Eu posso ver a cor
E o reflexo da minha depressão
Eu posso ver o perfil
Do fantasma que há em meu interior
E não deixei de fumar
E não posso dormir
E no meio dessa solidão
Continuo pensando em ti
E não me atrevo a começar
A te esquecer enfim
Porque me assusta decifrar
O que será sem você aqui
E apesar desses desencontros
E a chuva no caminho
Ao teu lado sei que está o meu destino
Apesar do vento forte
Apesar dos naufrágios
Ao teu lado sei que estou a salvo
Você me faz invencível
Não conheço o impossível
Deixa-me viver perto de você, sempre ao teu lado
Apesar da tempestade
Que golpeia o nosso barco
Ao seu lado sempre estou calmo
Apesar do difícil
Apesar dos tropeços
Ao seu lado nada me dá medo
Você me faz invencível
Não conheço o impossível
(Deixa-me viver perto de você sempre ao teu lado)
Alex
…
Eu posso ver
Ver daqui
Minhas lembranças perseguindo-te
Eu posso ver
O perfil
Da minha sombra sobre a parede
E não consigo não pensar
E não posso dormir
E no meio dessa solidão
Continuo pensando em ti
E não me atrevo a começar
A te esquecer enfim
Porque me assusta decifrar
O que será sem você aqui
Sinto a sua umidade em mim
De te ver chorar, mesmo sem te tocar
Hoje eu só queria deter o tempo
E a distância entre nós dois
Mas se apagou a luz do céu,
Já não sai mais o sol
Como explico a minha alma que tudo acabou…?
Emily
Nada podia ser comparado ao que eu estava sentindo...
Nada...
Caminhando pela estrada, atrás de um carro, uma carona, me perdi em meus pensamentos por um tempo. O som da brisa contra as árvores, e dos meus gemidos de choro, era o que me seguia em meu rastro...
Podem me chamar de insensato
De louco
De criança
De covarde
De fraco
Eu não ligo, e até concordo.
Mas concordo também com mais uma palavra. Corajoso. Afinal, ser profundamente amado por alguém nos dá força... porém, amar profundamente alguém nos dá coragem...
E foi isso que eu tive
É isso que eu faria de novo
É isso que qualquer pessoa que ame alguém e tenha que protegê-la, fará.
A minha felicidade não importava mais, não quando eu precisava colocar a de Emily em primeiro lugar.
Emily
Ouvi alguns soluços e um choro abafado, além do meu. Quem mais estaria chorando? E naquela casa?
Joey...
Me afastei da janela e segui o som, caminhando pelo corredor dos quartos. O som dava diretamente na porta de seu quarto. Bati de leve na madeira e ele não abriu ou sequer respondeu. Bati mais uma e nada.
Tentei abrir a porta, eu estava preocupada.
Ele estava deitado de bruços na cama, eu o ouvia chorar com sua cabeça enterrada no travesseiro.
- Joy… por que você está… – Perguntei, indo até ele.
- Emily… – Ele virou-se na cama, secando as lágrimas.
Ele parecia inconsolável. Seus ondulados fios de cabelos estavam tão bagunçados e emaranhados, seus olhos verdes estavam inchados, quase totalmente fechados, e o sorriso encantador que ele sempre tinha no rosto, pareceu ter sido extinto do mundo...
- Hey… – Me sentei perto dele. – O que aconteceu…?
- Minha namorada se foi – Sua voz embargou entre um soluço.
- Vocês também terminaram...?
- Não... ela morreu... – Seu choro alto voltou.
Meu coração despedaçou-se mais ainda depois de ouvir isso.
Senti vontade de acolhê-lo em meus braços, para tentar acalmar seu choro compulsivo… então o abracei e ele agarrou-se forte em mim, apertei-o com a mesma força que a sua.
- Eu sinto muito… – Falei, enquanto ele chorava contra o meu ombro.
- Eu deveria estar com ela… e não ter sido o último a saber… deveria ter sido eu, eu… – Abracei-o mais forte ainda, me segurando para não chorar junto com ele. Naquele momento eu até esqueci da dor de ter sido abandonada por Alex e me compadeci da dor de Joy.
Não falei mais nada, apenas segui abraçando-o, e seu choro aos poucos foi diminuindo enquanto eu fazia carinho em seu cabelo. Ele era um bom amigo. Merecia todo o apoio do mundo.
- Está mais calmo…? – Nos separamos.
- Não… – Fungou, mas ao menos um pouco do seu choro tinha cessado.
- Eu prometo que irá ficar… – Coloquei as mãos em seu rosto e limpei suas lágrimas.
- Como você está…? – Soprou-me. – Eu ouvi tudo… – Baixei a cabeça, sentindo os meus olhos marejarem.
Limpei minhas próprias lágrimas e impedi temporariamente outras de saírem.
- Acabou...
Ele me fitou tão calado.
- E ele disse porquê?
- Não… – Suspirei, lembrando. – Ele só disse que não me amava, que não me queria perto, que eu não servia pra ele
- E você acreditou...?
- Não.
Ele assentiu ainda calado.
- Por que...?
- Emily, eu não posso...
- Não pode o que, Joy? – Ele jogou o pescoço para trás e colocou as mãos no alto da cabeça.
- Não me pergunta nada
- Mas – Franzi o cenho e ele suspirou.
- Por favor.
- Joy, se você sabe de alguma coisa, por favor me conta. Eu estou tão perdida… – Ele me abraçou e fez um sinal negativo com a cabeça.
- Não posso. Ele nunca iria me perdoar…
Então tem alguma coisa.
- Então tem alguma coisa…? – Me saí de seus braços.
- Tem. Mas não me pergunta mais nada sobre isso. – Apenas dei de ombros.
- Tudo bem… eu não vou insistir – Acrescentei. – Ainda.
Minha fala o fez rir fraco.
- Você é mesmo teimosa como ele sempre diz
- Ele sempre diz isso?
- Sim. Que você é a única pessoa que bate de frente com ele. E eu acho que foi isso que o fez se apaixonar por vo… – Ele logo parou o que dizia. – Desculpa. – Me olhou com culpa.
Fechou os olhos, suspirando.
- Não foi nada.
Ele estava com os olhos marejados e repentinamente começou a chorar.
- Desculpa, Emily. Desculpa por ser tão inútil, por não poder te ajudar, por não poder te contar a verdade. Desculpa, desculpa, desculpa... – Ele falou embolado, mas pude entender.
- Você não precisa se desculpar por nada, Joy – Segurei uma de suas mãos, e com a outra mão sequei seu rosto. – Não foi você que me magoou, não foi você que me fez perder as esperanças...
Ele fitou nossas mãos, que estavam entrelaçadas, e franziu o cenho.
Nos olhamos e ele estava um pouco espantado.
- Ele não iria se importar com isso. – Me referi a Alex. – Eu e você somos amigos e ele sabe disso. – Ele mordeu os lábios, ele tinha mania de fazer isso, e assentiu soltando minha mão.
- Já que somos amigos, eu posso te pedir uma coisa…?
- Pode – Respondi-lhe.
- Fica aqui comigo até eu dormir...? – Sorri fraco, fazendo um carinho leve em sua bochecha.
- Fico sim...
Ele assentiu e deitou-se na cama de costas para mim, desabando de novo. Ele chorou por incontáveis minutos enquanto eu afagava seus cabelos.
Ele devia amar muito essa moça para estar sofrendo assim...
Uma parte de mim queria perguntar o que tinha acontecido a ela, mas eu só o machucaria mais se perguntasse isso.
Preferi esperar… quando isso doesse menos nele – se é que isso algum dia aconteceria – eu o perguntaria…
- Obrigado… – Ele sussurrou para mim antes de adormecer. Eu sabia que ele estava agradecendo-me por estar ali e por cuidar dele.
