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História Huntress: A história de Tessa Potter - Respire fundo, abra seus olhos, procure a verdade.


Escrita por: AririR

Notas do Autor


Psicometria: Habilidade de acessar memórias de objetos ao tocá-los.

Capítulo 5 - Respire fundo, abra seus olhos, procure a verdade.


Fanfic / Fanfiction Huntress: A história de Tessa Potter - Respire fundo, abra seus olhos, procure a verdade.

― Você não pode estar falando sério.

― Não poderia ser mais sério Theresa.

Tessa estava de pé no gabinete de Dumbledore, ao lado de um Snape de braços cruzados a observar a discussão diante de si; Com apenas vinte e um anos, a garota encarava com intensidade o Bruxo mais Poderoso da atualidade sem se importar com essa fama dele, sem medo, raiva e uma fúria terrível emanavam de seu corpo, enquanto Snape apertava a varinha com força no punho fechado.

― Isso não está certo.

― Theresa, eu creio ter explicado em detalhes todas as circunstâncias que envolvem a situação de Harry, sei bem que é uma jovem experiente, sábia e entende bem o que eu disse...

― Não, Dumbledore, eu não entendo.

― O sacrifício de Lilian garantiu a total segurança de Harry, entendo que sinta falta dele...

― Não seja condescendente comigo! – Tessa se levantou, visivelmente irritada e Snape ficou ainda mais tenso – Eu sei muito bem o poder desse tipo de magia, não sou uma de suas estudantes mais, Dumbledore!

― Sei disso, Theresa.

― Meu irmão também morreu por Harry, ele também se sacrificou, e o poder disso é tão importante quanto o de Lily. E mesmo que não aceite isso, não posso ter o direito de vê-lo? De estar com ele? Cuidar dele como meu irmão gostaria que eu fizesse?

― Como exatamente uma garota que mais parece uma criança cuidaria dele? – Snape perguntou, em tom de desdém, e Tessa se virou, irritada, como se só agora tivesse notado a presença do pocionista. – Uma jovem irresponsável, desleixada, errática, sem qualquer noção de honra, respeito ou recato, que vive a se embebedar e a arriscar a própria vida e a de outros a troco de nada?

― Meu irmão tinha a minha idade quanto teve o Harry.

― Alguém tão desprezível quanto você.

Tessa avançou contra Snape, que não se moveu, embora os nós de seus dedos brancos de tanto que apertava a varinha.

― Não ouse falar assim de James.

― Não estou falando dele, e sim de você, alguém que não consegue aceitar uma orientação básica, alguém que não possui a mínima capacidade aceitar decisões, alguém que com certeza não merece o posto que assumiu.

― Porque não se olha no espelho? Eu até hoje me pergunto que diabos o homem com uma marca negra no braço faz aqui, se metendo nos assuntos sobre aquele que derrotou seu mestre, a quem tão facilmente traiu, não é? Um covarde, é o que você é.

Tessa percebeu instantaneamente a intenção de Snape; em um segundo ela já apontava a própria varinha para o bruxo, que pronunciava o feitiço, mas antes que ambos se atacassem, um escudo forte os separou, empurrando-os para lados contrários da sala do diretor. Tessa observou Dumbledore com a varinha erguida, aborrecido.

― Chega, vocês dois. Theresa, não mudarei minha posição. Existem outros como você que sentem o mesmo desejo em participar da vida de Harry, mas isso não será possível. Há outras maneiras com as quais pode cuidar de seu sobrinho, e uma delas envolve exercer seu ofício. – Tessa olhou suspeita para o diretor, que tornou-se a sentar, o aborrecimento desvanecendo de seu rosto – Fui informado que recebeu a oportunidade rara de se juntar à Confederação Internacional de Bruxos como Auror. Estou correto?

― Sim, está correto. – Respondeu entredentes.

― Portanto, fui levado a crer que exercerá funções internacionais. – Tessa acenou em descaso, sentando-se novamente, sem deixar de fuzilar Snape com o olhar, esse que não tirava os olhos enjoados dela – Voldemort tenta ganhar forças e quanto mais pudermos atrapalhá-lo, irritá-lo, talvez ele nunca retorne.

