História HotBall - Afrontando o estranho - A flama

Um giro para a esquerda, meio acordado, meio dormindo; outro giro, cobertas emboladas. Vestia apenas uma cueca e uma camiseta larga, Gumball só levantou de fato quando os raios do sol lhe irritaram ao rosto. Primeiro ficou sentado, o quarto novo ainda tinha cheiro da tinta fresca. Gostou da cor escolhida, um cinza claro que combinava com a colcha da cama. 

A tarefa de sair de cima do colchão foi difícil, mas não demorou muito para enfim estar na cozinha. Os armários estavam repostos, então ficou indeciso sobre o que cozinhar. Escolheu fazer uma pilha de panquecas, omelete e uma salada de frutas, não usou liquidificador, do contrário HD poderia acordar. Não era tão habilidoso quanto ele, mas sabia como fazer uma boa refeição. Aprendeu com o mesmo a como usar o vapor da panela para fazer os omeletes e as panquecas crescerem, ambos ficando com textura de nuvem.

Concentrado em cortar os morangos, não percebeu a presença da figura atrás de si, o pequeno aperto que foi feito em sua bunda o fez pular de susto. HD imitando o som de buzina e rindo logo depois, ele apoia o corpo sobre o balcão, vestia uma regata e uma calça moletom.

- O que está aprontando? - Pergunta, espiando o balcão e observando toda a fartura. - Não acha que é muito só pra nós dois? - Pergunta enquanto roubava um dos morango para si.

- Talvez, sempre estive acostumado a cozinhar pra uma família de cinco. - Pausa. - Ou melhor, quatro e um saco sem fundo chamado Ricardo Watterson.

Ambos riram, Gumball concordou com o outro, então não terminou a salada, apenas pegando os pedaços de morango e pondo em volta da pilha de panquecas, o que na verdade deu uma ótima decoração.

O balcão era um daqueles tipos redondos e centrados na cozinha, ou seja, com bancos ele também servia de mesa. Aprovou bem a idéia de HD de substituir uma mesa de sala de jantar por isso. Gostava da sensação do dois em um, tal como as promoções de "leve três, pague dois". Eram algumas das pequenas alegrias da vida adulta.

- Já pendurou as fotos? - A pergunta de Hot-dog sendo retórica. Ontem mesmo as paredes da sala estavam nuas e agora já estavam decoradas com fotos de família e viagens. - E os posters? - Gumball não o respondeu no mesmo instante, pois mastigava um grande pedaço de panqueca xaropada.

- Estão no escritório, ainda não pendurei, queria sua ajuda pra decidir onde por. - Diz após engolir a porção.

- Vai ser nossa única tarefa do dia?

- E a louça.

Riram juntos, comeram juntos e fizeram as atividades do sábado juntos. Fazia exatamente uma semana desde que começaram a rotina a dois na nova casa. O noivado era coisa recente, mas o costume da relação não. Estavam juntos a quase dez anos e tão muito logo seria o vigésimo quinto aniversário de Gumball.

- A Anais confirmou que vai vir? - Indaga ao azulado após pendurar o último poster.

- Ainda não, ela deve estar muito ocupada com a faculdade. - Vare a poeira deixada pelos buracos na parede feitos com a furadeira.

- Deve ser difícil morar sozinha em Harvard.

- Ela sabe se cuidar, sempre foi a mais astuta da família.

- E você por um acaso seria o mais gato? - Arque uma sobrancelha.

- Certamente que sim! - Pisca charmoso pra cair na risada logo após.

O celular de Hot-dog vibra, ele caçando o aparelho dentro do bolso para ler a mensagem.

- Oito e Tobias confirmaram presença.

- Não imaginei que viriam depois do que aconteceu na festa do mês passado.

- Foi tão escandaloso assim?

- Minha mãe me obrigou a desinfetar o banheiro depois que contei todo o ocorrido. - Suspira ao recordar de ouvir gemidos vindos do banheiro e depois de limpeza "se vira nos 30". Era impressionante o que aqueles dois podiam aprontar ao estarem sobre efeito alcoólico. - Contanto que eles não cheguem perto da minha banheira, está tudo certo.