Quando ouvi em seguida a sua respiração profunda e seu ressonar baixinho, me senti aliviada.
Levantei-me com cuidado para não acordá-lo e caminhei até a porta, sorrateiramente.
Corri para o meu quarto e me tranquei lá dentro, completamente desolada.
Olhei ao redor, enquanto chorava, sem conseguir acreditar que tudo havia terminado. Como pode a noite mais feliz da minha vida ter se tornado a mais maldita? A mais infeliz?
Deixei um soluço escapar quando olhei para a minha cama, que ainda estava desarrumada, exatamente como Alex e eu deixamos.
Fui a passos rápidos até ela, tropeçando e derrubando tudo o que havia pelo caminho. Velas, almofadas, edredons, tudo que havia no chão ou caído da cama enquanto nós dois estávamos nos… nos amando.
Caí sobre a cama, clamando por Deus, em pensamentos. Pedindo que Ele me trouxesse Alex de volta… pedindo que Ele me livrasse de toda aquela dor que eu estava sentindo...
Aproveitei e pedi por Joey… que também estava sofrendo muito, tanto…
Nem mesmo todos esses nove anos que sofri por Alex, doeram mais do que as palavras que ouvi dele…
Eu só pensava nele, e em nós. Em como seria a minha vida. Em como ele ficaria…
Peguei meu celular na cabeceira da cama e comecei a ligar para ele, sem pausas. Chamava… chamava... e ele não atendia.
Até que lá para a vigésima quinta chamada, ele começou a rejeitá-las. E aquilo me doía não só por ele está rejeitando a minha chamada, como também o meu sofrimento, como também o meu amor…!
Meu corpo inteiro estava doendo… eu não raciocinava mais…
Eu não podia perdê-lo…
Nós não seríamos nada um sem o outro…
Ele é a minha fraqueza e eu a sua força...
Eu sabia que não conseguiria dormir naquela noite e nem tentei… eu só fiquei ligando e ligando para ele esperando que ele fosse vencido pela minha insistência…
Mas a bateria do meu celular acabou, e ao que me pareceu, a do meu corpo também… fui vencida pelo cansaço e adormeci sem querer, sem me dar conta.
Alex
Aquela estrada escura e gélida parecia não ter fim. Era quase como uma passagem do mundo dos vivos para o mundo dos mortos.
É, eu me sentia morto...
Estava doendo tanto, que se Jerome aparecesse na minha frente naquele segundo, eu me entregaria. E o pediria que me matasse logo. Logo! O mais rápido!
Acho que nunca chorei tanto como eu estava, nem mesmo no dia que encontrei a minha mãe morta em casa.
Ela foi assassinada pelo meu padrasto e eu nunca falei disso porque até hoje isso me machuca.
Como se não bastasse eu ter sido abusado por ele – sexualmente – a minha infância inteira, somente para protegê-la, no fim das contas ele foi lá e matou ela.
No entanto, isso já passou, eu consegui me vingar. O matei da mesma maneira que ele fez com ela e tive o prazer de ter sido pelas minhas próprias mãos.
Enquanto eu andava pela estrada, Emily não parava de me ligar. Eu me encolhia a cada ligação dela. E gritava a cada vez que tinha que rejeitar.
Teria sido mais fácil e menos doloroso se eu tivesse simplesmente desligado o celular… mas eu não conseguia… era quase como um consolo vê-la ainda atrás de mim… me querendo… me amando...
Meio egoísta, eu sei… talvez eu não esteja tão regenerado quanto achei…
Eu me sentia exausto fisicamente, mentalmente e principalmente emocionalmente… eu andava e não chegava a lugar nenhum… eu chorava e a minha dor não ia para lugar nenhum… eu buscava saídas e elas não vinham de lugar nenhum…
Até que eu vi, ao longe, algumas luzes acesas. Agradeci mentalmente e andei mais depressa.
Havia um hotel logo na entrada da cidade, era muito simples e aparentemente mal cuidado, mas se tivesse uma cama, já estava do meu agrado.
- Boa noite, seja bem-vindo ao Radisson hotel. – Um adolescente loiro, de pele pálida, usando um short jeans e all star preto, cumprimentou-me.
- Noite. – Só consegui dizer isso. Afinal a minha noite só foi boa até às onze.
- Gostaria de um quarto? – Perguntou-me.
Eu apenas concordei com a cabeça, querendo encontrar a minha carteira nos bolsos da calça.
Será que eu coloquei na sacola?
- Er. O pagamento tem que ser adiantado?
- Não, pode ser na saída – Ele disse e deu de ombros.
- Ah, fico aliviado – Até me escapou um suspiro.
- Por que? Não tem dinheiro? – Debochou, rindo. Era mesmo só o que estava me faltando. Um adolescente me zoando.
- Eu só esqueci a minha carteira em casa, mas amanhã irei resolver isso. – Eu disse sério e ele apenas coçou o topo da cabeça.
- Ok, e aí, vamos?
- Sim. – Segui na frente, mesmo sem saber o caminho.
O garoto ultrapassou à minha frente e destrancou o quarto 202.
Olhei lá dentro e ótimo, tinha uma cama!
- O café da manhã está incluso
- Se eu estiver vivo
- Como?! – Os olhos do magricelo se arregalaram.
Só aquilo mesmo para me fazer rir diante daquele momento, mesmo que só um pouco.
- Nada, cara. Boa noite, e obrigado! – O empurrei para fora do quarto e tranquei a porta.
Ergui minha mão às costas e puxei minha blusa, retirando-a. Joguei-a sobre o colchão e também a minha sacola, me jogando de cara na cama depois.
Como eu te amo Emily...
Levei minha mão ao bolso de trás da calça e peguei meu celular.
Ela parou de ligar… – Refleti olhando no visor.
O que será que aconteceu…?
Ah, Alex…!
Antes que fizesse a besteira de ligar pra ela, joguei meu celular para o lado, na cama. E foi então que eu mirei a minha sacola.
Eu posso ter esquecido a minha carteira com dinheiro e os meus documentos, mas eu não esqueci de uma coisa.
Abri a sacola e peguei o pequeno embrulho de plástico. Eram os meus cristais. Era a minha metanfetamina. A minha saída.
Antes que me xinguem ou falem qualquer merda, vamos à ‘‘bula’’ dessa maravilha.
Metanfetamina: É uma droga ilegal da mesma classe que a cocaína e outras drogas poderosas. Pode causar alucinações, fazer com que se sinta mais ativo, confiante, impulsivo, e às vezes, invencível. Menos propenso a sentir dor, causa alto libído, eleva a temperatura do corpo, os batimentos cardíacos, e a pressão sanguínea, a níveis perigosos, com riscos de ataques cardíacos, derrame cerebral, coma, ou até a morte. A pessoa pode ficar dias sem comer ou dormir. O fim do efeito pode deixar o usuário exausto, agressivo e até paranóico.
Talvez agora vocês entendam porque quando eu me drogo eu fico tão agressivo e insano. Na verdade até eu mesmo estou refletindo sobre isso agora… deve ser horrível. E assustador.
Mas… viram? Metanfetamina é a minha solução.
Eu só não quero mais sentir essa dor, me entendam.
Comecei a desembrulhar o saquinho para fumar. Eu podia inalar também, mas sempre preferi fumar.
A minha boca salivava por ela. Salivava. E apesar da voz da Emily ficar em minha cabeça dizendo: Me promete que não vai mais usar, por favor. Eu não senti que estava traindo a sua confiança. Nós terminamos o que quer que tivemos, então, eu não devia mais nada a ela.
Devia…?
Me peguei pensando sobre isso.
E mesmo tremendo, quase desistindo, eu peguei o isqueiro e o recipiente de vidro que usamos para fumar do jeito certo.
