História I Am Here, Your Hero - Capítulo 1

A escola de prestígio que revelou muitos heróis, o colégio U.A.

Matriculado no curso de super-heróis, corro em direção ao meu sonho!

Encarando qualquer dificuldade e salvando as pessoas com um sorriso.

Para me tornar o maior herói de todos!

**

Todos os alunos da classe 1-A já estavam sentados em seus lugares enquanto aguardávamos o Aizawa-sensei chegar. Bem, quase todos. O Kacchan ainda não tinha chegado.

Apesar de agora morarmos em dormitórios da U.A, por alguma razão, o Kacchan ainda consegue chegar atrasado. Isso quando ele vem. Ontem, por exemplo, ele faltou a aula por dizer que estava doente, mas tenho a sensação que ele estava bem saudável. Apenas queria dormir.

O mais incrível, é que mesmo ele sendo tão descompromissado, desrespeitoso com os professores, e mal-educado com sua postura em sala, ele ainda é um dos melhores alunos daqui. Ele sempre tira notas altas, principalmente nos exames práticos. É... o Kacchan vai ser mesmo um grande herói!

Antes que pudesse pensar mais sobre o Kacchan, ele entrou na sala com sua típica cara mal-humorada e se sentou na minha frente, sem falar nada. Kirishima e os outros amigos dele até o cumprimentaram, mas nem sempre ele responde. Hoje foi um desses dias. Bem, eles parecem não se importar com a frieza do Kacchan, então me sinto menos mal por eles.

Bem, Kacchan tinha acabado de chegar, então eu deveria lhe entregar logo as atividades. Ontem na aula o Aizawa-sensei passou umas atividades para fazermos, e como o Kacchan faltou, peguei uma cópia a mais para entregar pra ele hoje. Ele não se incomodaria, não é? Aposto que ele vai ficar feliz!

Tirei os papéis da minha mochila e respirei bem fundo. Mesmo que eu e Kacchan nos conheçamos desde sempre, eu ainda me sinto nervoso toda vez que falo com ele. Ele sempre teve essa aura ameaçadora, mas de uns tempos pra cá, eu comecei a me sentir nervoso não por medo, mas sim... Por outros motivos...

Enfim... Respirei fundo outra vez e cutuquei as costas dele bem de leve.

– Kacchan! – chamei, um pouco tímido

Ele olhou para trás com aqueles olhos vermelhos cheios de ódio. Merda! Acho que eu não deveria ter cutucado ele. Ele nunca gostou que eu tocasse nele.

– Que é, porra? – ele falou, surpreendentemente sem gritar.

Meu coração começou a bater mais forte, eu estava realmente bem nervoso. Balancei a cabeça discretamente para me focar, e então, pra não ficar com um clima mais constrangedor do que já estava, resolvi ir direto ao ponto:

– B-bem... O Aizawa-sensei passou umas atividades ontem – estendi os papeis que eu segurava – Aqui, eu peguei uma cópia a mais pra você!

Ele ergueu uma sobrancelha, fazendo uma cara completamente indignada. Ele então, arrancou as folhas das minhas mãos, rasgou-as no meio, amassou cada parte em uma mão, e depois explodiu-as com sua peculiaridade.

Ele jogou os restos de folhas no chão. Abaixei meu olhar para a bolinha de papel, antes branca, agora totalmente preta e saindo fumaça. Eu senti que meu coração tinha sido dilacerado junto com aquela cópia.

– Eu não preciso da merda da sua ajuda, Deku! – Kacchan esbravejou.

E com isso, ele voltou a se virar pra frente, ignorando minha existência.

– D-desculpa... – Falei, me esforçando para que minha voz não saísse embargada.

Me recostei na minha cadeira com um nó na garganta. Respirei fundo novamente para engolir o choro. Chorar na sala de aula, ainda mais na frente do Kacchan, seria uma péssima ideia.

Não sei porque achei que ele ia gostar que eu fosse atencioso com ele. No final das contas só deixei ele ainda mais irritado comigo. O que eu fiz de errado? Eu não consigo acertar em nada com ele?

Antes que eu deixasse as lágrimas escaparem pensando nisso, Aizawa-sensei entrou na sala, falando:

– Todos sentados!

