Espera só até eu mostrar pra’ todo mundo! - O primogênito dos Watterson saltitava e rodopiava pelos corredores, não conseguindo tirar os olhos de seu novo boletim tão azul quanto ele próprio. - (Será que vão ficar orgulhosos de mim? O Todd tem de ser o primeiro a saber!) - Rodopia novamente, mas acaba esbarrando as costas em alguém. - Opa! Des...cul…..pa…
Quem vira-se para o pequeno felino era, ninguém mais ninguém menos do que o cabeça dos repetentes, o líder hediondo da gangue escolar, Julius Oppenheimer Jr. O próprio em carne, osso, sangue fel e nome sujo, sujo como a camiseta branca recém-manchada de café.
- Ora seu…ESSA CAMISETA É NOVA!
- Bom...era, né? Haha… - Tenta acalmá-lo com uma piada, mas apenas botou mais lenha na fogueira. Bomb agarra o garoto muito mais baixo que ele pelo colarinho, erguendo e deixando-o quase que com os pés flutuando.
- Escuta aqui! Até hoje eu fiz vista grossa contigo porque tu’ é irmão do Darwin, mas agora tu’ passou dos limites, chapa! - O joga com violência no chão. - Te espero no ginásio na saída, mas se tu não aparecer...a surra de amanhã vai vir com juros. - Estrala os dedos dos punhos. - Até depois, mané.
(…)
Gumball se encontrava debruçado sobre uma das mesas do refeitório, ele sussurrava infinitamente “estou morto”, ao seu lado Darwin acariciava suas costas em afagos de consolo e a frente deles, Todd, a primeira vista parecia calmo, mas era cristalina a sua raiva quando repuxava o lábio inferior, mordiscando a pele até feri-la em pequenos fios de carne viva.
- É...agora que vi o flashback consigo entender o porquê do desespero.
- E-então vai me ajudar? - Os olhos anis cintilam em esperança.
- Não. - Responde secamente, tomando alguns goles de seu refrigerante comprado mais cedo na mesma e única máquina do colégio.
- Que?! Por que não? Você mesmo já me contou que já fez parte de uma gangue!
- Sim, mas se eu voltar surrado pra’ casa mais uma vez, minha mãe infarta. Juro que se não fosse por isso eu entrava nessa briga por você.
- Calma, ninguém precisa brigar. Irmão, eu peço pro’ Bomb te liberar, talvez ele mude de ideia.
- Por acaso não viu o flashback? Se fizer isso ele vai te bater também. - Põe as mãos em cada lado do rosto do irmão, apertando as bochechas, fazendo com que um bico de peixe surgisse. - Jamais vou permitir que alguém machuque este rostinho lindo. - Darwin cora em pura vergonha, dando um sorriso tímido com os olhos.
- Max u qui a genti vai fazê sobri a briga? - Indaga mesmo ainda tendo os lábios apertados.
- Eu conheço alguém que pode nos ajudar.
- Quem? - Questiona num tom misturado de curiosidade e esperança, soltando por fim o rosto do irmão do meio.
Todd discretamente aponta para a mesa ao lado, ali havia um garoto solitariamente jogando seu DS. Muito baixo, cabelo preto como a noite, pele tão branca como cera de vela, pontinhos de sarda decorando o rosto, olhos ônix, olheiras profundas, percingis e roupas bretas. O conjunto inteiro dava a visão de um morto-vivo e Gumball conhecia bem aquela criatura quase decrépita.
- O-oito?! Ele é a sua solução? - Gumball piscava freneticamente os olhos, desacreditado.
- Até onde eu sei, aquele cara nunca recusa uma briga e nunca perdeu uma.
- E o que eu sei, é que você nunca deve se envolver com ele. - Cochicha. - Conheço o oito a bastante tempo, então acredite quando digo que o temperamento dele é pior do que de uma onça que foi cutucada por uma vara curta.
- Tem uma solução melhor? - Arqueia uma sobrancelha.
- Não… - A resposta foi o sinal que Hot-dog Guy esperava para levanta-se da mesa. - E-espera, vamos falar com ele agora? – Rosna.
Não recebeu uma resposta, mas seguiu o jovem de óculos de sol até a mesa ao lado, ele também ouviu um “Boa sorte” sussurrado por Darwin. Estavam ambos agora parados a frente de oito, sem que ele os tivesse dado por notar.
- Err...com licença. - Todd pronuncia-se primeiro, tendo enfim chamado atenção. O adolescente pálido encara os intrusos de seu espaço pessoal com escárnio.