Dei uma tragada devagar, sentindo quase de imediato os efeitos. Traguei a fumaça sentindo-a passar pela minha garganta até chegar aos meus pulmões, e logo depois soltei-a com calma, pelo quarto.
E ali eu estava, em um caminho sem volta. E apesar de contrabandear esses cristaizinhos, eles são realmente caros demais, e eu quase nunca desperdiçava os meus.
Horas depois...
Emily
Eu ainda não havia aberto os meus olhos, mas podia ouvir o canto dos pássaros ao meu redor. Então já era dia…?
Que estranho, a escuridão me parecia a mesma…
- Emily? – Ouvi alguém me chamar e imediatamente reconheci a voz.
Joey.
- Sim?
- Você está bem?
- Estou viva…
- Eu fiz café, vem.
- Já estou indo…
Sentei na cama e levei minha mão até entre os meus cabelos, abaixando a cabeça. O cheiro do Alex ainda estava pelos lençóis e pelo quarto.
Fui até o banheiro, e depois que fiz minhas higienes, saí do quarto.
- Oi. – Disse Joey, assim que cheguei à sala.
- Oi – Respondi-lhe. Ele estava sentado no sofá, com os pés em cima da mesinha de madeira, o seu cabelo estava preso em um coque.
- Tem pão e café em cima da mesa – Desviou seu olhar da TV para mim. Sua cara estava péssima, assim como a minha.
- Obrigada… – Balbuciei, saindo para a cozinha.
Beberiquei dois goles de café, o que ainda foi muito, e encostei minha xícara na pia. Não entrava nada...
Então voltei para a sala:
- Alguma notícia dele…? – É óbvio que eu ia perguntar.
Joy me olhou.
- Não
- Tem certeza?
- Sim
- Se você tivesse notícias dele, você me diria...?
- Claro...
- Joy…
- Vem cá – Ele me chamou para sentar no sofá.
Caminhei até ele e me sentei de bom grado, ao seu lado.
Ele se virou um pouco em minha direção para dizer algo.
- Você é como uma irmã para mim, Emily – Disse, com um sorriso, me deixando alegre por ele está finalmente sorrindo depois de tudo.
- Obrigada. Você também – Respondi, com um meio sorriso.
- Você é a pessoa mais bondosa que eu conheço… eu não quero te ver sofrendo, e chorando pelos cantos. Qualquer coisa que eu souber dele eu vou te dizer sim, eu te prometo.
- Posso confiar mesmo em você? – Olhei para ele esperando por sua resposta.
- É claro que sim, pode confiar em mim – Disse enquanto se inclinava para me abraçar.
- Obrigada…
- Obrigado por ontem também… cê sabe… – Agradeceu-me.
- Pelo que?
- Por ter ficado comigo e ter me feito carinho até eu dormir – Sorri para as palavras dele e beijei levemente a lateral de sua bochecha.
- Não foi nada… – Nos afastamos e ele olhou para baixo, timidamente.
- Mesmo assim, valeu... – Assenti, ligeiramente esfregando as suas costas com a mão, de maneira tranquilizadora. – Agora eu vou limpar o quintal… – Ele disse, se levantando.
O olhei, confusa.
- É terapêutico. – Informou-me.
Meu olhar se tornou compadecido.
- Como você está dep… – Ele fez um movimento para eu parar.
- Não consigo falar disso ainda – Seus olhos molharam. – Sem chorar. – Finalizou.
- Me desculpe…
- Tudo bem…
Ele saiu para o quintal e eu para a cozinha.
Senti o choro vindo ao olhar para o canto de Alex na mesa e respirei fundo tentando me recompor.
Horas depois...
Alex
Meus pensamentos me agonizavam.
Sabe quando você encontra a sua própria felicidade em alguém e você precisa abrir mão dela...?
É a coisa mais torturante do universo precisar machucar quem eu mais amava. Isso dói duas vezes.
Uma por abrir mão do amor da sua vida. E a outra por partir o coração dela em pedaços. E era isso que eu estava fazendo. Sendo o vilão da minha própria história.
Não consegui dormir nada, fiquei a noite inteira me drogando e quebrando o quarto de hotel. Só não quebrei a cama porque precisaria dormir nela em algum momento.
Ainda bem que dinheiro não me falta e eu poderei pagar pelo estrago que fiz nessa espelunca.
Peguei um cigarro de maconha em minha sacola...
Eu só queria relaxar agora e a maconha me acalma, de certa forma.
Traguei o cigarro, acendendo-o e deixei-o na boca.
Traguei novamente e soltei a fumaça devagar. Eu fitava um ponto fixo na parede, quase sem piscar.
As paredes verde-água estavam descascando de cima abaixo. Refleti sobre o quanto bem eu faria por ter que pagar por aquele quarto, pela destruição que fiz. Quem sabe com a reforma eles o transformassem em uma suíte decente.
- Sai da minha cabeça… – Sussurrei para mim mesmo, mordendo o lábio, nervosamente.
Eu sabia que tive que dizer a ela tudo o que tinha dito, mas isso não significava que seria fácil para mim tudo o que estava acontecendo. Eu me sentia mal só de pensar em quão duro tinha sido, e as palavras que tinha falado ecoavam assustadoramente em minha cabeça.
“EU NÃO TE AMO, EMILY”
“Eu não quero você.’’
“Eu só queria me divertir com você e pronto! Consegui! Cansei, não quero mais, você não serve pra mim!’’
Abaixei a cabeça, respirando fundo, para tentar colocar as ideias no lugar e não explodir enquanto fosse fazer o que iria.
Peguei meu celular e disquei o número de Joey.
- Alex!
- Não fala o meu nome, a Emily pode ouvir!
- Tá, foi mal. Mas ela tá longe.
- Longe onde?
- Na cozinha. Eu tô no quintal.
- Joy eu preciso que você venha me encontrar na cidade. Eu esqueci dinheiro, documentos, tudo aí. Preciso que traga.
- Tá… agora...?
- Vem daqui duas horas.
- Falow.
Encerrei a ligação e joguei o celular ao meu lado na cama. Não demorou quase nada e ele começou a tocar tirando o foco do meus olhos da parede para a tela do celular. Li o nome Emily no visor.
Passei a mão nos cabelos, me sentindo um caco. Um completo e inútil caco. Eu precisava pensar em alguma coisa para resolver essa merda e rápido.
A princípio não atendi…
Se eu atendesse ela ficaria mais infeliz do que já estava.
[04:35pm] Emily: Me responde.
Neguei com a cabeça, engolindo totalmente o choro. Se começasse a chorar, não pararia mais…
[04:40pm] Emily: Alex?
[04:49pm] Emily: Eu não consigo comer… se sente feliz agora?
[04:50pm] Alex: Emily, para.
[04:51pm] Emily: Baby...
Senti meu coração se contrair de amor.
[04:52pm] Emily: Não é possível que tudo que tenha me dito até ontem tenha sido mentira… por favor, Alex..
[04:53pm] Alex: Não me mande mais mensagens, eu não irei responder.
[04:54pm] Emily: Alex?
[05:00pm] Emily: Alex?
Desliguei o celular e novamente olhei para um ponto fixo na parede, sentindo os meus olhos se encherem de lágrimas.
Decidi trocar de roupa e ir para a cidade.
Tinha o encontro com Joey, e mais, precisava me distrair de alguma maneira.
Tomei uma ducha e depois coloquei qualquer roupa. Eu ainda estava tão abalado, atordoado, e pior, alterado pelo efeito das drogas, que não soube nem se calcei os sapatos do jeito certo.
Saí do hotel e comecei a andar pela cidade, sem rumo.
Meu corpo balançava de um lado para o outro, cambaleando. Um enjôo bateu e eu quis vomitar, mas não me permiti. Não no meio de todo mundo.