Aqueles que estavam em pé, foram para seus lugares, e todo mundo cessou as conversas para que o professor pudesse dar a aula. Confesso que a aula foi uma boa distração para que eu não pensasse no Kacchan. Me mantive o mais focado possível no conteúdo para não lembrar da vergonha que passei.

Faltavam apenas alguns minutos para acabar a aula e irmos almoçar. Então, Aizawa-sensei limpou a garganta e falou:

– Bem, como falta pouco para terminar essa aula, vou dar logo o aviso. Após o almoço, vistam seus trajes e se reúnam todos na área de educação física. Teremos um teste prático hoje.

– O quêêêêêê? – várias vozes na sala gritaram em uníssono.

– Outro teste surpresa? – Ashido falou desesperada

– Mas sensei! Nós não nos preparamos! – Kirishima protestou.

– Como vamos fazer um teste sem treinar antes? – Kaminari parecia prestes a surtar

– Aaaahhh eu vou tirar nota baixa!!! – Mineta gritou, colocando as mãos na cabeça.

Várias outras pessoas da sala começaram a resmungar. Alguns protestavam, outros apenas ficavam desesperados. Em poucos segundos a classe tinha virado um caos.

– SILÊNCIO! – Aizawa-sensei gritou, ativando sua peculiaridade e fazendo com que seus cabelos levantassem, lhe dando um ar completamente ameaçador.

A turma inteira se calou imediatamente. Não tem quem não obedeça ao sensei quando ele está dessa forma.

Quando ele se certificou que todos estavam quietos e prestando atenção nele, deixou seus cabelos caírem, fechou os olhos cansadamente e respirou fundo, dizendo:

– Heróis profissionais nunca sabem quando uma emergência ocorrerá. Isso significa que devem estar sempre preparados para entrar em ação. É bom vocês aprenderem isso o quanto antes se quiserem se tornar heróis de verdade.

É, de fato ele tinha razão. A U.A está nos preparando para sermos heróis de verdade, e não apenas nos dar bem nas provas! A turma pareceu se contentar com essa resposta dele, então não houveram mais protestos a respeito do reste.

O sinal para o almoço tocou, então os alunos foram se levantando.

         – Estão liberados. – Aizawa-sensei falou – Não se esqueçam, depois do almoço se reúnam na área de atividades práticas. Ah, e não comam nada muito pesado, vão se exercitar!

Não pude impedir um sorriso sutil brotando nos meus lábios. Eu nunca ousaria dizer isso para ele, mas acho fofo a forma como o Aizawa-sensei nos trata. Por mais que ele negue, sei que ele se importa com a gente, senão não estaria preocupado com o que comeríamos no almoço.

A refeitório estava lotado como sempre. É o horário em que todas as turmas de todos os cursos se reúnem, por isso sempre há tanta gente. Imagino que as pessoas que trabalham na cantina têm que ser muito habilidosas para conseguir dar conta de alimentar tantos alunos esfomeados.

Peguei uma tigela de Katsudon, que é um prato com arroz e costela de porco empanada. É meu prato favorito, então sempre que tem na cantina, acabo pegando.

Olhei em volta, procurando qualquer rosto conhecido entre aquele mar de alunos. Encontrei meu olhar com o de Uraraka, que estava sentada ao lado de Iida. Assim que ela me viu, acenou para que eu me juntasse a eles.

Sorri para mim mesmo enquanto caminhava até eles. No ensino fundamental, eu era bem excluído. Ninguém queria ser meu amigo ou andar comigo. Mas aqui na U.A, eu sinto que fiz amigos de verdade. O Iida e a Uraraka são amigos que eu gostaria de levar pra vida toda.

– E aí, pessoal? – falei, enquanto colocava minha bandeja sobre a mesa e me sentava de frente para eles.

– Deku-kun! – Uraraka falou – Como você acha que vai ser o teste?

– Hm... – coloquei uma mão no queixo – É difícil dizer. A U.A sempre tenta variar o máximo nas suas atividades para nos preparar para os mais diversos tipos de situações.

– Como esperado da U.A!!! – Iida exclamou, ajeitando seus óculos que escorregavam pelo nariz.

– Aaahhh! – Uraraka puxou os cabelos – Eu estou tão nervosa!

Eu ri sutilmente, e decidi comentar:

– Também estou um pouco.

– Pessoal, vamos todos dar o nosso melhor! – Iida se levantou, mexendo seus braços daquela forma robótica que só ele faz.