Desde que oito finalmente abriu o jogo com o melhor amigo, as coisas entre eles tomaram um rumo imprevisível. Primeiro foi o afastamento de Tobias, mas quando o Tootmorsel teve a certeza de que perdeu o Winston, o homem simplesmente volta com tudo para os braços de Oito, cheio de uma paixão avassaladora.

- Queria ter visto o Oito se declarar... - Faz um bico, seu lado xereta ficando desapontado.

- Isso é particular entre eles, já temos nosso próprio romance para nos ocupar. - Agarra aquele beiço para um rápido beijo. - Não temos?

- "Certamente que sim".

Aproveitaram o restante da tarde para descansar do trabalho, não somente o daquele sábado, mas principalmente da semana inteira. HD estava agora trabalhando na fábrica arco-íris como um dos produtores químicos, o cargo não era o tipo pesado, mas ainda era cansativo. Entretanto, quem provavelmente tinha que mais se esforçar era Gumball, ele passando longas horas trabalhando na creche de Elmore. Nunca foi do tipo de planejar a carreira que queria, mas bastou experimentar trabalhar lá que algo dentro de si brotou. Adorava as crianças, sempre teve talento em cuidar e fazer amizade com elas. Claro, era exaustivo, mas ouvir os risinhos finos lhe revigorava as energias. Nunca esquecendo das vezes em que ganhou um desenho ou uma flor de presente dos pequeninos. "Tio Gum, eu te adoro", frases simples como essa lhe aquecendo o peito.

Gumball estava novamente jogado sobre a cama, o estomago terminando de digerir a pizza do jantar.

- Vai querer encomendar um bolo de quê? - Todd conferia o menu de sabores da confeitaria.

- Qual o que dá diabetes instantaneamente só de olhar pra ele?

- Hmm, talvez o de chocolate com M&MS?

- Simples demais....que tal floresta negra?

- Esse sabor me trás nostalgia, era o que estava naquela festa de aniversário do Oito. - Sorri ao recordar-se. - O restante já está pronto, não está?

- Sim...agora pode vir pra cama?

A cauda mexia-se vagarosamente, como se ela dissesse que o Watterson estava sonolento. HD subiu no colchão, deitando ao lado do noivo e lhe fazendo carinhos. Adorava ouvir o ronronar meigo e a forma como a pele alva se arrepiava até aos mais sutis toques. Passou os lábios pelo ombro desnudo, o perfume do corpo lhe atiçando os sentidos. Beijou cada milímetro de pele que pôde antes do bichano sofrer uma crise de cócegas. 

- Para! - A ordem entre risos sendo ignorada, o homem agora sobre si e trilhando os selinhos por toda a curvatura das costas. - Se não parar eu te arranho! - Vira o corpo, ficando de frente para HD.

- Gosto das suas unhas em mim.

- Diz isso, mas fica reclamando de dor depois. - Passa a mão pelas costas alheias, tocando as linhas dos anteriores arranhões quase que completamente cicatrizados.

- Sim, é verdade...mas as mordidas doem mais.

Deita sobre o peito do felino, ouvindo os batimentos acelerados. Gumball leva uma das mãos aos fios dourados, os dedos a fazerem uma sútil massagem. E assim adormecem, unidos por um forte amor em laço.

Na manhã seguinte tiveram muita agitação, a casa deveria estar pronta para receber as visitas. Arrumaram o quintal e ascenderam a churrasqueira. Queriam algo simples, os amigos mais próximos e família. Por parte dos Watterson sempre tiveram muitos integrantes, mas Hot-dog só tinha sua mãe. HD contou o motivo, quando houve o divórcio escolheu ficar com a mãe. Faziam anos que não vê ou fala com o pai, ele se mudou para longe a muito tempo e HD sabe que jamais serão amigos. Nunca ficou para baixo por causa disso, tinha o apoio e o amor incondicional da mãe, a família Watterson também os acolheram como parte dos seus, não era tudo perfeito, haviam ocasionais discussões bobas, mas no geral davam-se bem.

