História Hospedeiro - Deixe-me entrar, pequeno Baekhyun

Baekhyun era uma criança miúda de cinco anos. Cinco anos que ele dizia ter com orgulho, para a tia que cuidava dele e das demais crianças no orfanato em que vivia.

O menino era agitado, sempre fora desde que chegou naquele casarão nomeado de Orfanato Kim, localizado em uma pequena cidade da China. Baekhyun era um neném que estava sempre rindo para o nada, mas em questão de segundos chorava para o mesmo. Ninguém entendia o porquê do menino ter sempre uma atenção especial para o lado vazio perto de seu berço. Mas com o passar dos meses as olhadelas começaram a diminuir, deixando claro que já tinha direcionada sua atenção para algo mais interessante, como suas mãozinhas e pezinhos.

Então, ele foi adotado pelo casal Zhang, que se encantaram por aquele menino pequeno que corria atrás de uma bolinha pelo quintal do orfanato. Sabiam que tinham encontrado seu filhinho, aquele que iria trazer a alegria de volta para aquele casal. O menino chorou pouquinho quando precisou se despedir de seus amiguinhos e de suas "tias", mas ainda sorria quando secou as lágrimas com sua mãozinha gordinha e acenou de dentro do carro. Se sentido extremamente feliz. como nunca foi antes.

Durante a pequena viagem de carro até a sua casinha nova, ele soltou um risinho infantil para a sua nova mamãe, que estava o olhando com carinho e admiração. E em seguida fechou os olhinhos, agradecendo aos seus anjinhos da guarda por terem lhe dado uma família como tinham prometido.

Assim que chegou em seu novo lar, viu uma casa grande e um jardim maior ainda, que já fazia Baekhyun querer correr e espalhar seus brinquedinhos. Mas a timidez tomou conta de si, então ficou prestando atenção em que seus papais falavam. Enquanto ficava quietinho, sorrateiramente pegou a mão de sua nova mamãe, esta que se desmanchou em sorrisos.

– Vamos ver seu quartinho, filho? – Sr. Zhang disse carinhosamente para o menino quando tinha terminado de mostrar os cômodos do primeiro andar da casa, Baekhyun assentiu timidamente, mas não evitou sorrir.

– Baek vai ter um quartinho? – Respondeu animado enquanto era pego no colo por sua mãe, já que o quarto do menino era no segundo andar, e suas perninhas curtinhas iriam fazê-lo ter dificuldade em subir.

Sua mamãe riu com a pergunta inocente e lhe deu o beijo na bochecha, enquanto se caminhavam para o cômodo recém-decorado. – Claro que sim, meu amor. Um quartinho bem grande e só para você. – Respondeu com afeto. Baekhyun já era seu neném precioso e era quem iria trazer novamente a alegria para a casa.

Com uma calma que se instalava em seu corpinho, assim como a animação e a ansiedade, Baekhyun circulou o pescoço da sua mamãe com seus bracinhos gordinhos, deitou sua cabecinha em seu ombro, com um pequeno sorriso em seus lábios. Estava se sentindo em casa.

                                                     《 ▪ 》

Já tinha se passado um ano desde que fora adotado pelo casal e em comemoração, iriam levá-lo ao parque de diversões. O que o fizera ansioso, lhe deixando sem sono. Então, ficou olhando para estrelinhas que foram pintadas no teto do seu quarto. Estava imaginando como seria no dia seguinte, Baekhyun nunca tinha ido a um, e se perguntava em quais brinquedos iria brincar ou quais comidinhas gostosas iriam ter lá.

Isso lhe deu vontade de contar para o seu anjinho.

Baekhyun sorriu ao lembrar quando conheceu Yixing, um segredo que só ele podia saber.

Um ano atrás.

Em uma semana que Baekhyun foi morar com o casal Zhang, e que tinha se tornado oficialmente Zhang Baekhyun, foi o suficiente para que ele se sentisse extremamente feliz por ter tido a sorte de ganhar papais tão bons e fazia questão de agradecer seus anjinhos da guarda, rezando toda noite antes de dormir, mesmo que não sentisse mais a presença deles.