Ao chegar perto do que parecia ser uma taberna, corri para o lado de dentro do local, tampando a boca, procurando o caminho do banheiro. Assim que o encontrei, empurrei a porta e deixei sair tudo o que não tinha nem comido durante o dia inteiro...
Eu não comi absolutamente nada, só estava vomitando as drogas, digamos.
Joguei uma água na boca e saí daquele banheiro cubículo.
Aproveitando que estava ali, me sentei em uma mesa e pedi uma cerveja.
O que começou com duas, se transformaram em seis, em doze, em quase vinte.
Ainda não me sentia bêbado, mas já via tudo embaçado.
Recebi dois bilhetes de uma garçonete, de mulheres do local. Quem sabe fosse legal me envolver com qualquer uma. Assim conseguiria parar de pensar em Emily.
Só que não consegui...
- Quem é essa Melissa? – Perguntei a garçonete, ao ler com dificuldade o que tinha escrito no papel que recebi dela.
Ela apontou discretamente para uma mulher loira, de seios fartos e altona. Realmente muito bonita, mas…
- E essa Sarah? – Era o nome que estava no outro papel.
E a garçonete também apontou disfarçadamente.
Era uma garota de cabelos castanhos, branquinha e esquia. Eu automaticamente vi Emily nela e com isso já tinha a minha escolhida.
- Eu quero ela. – A garçonete assentiu e certamente levou o meu recado a garota.
Qual era a lógica disso? Tentar esquecer Emily mas buscar por alguém tão parecida?
Notei a garota vindo em minha direção, então prontamente afastei a cadeira ao meu lado.
- Olá, bonitão… – Disse ao sentar-se.
- Alex. É um prazer conhecer você, Sarah… – Ela sorriu nada tímida. Pelo contrário, sorriu felina.
- O prazer é todo meu. Principalmente quando você é o homem mais bonito desse ambiente, e também de toda a cidade… – Não sei por que, mas eu corei. Nunca me senti bonito, principalmente naquele momento tão difícil. – Como eu nunca te vi antes…?
- Sou novo por aqui. Mas só estou de passagem.
- Hotel? – Insinuou-se, direta.
- Não… – Tomei mais um gole da minha cerveja. Mas que porra? O que eu estava fazendo? Ou pior: não fazendo? – Vamos conversar mais um pouco, o que acha? – Fugi de qualquer intenção dela, não me reconhecendo.
- Me chamou aqui só pra conversar? – Ela pareceu um pouco decepcionada, e até irritada.
- Quem sabe depois da conversa – Toquei a mão dela com a minha, sem desviar o nosso olhar.
- Okay… – Ela concordou, seduzida, e eu enchi um copo para ela, com a minha cerveja. – O que você faz, Alex…? – Perguntou-me, enquanto levava o copo até a sua boca.
- Sou traficante – Ela quase cuspiu a bebida de volta no copo, acho até que cuspiu. – E você?
- Eu… – Ela ficou visivelmente surpresa. – Eu… eu preciso voltar para as minhas amigas... – Sorri por dentro.
- Eu entendo – Tomei mais um gole, a olhando.
- Foi um prazer te conhecer. – Disse, se levantando.
- Às ordens – Ergui meu copo.
Ela saiu e cruzou com Melissa, a tal loira, que ao ver Sarah se levantando, levantou-se de sua mesa, me encarando.
Ela começou a caminhar na minha direção, sentou-se no meu colo e me puxou contra ela me dando um beijo de tirar o fôlego.
Confesso que a minha cabeça rodou. Com a surpresa, e até com o impacto do beijo. Mas não senti mais que isso…
O beijo dela era ok, era legal, mas não senti nenhum tesão, nenhum frio no estômago, nenhum coração acelerado, nenhuma tremedeira pelo corpo. Não senti absolutamente nada.
Será possível que até as sensações que eu sentia com Emily eu estava buscando sentir com outra pessoa...?
Foi então que eu empurrei a garota.
- Desculpa. – Me levantei da cadeira, fazendo-a automaticamente sair de cima de mim.
- Eu pensei que você...
- Pensou errado. – A cortei ríspido.
E saí indelicadamente mesmo. Não mandei ela me beijar.
Sentei em um dos bancos do bar, ficando de costas para todos.
Depois da certeza que Emily me assombraria pelo resto da minha vida, eu só queria me embebedar e acordar somente no outro dia.
Enquanto a noite caía, eu observava o movimento na taberna aumentar. Eu vestia um moletom azul escuro por cima de uma camisa xadrez e uma calça jeans básica. O tempo começou a esfriar e o noticiário da televisão informou que uma nevasca estava para chegar.
Desde a hora que saí de casa eu relutei em ligar o meu celular. Eu precisaria que ele estivesse ligado para que eu pudesse me comunicar com Joey, mas tinha o lance da Emily não parar de me ligar, como ela estava fazendo naquele exato momento. Esqueci o quanto ela podia ser persistente e teimosa – que apesar da situação, eu amo isso nela.
E como eu não podia atendê-la, pedi a minha vigésima cerveja, para afogar as minhas mágoas.
Estava sentado no banco, com os antebraços apoiados na mesa, de cabeça abaixada, e o coração a mil. Eu não conseguia parar de pensar na Emily. O seu sorriso, o seu beijo, os seus carinhos, o seu corpo. Emily era a minha pior droga e meu corpo implorava cada vez mais por ela...
Eu estava tão perdido em meus pensamentos, que só percebi que colocaram no canal de clipes, quando eu ergui o olhar até a televisão ao ouvir uma música do Justin Bieber que pareceu um belo de um murro na minha cara.
You gotta go and get angry at all of my honesty
(Você tem que ir e ficar com raiva de toda a minha honestidade)
You know I try, but I don't do too well with apologies
(Você sabe que eu tento, mas não sou bom com desculpas)
I hope I don't run out of time, could someone call a referee?
(Espero que eu não fique sem tempo, alguém pode convocar um referendo)
'Cause I just need one more shot at forgiveness
(Porque eu só preciso de mais uma chance de ser perdoado)
I know you know that I made those mistakes maybe once or twice
(Eu sei que você sabe que eu cometi aqueles erros, talvez uma ou duas vezes)
By once or twice, I mean maybe a couple a hundred times
(Quando digo uma ou duas, quero dizer talvez umas cem vezes)
So let me, oh, let me redeem, oh, redeem, oh, myself tonight
(Então me deixe, oh, me deixe me redimir, oh, redimir, oh, esta noite)
'Cause I just need one more shot at second chances
(Porque eu só preciso de mais uma chance de ter uma segunda chance)
Yeah, is it too late now to say sorry?
(Yeah, é tarde demais agora, para pedir desculpa?)
'Cause I'm missing more than just your body
(Porque eu sinto falta mais do que só do seu corpo)
Ooh, is it too late now to say sorry?
(É tarde demais para pedir desculpa?)
Yeah, I know that I let you down
(Yeah, eu sei que te decepcionei)
Is it too late to say I'm sorry now?
(É tarde demais para pedir desculpa?)
I'm sorry, yeah
(Me desculpe, yeah)
Sorry, yeah
(Desculpe, yeah)
Sorry
(Desculpa)
Yeah, I know that I let you down
(Yeah, eu sei que te decepcionei)
Is it too late to say I'm sorry now?
(É tarde demais para pedir desculpa?)
Desliguei os meus ouvidos totalmente daquele raios de música!
É bem verdade o que dizem, a verdade dói, e não são todos que aguentam ouvi-la.
Se eu contasse, ninguém iria acreditar, mas Justin Bieber tinha me dado um tremendo soco na cara. Aquela letra, aqueles versos. Tudo fazia sentido. Tudo bem que eu não pretendia pedir desculpas pra ela por algo que fiz justamente para protegê-la, mas aquela letra… era exatamente como eu me sentia por dentro...
