— Alô… — a voz cansada atendeu a chamada quase no último toque.
— Tá morrendo, Joohyun? — Seokjin perguntou, debochado.
— Aish, mais ou menos.
— Por quê? Não me diga que…
— Se prefere, eu não digo. — Riu atrevida, gostava de deixar o melhor amigo sem graça.
— MAS — disse alto, mudando o assunto. —, liguei pra dizer que temos compromisso no sábado e não aceito não como resposta.
— Ah, não me diga que seu pai resolveu dar mais uma festa?
— Ele não, mas Kim Hanse resolveu.
— E a gente vai por qual motivo? — perguntou desinteressada, era mais do que entediante ir nas festas promovidas pelos homens ricos da cidade, só valia a pena quando eram feitas pelas esposas, que sabiam muito mais como divertir a burguesia.
— Bebida cara de graça, canapés ruins e bem, não tem lugar melhor pra afogar as mágoas de um fim de namoro, não é?
— Olha eu posso listar ao menos quinze lugares melhores, mas é, eu entendi.
— Eu amo seu jeito de dizer sim, te vejo no sábado de manhã!
— Por que de manhã??
— Tchau, princesa!!
— Ei!!
Seokjin encerrou a chamada, sabia que levaria um ou dois chutes por isso, mas precisava correr e pegar o fórum aberto, antes que seu pai o degolasse pela milésima vez na semana. O Kim mais novo não conseguiu achar uma aspiração na vida como seus irmãos, então, acabou preso aos negócios do pai e consequentemente a todas as suas ordens. Não que fosse reclamar, sabe, fazer parte de uma família rica e ter toda aquela segurança era algo a se comemorar, mas também não poderia dizer que estava realizando sonhos. Nem ao menos poderia dizer quais eram seus sonhos, então, era o melhor que tinha naquele momento estranho da vida.
O dia foi longo, Seokjin chegou em casa só depois das oito e meia da noite, a mãe e a irmã mais velha conversavam animadas na sala de estar, com taças de vinho rosé nas mãos. Living la dolce vita. Era o que Jisoo diria sobre sua carreira nas artes plásticas, que consistia em fazer quadros quando lhe dava vontade e os vender a preços exorbitantes, apenas por carregar o nome da família. O mais novo sempre se lamentou por não saber fazer sequer uma linha reta.
— Ei, irmãozinho, por que essa cara de zumbi? — ela ousou perguntar, assim que o viu se jogar no sofá ao lado da mãe.
— Olha, se você não fosse a mais velha eu juro que…
Jisoo ria e fazia um biquinho, Seokjin tinha dificuldades em aceitar que a maluca da família ainda deveria ser tratada como a noona que era. E isso era bem divertido para ela, que não perdia a oportunidade de incomodar o caçula com o que quer que fosse.
— Relaxa, bebê, eu sei que trabalhou muito hoje e o papai deve ter te dado bronca no mínimo umas sete vezes. Eu mesma levei uma por áudio hoje e eu nem entendi direito o porquê.
— Provavelmente porque a fatura do seu cartão veio estourada, queridinha — a mãe falou depois de terminar a taça. — Jinnie, meu amor, sobe e toma um banho, eu vou fazer algo pra você comer…
E como o bom bebê da família Kim, Seokjin obedeceu a mãe e subiu. Se enfiou debaixo do chuveiro quente e apagou todas as tarefas sem sentido que sugaram toda sua energia naquele dia. Começou a cantar uma música qualquer que tocava no aleatório do celular, era algum tipo de rap americano, divertido e empolgante. Mas no meio dela, a única pessoa que conhecia que realmente falaria bem daquela música lhe veio na cabeça. O garoto problemático que estava há quilômetros dali.
O rap acabou e uma balada de Sam Smith começou, foi a deixa para que ele balançasse a cabeça em negação e saísse do banho, aquela não era uma boa lembrança para se ter numa quinta-feira comum. Era melhor só seguir o fluxo da rotina e não transformar aquele momento em algo nostálgico. Seokjin odiava ficar saudoso de algo que fora nada mais do que uma situação incerta e estranha há anos.
Finalizou o dia com a comida caseira da mãe e as brincadeiras com Jisoo, que insistiu para que assistissem uma série bem mais ou menos antes que a noite acabasse. Era estranho e bom ao mesmo tempo, ter aquele tipo de rotina extremamente comum. Seu namoro acabou, não tinha nenhum sonho que o movesse para fora de sua caixinha, por isso, pedir mais do que a pacata vida na burguesia de Ilsan era quase injusto com a tranquilidade que tinha ali.
Por isso a festa de sábado era, de fato, sua melhor opção para chacoalhar um pouco as coisas.
-
O dia amanheceu gelado e com muitas nuvens no céu, o relógio ainda não marcava oito da manhã, mas Seokjin já estava vestido e na segunda caneca de café, mandando muitas mensagens para a melhor amiga, que muito provavelmente dormia feito pedra. Ainda que tivessem marcado, Joohyun era péssima em cumprir com seus compromissos, e por isso ela teria que encarar o Kim entrando, com permissão, no quarto da princesinha da família Bae.
Não demorou nada para que ele chegasse até a casa dela e encontrasse uma senhora Bae muito animada para o sábado no clube, sendo a gentileza em pessoa e o permitindo subir para acordar a filha dorminhoca. Seokjin era ótimo em encantar todas as senhoras da vizinhança e ser o candidato perfeito para casar com todas as moças de idade próxima a sua; o que era impossível, visto que ele não se importava nada com moças, apenas com moços. E bem, sem querer desapontar ninguém, quem deixava todas as garotas caidinhas mesmo eram Joohyun e Jisoo, e todos os adultos fingiam que não percebiam.
