História I Do - Dezoito

Se tinha uma coisa que Jaebeom não queria ser naquele momento, essa coisa era mal-agradecido. Só que ele achava mais fácil se levantar e sair porta a fora do que acreditar que, o cara que entregou lingeries para ele depois que sua ex noiva o largou no altar, teria a capacidade de cozinhar algo que não fosse venenoso.

Mas não teve jeito, quando saiu do banho ele foi obrigado a se sentar na mesa da cozinha para jantar. Ficou lá observando o outro colocar a mesa e o servir com os olhos ligeiramente mais atentos que o usual, debaixo da mesa balançava as pernas impaciente. Já tinha sido testemunha dos mais variados exemplos de Youngjae sendo desastrado, nunca admitiria, mas duvidava muito que ele pudesse seguir uma receita.

Youngjae estava alheio demais às reações de Jaebeom. Na verdade, ele estava forçando a desatenção, não é como se ele já tivesse se acostumado com a ideia de conviver com o chefe vinte e quatro horas por dia. Ainda mais se ele estivesse com o seu cheiro, com os cabelos molhados e querendo mostrar gratidão a todo segundo. Aquilo só podia ser o teste final de Deus, e do jeito que as coisas andavam um reboliço na sua cabeça, ele ia reprovar.

Serviu os pratos e sentou-se de frente para Jaebeom, que não tirou os olhos da comida e apertou o hashi com força. Era agora ou nunca.

Jaebeom começou acanhado, avaliando pelo cheiro. Estava bom, ele conseguiu sentir o cheirinho do tempero que era acostumado a comer, e isso lhe deu coragem para experimentar o prato a sua frente.

— Delícia! - Jaebeom exclamou, fazendo Youngjae bater o joelho na mesa por conta do susto. — Isso aqui tá muito gostoso, Jae! - sorriu.

— Obrigado... - disse automático. — Mas... por que não estaria, Im Jaebeom? - arqueou uma sobrancelha. — Por acaso você estava duvidando das minhas habilidades? - apontou o hashi para o mais velho num gesto desafiador.

— Bem, é que... lembra de quando você foi adoçar um café pra gente e colocou sal por engano? - acusou. – Eu tinha lá minhas dúvidas, entende?

— Mas que absurdo. - bufou. — A gente dá abrigo, comida e sabonete pra pessoa e ela retribui assim.

— Desculp...

— Eu tô brincando, relaxa. - jogou um guardanapo no outro. — Eu sei cozinhar, tá bem? Eu vim morar sozinho cedo, e o Jackson veio de brinde né, um de nós teve que aprender na marra ou a gente passaria fome.

— Choi Youngjae, você é uma caixinha de surpresas mesmo. – Jaebeom disse atrapalhado, ainda estava engolindo o macarrão. Nem pensou em mostrar boas maneiras, estava faminto.

— Se você diz né... - deu de ombros. — Agora vamos comer, hm?

O silêncio que se instaurou na sala foi surpreendentemente confortável, Youngjae não gostava de ficar assim, mas na falta de assunto e com medo de dizer alguma besteira por impulso, seguiu a refeição sem dizer mais nada. Ao terminar, Jaebeom se ofereceu para lavar a louça e o Choi concordou de bom grado, afinal, há quanto tempo alguém se oferecia para lavar a louça em seu lugar? Pensando na raridade do momento, esperou o outro virar de costas e registrou o momento discretamente.

Heterofóbicos

Youngjae:
[foto]
Ele chegou aqui tem duas horas e já teve mais utilidade que vocês dois juntos.

Sugar daddy pobre <3:
Choi Youngjae vc recebe o crush em casa e poe ele pra lavar louça?
Só vou te avisar que
Eu sei como deixei meu quarto, se vcs bagunçarem eu vou notar
Aquela carinha

Peste <3:
Ai nossa obrigado por avisar
Eu ia passar aí amanhã mas n irei mais
N quero atrapalhar o casal
DESSA VEZ VC DESENCALHA

Sugar daddy pobre <3:
DESSA VEZ VC DESENCALHA

Youngjae:
Idiotas

Choi bufou e bloqueou o celular, se jogou no sofá e ligou a TV em busca de algo interessante para assistir, tendo o cuidado de não passar nos últimos canais; já se passava da meia noite e, bem, aquele horário era perigoso de acidentalmente encontrar alguns filmes proibidos para Yugyeom, se é que vocês entendem. Jaebeom se jogou ao seu lado no sofá depois de guardar os pratos e Nora veio junto, ficando no braço do sofá.

— Tá assistindo o que? - indagou.

— Uh, não achei nada de interessante ainda. - bufou. — Já tá tarde, você deveria descansar, teve um dia agitado. - aconselhou. Podia ver as olheiras leves marcando os olhos de Jaebeom, não anulava em nada a beleza dele, mas denunciava que há muito tempo não descansava devidamente.

— Tudo bem, eu não tô com sono. - mentiu. O cansaço já batia, mas ele queria ficar um pouco mais na companhia de Youngjae. Era bom, o fazia esquecer de toda aquela bagunça na sua cabeça. Parecia apenas... certo.

— Você é a visita, então vou te deixar escolher. – passou o controle para Jaebeom. — E nada de recusar.

— Ok... - assentiu e digitou o número do canal que costumava ver filmes em casa. — Que tal esse?

— Parece bom, pode colocar. - assentiu.

[...]

— Porra! - Youngjae não conseguiu segurar o palavrão. Suas mãos trêmulas agarravam o braço de Jaebeom; seu corpo todo estremecia, nem fechar os olhos o ajudou, na verdade isso apenas aguçou ainda mais as sensações. Jaebeom ria num tom de pura provocação perto de si, o Choi amaldiçoava até a quinta geração do mais velho.

Sabia que tinha sido uma péssima ideia concordar em assistir um filme de terror de madrugada. Era medroso demais, e ver um filme que tinha como tema o escuro o fazia querer correr dali e se enfiar debaixo das cobertas até a manhã chegar. O medo o fazia esquecer até a vergonha, já que agora estava todo encolhido no sofá com Jaebeom o abraçando do lado, para lhe acalmar.

— Quer dizer que você tem medo de filmes de terror? - riu baixinho.

— Algum problema nisso? - medroso sim, assumido também.

— Nenhum. – se virou para abraçá-lo. — Shhh é só um filme, tá bem? Não precisa ficar assim. - sussurrou enquanto afagava o cabelo de Youngjae.

O Choi agradeceu por ter se lembrado de desligar as luzes, ao contrário daria uma perfeita visão a Jaebeom de suas bochechas coradas pelo contato com ele. Não conseguiu responder ao outro, apenas se aconchegou no abraço e afundou o rosto no edredom que havia pego uns minutos atrás para dividirem.

Jaebeom desligou a TV e continuou com o carinho nos fios do mais novo. Protegido pelo escuro, podia observá-lo com aquele sorriso besta que insistia ficar em seu rosto. Não percebeu quando ele pegou no sono, mas não ousou sair do abraço. Afastou Nora do braço do sofá e apoiou a cabeça ali, deixando Youngjae em seu peito.

Jaebeom era cético, não se deixava convencer facilmente. Mas ali, naquele momento, começou a acreditar que sua vida era regida pelo tal destino, e se sentiu agradecido como não se sentia há muito tempo.

E se sentindo bobo por isso, pegou no sono.