Foi então que escutei o meu celular tocando. Olhei, afinal poderia ser o Joey, e era ele mesmo.
- Fala.
- Cheguei na cidade, onde você tá?
- Em uma taberna que… – Olhei pelas paredes para ver se encontrava o nome do lugar, até que fitei, a minha frente, no balcão, uma moça que trabalhava ali. – Com licença, xuxu. Qual o nome desse lugar mesmo?
- A taberna. – Ela respondeu-me, e nossa, quanta criatividade.
- Er… valeu. – Forcei-lhe um sorriso, fazendo-a derreter-se de volta. Rolei os olhos. Às vezes isso era um saco. – Joey, eu tô em uma taberna que se chama a taberna – Ele caiu na risada, certamente achou tão ridículo quanto eu.
- Falow.
Desligamos e eu logo pedi a vigésima primeira cerveja, só que dessa vez, eu teria com quem dividir, o meu camarada Joey.
Que ao adentrar no bar, sentiu todos os olhares das mulheres que haviam ali, em sua direção. Era sempre assim quando eu saía com ele. O moleque chama atenção. Enquanto eu tinha duas ou três atrás de mim, ele tinha umas seis, só para ele. Ele tentou ignorar os cochichos e olhares, enquanto caminhava até mim, lentamente.
- Hey… – Ele disse, suavemente, ao sentar ao lado do meu banco.
- Você está atrasado – Comentei, tomando mais um gole da minha cerveja, ao olhar para trás dele, em busca de Emily – E sozinho. – Continuei. – Onde está a Emily? Você sabe que não pode deixá-la sozinha, desprotegida!
Ele abaixou o olhar para a mesa, sentindo-se desconfortável com alguma coisa.
- Não sabia que era pra trazê-la – Murmurou-me baixo. – Afinal você fugiu dela como o diabo da cruz, como eu poderia adivinhar?
Fiz uma pausa por um momento e suspirei profundamente, ele estava certo.
- Tá, eu sei, é que eu esperava vê-la…
Ele assentiu, escorregando a mão por entre suas mechas de cabelo.
- Como ela tá? – Sondei.
Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, mas logo se virou para mim.
- Ela tá arrasada.
A minha dor só aumentou, e a minha culpa só pesou mais.
- Você tá cuidando dela? – Ele sacudiu a cabeça positivamente.
- Do jeito que eu posso
- Valeu. – Agradeci, sentindo uma sensação de alívio.
Coloquei uma mão no ombro esquerdo dele, que virou o rosto para mim.
- E você? Como está?
- Eu só… – Ele começou, mas deixou cair o rosto para as mãos e começou a chorar.
Respirei fundo, sentindo os meus olhos arderem com o quão desolado o meu amigo estava.
- Sinto muito, cara… – Eu disse, abaixando o rosto. – Eu realmente não sei o que falar...
Ele ergueu seus olhos lacrimejantes, enxugando-os, evitando o meu olhar acolhedor.
- Tá de boa – Fungou. – Eu também não sei o que te falar na tua situação… – Tomou um gole de sua cerveja.
Eu não disse nada, apenas fiquei em silêncio.
- Você já perguntou de mim… dela… agora eu pergunto de você… como você tá? – Minha respiração ficou presa, de forma visível, enquanto eu tentava inalar, com lágrimas ameaçando transbordar por meus olhos, novamente.
- Não há um minuto em que eu não pense nela.
- Bem-vindo a bordo – Ele respondeu, com a voz presa na garganta.
- Você também anda pensando na Emily?! – Eu quase esmurrei a cara dele.
- Não! Claro que não! – As suas sobrancelhas subiram em surpresa. – Eu tô falando da minha namorada, caralho!
- Foi mal, desculpa… – O puxei para um abraço reconfortante. – Eu sei exatamente como você se sente... também está me matando ficar longe da Emily…
Me afastei um pouco a fim de encontrar seu olhar.
- Eu não posso perdê-la – Eu disse miseravelmente. – Eu não posso. Logo agora que estou começando a tê-la
Ele estava de cabeça baixa, balançando a cabeça afirmativamente a cada palavra que eu falava.
- Sorte sua que pode recuperá-la – Ele disse honestamente. – Eu não tenho essa sorte. Aproveite
Pensei em falar algo, mas ele continuou:
- ‘‘Joey, você deve colocar um ponto final nessa história e seguir em frente.’’ – Ele disse ao fazer aspas. – É fácil falar, difícil é fazer, ainda mais quando o amor é tão intenso. Você deve estar se perguntando porque estou colocando essa frase em terceira pessoa, como se alguém estivesse falando isso pra mim. E é porque eu sei que muitas pessoas falariam isso, eu mesmo falaria isso se alguém estivesse na mesma situação que eu... eu só não consigo seguir...
- Ela foi o seu primeiro amor…?
Ele assentiu e levantou a cabeça, suas lágrimas caíam tão facilmente, que ele não fazia esforço nenhum para fazer parar.
- Vamos mudar de assunto, por favor? – Ele pediu.
- Claro. – Eu disse, me virando no banco. – Vocês podem colocar uma música do Justin Bieber? – Perguntei a atendente e ouvi Joey rir. Ao menos isso eu consegui.
A moça assentiu.
- Cara, que porra é essa? – Perguntou-me Joey.
- Uma sessão de exorcismo – Ele riu de novo. – Exorcismo interior
- Você tá me assustando.
- Só presta atenção na letra. – Olhei para a moça. – Coloca aquela mesma música que estava tocando agora a pouco, por favor – Eu não sabia o nome, mas pedi, e ela assentiu sorrindo.
- Será um prazer, todos adoram essa música – Ela disse e em seguida saiu.
Não demorou nada e ao fundo a música se iniciou ecoando pelas caixas de sons, levantando o astral da galera.
Joey olhou ao redor, surpreso.
- A galera gosta mesmo dessa música
- Presta atenção na letra. – Eu disse.
Ele ficou quase quatro minutos, com a sobrancelha erguida, realmente prestando atenção na letra da música.
Até que uma atendente se aproximou de nós dois e estendeu um papel para Joey.
- Toma, te mandaram isso. – Ele arregalou os olhos, pareceu não entender nada.
- Eu já recebi dois desses hoje – Comentei e dei outro gole em minha cerveja. Ele ainda estava imóvel, só olhando o papel. – Anda! Vê logo.
Ele rolou os olhos, mas abriu.
Leu brevemente e sua expressão se fechou.
- É besteira – Amassou o papel, jogando-o para trás depois.
Por fim a música terminou. Ele afastou uma mecha de cabelo dos seus olhos e me olhou:
- Que letra mais profunda vinda do Justin Bieber – Disse, enquanto passava a mão pelo cabelo.
- Essa música me deu uma ideia.
- Alex – Ele se ajeitou no banco. – O que vai aprontar?
- Nada não, só pensei em algumas coisas – Tomei mais um gole da minha cerveja. – Eu vou embora da Inglaterra.
- Como é?! – Ele engasgou com a bebida e eu dei leves tapas em suas costas. – Ficou maluco?! Vai abandonar a Emily sozinha??
- É a minha única saída, cara. Se eu ficar aqui, perto dela, não vou conseguir esquecê-la. Vou ter que comprar algumas pessoas e consegui viajar mesmo estando foragido
- Não adianta se mudar. Os problemas vão com você. Fugir é a pior solução, Alex – Ele rebateu. – Não pensa dessa maneira, não é fugindo da Emily que vai conseguir esquecê-la. Os problemas a gente encara batendo de frente, essa que é a melhor saída. – Ele disse e refletiu sobre o que disse, em seguida. Esse conselho também servia para ele mesmo.
- Já tomei a minha decisão, Joy. No final da semana eu vou embora, mas não pense que vou te esquecer. Você se tornou um dos meus melhores amigos, na verdade, você e o Elijah são os meus únicos amigos. Mas eu preciso ir – Ele me ouvia calado. – Eu realmente me sinto preso aqui.