– Iida-kun, você parece tão animado! – sorri para ele

– Oi – uma voz grave soou por trás de mim.

Olhei para trás e pude ver Todoroki-kun segurando uma bandeja com uma tigela de soba.

– Ah, Todoroki-kun! – me afastei para o lado para abrir mais espaço para ele se sentar.

Todoroki se sentou ao meu lado, colocando sua bandeja na mesa e separando seus hashis.

Eu lembro do começo do ano letivo, quando o Todoroki-kun passava o tempo todo sozinho. Ele mesmo me disse uma vez que não estava aqui na U.A para fazer amigos, mas depois do festival esportivo, ele começou a passar cada vez mais tempo conosco. Apesar de normalmente ser bem calado, ele sempre se senta com a gente na hora do almoço. Acho que ele até nos considera amigos. Eu fico feliz pensando nisso.

– Todoroki-kun – Iida chamou – Está nervoso para o teste prático?

– Na verdade, não – ele respondeu seu hesitar, logo em seguida abocanhando um punhado de macarrão.

– Aaah! – Uraraka exclamou aflita de novo – Eu queria poder ser confiante como você, Todoroki-kun!

– Fique tranquila, Uraraka-kun! – Iida fechou os olhos e ajeitou seus óculos – Se nós fomos capazes de ser aprovados no exame de licença provisória, estou certo que estamos aptos para lidar com os testes da escola!

Eu acho engraçado como às vezes o Iida fala de maneira tão formal! Ele definitivamente está às expectativas de um representando de turma.

– Sim! – Uraraka pareceu mais motivada depois da fala de Iida.

– Ah, aliás, Todoroki-kun. – olhei para ele – O seu curso de licença provisória já acabou, não é?

– Sim...

– Oh! – Uraraka exclamou – E como foi?

– Foi mais complicado do que eu esperava. – disse Todoroki, com seu típico rosto inexpressivo – Mas no fim todos conseguimos passar. Eu já posso tirar minha licença agora.

– Ah, que bom! – falei. Estava realmente bem feliz por ele e pelo Kacchan.

– Se bem que os professores nos recomendaram não procurar estágios agora. – Iida nos lembrou – Ainda estamos no primeiro ano! É bom focar na escola.

– É... mas seria interessante para o nosso currículo – disse Uraraka.

E então, nós três começamos a conversar sobre os estágios que gostaríamos de fazer no futuro, e como isso implicaria na nossa vida profissional como heróis. Todoroki-kun não comentava nada, mas estava prestando atenção nas nossas palavras.

Quando puxei meu canudo e ele fez um barulho alto, percebi que já tinha tomado meu copo de suco todinho.

– Ah, meu suco acabou... – comentei

Aqui na cantina, temos refil de suco. Podemos ir lá nos servir quantas vezes quisermos. Eu estava cogitando me levantar para ir buscar mais. Mas antes que falasse qualquer coisa, Todoroki-kun se levantou da cadeira e disse:

– Eu posso pegar mais para você.

– N-não precisa fazer isso por mim, Todoroki-kun! – fiquei até um pouco constrangido.

– Não tem problema – disse ele – eu pretendia ir pegar mais para mim, de qualquer forma.

– Tem certeza? – olhei receoso para ele. Não queria incomodar.

– Sim. – ele afirmou – Uraraka, Iida, querem que eu busque algo para vocês também?

– Não precisa, obrigada! – Uraraka sorriu para ele

– Obrigado, Todoroki-kun! – Iida também recusou.

E então, Todoroki foi em direção ao balcão da cantina para pegar mais suco para nós dois.

– Todoroki-kun parece mais animado hoje – Iida comentou assim que ele se afastou o suficiente para não ouvir a conversa – Ele falou três frases de uma vez.

– Verdade! – Uraraka riu – ele geralmente fala tão pouquinho.

– Ué, – achei estranho – comigo ele fala bastante.

É fato que quando estamos em grupo, o Todoroki-kun é bem reservado, mas eu já tive altas conversas com ele quando estávamos sozinhos. Eu imaginava que ele era apenas tímido perto de muitas pessoas, mas que ficava tranquilo se estivesse falando com apenas uma pessoa. Ele não era assim com a Uraraka e o Iida também?

– Hm... – Iida pôs a mão no queixo, pensativo – Ele deve se sentir mais à vontade com você.