- Caim fora, porra. - Ordena enquanto descia os olhos de volta para o console.
- Você ouviu, ele não quer conversar, vamos. - Dá meia volta com seu sorriso medroso nos lábios.
- Não tão rápido. - Todd o puxa pelo suéter. - Vou me apresentar direito, meu nome é Hot-dog Guy, olha, não quero tomar o seu tempo, então vou ser breve. Precisamos que entre numa briga no nosso lugar.
- Negado, estou sem me meter numa há dois meses, duas semanas e cinco dias, hoje vou fazer meu recorde de 50 dias consecutivos. Se eu brigar, tanto o meu terapeuta, quanto a minha mãe vão ficar decepcionados.
- Seu terapeuta por acaso é o Dr.Wilson?
Oito aperta o botão de pausa do 3DS, pondo-o e as mãos sobre a mesa, erguendo o corpo para frente para encarar o jovem do terceiro ano de forma predatória.
- Me espionando? Que romântico. - O sarcasmo serpenteava a frase como uma cobra vil.
- Também tive os meus problemas com relação a brigas. - Massageia a mandíbula ao lembrar-se de um fatídico gancho de esquerda. - Vem cá, ele ainda tem aquele nojento hábito de comer durante as sessões?
- …..Tem. - Solta um riso soprado ao ouvir o detalhe descrito, um que deixou mais do que claro a honestidade do rapaz de fios ocre. Sentou-se de volta, mais pensativo e calmo desta vez. - Deixa eu adivinhar, arrumaram encrenca com a gangue do Bomb?
- Sim. - Gumball responde como uma confissão.
- Já enfrentei eles algumas vezes, são bons oponentes, mas péssimos em se organizar como equipe… - Alguns segundos de silêncio se instalam no local, oito pressionava as têmporas e um tique no nariz arrebitado transparecia irritação, soltando, por fim, um longo suspiro de ar quente. - Ok, eu enfrento os idiotas por vocês. - Gumball e Todd se entreolham num sorriso que misturava esperança com alívio. - Mas com uma condição! - Ergue o indicador para cima. – Pra’ cada vadia que eu derrubar vai ser um favor pesando na conta de vocês. A gangue do Bomb é composta por quatro integrantes, ou seja, vocês vão me dever quatro favores. - Ergue mais três dedos.
- Dois pra’ mim, dois pra você, pra mim está ótimo. - Proclamava o azulado, Hot-dog assentindo em concordância.
- Mas...e se você não conseguir vencer? - Para a mente realista de Todd, é impossível calcular que um garoto com um porte físico tão frágil consiga vencer um quarteto de delinquentes; na realidade, sentiu vontade de lhe dar o número de uma funerária.
- Isso é um desfio? Pois fique avisado que eu nunca perco um jogo. - Sorri ladino. - Agora sumam da minha frente. - Pega o console de volta, retomando sua atenção ao aparelho e desvencilhando-se do sorriso, como se este nunca tivesse aparecido em seu rosto sardento.
Após o sucesso da negociação, Gumball e Hot-dog voltam para junto de Darwin.
As horas escovam como areia fina entre os dedos, logo as aulas sessaram e os delinquentes já aguardavam pelo Watterson na quadra de basquete. Gumball abre a grande porta dupla, indo pé sobre pé até eles em um andar natural e de peito estufado.
- E então? Preparado pra’ apanhar? - Oppenheimer e seus confederados organizam-se em uma típica posição de gângster.
- Não, e vocês? - Um refluxo de confusão os atinge. - Ei, Oito, chega mais!
No mesmo instante seguinte, Harry Tootmorsel chuta as portas do ginásio sem mesmo tirar as mãos dos boldos da calça, ele caminha até o grupo com seu melhor sorriso de deboche, revelando assim seus aparelhos dentários.
- Toc toc. Quem é? Pois então te digo…sou o Sr.Sem piedade. - Estava agora ao lado de Gumball. As pupilas de Bomb se dilatam e outros jovens atrás de si dão um passo para trás. - O que foi? Não era pra primeiro entrar e depois bater, Julius?*
- C-chefe, é o Oito, o que a gente faz? - Indaga foice, o mesmo tremendi assustado.
- Parem de agir feito galinhas! Ele é só um e nós estamos em quatro!
- Posso ser só um, mas depois que eu te bater vai ver oito de mim. - Ergue os punhos, como numa posição de luta de boxe.