- Anais disse que vai vir, mas provavelmente atrasada. - O felino dizia aos pais, eles tendo as rugas mais aparentes e alguns poucos fios brancos.

- Antes tarde do que nunca. - Nicole tranquilizou.

- Mas se ela demorar muito vai ficar sem bolo. - Ricardo emendou.

Darwin e Carrie chegaram depois, eles não haviam mudado tanto, principalmente Carrie que, apesar do ectoplasma da sua forma ter mudado, ela nunca iria de fato envelhecer. Eles prosseguiram com a banda, fazendo shows em turnês, então nunca exatamente paravam em uma única cidade, apesar de Darwin ter se mudado para a casa dos Krueger, o plano é dos dois casarem ainda naquele ano.

- Nada de sushi no banquete, por favor.

- Ora Darwin, eu nunca iria escolher algo que te ofenderia. - Carrie ria com as sugestões para a festa de casamento. O noivo sorri satisfeito com a resposta dela, se afastando para falar com os avós.

- Depois que me mudei, finalmente consegui ter liberdade pra inserir peixes ao meu cardápio. - Gumball sussurra para a amiga, a fantasma surpreendeu-se de imediato.

- E o que achou do gosto?

- Você é uma fantasma sortuda, meu irmão é uma delícia!

Ela cai às gargalhadas enquanto Darwin retorna chateado ao perceber que perdeu uma boa piada. Gumball também conversou bastante com os avôs, a maioria deles com suas bengalas e aparelhos de ouvido, as mãos tremiam nos apertos de mão, mas felizmente estavam com suas mentes saudáveis, Jojo nunca esquecendo uma única data importante.

Os últimos a chegarem foram Oito e Tobias, os rapazes ainda mantendo seus respectivos estilos, Tobias de casaco esportivo, o cabelo num coque samurai e uma barba colorida como o cabelo. Já oito num casaco de couro, as argolas pretas atravessadas no lábio inferior o deixavam com um aspecto ainda mais Punk, mas a maior mudança dele sem duvidas sendo o cabelo loiro natural que ele parou de tingir de preto, algumas mechas pretas ainda estando a sobra.

- Foi mal pelo atraso, o trânsito estava foda. - Oito tentou justificar.

- Mas agora estão aqui, obrigado por virem.

- A gente que agradece. Aqui, espero que goste.

Tobias entrega para o aniversariante uma caixa razoavelmente grande com papel laminado verde. A curiosidade do gato foi imensa, tanto que ele nem esperou, imediatamente agradecendo e já abrindo precoce o pacote. Os olhos brilhando ao ver o eletrodoméstico novinho em folha, ele não segurou a animação e gritou:

- HD! A GENTE GANHOU UMA CAFETEIRA BURGUESA! - Levanta a caixa acima da cabeça.

- MINHA NOSSA! - Ele grita em resposta quase estando do outro do lado do quintal, todos os outros convidados também olhando e alguns rindo. HD deixa Nicole comandando a churrasqueira, num trote acelerado ele se reúne aos três, pegando a caixa com a imagem da cafeteira chique da marca Arno. - Obrigado rapazes, agora vou tomar café com propriedade. 

- Ela precisa ser nomeada! - Gumball exclamou, HD limpa a garganta e novamente levanta a caixa, mas com mais cuidado dessa vez.

- Oh sagrada cafeteira, eu vos nomeio de: Arnalda, a rainha da insônia! - Após isso a caixa é novamente abaixada, onde Hot-dog e Gumball abraçam o aparelho como se fosse um filho.

Harry tampava o rosto como que dizia internamente: "Esses caras não batem bem da cabeça". Oito e Wilson foram se enturmando aos poucos com o restante dos convidados, o Tootmorsel fazia o possível para não conversar com Nicole, preferindo ignorar pra sempre o que ele e Tobias fizeram no banheiro dos Watterson.

- Casamento na Igreja? - Carrie estranhou o gosto de Penny de onde seria seu "Casamento ideal". - Que clichê.