― O que quer dizer com isso?

― Quero dizer, que pode fazer um trabalho secundário e manter os ouvidos e olhos abertos para qualquer indicio de aparição do lorde das trevas. Enquanto pudermos acompanhar seus passos, poderemos resistir e vencê-lo. Se quer ajudar o Harry, cuidar dele, acredite quando digo que essa, é sua melhor opção.

Tessa contorceu o rosto em desgosto, mas assentiu.

― Muito bem. – O velho soltou um suspiro cansado, sentando-se novamente. – Não tenho certeza se Voldemort voltou ao seu esconderijo na Albânia, se ele arriscaria isso. Quero que o procure, descubra onde ele está. Esse é seu ponto de partida.

Tessa não esperou por uma despensa ou despedidas ao cruzar o escritório e sair porta afora enquanto Snape seguia seu caminho com nada mais que desprezo no olhar.

Garota idiota.

X______X

― Não faz nem dois dias, como em nome de Salazar, você chegou tão rápido?

Tessa sorriu involuntariamente enquanto Snape soltou um bufar audível.

Era fim da tarde quando Tessa pousou sua vassoura na casa vazia dos Tonks, levou poucos minutos para se limpar e trocar-se antes de aparatar diretamente para Hogsmeade, onde já havia uma carruagem a esperando para conduzi-la à Hogwarts. Dumbledore na certa já estava à espera dela, o que não se podia dizer de Snape, que parecia genuinamente surpreso em vê-la.

Ela sorriu, abrindo e fechando as mãos repetidamente com o nervoso que sentia.

― Por acaso esperava que eu não viesse?

― Eu sabia que você viria. – ele pronunciou ao destrancar os portões e abrir para que Tessa entrasse. – Mas considerando que minha coruja nem deve ter chegado em Nova York ainda, era de se esperar que você levaria mais alguns dias para chegar.

Tessa deu de ombros, impacientemente à espera de que ele fechasse o portão novamente.

― Voei durante a noite.

― A noite inteira?

A perplexidade de Snape a fez se virar e olhar curiosa para ele. Tessa notou suas sobrancelhas arqueadas e os olhos negros curiosos sobre ela, totalmente diferente do comum olhar de desprezo a que estava habituada após tanto tempo convivendo com o bruxo.

― Sim, Snape, a noite inteira. Eu precisava saber que diabos você estava fazendo. – Snape revirou os olhos e voltou a concentrar-se em fechar o portão – Porque se me recordo bem, você prometeu protege-lo...

― Não sei se percebeu, mas essa é uma circunstância que nenhum de nós previu.

― Óbvio, porque se preocupariam com a possibilidade do idiota se inscrever em um torneio como esse, não é mesmo?

O clique das travas a sobressaltou. Em segundos Snape já tomava a dianteira e seguia a trilha curta para o castelo, sem esperar por ela. Tessa apressou-se em acompanha-lo, a irritação pela situação crescia em seu peito.

― Pode parecer chocante, mas não foi o Potter que se inscreveu.

― Como não foi?

Tessa deu pulos altos para conseguir alcançar a lateral de Snape, que continuou a andar indiferente aos esforços dela.

― Alguém colocou o nome dele no Cálice.

― Claro que alguém pôs o nome dele no cálice, havia a porra de uma linha etária em volta dele, como diabos ele conseguiria passar pela linha?

Snape parou abruptamente, virando-se para Tessa com impaciência, enquanto ela enterrava os calcanhares no chão para conseguir parar.

― Não Tessa, o garoto não tem nada a ver com isso. Alguém pôs o nome dele, sem o conhecimento dele.

A mente de Tessa girou rapidamente, milhares de pensamentos simultâneos iam e voltavam com inúmeras possibilidades e suspeitas. Como diabos alguém havia conseguido passar indetectável por Dumbledore e pôr o nome de Harry no Cálice bem debaixo do nariz anormalmente grande de Snape? Não, ela sabia que não era algo fácil, assim como não era qualquer um que poderia burlar o Cálice de fogo para que pensasse que não eram apenas três escolas competindo.