Gumball a este ponto observava tudo dá arquibancada, como se aquilo fosse uma espécie de show, mas afinal, não seriam as lutas esportivas puro entretenimento violento? Para o espectador, restava torcer por Oito, por mais que a vitória já estivesse garantida. Era um mistério ainda maior saber o porquê de ainda ter gente que tentava derrotar aquele pequeno punk, ao em vez de se render de uma vez. Uma figura em tons de cores vibrantes e que lembravam brasas aproxima-se, carregando em mãos um saco de pipoca, este se senta ao seu lado.
- O que eu perdi? - Questiona antes de mastigar um punhado das pequenas nuvens.
- Na verdade nada, eles só estão fazendo aquela coisa de ataque verbal.
- Hmm….quer? - Oferecia-lhe a pipoca. - Se não comer agora vai murchar.
- (Droga...droga, droga, droga, drogaaAAHHH! É sério que eu ouvi duplo sentido nisso?!) - O rosto colore-se num sutil tom rosado. - N-não, valeu…
- Você não gosta? Não está muito salgado.
O felino, pesa o olhar sobre o saco de pipoca sobre o colo do amigo, sentia-se um tonto por recusar comida gratuita. Esfrega o próprio cabelo, numa tentativa falha de se desvencilhar dos pensamentos. Estica a mão para agarrar um punhado de porção para si, no entanto, a palma acaba esbarrando com as costas, agora ambas as mãos se tocando, num impulso instintivo como quem encosta em algo fervendo, o Watterson recolhe a mão, usando-a de máscara.
- Ei. - Ao ver de canto de olho o mais velho, nota-o segurando uma das pipocas entre o polegar e o indicador. - Diga: “Aaaahh”… - Obedecendo ao pedido, abre os lábios, fazendo o mesmo som. Todd pousa o pequeno alimento na língua alheia, assistindo Gumball mastigar o pedaço de nuvem salgada. - E então?
- ….TEM GOSTO DE BACON?! - Tampa a boca ao ouvir a própria voz sair muito alto. - E-e...espera… - Agarra agora sem pudor algum uma boa porção da comida, enfiando tudo de uma vez na boca. - E tem cheddar também?! - Os olhos cintilavam e repuxava a saliva que teimava em escorrer, aquilo lhe pegara desprevenido.
- Surpresaaa~ - Brinca animado ao ver a reação do amigo.
- C-como você fez isso? Parece só pipoca normal! - Gaguejava desacreditado.
- Eu sou um alquimista, sei um pouco de mágica. - Ele só havia usado tempero com sabor artificial, mas estava adorando a reação de gato que recebeu um novelo de lã, todavia, também estranhou que o Watterson nunca tivesse entrado em contato com pipocas temperadas.
- Me ensina a fazer isso! Agora! - Agarra o colete de Todd e os olhos ainda cintilando de emoção.
- U-um bom mágico nunca rev-vela os seus s-segredos. - Segurava o riso o máximo que podia, jurando que nunca havia o visto tão adorável como agora.
- Fala logo, sua salsicha mal-passada! - Lhe puxa a bochecha com força, ouvindo protestos de dor do mais alto.
Algo então estoura a bolha que os separava do resto do mundo externo, especificamente, uma terceira voz forte.
- EI MANÉS! O SHOW ACABOU!
Ao redirecionarem atenção para o meio da quadra, veem Oito de pé e braços cruzados, em seu rosto escorria sangue do nariz, o olho direito inchado, lábio cortado e muitos outras feridas que doíam até mesmo os olhos que quem via. Atrás de si, algo muito mais assustador, todos os quatro valentões estirados no chão, dois gemendo de dor, um desmaiado e Bomb que tremia só na tentativa de tentar se levantar; por mais que eles estivessem pagando na mesma moeda, a visão era de dar pena. Cachorro-quente e felino andam em passos acelerados até Harry.
- Acho que deveríamos chamar a enfermeira, né? - Gumball suava frio só de imaginar que poderia ter sido ele a estar naquela situação.
- Pode ser, acho que ouvi a costela de um deles se partindo. - Cospe no chão um punhado de sangue que saiu pela boca. - Tenho de ir pra’ casa agora, vai ter sobremesa. - Puxa o saco de pipoca das mãos de Hot-dog Guy, levando consigo enquanto se retirava do local. - Depois eu mando uma mensagem sobre a tarefa que vocês têm de fazer! - Grita antes de virar um borrão no horizonte.
- É...ele venceu o “jogo” dele...né? - Hot-dog ao retornar sua atenção para Gumball vê este também já de saída.
- Desculpa, se eu não for agora vou me atrasar pro’ treino, se cuida! - Acenava antes de sair.
- Você também...é….é a primeira vez que tenho de avisar a uma profissional da saúde sobre um massacre…
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