- Inovar é bom, mas sempre adorei todos os elementos que tem numa cerimônia clássica. O vestido branco, um padre, música de órgão, badaladas de sino, chuva de arroz, carro com latas atrás...- Ela suspirava ao citar todos os elementos. - Acha tão careta assim?

- Acho, mas se esse é o casamento perfeito pra você, então ele já é perfeito.

- Obrigada Carrie, se eu casar, quero que seja minha madrinha e o Darwin meu padrinho. - Ela propõe, a mesma estando incrivelmente emocionada. - Acha muito cedo pra eu dizer isso?

- Acho, mas aceito. - Elas sorriem uma para a outra.

- Me sinto oficialmente traída.

Era Anais ao dizer aquilo, era quase hora do "parabéns" quando ela finalmente chegou na festa. Bem mais crescida, era impressionante o quanto ela havia espichado, mas o rosto de marshmallow sério estava o mesmo. Ela sempre confiante de que seria a madrinha da Fitzgerald.

- Anais! - Muitas pessoas gritam, quase voando na coelhinha.

- Ei, ei, também estou com saudades, mas pelo menos deixem algum espaço pra eu respirar! - Tentava esconder as próprias emoções, afinal fazia meses que não visitava a família, entretanto, não queria chorar na frente deles. 

Mesmo que Gumball fosse o aniversariante, ela quem havia se tornado o centro das atenções em pouquíssimo tempo, mas o primogênito nem se importou, estava igualmente morrendo de saudades e queria estar por dentro de todas as novidades. A sessão de perguntas perdurando por tempo demais, HD até tendo de insistir para todos lembrarem que precisavam cantar parabéns e tirar as fotos.

Como era de se esperar, cantaram desorganizados e alguns até desafinando horrivelmente, mas aquilo rendeu muitos risos e Gumball até apagando as velas antes da hora e dizendo: "Vocês são tão ruins que eu não aguentei esperar o final".

O bolo não demorou para acabar, até porque ele não era grande o suficiente para todos aqueles convidados e Ricardo Watterson. Mas bem como o esperado, a sobremesa estava ótima.

Tudo terminou tarde, despedidas sempre tristes, mas acompanhadas da esperança de um reencontro.

- Venham também nos visitar, o apartamento deveria se chamar apertamento, mas é bastante aconchegante. - Disse Tobias ao convidar HD e Gumball.

- Não recebemos muitas visitas, mas com isso conseguimos nos acostumar melhor com a vida a dois...às vezes acho que ele só está comigo porque foi expulso de casa. - Oito faz um falso cochicho na última frase.

- E-ei! - Fica sutilmente ofendido. - Diz isso, mas é louquinho por mim.

- Sim, tem razão, você está me deixando louco aos poucos, doido! - Sorria irônico.

- Nem vem com essa, você que é o doido. - Ria junto.

- Ao meu ponto de vista, vocês já são birutas de nascença. - Gumball concluí e os quatro ali riram.

- Vai se foder! - Oito dizia em fim seu último xingamento da noite, com direito até a um dedo do meio. Ele e o Wilson despedindo-se e indo em bora de mãos dadas.

Agora com todos os convidados já não mais na casa, o aniversariante pôde em fim arremessar seu corpo contra o sofá, a ação sendo tão brutal quanto soou. Hot-dog senta-se num dos braços do sofá, cutucando de leve o noivo.

- Ei, chiclete mastigado.

- Ki fui? - Pergunta, o som da voz sendo abafado, já que o rosto do azulado estava enterrado no estofado. - Mi dexa.

- Humm, mesmo? E eu achando que você poderia ainda ter um restinho de energia...para o meu presente. - Como um raio, Gumball ergue-se. Estando agora sentado no sofá e com olhos vibrantes fitando HD. - Ahh, agora ficou animado, é?

- Tá, tá! Eu sou um interesseiro e blá, blá, blá! Mas podemos pular para a parte do presente, por favor? - Faz um bico miúdo, tombando o rosto para o lado, como cão, ou no caso, gato pidão.