Dois campeões? E Harry sendo o segundo escolhido de forma bem conveniente?

Nada era coincidência naquele maldito mundo.

― Você só pode estar de sacanagem comigo.

Mordendo o lábio inferior com força, foi Tessa quem voltou a andar, a correr em direção ao castelo, disposta a tirar aquilo a limpo. Ela escutou os passos pesados de Snape seguirem ela, mas ele não falou mais nada; era fim do dia, horário em que os estudantes saíam da aula e circulavam pelo castelo à espera do jantar.

― Onde diabos está Olho-Tonto? – ela sibilou irritada, já vendo as grandes portas do castelo abertas e alguns alunos espalhados pelo jardim.

― Em aula.

― Como ele não encontrou quem fez isso ainda?

― Tessa...

― Quer saber, esqueça. Eu mesma vou encontrar.

Pulando pelos degraus, Tessa entrou no castelo e passou como um vendaval pelos corredores. Os olhares dos estudantes eram atraídos na sua direção, principalmente dos que esperavam pela abertura do Salão Principal. Ela não deu atenção a eles, nem mesmo quando passou pelo conjunto de cabeças ruivas que a encaravam abismados. Não poderia parar para conversar com eles, então já estava bem longe quando seus sussurros começaram.

― Aquela era a Tessa?

― O que ela faz aqui?

No entanto, Tessa ainda estava nervosa, inquieta e assustada. Porque ela não ficou como sentiu a necessidade? Porque ela não tomou conta da situação pessoalmente? De forma irritante, as palavras de Gui serpenteavam por sua cabeça, circundando e atormentando-a. Ele não estava errado, nunca esteve.

“Você não faz isso pelo Harry. Você fugiu, não cuidou dele e o deixou vulnerável por ter medo!”

Era Tessa que havia estragado tudo.

Imersa em seus pensamentos, Tessa não notou que Snape havia parado até esbarrar nele, quase derrubando ambos. Snape agiu rapidamente, virando em um segundo e a segurando nos braços com força antes que caíssem, jogou-se contra a parede. A inércia do movimento fez com que o corpo de Tessa caísse sobre o dele, mas antes que tropeçasse novamente, Snape cercou seu corpo e a segurou nos braços com segurança.

Tessa abriu os olhos, sem ter notado que os havia fechado com o susto. Os dois permaneceram parados, congelados no tempo; Snape a envolvia, os braços surpreendentemente fortes cruzados por seu corpo, seguravam sua cintura, enquanto Tessa descansava a cabeça no peito dele. Um sentimento de segurança a relaxava e a fez respirar fundo, inspirar seu cheiro confuso de tantos ingredientes que ele deveria mexer, mas o que predominava era o aroma almiscarado, que tomou suas veias e seus pensamentos, inebriando-a.

O que diabos estava acontecendo com ela?

Tessa despertou, começando a se soltar de Snape enquanto esse pigarreava e se desviava, evitando o olhar dela. Os dois ficaram distantes um do outro, sem querer falar nada que denunciasse o que realmente havia acontecido. Mas o que havia acontecido? Tessa se perguntou inquieta. Nunca havia se sentido daquela forma...

― Vamos. – Snape cortou o silêncio constrangedor, chamando sua atenção – Dumbledore está esperando por você.

Sem esperar por ela, Snape se virou, voltando a subir as escadas. Tessa respirou fundo, tentando acalmar seu sangue em ebulição e seu coração ridículo. Mesmo apenas parcialmente bem-sucedida, ela sacudiu o corpo e subiu os degraus atrás dele.

Que diabos havia acabado de acontecer?

Em poucos minutos Tessa já estava na frente da sala de Dumbledore, esperando pacientemente para que Snape dissesse a senha. Tão logo a escada apareceu, ela saltou sobre os degraus e irrompeu porta adentro, sem bater, em parte para evitar o professor, em parte pelo nervoso que ainda estava em seu peito. Tessa escutou os resmungos altos de Snape atrás dela, reclamando de sua grosseria e educação, mas ela já estava de pé em frente à mesa de Dumbledore, que olhava para ela com paciência.

