História Hope - Capítulo II

Spencer

— Hey garoto!

Escuto um estralo perto de meu rosto me fazendo erguer meus olhos para os dedos que estralavam sem parar.

— Oi.

— O que você tem hoje Reid?

Olho para meu amigo Morgan que nesse momento estava me encarando com um olhar preocupado, eu deveria inventar logo uma desculpa, sabia que Derek não pararia de perguntar enquanto não soubesse o que estava acontecendo.

— Não é nada, só minhas dores de cabeça que voltaram.

Semicerro meus olhos o olhando fingindo uma dor de cabeça, não que fosse totalmente mentira, mas ele não poderia saber o que realmente estava acontecendo, ou eu não queria que ninguém soubesse na verdade. Havia recebido mais uma carta, e estava pensando sobre ela, o que me fazia relembrar muitas coisas e ninguém ali precisava saber e ficarem preocupados sem motivos ou começarem a achar que eu não estou bem o suficiente para fazer o meu trabalho.

— Não sabia que suas enxaquecas haviam voltados Reid.

— Não é nada, acho que só não dormi bem.

Me levanto já pronto para sair dali, não precisava olhar para saber que ele estava me analisando e vendo se estava acontecendo algo a mais do que eu havia falado. Esse era um dos lados ruins de se trabalhar com os melhores profilers.

— Só isso mesmo garoto?

Morgan se aproxima de mim colocando sua mão sobre meu ombro.

— Sonhei com a Maeve.

Falo a primeira coisa que se passa em minha cabeça, eu ainda não havia a esquecido, nem sei se algum dia iria realmente a esquecer, mas no momento era a única coisa que eu podia dizer para ficar quieto e não me fazerem mais perguntas.

— Reid você tem que seguir em frente, já faz anos. Mas se precisar conversar eu estarei aqui.

— Eu sei.

Me afasto de Morgan e caminho em direção as escadas, o resto da equipe já se encontrava na sala de reuniões.

Assim que entro me sento ao lado de JJ e espero Penélope apresentar o caso, ela começa a falar e eu começo a viajar nas minhas memórias.

“As vezes me pergunto se alguma hora isso tudo passará, cada dia parece que caminho mais em direção a um lugar escuro, ele a cada dia está me tragando mais e mais e sinceramente Doutor? Não quero sair. As vezes fico torcendo para ela me trague de vez. É bem melhor do que essa realidade em que me encontro.”

— Dr Reid? Reid!

Viro meu rosto na direção da voz e percebo que é Smith.

— Oi.

— Reid está tudo bem?

Seu olhar direcionado a mim é de preocupação e percebo que não é apenas ela e sim todos na mesa que me olham da mesma maneira, balanço a cabeça confirmando para Smith, ela havia entrado na equipe um pouco mais de um ano, ela é uma boa profiler e uma boa amiga, e se adaptou bem a equipe, normalmente quando entra alguém novo a pessoa se sente deslocada, mas ela se sentiu muito bem. Hotcher se levanta e vai logo avisando que partiremos em 30 minutos. Me levanto e começo a andar e direção a porta com o resto da equipe quando sinto alguém segurar meu braço e percebo que é Smith.

— Tem certeza que está tudo bem Spencer?

A encaro por uns instantes e sorrio de leve.

— Estou sim Jenna, só minhas enxaquecas que voltaram, não dormi muito bem a noite passada e acho que só piorou minhas dores de cabeça. Apenas isso.

— Se precisar conversar sobre qualquer coisa, estarei aqui.

Ela sorri e se afasta para se preparar para a viagem, a observo por uns segundos e logo sigo atrás para me preparar e tentar me concentrar no máximo no caso, não quero que a equipe fique pensando que não estou bem e Hotcher peça para eu me afastar por uns dias. Tudo que eu precisava no momento era me concentrar no trabalho e não ficar pensando em algo de anos atrás, não posso me permitir a isso.

Pego minha mala e caminho para o elevador juntos com os outros.

“Ultimamente Doutor, não tenho estado tão bem, não que em algum momento durantes esses meses eu tenha estado no mínimo um pouco bem. Passei mal, tive uns desmaios, até cai das escadas acredita? E quando eu cheguei no fim dela e fiquei lá deitada no chão sem poder me mexer, eu só conseguia pensar em uma coisa: Que tudo acabasse e que ali fosse meu fim. Que Deus, Alá, Buda a divindade que fosse me deixasse ir e eu finalmente pudesse descansar de toda essa merda que minha vida se tornou. Mas claro que isso não aconteceu, Jack me encontrou e se desesperou e claro também, que ele me levou para o Hospital. Eu quase, quase mesmo implorei para que ele não fizesse isso e me deixasse lá, para quem sabe assim finalmente eu ter o final que eu tanto queria. Só que não era justo com ele sabe? Não era justo levar ele para o buraco em que eu me encontrava, então eu só fiquei lá, parada vendo ele me carregar, permiti que ele me tocasse sem falar uma única palavra. Acredita nisso? Eu permiti que ele me tocasse Doutor, acho que você diria que é um avanço não? Só que a verdade é que eu não tinha muita escolha, eu não podia me mexer, o que consequentemente eu não poderia me afastar.

Só que Doutor, a vida mais uma vez me prega uma peça, e a coisa que eu ouvi saindo da boca do médico, eu sinceramente não sabia o que fazer, eu queria gritar, correr, me atirar na frente de qualquer coisa rápida e em movimento, porém a única coisa que eu fiz foi chorar, eu chorei tudo que não chorei nesses dois últimos meses. E Jack? Doutor ele não sabia o que fazer ou dizer diante do meu estado, ele só me olhava com aquele olhar de pena, o tipo de olhar que eu não suporto.”

Sinto uma leve pressão em minhas costas e me viro vendo JJ indicando com os olhos para eu sair do elevador, baixo minha cabeça e caminho em direção ao SUV preto e entro no banco traseiro do carro com JJ sentando ao meu lado, ela me encara de uma forma que eu sei o que ela está pensando “O que há com você Spencer?”

— Eu estou bem JJ e não, eu não quero conversar.

Resolvo logo responder sua pergunta silenciosa e volto minha atenção para o arquivo do caso que se encontrava em minhas mãos, era nisso que eu precisava focar nesse momento e nos restos dos dias a seguir.