E nesse pouco tempo que passou, já tinha começado a se acostumar com uma nova rotina, esta que se iniciava de manhã, quando Sr. Zhang ia trabalhar, acordava o menino com um beijinho de despedida, que depois saía de sua cama para ficar perto de sua mamãe até a noite, quando seu papai chegava.

E em meio a uma manhã de verão daquela semana, o menino brincava de bola com sua mãe. Ambos riam com os chutes errôneos e com os pulinhos animados do mais novo. Era visível o quanto os dois ficaram unidos em tão pouco tempo de convivência. Como se fossem mãe e filho há muito tempo.

– Baek, a mamãe vai lá fazer o almoço. – A mais velha avisou para o menino, depois dar um chute fraco na bola, o que foi pego pelas mãozinhas do mais novo. – Mas pode continuar a brincar... Logo eu venho te chamar, ok? – Abriu um sorriso amável para o seu filho, este que retribuiu com uma risadinha infantil.

– Tá bom, mama. – Baekhyun respondeu com a fala enrolada e levantou seu pequeno polegar enquanto tentava segurar a bola de um jeito desengonçado, o que fez sua mãe abrir um sorriso e gritar um "cuidado" enquanto ia para cozinha.

Como a família morava em um lugar afastado e em um terreno era cercado por muros altos, a Sr. Zhang não tinha muito com o que se preocupar, mas sempre ficava de olho em seu filho pela enorme janela da cozinha, que lhe dava uma ampla visão do jardim. Enquanto isso, Baekhyun ficava alheio em seu próprio mundo infantil, brincando com sua bola, mas que acidentalmente a chutou para um lugar mais afastado de onde estava. Ele iria correr para busca-la, mas algo lhe chamou atenção.

Para onde tinha ido sua bola, havia uma árvore com um balanço feito de pneu e uma corda grossa amarrada em um de seus galhos grossos, naquela manhã não tinha nenhum sinal de ventinho tanto que Baekhyun usava apenas uma cuequinha para não ficar todo suado, mas o balanço estava se mexendo. Talvez fosse um bichinho que tinha passado, pois perto da casa havia uma entrada para uma floresta, mas a curiosidade da criança tinha sido atiçada, então ele olhou para os lados e viu sua mamãe abrindo a geladeira. O que fez o menino sorrir arteiro e correr com passos curtinhos até a tal árvore.

– Oi? Tem alguém ai? – Perguntou franzindo o cenho, curioso em saber quem estava lá, tendo a sensação que alguém o olhava. Mas queria tanto descobrir quem estava lhe causando isso.

Então ao se aproximar mais da árvore, sentiu um vento gelado em sua coluna que causou arrepios em seu corpinho, mas continuou andando, até chegar perto da bola, mas o que ele viu ao lado dela lhe deixou assustado, mas o surpreendente que não sentiu medo... Talvez, fosse uma mistura de receio ao ver um desconhecido o olhando enquanto empurrou fraquinho a bola em sua direção.

– Acho que isso é seu, pequeno. – O desconhecido sorriu de forma gentil, o que fez seus olhos sonolentos formar uma meia lua.

– Quem é você? – Baekhyun perguntou curioso, enquanto observava o jeito do outro, que parecia ser bem mais velho que ele, estava vestido com roupas simples. – Como entrou aqui em casa, moço? –Soltara uma pergunta tão ingênua.

– Eu me chamo Yixing, prazer pequeno Baekhyun. – O tal Yixing se levantou e gentilmente, curvou-se para criança em sua frente, que se mostrou surpresa vendo como o outro era bem mais alto que sim. Mais alto do que imaginava. – E bem... Como eu vim parar aqui, na verdade, nem eu sei explicar.

Baekhyun semicerrou os olhos, tentando se mostrar bravo ou talvez, estivesse querendo espantar aquele visitante que nunca viu na frente, mas lembrava um pouco sua mamãe. Mas esse gesto do mais novo só fez Yixing sorrir, vendo como aquele menininho poderia ser forte.