― Eu fico fora por algumas semanas e de repente o Harry está participando de um torneio mortal?!

Um sorriso divertido surgiu no rosto de Dumbledore. Ele sacudiu a barba branca longa, e Snape se posicionou em seu lugar habitual no canto da sala, de braços cruzados a observá-la.

― Theresa, como foi sua viagem?

― O torneio tribuxo, Dumbledore! Ele tem quatorze anos!

― Sei bem disso, Theresa. Acredite, fiquei tão surpreso quanto você, todos nós ficamos.

― Não é ficar surpreso, Dumbledore, é simplesmente... – Tessa se virou, agitada, jogando as mãos para cima – Argh!

― Sente-se, Theresa. – Sob a ordem curta e régia, Tessa obedeceu, desabando na cadeira e levando as mãos à têmpora e apertando-as fortemente – Sei que parece algo terrível, mas...

― Não tem, “mas”, Dumbledore. – Ela voltou a olhar para o diretor, que permanecia calmo – Se tivesse sido ele a se inscrever já seria terrível, mas outra pessoa?! Estão querendo matar ele!

― E nós tomaremos todas as providências para que isso não aconteça.

― Sim, a começar com ele não participando disso.

O sorriso de Dumbledore tornou-se condescendente. Ele pousou o queixo nas mãos cruzadas e suspirou fundo.

― Infelizmente isso não é possível, Theresa.

― Ao inferno que não é possível!

― Potter! – a voz de Snape reverberou na sala.

Os quadros se apinhavam para observar a discussão, esperando para ver se aconteceria outra briga entre ela e Snape como havia acontecido tantas outras vezes - conseguia até mesmo ver dois diretores apostando entre si. No entanto, Tessa apenas respirou fundo e olhou para o pocionista, que continuou a encará-la com firmeza, sem se mover ou se abalar. Diferente de antes, não havia raiva nele, e sim compreensão. Snape meneou a cabeça e Tessa mais uma vez respirou fundo, tornando a olhar para Dumbledore.

Os olhos azuis do diretor brilhavam com interesse diante da interação surpreendente que ocorria bem na sua frente, mas sem nada dizer, Dumbledore esperou pelas próximas palavras de Tessa, que cravava as unhas na palma, forçando-se a ter calma. Não era culpa de Dumbledore, não era culpa de Snape.

Não era culpa de ninguém além dela mesma.

― Eu não quero que Harry participe desse torneio.

― Theresa...

― Eu sou a responsável por ele, não sou? – Dumbledore assentiu, recostando-se na cadeira – Ele é menor de idade, logo, eu não permito que ele participe.

― Colocar o nome e ser escolhido pelo cálice é selar um juramento inquebrável, Theresa.

― Ele não colocou o nome dele.

― Mesmo assim foi escolhido.

Tessa bufou, voltando a rodar os punhos e estralar os dedos um a um.

― Harry tem quatorze anos, uma criança! Não pode competir em algo assim, ainda mais sendo quem é, um alvo ambulante!

Dumbledore suspirou pesadamente, e Tessa relaxou o corpo; provavelmente ele havia tido as mesmas preocupações que ela, e Tessa sabia desde o começo que uma vez escolhido, ele não teria outra escolha a não ser deixar Harry participar do torneio.

― Nós tomaremos todo cuidado, tomaremos precauções duplas, ainda mais proteção...

― Eu estarei aqui. – Os dois a olharam questionadores e Tessa inspirou mais uma vez antes de continuar – Nas provas, estarei aqui e acompanharei tudo. Mande uma carta para a Confederação alegando que por questões de diplomacia qualquer precisa de minha presença para garantir a segurança dos participantes, não me importa. – Tessa espalmou as mãos nos braços da cadeira e se inclinou para a frente – Eu acompanharei cada respiração de cada um desse torneio, e nada vai acontecer sem que eu saiba.

Dumbledore perdeu o sorriso e tombou a cabeça para trás, analisando a situação. Poderiam ter se passado segundos, minutos ou horas de ponderação. Não fez diferença quando os três estavam imersos em seus próprios pensamentos.