— Wake up, wake up, sleepy head!! — ele cantou assim que entrou no quarto, tentando procurar a amiga em meio àquela quantidade exacerbada de cobertores e travesseiros.
— Ah não! Você não tá aqui… — ela resmungou.
— Eu tô, e olha, eu não tô nada afim de ficar te esperando dormir até às onze da manhã…
Joohyun levantou o corpo, aparecendo finalmente, com o rosto inchado e mal desperto e os cabelos indo em todas as direções.
— Eu já disse que te odeio?
— Já.
E depois de muita reclamação, os dois desceram as escadas, prontos para qualquer que fosse a atividade entediante que Seokjin queria fazer em pleno sábado de manhã, com a temperatura caindo cada vez mais. Para a Bae, eles poderiam aproveitar a televisão grande demais que o pai colocara na sala e assistir todos os filmes disponíveis na Netflix, não que eles fossem de grande proveito, mas era melhor do que sair de casa.
Mas o Kim não estava nem um pouco disposto a isso, e fez a amiga rodar toda a Ilsan atrás de uma camisa cor de pêssego e um algum artigo do Mario Bros que ela nem se deu o trabalho de entender o nome. Ela não sabia como tinha acabado naquela amizade, já que considerava Seokjin a pessoa mais esquisita da vida, porém, não havia o que fazer, eles eram meio que alma gêmeas e mesmo que tentasse mudar isso, ela amaria aquela coisinha até o fim dos dias.
A única parada daquele dia que ela realmente aproveitou, foi o café da tarde, na confeitaria Charlotte, onde ela pôde se entupir com muito açúcar e café gelado.
— Olha, finalmente esse dia acabou, caramba Seokjin, por que mesmo a gente rodou tanto? Você tem acesso a todas essas lojas na semana…
— EU TRABALHO, BAE JOOHYUN.
— Ai, não grita… — Lançou uma careta, não gostava de ser lembrada que ainda não tinha tomado um rumo na vida.
— Para de reclamar, eu tô te pagando um monte de doce.
— Você sabe que eu sou, tipo, muito rica? Eu posso pagar — se atreveu a falar.
— Tomara que você engasgue!
Ela riu, colocando mais uma colherada da sobremesa na boca.
— Mas então, a gente pode, por obséquio, ir descansar? Olha, sinceramente, eu não consigo ir na festa se eu não dormir umas três horas…
— Af, tá, vou te deixar em casa, pra madame dormir e volto pra te pegar às nove, mas olha, é melhor eu só ter que buzinar uma vez!
Joohyun confirmou com a cabeça e um sorrisinho de canto, sabendo que não estaria pronta às nove, nem em um milhão de anos, mas naquele momento, era melhor que ele achasse que sim.
-
Finalmente era hora de entrar no papel do filho mais novo de Kim Dongsul. Seokjin nunca saia para um festa sem parecer um desses atores de dorama, o cabelo impecável, as roupas certas e o rosto de boneco de porcelana, perfeito como a mãe amava se gabar. Saiu de casa às nove e vinte, já que Joohyun avisou que ainda estava brigando com o vestido. De carro não dava cinco minutos até os Bae, então, obviamente que ele ficou alguns minutos parado até que a amiga saísse.
E a observando caminhar da porta de casa até o carro, ele reafirmou para si mesmo que ela era a garota mais bonita de Ilsan. O vestido prateado lhe caia como uma luva e o batom vermelho se destacava em meio ao rosto branquinho; ela nem estava com vontade suficiente para a festa, mas definitivamente ela seria uma das atrações, e era sempre divertido ser o par dela, as pessoas sempre ficavam cochichando sobre serem o casal perfeito e como a família Kim e a Bae deveriam estar orgulhosos com o futuro, imaginário, casamento.
— Pra quem nem queria ir, você tá bem arrumadinha — ele falou, assim que ela se sentou ao seu lado.
— Calado, vamos antes que eu volte pra dentro e coloque meu pijama.
-
Festas da alta sociedade podiam ser bem entediantes, mas aquela em específico, até que estava quebrando um galho. O champagne era realmente bom e o buffet um dos mais decentes; a única coisa que não estava clara ali era o motivo dela. Afinal, as socialites quando queriam impressionar umas as outras usavam algum tipo de instituição beneficente e assim tinham um ótimo motivo, mas seus maridos, apenas chamavam os amigos e suas famílias e não davam sequer uma explicação.
“Vamos apenas beber e comemorar nossa riqueza”, era basicamente assim.
Joohyun e Seokjin encontraram os irmãos do Kim e estavam em um dos cantos do salão, comentando sobre um ou outro convidado. As bochechas e orelhas do mais novo estavam vermelhinhas e fofas e seu irmão, Taehyung, não deixou o momento passar, o chamar de bebê ali, era a coisa mais divertida que ele e Jisoo puderam encontrar para fazer. E só pararam quando a voz de Bae os chamou a atenção.
— Aquele é…? — perguntou, apontando a taça cheia em direção ao homem que entrava no salão.
Seokjin olhou e semicerrou os olhos, tentando focar; não podia ser. Touca na cabeça, calça e blusa pretas e jaqueta jeans, destoando de todo e qualquer convidado daquela festa.
Definitivamente, era Kim Namjoon, ali, há poucos metros de si.
— Meu... Deus — ele falou gaguejando, sem desgrudar os olhos do homem que viraria tudo de cabeça pra baixo.
Mais uma vez.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.