– Como você sabe o meu nome, Yixing? – Disse, formando um biquinho em seus lábios e colocando as mãozinhas pequenas na cintura. A intenção era parecer ameaçador, mas causou o efeito contrário.

Yixing voltou a se sentar e sorriu para o pequeno do seu lado. – Sente- se aqui, Baekhyun. – Apontou para grama ao seu lado, ainda olhando para o mais novo, que continuava na mesma posição, mas que agora não tinha as mãozinhas da cintura. – Eu vou te contar quem eu sou, Baek.

O menino, ainda desconfiado, se sentou no lugar indicado, abraçando suas perninhas gordas e pequenas e olhou para o mais alto, este que ainda mantinha um sorriso nos lábios. Baekhyun esperou quietinho até que outro falasse, o que não demorou muito para acontecer.

– Baekhyun, eu estive aqui desde o dia que você chegou. Até antes, eu acho. Eu não tenho mais noção do tempo. – A voz do Yixing era calma e baixa. – Na verdade, eu morei nessa casa por muito tempo.

– Não mora mais, Xingie? – Baekhyun perguntou confuso.

– Não... Ainda continuo aqui. Ninguém mais sabe, você é o único que me vê.

– Nem a mamãe? Você é o meu novo anjinho da guarda? – Sua voz saiu feliz, imaginando que seus anjinhos da guarda lhe enviaram outro para cuidar dele.

– Mamãe nem imagina que eu continuo por aqui... – Yixing sorriu com a segunda pergunta do menor e tentou não estragar sua ilusão. – De certa forma, sim.

Baekhyun ao ouvir sua resposta, ficou animado e feliz. Que até se levantou para dar pulinhos acompanhados por risadas infantis. E o Yixing riu também, sentia que Baekhyun adorava se sentir protegido.

Enquanto isso, a Sra. Zhang tinha acabado de colocar o almoço na mesa. Viu que o filho tinha se sentado perto da árvore, o que causou um sorriso nela, pensando que o menino estava explorando cada cantinho de seu novo lar. E escutar as gargalhadas infantis aquecia seu coração, finalmente viu esperança desde que perdeu seu único filho legítimo em um acidente.

Então saiu da cozinha e foi até onde o menino estava, parecia uma comemoração animada do Baekhyun, então ela supôs que ele tinha inventado um amigo invisível... Yixing, seu falecido filho, também tinha feito muito disso.

Ao chegar quase perto, chamou Baekhyun que a olhou, sorrindo largo e correu para até ela e levantou os pequenos braços para ser pego no colo, o que a Sra. Zhang aceitou com felicidade. Gostava de mantê-lo perto de si.

– Vamos almoçar meu pequeno solzinho? – Perguntou para o menino, dando um beijo em sua bochecha e fazendo uma breve cosquinha em sua barriga saliente. O que causou mais risos no menino.

– Vamos, mama! – Disse animado, queria contar sobre o Yixing, mas Baekhyun o viu se levantando e colocando o dedo indicador encostando nos lábios cheinhos. Era para manter segredo.

– Então vamos lá alimentar essa barriguinha. – Sra. Zhang disse entre risos, era incrível como o menino era feliz. Então, voltou a andar até a casa.

Baekhyun abraçou o pescoço de sua mamãe e ficou olhando para trás, vendo Yixing ficar mais longe a cada passo, mas isso não o impediu mandar um tchau com a mão. 

E o Yixing sorriu para ele.

《 ▪ 》

Baekhyun estava perdido entre seus pensamentos olhando para as estrelinhas, mas um barulho de seus bonequinhos de ação caindo da prateleira fez com que o menino voltasse a prestar atenção o que acontecia ao seu redor. Então se sentou na cama e ligou o abajur que havia em seu criado mudo. Iluminando o seu quarto, principalmente uma silhueta que estava sentada na ponta de sua cama.