Tessa tinha muito a fazer, não poderia simplesmente ficar parada esperando pela prova. Havia errado muito em ter se dedicado inteiramente ao caso da Ellie durante todo aquele tempo, e não teria tempo a perder para investigar Berta e Voldemort... seria um tiro no escuro, talvez devesse esquecer o que aconteceu com Berta e perseguir apenas o lorde das trevas. No entanto, o desaparecimento era a única pista que tinha.

Não tinha tempo para começar do zero.

Dumbledore voltou a olhar para ela, assentindo lentamente.

― Farei o pedido hoje mesmo.

Tessa sorriu, levantou-se e espanando a poeira da capa, olhou de relance para Snape.

― Quero ver o cálice.

Snape olhou para o relógio e de volta para Dumbledore, que também se levantou e agitou a varinha. Um armário dourado e coberto por quinquilharias no canto da sala se abriu; de dentro dele estava uma mesa redondo em mogno vermelho, com amplo espaço ao redor, que deslizou para tapete da sala com Cálice de Fogo repousado em seu centro.

Um véu de silêncio pareceu ter caído sobre o escritório. Tessa retirou a capa pesada, pondo-a sobre o encosto da cadeira, depois descalçou as luvas, dobrando-as sobre a mesa, os olhos continuamente fixos na relíquia milenar. Nem Dumbledore nem Snape se moveram, embora ambos intercalassem os olhares entre o cálice e as ações dela. Ela tinha consciência de tudo isso, mas não se importou, pois já dobrava até o cotovelo as mangas da blusa branca, em seguida prendia o cabelo em um coque alto.

Sua respiração voltou a intervalos regulares.

Tessa caminhou até o Cálice apagado, como se o objeto pudesse falar com ela.

― Restou algo da linha etária que você fez? – Tessa perguntou por cima do ombro a Dumbledore.

Logo, um frasco de vidro voava até Tessa, que agarrou no ar e já o abria, derrubando um punhado sobre a mão. Fechando os olhos, ela se concentrou, sentindo a matéria do pó, as moléculas se dividindo e reagindo ao toque, conversando com ela, sussurrando... Tessa levantou o punho fechado e deixou o pó escorrer na sua frente, observando seu brilho na luz. O fogo crepitava na lareira, e o cheiro de Amortícia queimou suas narinas.

Ele não tinha qualquer alteração. Era uma linha perfeita. Como esperado.

Sem desanimar, Tessa foi até o cálice, espalmou as duas mãos na mesa e fitou seriamente o objeto. Ela não escutou a porta do escritório se abrir, não escutou os passos pesados e desajeitados adentrarem a sala, concentrada como estava em apenas olhar para o cálice. Snape observou de braços cruzados enquanto a garota se endireitava e começava a circular a mesa, deslizando o dedo cada vez mais próximo do Cálice.

Snape soltou o ar preso em seus pulmões. Sabia que a Potter era conhecida por suas habilidades de rastreio, grandes talentos de legilimência, e que a psicometria era um talento particularmente raro que ela era a única bruxa conhecida a possuir. No entanto, Snape nunca havia testemunhado o ato em si, e observá-la com as pupilas dilatadas, a respiração espaçada, o corpo rígido, era simplesmente hipnotizante.

Snape se perguntou como era tocar um objeto e simplesmente ter acesso a suas memórias.

E se perguntou qual o custo disso para Tessa.

― O que a garota está fazendo?

Snape se sobressaltou com a voz rugida, olhando para trás; Olho-Tonto estava ali, o olho mágico preso na Potter e o outro sobre Dumbledore, esperando por uma resposta. Tessa também escutou, piscou algumas vezes para se recompor, e quando se virou para procurar a origem da voz, um sorriso debochado surgiu de seus lábios.

Por Salazar, como ele odiava aquele sorriso.

― Ah, olá para você também Moody. – Ela disse rindo, puxando a mecha de seu cabelo dourado para trás da orelhas – Tudo bem que você não se importa o suficiente comigo mais para enviar uma carta contando se está vivo ou não, mas nem um boa noite? Assim você parte meu coração.

