História Hurricane - Prologue.

Prólogo. 

  As grossas gotas de chuva caiam mais fortes a cada segundo, molhando todo seu cabelo e roupas, lhe obrigando a aumentar a velocidade dos passos e dificultando consideravelmente seu malabarismo ao tentar proteger seus livros – que não cabiam dentro da pequena bolsa que carregava em seu ombro. — dentro da sua jaqueta preferida de couro preto. 

   Depois de cinco minutos de muito esforço para manter seus livros protegidos da agressividade da chuva, Hope entrou em casa e os repousou, junto com sua bolsa sobre o aparador que havia do lado esquerdo da porta de entrada. Retirou os sapatos e a jaqueta, prendeu os fios molhados de seu cabelo e se abaixou para atenção à Cookie seu cachorro, que fazia festa em volta de suas pernas. 

— Chegou cedo hoje querida. — a voz rouca e arrastada de seu pai a fez parar de dar atenção para o pequeno Cookie que pareceu ficar bastante chateado com a perda de carinho repentina e foi em direção ao homem mais importante de sua vida. 

— Consegui entregar toda a matéria para o editor antes das três, fiz alguns posts para o site, passei na biblioteca rapidinho e corri pra casa.Estava com saudades e preocupada, como o senhor passou o dia? Teve alguma crise? —perguntou analisando sua face cansada. 

   Devido a vida de fumante que levou desde adolescente, Caleb Hall era portador de câncer no pulmão a alguns anos mas só viera a descobrir há poucos meses. Desde então momentos difíceis vem acontecendo com frequência para os Hall's, o que fazia Hope redobrar sua preocupação e cuidados com sua única família presente. 

— Tudo ocorreu extremamente bem, não se preocupe, filha. — Caleb sorriu para mostrar a veracidade de suas palavras porém seu olhar era carregado de dor e preocupações o que preocupava em dobro a pobre Hope. 

— Você sabe que eu nunca vou conseguir deixar de me preocupar com você, mas tem algo que você pode fazer, ou melhor, deixar eu fazer por você, que vai com certeza aliviar um pouco essa preocupação toda que eu tenho. — Hope sentou-se no sofá marrom da sala e fez sinal para que seu pai fizesse o mesmo ao seu lado. 

— Hope, já conversamos sobre isso. Não sou nenhuma criança, não preciso de uma babá. 

— Mas eu não quero contratar uma babá papai e sim uma enfermeira, alguém que vai saber como agir com o senhor caso ocorra uma emergência. — explicou em tom calmo e tranquilo, não queria parecer rude, só queria faze-lo entender que era algo necessário. 

— Por favor querida, não vejo necessidade nenhuma nisso, além do mais não quero você gastando mais do seu dinheiro comigo. 

— Tudo bem, pai. — Hope sabia que aquele assunto renderia e estava cansada demais para discutir sobre qualquer coisa, mais não havia desistido de contratar alguém para cuidar da saúde do homem mais importante da sua vida. — Não vamos falar sobre isso agora. Só me prometa pensar com carinho sobre o assunto. 

— Eu prometo querida, não acho mesmo que isso seja necessário, mas já que é tão importante para você, eu vou pensar sobre o assunto . — Hope quase pulou no colo do pai em comemoração. Depois de tantos esforços, ele finalmente cedeu um pouco, e aquilo já era um ótimo começo. — agora vá já tomar um banho quente e tira essa roupa molhada mocinha. E por Deus, Hope, você molhou meu sofá todo! — Hope não conseguiu controlar a risada e gargalhou do modo engraçado de seu pai falar, como se ela fosse uma criancinha arteira que acabou de ser pega aprontando alguma. Caleb a acompanhou na risada, mas foi obrigado a parar pela falta de ar que lhe atingiu junto com uma tosse chata e seca. 

— Está tudo bem papai? — questionou preocupada e sentiu raiva do câncer e do mundo injusto onde viviam, por ter tirado de alguém de tão bom coração como Caleb, momentos tão simples como gargalhar sem passar mal cinco segundos depois. 
 
— Está sim querida, pode ir tomar seu banho tranquila. — respondeu depois de juntar ar o suficiente para isso, sua voz era quase um sussurro, e a respiração estava começando a voltar ao ritmo normal. 

— Eu não demoro. — sentenciou após longos segundos analisando seu pai para ter certeza que estava tudo bem. Repousou mais um beijo demorado em sua bochecha antes de caminhar até o banheiro no fim do corredor. 