Baekhyun deu um sorriso iluminado.

– Yixing-ah! – Falou de forma animada, o que fez o mais velho com expressão sonolenta levar o indicador aos lábios, fazendo sinal de silêncio para o menor.

– Shh, pequeno. Mamãe não pode saber que eu estou aqui. – Falou manso, fazendo o outro assentir rapidamente.

– Vou ficar quietinho. – Disse engatinhando até o adolescente a sua frente e sentando do seu lado. – Hoje a mamãe me falou de você... Ela mostrou uma foto sua e disse que você era tão bonzinho e inteligente.

– Mamãe disse isso? – Yixing se mostrou interessado, o que fez Baekhyun sorrir enquanto assentia.

– Sim, e disse que sente saudade. Por que você não volta, Xing? – Franziu o cenho e fez um biquinho o que causou uma risada baixa vindo de Yixing.

– Eu não posso voltar... Você sabe que o gege vai ter que ir embora, certo? – Perguntou cauteloso. Já tinha se passado muito tempo e sentia que quisesse continuar ali, em meio aos vivos, iria pagar um preço alto.

– Pra sempre, gege? Por quê? – Sua voz já se mostrava embargada. O que fez Yixing desejar voltar à vida. Algo que não iria acontecer.

– Sim. Porque eu não quero te machucar ou machucar aos nossos papais.

– Você pode ficar mau? – Yixing assentiu depois que ouviu a pergunta.

– Yixing gege não pode ficar mau. Ele e o meu anjinho da guarda. – Disse em defesa do irmão.

Para a imaginação inocente de Baekhyun, Yixing sempre fora um anjinho da guarda. Assim como os seus pais falecidos que cuidavam dele no orfanato.

– E eu sempre serei, pequeno. Mas... Para isso preciso de um favor seu. – Yixing deu um sorriso terno para o menino.

– Mesmo, gege? – O menino ficou de joelhos na cama, tentando ficar na mesma altura do outro. – Qual favor? Eu faço tudinho que você quiser gege.

– Para nós ficarmos juntos para sempre, como você quer, vamos ter que fazer uma brincadeira, pequeno. – Yixing sorriu. Mas pela primeira vez, Baekhyun se sentiu mal vendo aquilo.

– Qual brincadeira, Xingie? – Perguntou, começando a ficar receoso.

– A brincadeira do deixe-me entrar, pequeno Baekhyun

– E como se brinca?

– Você me deixa entrar em seu coraçãozinho... E eu ficarei para sempre do seu lado, pequeno Baekhyun. – A voz de Yixing ainda era calma, mas algo se tornou ameaçador. Mas o menor não conseguia negar as coisas para ele. Não mais. E Yixing sabia disso.

– Vamos poder ficar juntos para sempre?

– Sim. Para todo o sempre.

– Promete de dedinho? – Baekhyun levantou o dedo mindinho, o que causou outro riso do seu irmão, que também levantou o seu semelhante os entrelaçando.

– De dedinho. – Afirmou sua promessa, vendo um sorriso largo surgir do menino.

Baekhyun não seguiu seus pressentimentos que eram todos certos, Baekhyun era uma criança especial, Yixing viu isso quando tinha encontrado ele. E agora seu espírito tinha se tornado algo que dizem ser vingativo, justamente por não ter seguido o caminho da luz.

Baekhyun era uma criança pura que permitiu ser possuído pelo Yixing.

Assim que sentiu cada célula do seu corpinho pequeno sendo possuído por aquele que dizia ser seu anjinho da guarda, ele soube o que era o mal de verdade. Uma tristeza se apossou de seu corpo e um sentimento de perversidade fixou-se em seu cérebro.

Depois daquela madrugada, o menino não iria mais sorrir. Sua luz foi tomada pela escuridão que a alma do Yixing alimentou por quase seis anos. E nada e nem ninguém iria mais salvar ele do seu inferno, em um inferno construído em sua própria mente.

Onde o Baekhyun sorridente e animado estaria preso, até o fim de sua vida.