― Pare de ser melodramática, Potter. – Snape disse com um bufo, e Tessa riu, remexendo os ombros.

Olho-Tonto não mostrou reação, e ao invés de voltar a seu trabalho, Tessa pareceu intrigada com aquilo por alguns instantes. Snape ergueu a sobrancelha para ela, indagador, mas a garota acenou em descaso e voltou a atenção para o cálice, sacando a varinha do bolso traseiro da calça de couro, que Snape percebia agora estar perfeitamente justa nas suas pernas, desenhando as curvas de seu corpo...

― O que ela está fazendo?

Snape raspou a garganta, desviando o olhar da garota. Concentrado em uma mancha escura na parede oposta, ele respondeu Olho-Tonto:

― Rastreando quem pôs o nome do Potter no cálice.

― O quê?! – Olho-Tonto se empertigou, levantando a voz – Como...

― Eu sabia que estava ficando biruta, Moody, mas não brinque de esquecido comigo, vou te internar no asilo mais próximo antes que possa dizer Estupefaça.

Dumbledore soltou uma risadinha e Moody se deu por satisfeito, embora ainda mais irritado, um pouco nervoso. Snape achou aquilo estranho, mas o sussurrar próximo o chamou de volta para Tessa. Ela havia tocado a varinha no Cálice, e sussurrava palavras irreconhecíveis repetidas vezes. Um feitiço. Ela jogou a cabeça para trás, sem parar de sussurrar, os lábios crispados e olhos arregalados.

O cálice começou a brilhar de forma estranha.

Sua voz parou e Tessa fechou os olhos.

― Não... para trás... volte... – ela sussurrava, Snape deu um passo até ela, assustado, mas Dumbledore esticou o braço e interrompeu tanto o movimento dele quanto de Olho-Tonto.

― Deixe-a, não levará muito tempo. – O diretor disse sem alteração.

De fato, não levou muito tempo.

Um minuto depois Tessa abria os olhos e o brilho do Cálice sumia. Ela abaixou a varinha e ficou imóvel, a cabeça levemente inclinada para o lado, mordendo o lábio inferior e mexendo os dados sem parar, em movimentos aleatórios. Snape seguia cada uma de suas mudanças, inquieto, sem saber porque estava tão... preso... por Tessa.

Enfim ela parou, virando-se para eles com o olhar distante, levou o polegar à boca e começou a roer a unha, absorta nos pensamentos. De uma forma incomum, ela estava pálida, bolsões surgiram abaixo de seus olhos vermelhos, como se houvesse se esforçado demais. Snape quis sacudi-la, perguntar que diabos ela tinha visto, porque inferno não falava nada. Mas ainda de braços cruzados e rosto inexpressivo, ele se manteve distante.

― E então? – Dumbledore perguntou calmo, voltando a seu lugar padrão por trás da mesa, e se sentou silenciosamente.

― O cálice foi alterado. – ela respondeu mecanicamente, finalmente recuperada de seu torpor e passou os olhos por cada um deles, com cuidado – Quatro escolas ao invés de três, mas...

― Isso nós já sabíamos! – Olho-Tonto vociferou, mas ao invés de se irritar, a Potter apenas sorriu para ele.

― Adoro como nossos pensamentos se completam, Moodynho. Mas não, o que quero dizer é que não foi ninguém de fora. – Todos prenderam a respiração, atentos a ela, que caminhava até a cadeira e apanhava a capa e as luvas – Não havia ninguém estranho, ninguém que não deveria estar aqui. Harry nem chegou perto do cálice, apenas vocês e os candidatos. Contudo...

Snape e Olho-Tonto esperaram, ansiosos.

― Quando chegou na hora da inscrição de Harry... – o olhar de Tessa ficou distante de novo; ela se apoiou na mesa, olhando para longe, raciocinando enquanto falava. – Ele fica confuso. Não é ele, não consigo ver quem é, como memórias de bêbados.

― Então não sabe realmente se foi algum invasor.

Tessa balançou a cabeça em negação a Snape, focando o olhar azul profundo inquietante, apenas nele.