   Retirou primeiro seus cordões prateados, em seguida sua blusa branca e seu sutiã rendado da mesma cor e por último puxou com certa dificuldade seu jeans preto junto com sua calcinha e em questões de segundos já pode sentir o alívio de ter todos os músculos relaxados pela alta temperatura da água que escorria por seu corpo. 

   Seus pensamentos sempre escolhiam o momento em que estava em baixo de um chuveiro para começarem uma festa em sua cabeça, o que sempre resultava em banhos longos, e dessa vez não foi diferente. Esquecendo-se completamente do "não demoro" dito poucos minutos atrás, Hope deixou se levar por uma onda de pensamentos que iam desde a doença de Caleb até a lista de compras que precisaria fazer no supermercado e quando sua mente já mais calma acendeu a luz para o nome 

   O vapor da água quente embaçou o vidro do boxe onde Hope desenhou um pequeno  coração antes de fechar o registro e se enrolar na toalha e abandonar o banheiro. 

   Entrou em seu quarto bagunçando como de costume e foi direto para seu armário, retirando do meio do amontoado de roupas uma calça de pijama e um moletom simples. Vestiu-se e voltou para a sala esperando encontrar Caleb porém encontrou o cômodo vazio. Caminhou até seu quarto e o encontrou deitado em um sono profundo, ficou o observando dormir por alguns minutos e antes que pensamentos sobre como agiria quando Caleb não estivesse mais presente lhe invadisse, Hope decidiu ir fazer um lanche antes de voltar para o quarto e passar a noite revisando e escrevendo novos textos.  

XXX 

   O tremor insistente bem debaixo de sua cabeça, mas precisamente embaixo de seu travesseiro o incomodou o suficiente para que o acordasse e apertasse parar do despertador do seu aparelho celular. Com muita dificuldade e preguiça, Zayn levantou-se da cama, decidido a não se atrasar no primeiro dia de academia. Não pegaria bem, além de se ser uma completa falta de profissionalismo de sua parte.  

 
   Depois de ter feito toda sua higiene matinal, já se sentia mais acordado e consequentemente mais disposto, a única coisa que lhe tirava o foco era a fome, por isso abandonou seu minúsculo banheiro e caminhou rapidamente para a cozinha. 

— Aconteceu alguma coisa? — Zayn questionou Lisa, sua amiga desde que se mudará para Nova Iorque, com o tom falsamente preocupado. A garota que mantinha os cotovelos apoiados no balcão rustico que dividia a cozinha da sala e encarava o chão como se ali estivesse pintado a melhor obra de arte já criada, ergueu os olhos e sorriu para o amigo antes de responder: 

— Aconteceu. A inauguração da academia foi um sucesso, hoje é seu primeiro dia trabalhando lá, isso tudo me deixa muito feliz.. — o sorriso forçado que a amiga abriu não foi o suficiente para convencer Zayn da veracidade da frase dita. 

   A cumplicidade e intimidade adquirida em consequência aos quase dois anos dividindo o mesmo teto era algo admirável. E era toda essa intimidade que gerava conhecimento suficiente para um saber quando tinha algo errado com o outro. 

— Sim, isso é mesmo ótimo. Mas não é por isso que você acordou tão cedo. Arrisco dizer que você nem dormiu. — Zayn comentou, enquanto tomava um gole do café requentado da noite anterior e observava as olheiras escuras da amiga, que denunciavam a noite mal dormida. 

— Não consigo esconder nada de você mesmo. — suspirou e pareceu ponderar sobre fazer um relato detalhado sobre toda a discussão da noite anterior ou fazer um pequeno comentário sobre o assunto. Escolheu a segunda opção: — eu e o Duke brigamos de novo ontem, eu passei a madrugada toda chorando feito uma idiota. Nenhuma novidade nisso, agora ande logo Zayn Malik pois se você se atrasar, ele não irá gostar nadinha.— Se ele continuar te machucando assim, eu que vou mata-lo.  — selou um beijo na testa da amiga que segurou sua mão o impedindo de abandonar a cozinha. 

— Você vai lutar hoje a noite mesmo? — preocupação brilhava nos olhos de Lisa e Zayn tinha quase certeza, mesmo ela não tendo dizendo, que o motivo da briga do casal tinha sido justamente a luta clandestina que aconteceria na madrugada daquele dia, e Lisa era extremamente contra. 

 — Eu vou Lisa e espero te ver por lá. — pescou uma maça da fruteira, apenas para não ter que encarar Lisa nos olhos e sumiu da cozinha, deixando a loira cansada e frustrada por não ter conseguido fazer nenhum dos dois mudar de ideia em relação a maldita luta.