Bem, talvez faça sentido. Quando lutamos no festival esportivo, ele me contou sua história. Acho que ele nunca tinha contado aquela história dos pais dele para mais ninguém. De certa forma, me deixa feliz que ele confie em mim.

– Não me importo que ele seja caladão. Não viram como ele foi gentil? – Uraraka colocou as mãos nas bochechas.

Ela tem razão. Por mais que o Todoroki-kun tenha esse ar de ser frio, e estar sempre com o rosto sério, no fundo ele é bem sensível e gentil. Ele demonstra realmente se importar conosco. Quem não o conhece jamais diria que ele é tão atencioso e amável assim. Às vezes eu queria que o Kacchan fosse um pouco mais como ele...

Ah... Kacchan...

Rondei meus olhos pelo refeitório, e o encontrei há três mesas de distância de mim. Ele estava sentado com Kirishima, Kaminari, Sero e Ashido. O Kacchan parecia... Estar se divertindo.

Confesso que isso me deixa um pouco triste. Sabe, eu e o Kacchan nos conhecemos desde sempre. Desde que eu me entendo por gente, ele estava comigo. E mesmo assim, ele se dá melhor com as pessoas que ele conheceu há poucos meses do que comigo. Acho que ele nunca nem sequer me considerou seu amigo.

Será que se eu fosse mais forte como o Kirishima, ou mais extrovertido como o Kaminari e o Sero, ou mais confiante como a Ashido... Será que ele seria meu amigo? Será que ele realmente ia gostar de mim assim como gosta deles?

– Aqui! – Todoroki estendeu um copo para mim, me despertando dos meus devaneios.

– Ah, muito obrigado! – sorri para ele, pegando o copo de sua mão.

Tentei voltar a prestar atenção na conversa de Iida e Uraraka para me distrair. Pensar em Kacchan me deixava para baixo, e não era hora de ficar assim.

O sinal para o fim do almoço tocou, anunciando que logo nosso teste iria começar. Uraraka deu um gritinho aflita, enquanto Iida tentava tranquiliza-la.

Os garotos então foram para o vestiário masculino e as garotas para o feminino. Peguei meu traje de dentro do meu armário, sorrindo para mim mesmo. Ainda me lembro do dia que minha mãe o fez para mim. Se não fosse por ela, jamais teria chegado tão longe, então esse traje tem um grande valor sentimental para mim.

Um barulho de algo batendo no chão me fez prestar atenção em Kacchan. Ele tinha acabado de pegar seus suportes para os braços e colocado no chão, por isso o barulho. Realmente, aquele equipamento parecia ser bem pesado. Mas não parece ser um problema pro Kacchan, já que ele tem braços tão fortes...

Ok, eu realmente não queria estar pensando no corpo do Kacchan agora! Mas ele só piorou as coisas quando tirou sua camisa social para colocar a do traje. Meu Deus... o corpo dele é tão... Bonito...

Eu não sei exatamente quando foi que esses sentimentos começaram. De repente, a ideia de ser só amigo do Kacchan já não me parecia suficiente. Eu queria que ele gostasse de mim e... Queria poder beijá-lo e abraçá-lo... Aahh! Eu fico vermelho só de pensar nisso!

Eu nunca contei isso pra ninguém. Tenho medo que as pessoas me achem estranho por estar apaixonado por outro garoto. Mas eu simplesmente não consigo mais tirar ele da minha cabeça.

Kacchan colocou sua blusa, e então olhou para o lado. Nossos olhares se encontraram por um segundo, antes de eu virar o rosto completamente constrangido. Eu não tinha me tocado que fiquei esse tempo todo encarando ele. Merda! Será que ele notou? Eu estava tão nervoso!

Terminei de colocar meu traje quando alguns garotos já estavam saindo do vestiário, já preparados para a ação. O Kacchan saiu também, passando por mim sem nem sequer olhar para mim.

Respirei fundo algumas vezes, meu coração ainda estava batendo rápido. O Kacchan me deixa tão distraído!

Levei minhas duas mãos ao meu rosto, dando leves tapinhas para me despertar. Foco, Izuku! Foco! Esse não é o momento de ficar pensando nele. O teste está prestes a começar.

Respirei fundo mais uma vez e então levantei a cabeça, saindo do vestiário e indo em direção à área de atividades práticas.

Está na hora de ser menos Izuku, e mais Deku!