- Você só está preso porque quer. E quer jogar tudo pro ar por causa de um namoro que não deu certo. Está sendo precipitado – Ele me olhou com um semblante sério e eu suspirei, enquanto fitava meus dedos.
- É aí que tá, cara… esse namoro deu muito certo... – Lamuriei deprimido.
Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo e tomando outro gole de sua cerveja.
- Só me promete que vai pensar antes de tomar qualquer decisão.
- Mas eu já...
- Cala a boca. – Cortou-me rispidamente. – Eu disse pensar direito e não de cabeça quente só porque ouviu uma música do Justin Bieber.
- Cara, não foi por...
- Eu disse pra Emily que ela é como uma irmã pra mim. E ela é. – Ele me cortou. – Eu não quero vê-la sofrendo mais. E se você for embora, irá destruí-la. Me promete, Alex. – Ele me pediu isso, por que sabe que eu sempre cumpro com a minha palavra, sempre.
- Tudo bem, eu prometo. – Ele abriu um meio sorriso e voltou a beber silenciosamente. – Ei – Ele me olhou. – Valeu por cuidar tão bem dela...
- Sabe como é… adotei – Assenti tristemente.
Ele perdeu a irmã, quando ela tinha onze anos, por causa de um irresponsável que dirigia alcoolizado.
- Elijah ficaria feliz por isso. Por ter abraçado Emily desse jeito...
- Eu também acho que sim…
- E... você não vai me repreender pelo que eu disse a ela antes de ir embora...? – Questionei-lhe.
- Eu acho que ao fazer isso você já se puniu o suficiente, cara... – Me disse e eu perdi as palavras por mais aquele momento. Ele estava certo. – Só acho que as mentiras que disse ela não precisava escutar
- Eu não tinha outra saída. – Observei. – Ela estava insistindo muito.
- E você ainda não a conhece?
- Conheço, ela é fogo...
- Então – Sorrimos brevemente. – Eu realmente tenho os meus dedos cruzados para que um dia você e Emily fiquem juntos
- Você torce por nós dois? – Me tornei surpreso.
- Torço. Ela já fez tanto por você que é justo que receba algo em troca
- A única coisa que eu sei, Joy, é que nada pode ser mais certo do que o amor que eu tenho por ela – Contei suspirando.
- Eu concordo que nas circunstâncias que aconteceram, mentir sobre os seus sentimentos foi até compreensível, mas quando isso tudo passar, você deve pedir desculpas e dizer toda a verdade pra ela
- Não. – Neguei convicto. – Não, isso nunca. – Ele me olhou confuso. – Ela iria arrumar um jeito da gente ficar junto e eu não iria conseguir dizer não. Ontem eu consegui, não sei como, mas se ela aparecesse de novo, eu… – Ele ficou me olhando de um jeito estranho. Quase que com um sorriso.
- Deixa isso pra lá… – Ele disse e apontou com a cabeça. – Já viu o que tem escrito naquela parede? – E eu me virei, olhando – Aquilo sim é um exorcismo.
Li atentamente.
“O amor é um punhal com dois gumes fatais. Não amar é sofrer, e amar é sofrer bem mais.”
Emily
Fiquei vegetando na cama o dia inteiro e nem percebi. O dia passou lentamente, me torturando em cada segundo. Eu não conseguia comer, ler, ver algum filme ou simplesmente me olhar no espelho por mais de dez segundos.
Eu sentia que Alex estava comigo sempre. Eu simplesmente o sentia. Tudo em mim desejava ele. Porém, ele não estava ali e nem Joey.
Já havia escurecido, eu estava com medo e ao mesmo tempo preocupada com Joey. Ele havia saído, mas não dava notícias, não voltava, eu estava mesmo preocupada com ele.
Ele estava tão deprimido com a morte da namorada que talvez… nossa. Eu não queria nem pensar sobre isso.
Foi então que ouvi o seu carro chegando. Corri até a sala na esperança de ver… sei lá… na esperança de Alex ter se arrependido e ter voltado. Que Joey tivesse saído aquela hora para se encontrar com ele e trazê-lo de volta. Mas isso era impossível, Alex com certeza está bem longe daqui. Bem longe…
Permaneci quieta, cheia de perguntas, enquanto Joy caminhava até a porta.
- Joey! – Corri até ele e o abracei bem forte, ele agarrou em minha cintura, correspondendo.
- Oi... desculpa ter te deixado sozinha tanto tempo – Sua voz estava meio embolada, o cheiro de álcool invadiu o ambiente.
- Você está bem? – Tomei seu rosto em minhas mãos.
Ele só assentiu, com um olhar profundamente entristecido, porém com um leve sorriso.
- Vá tomar um banho… – Eu disse, lhe acariciando o rosto. – Eu vou esquentar o seu jantar
- Eu vou, valeu – Ele sussurrou e depositou um beijo em minha testa.
Segui para a cozinha e esquentei a lasanha no micro-ondas.
Sentei à mesa esperando Joey voltar, mas a sua demora ultrapassou vinte minutos.
Coloquei um farto pedaço de lasanha em um prato e caminhei até o seu quarto, já imaginando o que tinha acontecido.
A porta que estava entreaberta, empurrei-a com o pé, dando de cara com ele deitado de bruços na cama, as mãos embaixo do travesseiro e seus olhos fechados.
- Joey
Com uma lentidão eterna, ele se deitou na cama de barriga para cima.
- Desculpa. – Ele sentou no colchão. – Tô exausto
- Exausto e de estômago vazio…
- Eu não comi nada mesmo… eu e o Alex só bebem... puta merda… – Meus olhos quase saltaram do rosto. Ele estava com o Alex??
Neguei com a cabeça.
- Quando ia me contar, Joey? – Perguntei-o asperamente. Seu olhar permaneceu em qualquer lugar do quarto menos em mim. – Isso é… você ia me contar?
Ele me olhou.
- Ia.
- Tem certeza? – O questionei, apenas esperando que ele falasse tudo o que eu queria.
- Sim – Ele cobriu o rosto com as mãos, envergonhado de si mesmo. – Mas só no momento certo. – Novamente me olhou.
- Momento certo? – Passei a mão pela testa. – Eu vou te dizer o momento certo, Joey. O momento certo foi quando você me viu te esperando lá na sala, desesperada por notícias!
Deixei o prato sobre a sua cama e saí do quarto, batendo a porta.
Me joguei no sofá, parecendo que havia me jogado de um precipício e não havia mais volta.
Ouvi passos se aproximando, e tirei o rosto da almofada, que agora tinha a fronha encharcada.
Automaticamente me virei:
- Desculpa – Um sussurro saiu da boca de Joey, em meio as lágrimas que caíam de seus olhos.
- Venha aqui – Eu chorava e ele me abraçou, chorando também. – Me desculpe… nós estamos tão sensíveis… foi só isso… não chore… – Ele se aninhou em meus braços, desabando. Chorou por intermináveis minutos enquanto eu afagava seus cabelos.
- A Valentina era o meu tudo… – Choramingou já mais calmo.
- Alex também era o meu tudo… – Ele pôs sua mão entre os meus cabelos e me olhou nos olhos.
- Ele não merece que chore
- Eu sei, Joy, mas dói... – Ele assentiu fraco, fiz um carinho leve em sua bochecha. – Ele mal foi embora e eu já sinto tanta falta dele...
- Ele também sente sua falta... – Sua voz era calma, e o que ele disse fez nascer um sorriso em meu rosto. – Mas está na hora de aprenderem separados, que não vão conseguir ficar juntos enquanto Jerome estiver perseguindo-os
- Eu tenho medo de perdê-lo. Ele pode fugir… ou encontrar outra…
- Precisam aprender a confiar no amor de vocês acima de tudo, e de qualquer distância. A se amarem apesar de todas as dificuldades. E sobre Alex arrumar outra pessoa, duvido muito. Ele te ama.