― Não é isso. Eu consigo sentir a magia. É desconhecida, como se fosse algo que não deveria estar aqui, nunca senti ela, tenho certeza disso. Ainda assim, tem algo estranhamente familiar nela, um pequeno fragmento que eu conheço, que não deveria estar ali, como se o cálice quisesse que eu reconhecesse...

― Então foi tempo perdido?

Tessa o fuzilou com o olhar, irritada.

― Claro que não.

― Não tivemos nenhuma informação útil, ou seja, tempo perdido. – Snape insistiu, sentindo uma estranha coceira por dentro ao vê-la revirar os olhos e bufar.

― Isso significa muitas coisas, mas não espero que alguém como você entenda. – Tessa se virou para Dumbledore. – Eu tenho que ir, agora mesmo. Tem algo que eu preciso conferir, entro em contato em breve.

Dumbledore acenou em confirmação, sorrindo enquanto Tessa vestia a capa novamente e colocava as mochilas nas costas. Snape observou seu olhar vago e pensativo, olhar que escondia algo e ele sabia disso. Havia mais que ela tinha visto, mais que Tessa estava escondendo deles. Dele...

Pensar que Tessa escondia algo dele fez um gosto amargo tomar a boca de Snape.

― Moody, preciso falar com você. – Ela disse dando as costas aos outros.

Olho-Tonto acenou, seguindo a garota até a porta e descendo as escadas o mais rápido que conseguia, e Tessa não se importou em se despedir de Dumbledore e Snape, esperando por Moody já no corredor. Ele a sondava de uma forma estranha, mas Tessa não tinha tempo para discutir com o tutor sobre que diabos estava acontecendo para ele estar estranho daquela forma. Caso fizesse, ficaria dias presa escutando suas teorias conspiratórias e mirabolantes novas.

Ela adorava Moody, mas havia certos limites de até onde ia com ele.

― O quê?! – Moody perguntou grosseiramente, parando em frente a ela.

― Fique de olho em Karkaroff, quer dizer, ainda mais. – Tessa acrescentou rapidamente, e Moody continuou a olhar suspeito para ela – Tem algo estranho nessa história. Terá que ficar de olho em todos, não pode confiar em ninguém. – Tessa escutou passos rápidos e se virou a tempo de encontrar Snape saindo da sala e procurando algo com os olhos. Um sorriso involuntário surgiu em seu rosto enquanto continuava – Podem ter lançado Imperius em alguém aqui, estarem controlando de uma forma mágica, tomando a forma... Precisa checar tudo isso. 

Snape finalmente se virou na direção onde ela estava e seus olhos tomaram uma resolução assustadora ao começar passos firmes até ela.

― Tem certeza disso?

Tessa assentiu, ainda presa no olhar feroz de Snape.

― Alguém não é o que mostra. Alguém está se passando por outra pessoa.

Moody continuou sério, olhando de esguelha para a garota que sorria minimamente.

― Certo.

― Lembre-se, não confie em ninguém. – ela completou, olhando para Moody uma última vez.

Moody assentiu e tomou seu rumo, enquanto Tessa se virava, calçava as luvas e recomeçava a andar, tentando ignorar o fato de Snape estar irritado e atrás dela. Ela não tinha tempo a perder.

― Potter! – Tessa revirou os olhos, sem parar de andar. – Potter!

― Estou com pressa, Severo, nossa discussão habitual terá que ficar para outro dia.

― O que vai fazer?

― Nada que te interesse.

Snape grunhiu, e em um segundo puxava o braço de Tessa, impedindo-a de andar.

Tessa fitou incrédula o professor, em seguida olhou para o aperto firme da mão pálida em seu braço. Ela reprimiu um muxoxo, com certeza ficaria roxo, sua pele se doía com qualquer besteira.

― Você sabe mais.

― É óbvio.

Snape inspirou pesadamente, uma expressão raivosa que normalmente agitaria todos os instintos de Tessa e a faria se mover. Mas não tinha essa necessidade com Snape, ela não o considerava perigoso. Só não sabia se isso era algo bom ou ruim.

