desse toque sempre era bem vinda e Otto perdeu a conta de quantas vezes ele tinha dormido, acalentado tanto por aquilo quanto por beijos suaves apertados contra seus ombros.
Ele até diria que não se importava tanto com a dor desde que tivesse Peter ali para ajudar a cuidar dela.
Otto tinha se acostumado ao toque do rapaz em todas as facetas de seu dia e de sua noite, e cada toque permanecia em sua mente enquanto ele adormecia. Ele podia sentí-lo em seus sonhos: Peter o envolvendo com os braços, acariciando sua pele com o mesmo amor que ele mostrava no mundo acordado, cuidadoso em volta de suas cicatrizes e mais assertivo em todo o resto.
Octavius já tinha catalogado cada detalhe de Peter e seu corpo, e seus sonhos gostavam de repetir tudo que ele podia lembrar, com imagens do corpo forte do rapaz, coberto com as cicatrizes de múltiplas lutas e batalhas, mas ainda assim suave ao toque. Otto adorava sentir Peter, tanto com suas mãos orgânicas quanto com seus braços mecânicos; ele não tinha esperado aproveitar a sensibilidade à pressão, textura e temperatura dos braços daquele modo, mas ele não estava reclamando.
Nem um pouco.
Os braços mecânicos faziam algumas coisas em sua vida mais difícil, ele podia sentir o peso deles em suas costas, puxando sua pele e muitas vezes o fazendo sentir uma dor tão excruciante que ele mal podia respirar direito, mas às vezes - às vezes - eles não eram exatamente um pesadelo. Ao contrário, eles podiam levá-lo até a ter alguns bons sonhos. E algumas boas realidades, é claro.
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