Meu coração disparou apesar de tantas dúvidas.
- Não tenho tanta certeza… ele me disse tanta coisa… e ainda por cima foi embora…
- Eu não sei se vou conseguir te falar isso, mas… – Ele disse, já chorando. Acariciei seu rosto, acalmando-o. – Alex foi embora por minha culpa.
- O que...?
- A Valentina foi morta pelos capangas do Jerome e ele sentiu medo por você… – Sabe quando você parece sair do seu corpo? Não sabem…? Eu também não sabia até aquele momento…
Eu só chorei mais ainda, negando com a cabeça. Aquilo não era possível. Joey só estava dizendo isso para proteger a imagem do amigo perante a mim. Como assim Alex me ama de verdade...?
- Emily, você virou o mundo do Alex de cabeça para baixo. – Minha respiração ficou presa. – Sei que já tem conhecimento de todo o passado dele, mas ele nunca sentiu por ninguém o que sente por você. – Eu apenas absorvia palavra por palavra. – Quando a Dianna o largou, tenho que admitir que isso o destruiu. O cara se afundou ainda mais nas drogas, se isolou dos amigos, se fechou para todos. A única coisa que o movia era a obsessão que ele sentia por ela, que quando ele não estava drogado, isso nem aparecia… – Franzi o cenho, disso eu não sabia. – De repente os amigos dele não eram mais amigos dele, eram só reféns, e suas vítimas. Eu fui um desses. O seu irmão e até você – Assenti. – Mas de todos, por mais que no fundo eu ainda o considerasse meu amigo, você foi a única que não o abandonou. Não sei explicar o motivo, mas eu acho que ele sempre te amou – Soltei um suspiro surpreso. – Ele só precisava enxergar isso, e mais, aceitar. Ele ficou tanto tempo fixo na Dianna que deixá-la ir era quase como perder a ele mesmo… – Assenti, eu estava entendendo o que ele queria me dizer, ao me perder em muitas lembranças. Como eu fui cega... – Você era a única que ele ouvia. Era no seu colo que muitas vezes drogado ele se lamentava, por causa dela – Assenti, era mesmo. E mesmo assim eu o acolhia… – Era com você que ele se divertia, mesmo com aquele jeitão emburrado dele. Ele não gostava de demonstrar, mas ele tinha cuidado com você. Ele vetava você em todas as nossas festinhas particulares, ele convencia o Elijah a não te deixar namorar porque você era ‘‘muito nova’’ – Fez aspas. – Ele não gostava que ninguém ficasse de gracinha com a irmãzinha gatinha do Elijah – Ele sorriu lembrando. – Eu acho que nunca na vida eu vi o Alex chorando… e hoje eu vi… – Levei a mão ao peito. – Eu deixei ele no hotel e fiquei lá um pouco com ele... bebendo, e eu assisti, por longos minutos, ele chorando por você… – Suspirei, com a minha respiração falhando. – Como pode em tão pouco tempo existir um amor assim, Emily…? – Ele me perguntou passando o dedo polegar por minha bochecha.
- Como…? – Finalmente abri a boca para dizer alguma coisa.
- Só há uma resposta para isso. – Respirei fundo, nem imaginando. – Ele sempre te amou.
Sorri entre lágrimas, sentindo um profundo alívio.
- Eu olho pra você, Emily, e acredito no amor. Você é a prova que ele é possível – Sorri fraco, negando com a cabeça. – O amor é teimoso, te pega de uma maneira que você não escapa, não tem pra onde correr. Podem passar dias, semanas, meses, anos, séculos, mas você nunca vai deixar de amar aquela pessoa, ela sempre vai ser parte de você. Por isso, não pense que Alex não te ama, porque eu nunca vou conhecer alguém tão apaixonado como ele.
Levei as mãos ao rosto e recomecei a chorar.
- E como posso convencê-lo a ficar comigo…? – Choraminguei, perdida diante de tudo, ele passou a mão pelo meu rosto.
- Eu conheço bem o Alex, sei que gosta de ser durão, mas está morrendo sem você. Já já ele aparece, você vai ver como ele vai abaixar a guarda
- Então terei que esperá-lo...?
Ele meneou com a cabeça.
- Se você quiser. Ou então vá buscá-lo. Bata de frente com ele como sempre fez, vá a luta. Aposto que ele se apaixonou por você desse jeito. – Sorri fraco e ele me empurrou levemente pelo ombro. – Tá vendo? Eu te disse que contaria tudo sobre ele. – Enchi seu rostinho de beijos.
- Obrigada de verdade, Joy, por tudo. Você me deu uma grande luz.
- Fico feliz – Novamente o agarrei entre os meus braços.
- Você comeu aquele pedaço de lasanha…?
- Não entra nada…
- Vou ter que te dar na boca, bebezinho? – Ele sorriu fraco, jogando o corpo para trás, deitando no sofá.
- Juro que quando eu tiver fome eu como… – Não acreditei em uma palavra.
- Me deixa ajudar você, Joy… – Novamente acariciei seu belo rosto de anjo. – Você me ajudou tanto… – Seus olhos marejaram e ele assentiu. – Então vou pegar um outro pedaço.
Fui até a cozinha e quando voltei dei as duas primeiras garfadas em sua boca. Ele adorou a minha lasanha e ainda pediu para repetir.
- Quer assistir televisão comigo? – Perguntei-lhe, ele estava tão tristinho.
- Pode ser – Deu de ombros. – Parece ser mais legal que enterrar a cara no travesseiro e chorar até dormir – Ele fez seu caminho até o sofá e sentou-se. – O que vamos assistir?
- Bom, vamos procurar… – Liguei a televisão e infelizmente não havia um filme legal passando.
Por falta de opções, colocamos no canal Sony, onde estava passando uma maratona de South park.
Joey gentilmente colocou algumas almofadas em minhas costas e deitou ao meu lado no sofá, apoiando sua cabeça em uma almofada. Começamos a assistir, e então ouvi ele rindo. Sorri para o som de seu riso. Aquele desenho saiu melhor que terapia. Embora eu ainda o achasse bem obsceno.
Ele estava tão entretido assistindo, que nem me notou levantar e sair para o meu quarto.
Mas eu precisava fazer uma coisa.
Alex
Eu só estava sentado no chão do quarto, encostado na parede. De frente para a janela aberta, eu via um céu estrelado. Muito diferente da escuridão que estava a minha vida e tudo dentro de mim...
Eu me sentia cansado, mas não conseguia simplesmente dormir. Sim, isso era uma merda. Mas os meus pensamentos estavam a mil.
Eu estava buscando saídas. Mendigando forças dentro de mim mesmo. Deixar Emily estava doendo mais em mim do que nela, eu quase tinha a certeza disso.
Uma verdadeira guerra estava acontecendo em minha cabeça, me destruindo de dentro para fora.
E essa guerra tinha nome e sobrenome: Emily Crawford.
Minha vontade era enfiar aquela garota dentro do carro e dirigir até o fim do mundo, se eu soubesse que lá teríamos paz. Mas aquele desgraçado do Jerome iria atrás de mim até no inferno e, fugindo, eu só pioraria as coisas.
Eu precisava ser homem e arcar com as consequências dos meus atos. Eu só não podia levar Emily – junto – comigo.
Sentado naquele chão sujo, eu suspirava, chorava, fechava os olhos com toda a força que tinha, mas nada conseguia tirar Emily da minha cabeça.
Esse sentimento mudou toda a minha vida. E quis o destino que fosse com a garota que eu convivia quase todos os dias.
Que irônico… eu convivi tantos anos com ela, mas por que sinto que a gente durou tão pouco…?