― Não confie em ninguém? – Snape sibilou, irritado, puxando-a para mais perto e Tessa rangeu os dentes – O que quer dizer com isso?

― Exatamente o que entendeu.

Tessa lançou um olhar de preguiça a Snape, que parecia a um passo de perder o controle.

― Pensei ter dado provas o suficiente de que sou confiável.

― Porque isso te incomoda, Ranhoso?

Ira tomou o rosto de Snape, mas Tessa não se abalou, puxando o braço para fora do aperto, agitou-o para alongar-se. Por fim, voltou a olhar para Snape com paciência, uma qualidade que não oferecia a muitas pessoas.

― Eu confio em você, Snape. – disse calmamente, sem entender o motivo de tudo aquilo.

Snape soltou uma risada seca.

― Esconder fatos de mim não parece ser o tipo certo de confiança.

― Eu escondi de Dumbledore também caso não tenha entendido.

― Mas não de Olho-Tonto.

Tessa revirou os olhos, irritando-se com o rumo da conversa. Snape estava realmente irritado com aquilo, mas que porra!

― Caso não tenha se esquecido, foi Moody quem me treinou, ele pode procurar exatamente o que preciso, por isso contei a ele. Não tenho nada a contar a você simplesmente porque não é sua responsabilidade e não tenho nada concreto. Não quero que ninguém saiba do que vou fazer e isso inclui Moody. Agora você pode ficar aí se doendo com essa birra ridícula ou continuar a fazer o trabalho que lhe cabe e esperar por meu retorno para saber de tudo antes de todos, como sempre faço. Algo que não faria se não confiasse em você.

Snape ficou impassível, seus olhos transpareciam uma batalha que Tessa não conseguia entender. Respirando fundo, ela soltou o cabelo e tocou o ombro de Snape antes de sair, sabendo que precisava tranquiliza-lo; O mestre de poções encontrou o olhar dela e seu rosto ficou ainda mais duro.

― Eu confio o que tenho de mais precioso a você, Severo. E eu sou uma Auror, uma boa Auror, não saímos por aí espalhando nossas suspeitas ou informações, ainda mais com alguém que está em uma posição perigosa. O seu dever é ficar de olho em Karkaroff, no que ele está fazendo, no que pensa. O meu é caçar, mesmo sem saber como começar. Essa é nossa dinâmica, e nada vai mudar. Confie em mim como confio em você.

Snape respirou fundo por fim, fugindo do olhar dela e lhe deu as costas pela segunda vez em um só dia, a capa preta esvoaçando-se dramaticamente pelo corredor de mármore ao sumir.

Depois ela era a melodramática.

Tessa revirou os olhos e seguiu o caminho para fora do castelo, um riso contido nos lábios e mais uma vez, uma pergunta repetitiva em sua cabeça com a reação de Snape.

Porque diabos Snape ficou daquele jeito?

E porque diabos ela se importava?

Tesssa sacudiu a cabeça para dispensar esses pensamentos, ela tinha mais o que se preocupar, como achar Voldemort, o agente dele na escola e descobrir que inferno Sirius Black estava fazendo no país.

Ela quebraria o nariz dele por essa estupidez.


Notas Finais


E aí? Como foi a leitura?
Levei um bom tempo para postar, mas devido a alguns acontecimentos não tive cabeça para ler uma linha sequer da fic.
Talvez por isso, o capítulo não tenha ficado tão bom quanto eu imaginava.
Seja como for, espero que tenham gostado.
A partir do próximo vou seguir um formato diferente: As lembranças postas em itálico são importantes para que entendam Tessa e a história, mas colocá-la assim está quebrando o ritmo.
A partir de agora, quando tiver uma lembrança a ser posta, ela receberá um capítulo separado seguido pelo capítulo novo na linha do tempo correta.
Dessa forma, quando isso acontecer, serão atualizações "duplas".
Espero conseguir postar novamente em breve, mas sei que não levará muito tempo.
Até a próxima, comentem por favor - é muito importante para mim saber o que estão achando - e dêem notas!
Mil beijos na bunda!


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