- Certo...feche os olhos. - O felino os fecha. - Espere aqui. - HD levanta-se e Gumball espera. - E não vale espiar!

- Ookeeey~ - Quis muito, mas não espiou.

Alguns instantes depois sente algo ser posto em seu colo, ao abrir os olhos, vê uma caixa marrom com tampa, e ao retira-la, vê um miúdo gatinho dormindo numa caminha de almofada. De barriga e patas brancas, manchas escuras e ruivas, ele bocejou, em seguida se espreguiçando e abrindo os grandes olhos verdes para Gumball. O rapaz estava totalmente boquiaberto.

- Deu um trabalhão conseguir esconde-lo e cuidar ao mesmo tempo sem que você descobrisse, mas aí está, adotei esse pequenino hoje quando fui buscar o bolo.

- Nós somos pais?!

- Só falta um nome.

- Aahh, minha nossa, nossa, nossa, calma...é muita emoção repentina! - Ele se segurava para não morrer de felicidade, a tarefa ficando ainda mais difícil quando ouviu o lindo miado e o bichano logo se esfregando em um de seus braços. - Acha que o Darwin vai ficar inciúmado?

- Humm...acho que ele vai ter de superar a ideia de que agora tem um concorrente de afeto. - Diz enquanto afaga o pescoço do novo integrante da família.

- Nesse caso...que tal...Candy?

- É um nome bastante fofo, achei que você iria escolher "Deus da destruição" ou algo assim.

- Hora, mas ele é "Candy, o Deus da destruição"!

HD não conseguiria esconder o riso, mesmo se quisesse. Os dois felinos ronronando um para o outro, como se estivessem se comunicando. Ficaram os três abraçados por bastante tempo até até Candy miar desesperado, provavelmente com fome.

Gumball encheu uma tigela com leite e HD tirou o saco de ração do fundo do armário, "Então foi ali que ele escondeu", pensou o Watterson. Após isso, eles terminaram a faxina da festa, felizmente os convidados já adiantaram boa parte da limpeza.

Tomaram banho, a barriga nem exigiu um jantar (estavam fartos do banquete). Deitaram na cama, muito quietos e quase nem se mexendo. Hot-dog Guy logo estranhou aquela falta de animação repentina, suspeitou que o outro estivesse muito cansado ou que já tivesse adormecido, entretanto, um som quase inexistente veio por debaixo das cobertas.

Ao levantar o edredom, assusta-se ao ver o noivo chorando baixinho no travesseiro. Abraça-o imediatamente, sem deixar de olha-lo.

- Gum, por que está chorando?

- Desculpa, é só que...eu não quero que isso acabe.

- "Isso"?

- Esses dias, essas sensações...esses momentos...queria que continuassem pra sempre e...por um único instante...lembrei que vão acabar.

Ergue os olhos, estes cheios de água salgada como o mar, os cílios grudados uns aos outros e um rubor colorindo o rosto choroso. Ao ver o amado naquele estado, o peito de HD se aperta. Respirou fundo e apresentou o melhor sorriso que encontrou.

- Tem razão, vai acabar...mas mesmo tendo ciência disso, acho que é um motivo a mais para celebrar esses "momentos". - Beija o meio da testa alheia, seguindo para as bochechas e terminando a trilha nos lábios tão inchados e vermelhos quanto o restante daquele rosto. Um beijo salgado e ao mesmo tempo doce. - Tenho você na minha vida, Gum. E mesmo se eu vivesse numa utopia...se você não estivesse nela...não valeria a pena.

O azulado emociona-se ainda mais ao ouvir aquelas palavras, agora sim sendo impossível frear as lágrimas, elas, porém, vindo acompanhadas de um genuíno sorriso.

- Eu te amo tanto.

- Também te amo muito, meu gato chorão.

Riram fraco, a força só voltando no dia seguinte com, não um, mas dois felinos energéticos. A semana recomeçou, mais trabalho, mais dores de cabeça e problemas viriam. Mas tudo bem, porque a vida continua e vive-la inteiramente era a luta que estavam dispostos a enfrentar. Afinal...

Nem todas as lágrimas são um mal.