Levei as mãos ao rosto, chorando baixinho.
Eu destruí a única coisa que já amei...
''EU NÃO TE AMO, EMILY!''
''MAS VOCÊ DISSE QUE ME AMAVA!''
''Você me ama ou não...?''
''Não.''
- Vamos, Alex. Pelo menos um cochilo... – Sussurrei para mim mesmo.
Eram quase oito horas da noite, era o que me dizia o relógio de parede. Eu revezava o olhar entre ele e a parede, eu não tinha mais nada o que fazer além de pensar em Emily e contar as horas…
Toc… toc… toc… toc... toc…
Suspirei, passando a mão pelo cabelo. Quem ousava me incomodar?
- Quem é?! – Perguntei em estresse.
- Sou eu...
Meu coração quase parou.
Todo o meu corpo tremeu em surpresa, em desespero: era a voz dela.
Saltei ficando de pé, de imediato, limpando minhas lágrimas.
Pensei em perguntar se era ela mesmo, apesar do efeito das drogas ter passado horas atrás, quem sabe fosse alguma alucinação? Ou alguma infeliz brincadeira da minha mente aliada ao meu coração?
Só que eu mantive a minha boca imóvel. Até parei de respirar. Eu queria gritar por ela, mas perdi a voz por tamanho susto que levei.
- Não finja que não está aí… eu já ouvi você, Alex… – Me disse calmamente.
- O que está fazendo aqui, Emily?
Merda, Joey!
- Eu preciso te entregar uma coisa.
- Eu não quero nada de você! Vai embora!
- Abra a porta e depois eu irei.
Se ela fosse me entregar o colar que eu com tanto amor a presenteei, eu iria desabar. E na sua frente, sem disfarces.
Foi então que eu pensei mil vezes antes de abrir aquela maldita porta.
Eu sempre fui bom em esconder os meus sentimentos e emoções, mas com Emily isso não funcionava. Ela me deixa impotente. Tinha poder sobre mim.
No entanto eu precisava colocar tudo pra fora antes de enlouquecer de vez.
- Prometa que depois irá embora.
- Eu vou…
- Prometa.
- Eu prometo.
Com base no que ela disse, me aproximei a passos lentos da porta. Eu estava trêmulo de um jeito que só estive na noite passada, quando menti que não a amava…
Eu conseguia escutar a sua respiração do outro lado da porta, ansiosa… descompassada…
Andei até bem próximo, levando a mão a maçaneta, abrindo a porta.
O meu coração saltou no peito assim que olhei para ela. Nossos olhos se encararam intensamente. O meu corpo ficou gélido, e o olhar dela assustado.
- Por favor, leia. – Ela disse, me entregando algo.
Mirei o papel em minhas mãos e depois mirei-a sério, sentindo meus olhos encherem-se de lágrimas, e antes que ela notasse isso, fechei a porta, sem dizer nada.
Soltei um suspiro doloroso e me escorei na porta, sem conseguir tirar meus olhos daquele papel.
Parecia ser uma carta.
- Alex, eu peço que leia. Não ignore – Sua voz era suave. – Eu ficarei na cidade, te esperando
- Emily, não espere. Vá embora!
- Leia e só mais tarde me dê a sua resposta.
Meu coração recomeçou a palpitar, uma imensa vontade de chorar tomou conta de mim, mesmo sem saber o que tinha naquele envelope.
Respirei fundo, abri o mesmo e comecei a ler o que ela havia escrito.
Amor,
Estou aqui apenas com um papel e uma caneta nas mãos, mas, é como se eu estivesse de frente para ti. Não sei se realmente vai querer receber essa carta, se vai ter coragem de ler ou se vai respondê-la. Porém, mais do que a vontade de você ler é eu ter que dizer isso. Eu necessito lhe falar.
Lembro da primeira vez que vi meu irmão chegar correndo em casa me mandando trancar tudo. Você estava com ele. Os olhos dele pareciam que iam saltar para fora da face, era a aflição estampada. Você nem olhou para mim, não sabe, mas eu não tirava os olhos de você. Não queria admitir, mas estava mais preocupada contigo do que com meu próprio irmão. Ali eu soube, pela primeira vez, que vocês estavam mexendo com coisas que não deviam. Mas eu não os julguei, só estava feliz por estarem bem, o que quer que tivessem feito.
Mesmo sem olhar para mim, mesmo sem me dar a mínima atenção, você tão preocupado era a coisa mais linda do mundo. Eu podia, do canto da parede que me colocaram, escutar o teu coração batendo. E eu pensei comigo mesma: “ah, se aquele coração batesse assim por mim algum dia”. Sei que parece egoísmo da minha parte, mas foi isso que eu pensei.
Alex, você pode não acreditar, mas eu entendo o porquê de você ter se afastado de mim. Mas olhe, quantas vezes nós já não vivemos isso? Vocês tentaram me afastar do mundo perigoso que estavam inseridos, mas quer queira quer não, eu já faço parte dele. E se eu não tivesse feito parte dele, não só eu, mas você estaria morto agora. Não estou querendo te culpar por nada, até porque foram os momentos mais felizes da minha vida.
Não vá embora para sempre, por favor. Não consigo imaginar o mundo sem você, mais. Sem pausas eu fecho os meus olhos, esperando quando abri-los você está aqui, mas você não está. E eu sei que não vai estar. Eu lhe amo profundamente por querer me proteger, talvez eu faria a mesma coisa se estivesse no seu lugar. Mas, por favor, não me proteja ao ponto de nos separarmos.
Eu irei sair daqui, serei livre, irei poder comprar, e viajar, mas não vou poder te ter. De que vale isso sem você? Sempre pude fazer tudo na minha vida, nada me impediu de alguma coisa. Mas nunca me senti tão viva e livre do que durante estive trancada contigo nessa casa. Alex, não importa se estivermos sendo perseguidos por milhares de bandidos, não importa se só comêssemos alface, saiba que eu só sou viva se estiver com você. Quer realmente salvar a minha vida? Então volte para mim. Não importa onde esteja, não importa se você quer me proteger, sem você eu não sou nada, de nada vale a vida. Não passe mais uma hora longe de mim, amor. Pois cada hora que passar é uma hora a menos que viverei. Se não voltar para cá, não será Jerome que me matará, mas você.
Baby, quantas vezes tivemos a chance de demonstrar o que sentimos? Desde a primeira vez que lhe vi, eu te amei. Dias de chuva, dias de sol; dias felizes, dias tristes; dias que estava ali bem perto, dias que estava tão longe… todos os dias desde então eu te amei com toda a força do meu ser, mesmo que muitas vezes eu lutasse contra. Todos os dias eu esperei poder te amar, todas as noites eu sonhei com você também me amando. E agora que o dia chegou, você quer ir embora? Não me machuque, amor. Dói tanto estar longe de você, que nem sei se conseguirei terminar essa carta em meio a tanto tremor e lágrimas. Desculpe a letra.
Quando eu fecho os olhos eu fico pensando se você se alimentou, se está bem, se não se machucou novamente, se pensa em mim…Por favor, Alex, não faça isso conosco. Eu não consigo respirar com a sensação de não poder cuidar de você. Se para você voltar, o Jerome tiver que nos matar amanhã, hoje seria o dia mais feliz da minha vida. Não me importo de viver só um dia, por um mês, por alguns dias ou poucos minutos. Só o que eu me importo é de viver qualquer que seja o tempo, mas contanto que eu esteja com você. Seus lindos olhos verdes são as únicas visões que me interessam, respirar o mesmo ar que você é meu único motivo de viver, encostar minhas mãos em seu rosto deve ser o meu último toque. E se para você voltar é assinar a minha sentença de morte, meu último pedido é viver o que tiver para viver com você. Então por favor, amor… volte.
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